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A grande depressão americana

Capítulo III – Crítica a algumas explicações alternativas para a depressão
III – Crítica de algumas explicações alternativas para a depressão

Alguns economistas são capazes de admitir que a teoria austríaca poderia “às vezes” explicar os booms e as depressões cíclicas, mas eles acrescentam que outros casos poderiam ser explicados por teorias diferentes. Contudo, como dissemos anteriormente, acreditamos que isso seja um erro: afirmamos que a análise austríaca é a única que explica os ciclos econômicos e os fenômenos associados. Crises específicas de fato podem ser precipitadas por outras ações ou intervenções governamentais no mercado. Assim, a Inglaterra sofreu uma crise em sua indústria de algodão têxtil quando a Guerra Civil americana cortou sua oferta de algodão cru. Um forte aumento nos impostos pode deprimir a indústria e a vontade de investir, e assim precipitar uma crise. Ou as pessoas podem subitamente desconfiar dos bancos e iniciar uma corrida deflacionária ao sistema bancário. Em geral, porém, as corridas bancárias só acontecem após uma depressão já ter enfraquecido a confiança, e isso certamente foi verdade em 1929. Esses casos, naturalmente, não são acontecimentos cíclicos, mas meras crises sem booms precursores. Elas sempre são identificáveis e não criam qualquer mistério a respeito das causas subjacentes das crises. Quando W. R. Scott investigou os anais econômicos dos primeiros séculos da modernidade, encontrou as seguintes explicações contemporâneas das crises: fome, peste, confisco do ouro por Carlos I, perdas na guerra, corridas bancárias etc. É o fato de que nenhum desastre óbvio como esses que possa explicar as depressões modernas que leva à busca por uma teoria mais profunda das causas de 1929 e de todas as outras depressões. Entre essas teorias, somente a de Mises é satisfatória.[1]

Superprodução generalizada

“Superprodução” é uma das explicações favoritas para as depressões. Ela se baseia na observação do bom senso de que a crise é marcada por estoques não vendidos de bens, pelo excesso de capacidade fabril, e pelo desemprego do trabalho. Será que isso não significa que o “sistema capitalista” produz “demais” durante o boom, até que finalmente a gigantesca capacidade produtiva supera a si mesma? Será que a depressão não é o período de descanso, que permite que o aparato industrial inchado espere até que a redução na atividade econômica dissipe o excesso de produção e se livre do excesso de estoque?

Essa explicação, comum ou não, não faz qualquer sentido. Tirando o Jardim do Éden, não existe “superprodução” generalizada. Enquanto quaisquer desejos “econômicos” permanecerem insatisfeitos, a produção será necessária e demandada. Certamente esse ponto impossível de saciedade universal não tinha sido alcançado em 1929. Mas, podem objetar esses teóricos, “não estamos dizendo que todos os desejos cessaram. Eles ainda existem, mas as pessoas não têm moeda para exercer suas demandas.” Mas alguma moeda ainda existe, até na mais histérica inflação. Por que essa moeda não pode ser usada para comprar esses bens “produzidos em excesso”? Não existe razão por que os preços não possam cair o bastante, num mercado livre, para equilibrar o mercado e vender todos os bens disponíveis.[2] Se os empresários decidem manter os preços altos, estão apenas especulando que haverá uma subida iminente dos preços de mercado; estão, em suma, investindo voluntariamente em estoque. Se eles quiserem vender seu estoque “excedente”, basta que cortem os preços a um ponto baixo o suficiente para vender tudo.[3] Mas será que assim eles não terão prejuízo? Claro que terão, mas agora a discussão passou para outro plano. O que se vê não é mais um excesso de produção, mas que os preços de venda dos produtos estão abaixo de seu custo de produção. Mas como os custos são determinados pelos preços de venda que se espera no futuro, isso significa que os custos foram anteriormente elevados demais pelos empresários. O problema, então, não é de “demanda agregada” ou de “superprodução”, mas de diferenciais de custo-preço. Por que os empreendedores cometeram o erro de pagar custos mais altos do que os futuros preços de venda permitiriam? A teoria austríaca explica esse aglomerado de erros e a valoração excessiva dos custos; a teoria da “superprodução”, não. Na verdade, houve superprodução de bens específicos, e não gerais. O mal-investimento causado pela expansão do crédito desviou a produção para linhas que se revelaram não-lucrativas (isso é, em que os preços de venda eram maiores do que os custos) e afastou-a das linhas em que ela teria sido lucrativa. Então houve superprodução de bens específicos em relação aos desejos do consumidor, e subprodução de outros bens específicos.

Subconsumo

A teoria do subconsumo é extremamente popular, mas ficou no “submundo” na economia até ser resgatada, em certo sentido, por Lorde Keynes. Ele afirma que alguma coisa acontece durante o boom — em algumas versões, há excesso de investimento e superprodução; em outras, uma proporção alta demais da renda vai para grupos de maior renda — que faz com que a demanda do consumidor seja insuficiente para comprar os bens produzidos. Daí vêm a crise e a depressão. Essa teoria envolve muitas falácias. Em primeiro lugar, enquanto existirem pessoas, algum nível de consumo haverá. Mesmo que as pessoas subitamente consumam menos e passem a entesourar, precisam consumir certas quantidades mínimas. Como o entesouramento não pode chegar ao ponto de eliminar inteiramente o consumo, algum nível de consumo será mantido, e portanto algum fluxo monetário de demanda do consumidor persistirá. Não há razão por quê, num mercado livre, os preços de todos os diversos fatores de produção, assim como dos preços finais dos bens de consumo, não possam se adaptar a esse nível desejado. Assim, quaisquer perdas serão apenas temporárias, durando apenas o tempo da mudança para esse novo nível de consumo. Se elas forem previstas, serão absolutamente desnecessárias.

Segundo, cabe ao empreendedor prever a demanda do consumidor, e não há razão por que eles não poderiam prever a demanda do consumidor exatamente como fazem outras previsões, ajustando a estrutura de produção a essa previsão. A teoria do subconsumo não consegue explicar o aglomerado de erros da crise. Aqueles que defendem essa teoria muitas vezes afirmam que a produção no boom supera a demanda do consumidor; mas (1) como não estamos no Nirvana, sempre haverá demanda por mais produção, e (2), permanece sem resposta a questão: por que os custos foram estimados tão para cima que os lucros com o produto se tornaram impossíveis em face dos preços correntes de venda? A máquina produtiva se expande porque as pessoas querem que expanda, porque desejam padrões de vida superiores no futuro. Portanto, é absurdo afirmar que a produção poderia superar e demanda geral do consumidor.

Uma variante comum da teoria do subconsumo atribui o erro fatal a uma suposta transferência de renda proporcional aos lucros e às faixas de renda superior durante o boom. Como se presume que os ricos consumam menos do que os pobres, a massa então não tem “poder de compra” suficiente para recomprar o produto expandido. Já vimos que: (1) marginalmente, as pesquisas empíricas sugerem uma dúvida a respeito de se os ricos consomem menos, e (2) não há necessariamente uma transferência dos pobres para os ricos durante um boom. Mas mesmo admitindo esses pressupostos, é preciso lembrar que: (a) os empreendedores e os ricos também consomem, e (b) a poupança constitui a demanda pelos bens dos produtores. A poupança, que vai para o investimento, é portanto tão necessária para sustentar a estrutura de produção quanto o consumo. Aqui tendemos a nos deixar iludir porque a contabilidade da renda nacional só funciona em termos líquidos. Mesmo o “produto nacional bruto” não é realmente bruto de jeito nenhum; ele só inclui o investimento durável bruto, e exclui as compras brutas de estoque. Não é verdade, como costumam presumir os subconsumistas, que o capital é investido e então jorra no mercado sob a forma de produção, tendo concluído seu trabalho. Pelo contrário, para manter um padrão superior de vida, a estrutura de produção — a estrutura de capital — precisa estar sendo permanentemente “alongada”. À medida que cada vez mais capital é acrescentado e mantido nas economias civilizadas, cada vez mais fundos precisam ser usados só para manter e substituir a maior estrutura. Isso significa uma poupança bruta maior, poupança essa que precisa ser sustentada e investida em cada estágio superior de produção. Assim, os varejistas têm de continuar comprando dos atacadistas, os atacadistas dos intermediários etc. Assim, a maior poupança não é desperdiçada; pelo contrário, ela é vital para a manutenção dos padrões de vida civilizados.

Os subconsumistas afirmam que a produção em expansão exerce um efeito depressivo de tempo indefinido na economia porque os preços tenderão a cair. Mas a queda de preços não é depressiva; pelo contrário, como a queda de preços causada pelo aumento no investimento e na produtividade se reflete em custos menores por unidade, a lucratividade não é de modo algum prejudicada. A queda de preços simplesmente distribui os frutos de uma produtividade maior para todas as pessoas. O curso natural do desenvolvimento econômico, então, tirando a inflação, é que os preços caiam em resposta ao aumento de capital e à maior produtividade. Os salários monetários também tenderão a cair por causa do trabalho a mais que a oferta monetária dada é chamada a realizar ao longo de um número maior de estágios de produção. Mas os salários monetários cairão menos do que os preços de bens de consumo, e, como resultado, o desenvolvimento econômico produz salários reais maiores e rendas reais maiores por toda a economia. Ao contrário do que diz a teoria do subconsumo, um nível de preços estável não é a norma, e inflacionar a moeda e o crédito a fim de impedir que o “nível de preços” caia só pode levar aos desastres do ciclo econômico.[4]

Se o subconsumo fosse uma explicação válida para qualquer crise, haveria uma depressão nas indústrias de bens de consumo, em que os excedentes se multiplicariam, e pelo menos alguma relativa prosperidade nas indústrias de bens de produção. Todavia, geralmente se admite que são as indústrias de bens de produção e não de consumo que mais sofrem numa depressão. O subconsumismo não consegue explicar esse fenômeno, ao passo que a teoria de Mises o explica precisamente. [5] [6] Toda crise é marcada por mal-investimento e por subpoupança, não por subconsumo.

O princípio de aceleração

Os subconsumistas só podem tentar explicar o problema da maior flutuação nas indústrias de bens de produção do que de consumo de um jeito: apelando ao princípio de aceleração. O princípio de aceleração começa com a verdade inegável de que toda produção acontece para ser consumida em algum momento. Ele afirma que não apenas a demanda pelos bens de produção depende de uma demanda de consumo, como essa demanda de consumo exerce um efeito de alavancagem múltipla sobre o investimento, ampliando-o e acelerando-o. A demonstração do princípio inevitavelmente começa com uma única empresa ou indústria hipotética: suponha-se, por exemplo, que uma empresa produz 100 unidades de um bem por ano, e que 10 máquinas de certo tipo são necessárias para sua produção. E suponha também que os consumidores demandam e compram essas 100 unidades. Suponha ainda que a vida média da máquina é de 10 anos. Assim, no equilíbrio, a empresa compra uma máquina nova a cada ano para substituir aquela que está gasta. Agora suponha um aumento de 20% na demanda do consumidor pelo produto da empresa. Os consumidores agora querem comprar 120 unidades. Se assumirmos uma proporção fixa entre capital e produtividade, agora a empresa precisa ter 12 máquinas. Portanto, esse ano ela compra duas máquinas novas, comprando um total de três máquinas em vez de uma. Assim, um aumento de 20% na demanda do consumidor levou a um aumento de 200% na demanda pela máquina. Por isso, dizem os aceleracionistas, um aumento geral da demanda do consumidor na economia causará um aumento imensamente maior na demanda por bens de capital, uma demanda intensificada na proporção da durabilidade do capital. É claro que o efeito de amplificação é tão maior quanto mais durável for o bem de capital e menor o nível de sua demanda de substituição anual.

Agora, suponhamos que a demanda de consumo permaneça em 120 unidades no ano seguinte. O que acontece agora com a demanda da empresa por máquinas? Não há mais qualquer necessidade de que as empresas comprem quaisquer máquinas além daquelas necessárias para a substituição. Nesse ano, só é necessário substituir uma máquina; portanto, a demanda total da empresa por máquinas vai reverter-se, de três no ano anterior, para uma nesse ano. Assim, uma demanda do consumidor inalterada vai gerar uma queda de 200% na demanda por bens de capital. Estendendo outra vez o princípio à economia como um todo, um simples aumento na demanda do consumidor gerou flutuações muito mais intensas na demanda por capital fixo, primeiro aumentando-a muito mais do que proporcionalmente, e depois precipitando um forte declínio. Desse modo, dizem os aceleracionistas, o aumento na demanda do consumidor leva a uma demanda intensa por bens de capital. Assim, à medida que o aumento no consumo vai caindo, a própria taxa menor de aumento provoca uma depressão nas indústrias de bens de capital. Na depressão, quando a demanda do consumidor cai, a economia fica com a inevitável “capacidade excedente” criada no boom. O princípio de aceleração raramente é usado para expor uma teoria completa do ciclo; mas ele muitas vezes é usado como se fosse um dos principais elementos da teoria cíclica, explicando em particular as sérias flutuações nas indústrias de bens de capital.

O princípio de aceleração, aparentemente plausível, é na verdade um tecido de falácias. Temos de notar, antes de tudo, que o padrão aparentemente óbvio de uma substituição por ano pressupõe que uma nova máquina foi acrescentada nos dez anos anteriores; em suma, ele se baseia no pressuposto altamente dúbio de que a empresa expandiu-se rápida e continuamente na década anterior.[7] Esse é de fato um jeito curioso de descrever uma situação de equilíbrio; também é altamente dúbio explicar um boom e uma depressão que só ocorrem depois de uma década de expansão prévia. Com certeza é igualmente provável que a empresa tenha comprado todas as suas dez máquinas ao mesmo tempo — um pressuposto muito mais consoante com uma situação de equilíbrio atual para aquela empresa. Se isso aconteceu, então a necessidade de demanda para aquela empresa só viria uma vez a cada década. À primeira vista, isso parece apenas dar força ao princípio de aceleração. Afinal, o denominador de substituição agora é dez vezes menor, e a demanda intensificada, dez vezes maior. Mas ele só se fortalece superficialmente, porque todos sabem que, na vida real, no curso “normal” das coisas, a economia em geral não experimenta uma demanda zero por capital, pontuada por explosões de investimento a cada dez anos. No mercado como um todo, a demanda por investimento é mais ou menos constante durante os estados quase-estacionários. Mas se, no todo, o mercado consegue corrigir essas flutuações rápidas, por que não poderia corrigir as flutuações mais brandas postuladas na versão padrão do princípio de aceleração?

Além disso, há no cerne do próprio exemplo dos aceleracionistas uma falácia importante, falácia essa que foi posta a descoberto por W. H. Hutt.[8] Vimos que a demanda do consumidor aumenta 20% — mas por que as duas máquinas a mais têm de ser compradas em um ano? O que o ano tem a ver com isso? Se analisarmos detidamente a questão, vemos que o ano é uma unidade puramente arbitrária e irrelevante mesmo nos termos do próprio exemplo. Poderíamos igualmente considerar uma semana como o período de tempo. Então afirmaríamos que a demanda do consumidor (que, afinal, existe continuamente) aumenta 20% na primeira semana, levando assim a um aumento de 200% na demanda por máquinas na primeira semana (ou mesmo a um aumento infinito se a substituição não acontecer na primeira semana), seguido de uma queda de 200% (ou infinita) na semana seguinte, e da estabilidade daí por diante. Uma semana nunca é usada pelos aceleracionistas porque assim o exemplo claramente não se aplicaria à vida real, que não testemunha essas enormes flutuações no curso de umas poucas semanas, e assim a teoria certamente não poderia ser usada para explicar o ciclo econômico geral. Mas uma semana é tão arbitrária quanto um ano. Na verdade, o único período de tempo não arbitrária que se poderia escolher seria a vida útil de uma máquina (por exemplo, dez anos).[9] Ao longo de um período de dez anos, a demanda por máquinas havia sido dez e na década atual e nas seguintes será dez mais as duas extras, isso é, doze; em suma, no período de dez anos, a demanda por máquinas vai crescer exatamente na mesma proporção que a demanda por bens de consumo — e sem que haja qualquer efeito de ramificação. Como as empresas compram e produzem ao longo de períodos planejados que cobrem as vidas úteis de seus equipamentos, não há razão para presumir que o mercado vá ter dificuldades para planejar a produção de maneira correspondente, sem as flutuações erráticas manufaturadas pelo modelo dos aceleracionistas. De fato, não há qualquer validade em dizer que o aumento no consumo exige o aumento imediato na produção ou no número de máquinas; pelo contrário, é o aumento na poupança e no investimento em máquinas, em momentos escolhidos pelos empreendedores com base unicamente na lucratividade esperada, que permite o aumento futuro na produção de bens de consumo.[10]

O princípio aceleracionista se baseia em outros pressupostos errôneos. Seu postulado de uma proporção fixa entre capital e produtividade, por exemplo, ignora a possibilidade sempre presente da substituição, do trabalho mais ou menos intensivo de diferentes fatores etc. Ele também presume que o capital pode ser minuciosamente dividido, ignorando o fato de que os investimentos são feitos “em grandes bocados”, e de maneira descontínua, especialmente quando se trata de uma fábrica fixa.

Há ainda um erro muito mais grave — e fatal — no princípio de aceleração, erro que está refletido na rigidez do modelo mecânico. Não há qualquer menção do sistema de preços ou do empreendedorismo. Considerando o fato de que toda a produção do mercado é gerida por empreendedores submetidos ao sistema de preços, essa omissão realmente impressiona. É difícil enxergar como qualquer teoria econômica pode ser levada a sério se ela omite o sistema de preços de suas estimativas. Uma mudança na demanda do consumidor vai alterar os preços dos bens de consumo, mas essas reações são esquecidas, e os termos monetário e físico são desesperadamente entrelaçados pela teoria sem que haja menção das alterações de preço. A medida em que cada empreendedor investirá no aumento da produção de um bem depende de suas relações de preço — dos diferenciais entre seu preço de venda e os preços de seus fatores de produção. Esses diferenciais de preço estão inter-relacionados em cada estágio de produção. Se, por exemplo, houver um aumento na demanda monetária do consumidor, ela se mostrará para os produtores de bens de consumo na forma de um aumento no preço do produto. Se o diferencial de preço entre os preços de venda e de compra aumentar, a produção desse bem será incentivada. Se, porém, os preços dos fatores subirem mais rápido do que os preços de venda, a produção é reduzida, e não há qualquer efeito na produção se os preços mudarem pari passus. Ignorar preços numa discussão de produção torna portanto qualquer teoria inteiramente inválida.

Além de negligenciar o sistema de preços, a visão que o princípio tem do empreendedor é desesperadamente mecanicista. A função primária do empreendedor é especular, estimar o futuro incerto usando seu julgamento. Mas o princípio de aceleração olha o empreendedor como alguém que cega e automaticamente responde aos dados presentes (isso é, aos dados do passado imediato) e não como alguém que estima os dados futuros. Uma vez que se enfatize esse ponto, ficará claro que os empreendedores, numa economia desimpedida, devem ser capazes de prever o suposto abrandamento da demanda e organizar seus investimentos de acordo com isso. Se os empreendedores conseguem prever aproximadamente o pretenso “princípio de aceleração”, então o suposto abrandamento da demanda por investimento, enquanto leva a uma diminuição da atividade nessas indústrias, não precisa ser depressivo, porque nem precisa engendrar nem engendraria perdas entre os empresários. Portanto, ainda que se admitisse o resto do princípio, ele só poderia explicar as flutuações, não a depressão — não o aglomerado de erros cometidos pelos empreendedores. Se os aceleracionistas dizem que os erros são causados precisamente pela incapacidade dos empresários de prever a mudança, temos de perguntar: de onde veio essa incapacidade? Na teoria de Mises, os empreendedores são impedidos de prever corretamente porque a intervenção governamental atrapalha os “sinais” do mercado. Mas aqui não há interferência do governo, já que o princípio pretensamente se refere ao mercado desimpedido. Além disso, é muito mais fácil entender esse princípio do que a teoria de Mises. Não há nele nada de complexo, e, se ele fosse verdadeiro, então seria óbvio para todos os empreendedores que a demanda por investimento iria cair fortemente no ano seguinte. Os negócios deles e das outras pessoas seriam organizados a partir disso, e não se seguiriam quaisquer depressões generalizadas ou perdas enormes. Assim, o investimento hipotético em equipamentos contra gafanhotos a cada sete anos poderia ser bem pesado por um ou dois anos, e depois cair drasticamente nos anos seguintes. Contudo, isso não necessariamente engendraria qualquer depressão, porque essas mudanças seriam consideradas, e os empreendedores se prepararam para elas. Isso não pode ser feito com a mesma eficiência em outros casos, mas com certeza os empreendedores deveriam ser capazes de prever seu suposto efeito. De fato, qualquer um deveria vê-lo; e os empreendedores obtiveram sua posição atual exatamente por causa de sua capacidade preditiva. O princípio da aceleração não tem como dar conta do erro empresarial.[11]

Uma das falácias mais importantes do princípio de aceleração é seu salto inteiramente ilegítimo de uma única empresa ou indústria para a economia como um todo. Seu erro é semelhante àqueles cometidos pela grande maioria das teorias econômicas anglo-americanas: a concentração em apenas duas áreas — uma única empresa ou indústria e a economia como um todo. Essas duas concentrações estão fatalmente erradas, porque deixam de fora as áreas mais importantes: as inter-relações entre as diversas partes da economia. Somente uma teoria econômica geral é válida — nunca um sistema teórico baseado ou num exemplo isolado e parcial, ou em agregados holísticos, ou numa mistura dos dois.[12] No caso do princípio de aceleração, como surgiu o aumento de 20% do consumo do produto da empresa? De modo geral, um aumento de 20% no consumo em uma área tem de significar uma redução de 20% em algum outro lugar. Nesse caso, é claro, o salto do caso individual para o agregado é especialmente errado, porque assim não há qualquer boom geral do consumo ou do investimento. Se o aumento de 20% vale para toda a economia, como esse aumento será financiado? Que mudanças gerais são necessárias em outros lugares para permitir esse aumento? Essas questões os aceleracionistas nunca enfrentam. Deixando de lado por um momento as mudanças na oferta e na demanda monetárias, o aumento no consumo só pode surgir por meio de uma redução na poupança e no investimento. Mas se a poupança e o investimento podem diminuir a fim de permitir um aumento agregado do consumo, então o investimento não pode aumentar em resposta ao consumo crescente; pelo contrário, ele tem de cair. O princípio de aceleração nunca enfrenta esse problema porque ele ignora profundamente a ciência econômica — o estudo do funcionamento do princípio de meios e fins nas atividades humanas. Fora do Nirvana, todos os recursos são escassos, e esses recursos têm de ser alocados para usos demandados mais urgentemente por todos os indivíduos na sociedade. É esse o problema particular da economia, e ele indica que, para obter um bem de maior valor, os indivíduos têm de abrir mão de algum outro bem que para eles têm menor valor. O maior consumo agregado presente só pode ser obtido por meio de menores poupança e investimento agregados. Em suma, as pessoas escolhem entre o consumo futuro e presente, e só podem aumentar o consumo presente às custas do futuro, ou vice-versa. Mas o princípio da aceleração ignora o problema econômico de maneira completa e desastrosa.

A única maneira de o investimento subir junto com o consumo é por meio da expansão de crédito inflacionária — e os aceleracionistas muitas vezes vão fazer nada mais do que uma breve alusão a esse pré-requisito. Mas essa admissão destrói a teoria inteira. Ele significa, em primeiro lugar, que o princípio de aceleração simplesmente não poderia operar no livre mercado. Que, se ele sequer chega a existir, deve ser atribuído ao governo e não ao funcionamento do capitalismo laissez-faire. Mas nem a admissão da necessidade da expansão do crédito pode salvar o princípio, porque o exemplo oferecido pelo princípio de aceleração aparece em termos físicos, reais. Ele postula um aumento na produção de unidades em resposta a um aumento na demanda. Mas se o aumento na demanda é puramente monetário, então os preços, tanto dos bens de consumo como de capital, podem simplesmente aumentar sem qualquer alteração na produção física — e não há qualquer efeito de aceleração. Em suma, pode haver um aumento de 20% na oferta monetária, levando a um aumento de 20% no consumo e no investimento — na verdade, em todas as quantidades — mas não é necessário que as quantidades reais e as relações de preço mudem, e não há qualquer amplificação do investimento, em termos reais ou monetários. O mesmo vale, aliás, se o aumento monetário no investimento ou no consumo vem do desentesouramento e não da expansão monetária.

Poder-se-ia objetar que a inflação não aumenta nem pode aumentar todas as quantidades de maneira proporcional, e que essa é sua principal característica. Nada mais exato. Mas sigamos por esse caminho, e chegaremos definitivamente à teoria austríaca dos ciclos econômicos — e o princípio de aceleração estará perdido para sempre. A teoria austríaca trata precisamente das distorções do ajuste de mercado às proporções entre consumo e investimento, causado pela expansão de crédito inflacionária.[13] Assim, os aceleracionistas afirmam, efetivamente, que os empreendedores são iludidos pelo aumento do consumo a expandir excessivamente os investimentos duráveis. Mas a teoria austríaca demonstra que, devido ao efeito da inflação sobre os preços, mesmo a expansão do crédito só pode causar o mal-investimento, não o “sobre-investimento”. Os empreendedores vão sobre-investir nos estágios superiores da produção, e sub-investir em seus estágios inferiores. O investimento total é limitado pela oferta total de poupança disponível, e um aumento geral no consumo significa uma diminuição na poupança e portanto uma redução no investimento total (e não um aumento ou mesmo um aumento amplificado, como afirma o princípio aceleracionista).[14] Além disso, a teoria austríaca mostra que o aglomerado de erros empresariais é causado pela distorção inflacionária das taxas de juro de mercado.[15]

Carência de “oportunidades de investimento”

Há entre os economistas uma tendência muito comum de atribuir a depressão a uma carência, ou a uma “saturação” de “oportunidades de investimento”. As oportunidades de investimento se abrem durante o boom e são exploradas. Porém, após algum tempo, essas oportunidades desaparecem, e por isso a depressão se segue ao boom. A depressão continua até que oportunidades de investimento reaparecem. O que faz com que apareçam essas pretensas “oportunidades”? Há os fatores causais típicos listados num famoso artigo do professor Hansen, que atribuiu a depressão da década de 1930 e uma carência de oportunidades de investimento causada por uma taxa insuficiente de crescimento populacional, por falta de novos recursos, e por inovação técnica inadequada.[16] A importância dessa doutrina vai muito além da teoria da “estagnação” de Hansen — de que esses fatores se comportariam no futuro de modo a causar uma tendência depressiva permanente, porque os “refutadores” da teoria da estagnação aceitaram tacitamente a teoria causal de Hansen, e simplesmente lançaram argumentos empíricos de que esses fatores seriam mais fortes do que Hansen supusera.[17] Em raras ocasiões as conexões causais foram elas mesmas questionadas. A doutrina tornou-se um pressuposto generalizado sem que suas bases fossem cuidadosamente examinadas.

De onde vem essas categoriais causais? Um olhar detido mostrará que elas derivam das condições de equilíbrio do sistema walrasiano, que presume uma economia que gira de modo constante e uniforme, em que as preferências, o conhecimento tecnológico e os recursos são considerados dados. Só podem ocorrer mudanças se houver mudança em um ou mais desses dados. Se novos investimentos líquidos são considerados a chave da depressão ou da prosperidade, então saber que o novo investimento é zero em equilíbrio (isso é, só há investimento suficiente para substituir e manter o capital), é fácil concluir que somente mudanças nos dados fundamentais podem levar a novos investimentos. A população e os recursos naturais fazem ambos parte da categoria walrasiana de “recursos”. A omissão importante de Hansen, é claro, são as preferências. A omissão das preferências basta para abalar seu programa inteiro. Porque são as preferências temporais (as “preferências” da sociedade em relação ao consumo presente ou futuro) que determinam a quantidade que os indivíduos vão poupar e investir. A omissão das preferências temporais negligencia o determinante essencial de poupança e investimento.

Os novos recursos naturais, um item relativamente sem importância, raramente são enfatizados. Costumávamos ouvir falar a respeito dos sinistros efeitos do “fechamento das fronteiras” de terras livres, mas essa fronteira foi fechada muito antes de 1930 sem qualquer efeito negativo.[18] Na verdade, o espaço físico por si não assegura quaisquer oportunidades de investimentos lucrativos. O crescimento da população muitas vezes é considerado um fator importante para a prosperidade ou para a depressão, mas é difícil ver por quê. Se a população está abaixo do nível ótimo (o máximo de renda real per capita), seu maior crescimento permite que o investimento aumente a produtividade ao ampliar a divisão de trabalho. Mas isso só pode ser feito por meio de maiores investimentos. Contudo, não há como o crescimento da população estimular o investimento, e é essa a questão aqui. Uma tese diz que o maior crescimento populacional estimula a demanda de construção residencial. Mas a demanda vem do poder de compra, que, por sua vez, vem em última análise da produção, e um aumento de bebês pode enfrentar a incapacidade de se produzir bens suficientes para que haja efetiva demanda de novas casas. Mas mesmo que haja mais demanda por construção, isso simplesmente reduzirá a demanda no consumo em outras áreas da economia. Se o consumo total aumenta por causa do crescimento populacional (e não há qualquer razão específica por que isso deveria acontecer), ele causará um declínio nos fundos poupados e investidos e não o contrário.

Talvez, entre esses fatores causais, a tecnologia seja aquele mais fortemente enfatizado. A teoria do ciclo de Schumpeter levou muitos economistas a enfatizar a importância da inovação tecnológica, particularmente nas grandes novas indústrias; e assim ouvimos falar do boom ferroviário ou do boom automobilístico. Acontece alguma grande inovação tecnológica, abre-se um campo de investimentos, e um boom é iminente. A exploração total desse campo acaba por exaurir o boom, e chega a depressão. A falácia aqui é a ignorância do fato de que a tecnologia, se tem importância vital, está envolvida no investimento só de maneira indireta e não direta. A essa altura, vemos novamente por que as condições do equilíbrio misesiano e não walrasiano deveriam ter sido utilizadas. A teoria austríaca nos ensina que o investimento é sempre menor do que a quantidade máxima que poderia esgotar a tecnologia existente. Portanto, o “conhecimento tecnológico atual” na verdade não é uma condição limitadora dos investimentos. Podemos enxergar a verdade disso simplesmente olhando a nosso redor; em todas as áreas, em todas as linhas possíveis de investimento, sempre há algumas empresas que não estão usando os equipamentos absolutamente mais recentes, e que ainda estão usando métodos mais antigos. Esse fato indica que há um limite mais estreito para o investimento do que o conhecimento tecnológico. Os países atrasados podem mandar quantos engenheiros quiserem para absorver o “know-how americano”, mas isso não levará a esses países os grandes investimentos necessários para elevar de maneira considerável seus padrões de vida. O que eles precisam, numa palavra, é de poupança; é esse o fator que limita o investimento.[19] E a poupança, por sua vez, é limitada pela preferência temporal: a preferência pelo consumo presente e não futuro. O investimento sempre acontece por meio de um alongamento dos processos de produção, já que os processos produtivos mais curtos são os primeiros a ser desenvolvidos, mas eles não são explorados por causa dos limites das preferências temporais. Por exemplo, pode não haver investimento em máquinas melhores e mais novas porque não há poupança suficiente disponível.

Ainda que toda a tecnologia existente fosse explorada até o limite, ainda haveria oportunidades ilimitadas de investimento, porque ainda não haveria saciedade de carências. Mesmo se não fosse possível construir fábricas e siderúrgicas melhores, seria possível construir mais delas, a fim de produzir mais bens de consumo produzidos naquele momento. A nova tecnologia aumenta a produtividade, mas não é essencial para a criação de oportunidades de investimento; estas existem sempre, e só são limitadas pelas preferências temporais e pela poupança disponível. Quanto mais poupança houver, mais investimentos haverá para satisfazer aqueles desejos que ainda não são atendidos.

Assim como no caso do princípio de aceleração, a falácia da abordagem das “oportunidades de investimento” é revelada por sua completa ignorância do sistema de preços. Outra vez, preço e custo desapareceram. Na verdade, o problema numa depressão vem de os custos serem maiores do que os preços obtidos pela venda de bens de capital; se os custos são maiores do que os preços de venda, os empresários naturalmente relutam em investir em negócios que resultarão em perdas. O problema, então, é a rigidez de custos. Num mercado livre, os preços determinam os custos e não vice-versa, de modo que os preços finais reduzidos também reduzirão os preços dos fatores produtivos — reduzindo assim os custos de produção. A inexistência de “oportunidades de investimento” durante a crise vem da excessiva estimativa para cima dos custos durante o boom, que agora a crise revela ter sido excessiva em relação aos preços de venda. Essa estimativa errônea foi gerada pela expansão inflacionária de crédito do período do boom. A maneira de recuperar oportunidades de investimento durante uma depressão, portanto, é permitir que os custos — os preços dos fatores — caiam rapidamente, restabelecendo assim diferenciais de preço lucrativos, especialmente nas indústrias de bens de capital. Em suma, os salários, que constituem a maior parte dos custos de fatores, deveriam cair livre e rapidamente, a fim de restaurar as oportunidades de investimento. Isso equivale a restabelecer diferenciais de preços mais altos — taxas de juros naturais mais altas — no mercado. Portanto, a abordagem austríaca explica o problema das oportunidades de investimento, e as demais teorias são falaciosas ou irrelevantes.

Igualmente irrelevante é qualquer discussão que se limite a indústrias específicas — abordagem muito similar à doutrina da oportunidade tecnológica. Muitas vezes se diz que uma certa indústria — por exemplo, a de construção ou a automobilística — prosperou particularmente durante o boom, e que a depressão ocorreu por causa das condições depressivas naquela indústria em particular. Isso, porém, confunde meras flutuações econômicas específicas com ciclos econômicos gerais. As quedas em uma ou em diversas indústrias são contrabalançadas pela expansão em outras, com a transferência da demanda. Assim, a atenção a indústrias particulares nunca pode explicar os booms ou as depressões na economia em geral — especialmente num país multi-industrial como os Estados Unidos.[20] Por exemplo, é irrelevante se a indústria da construção enfrenta ou não um “ciclo longo” de vinte e poucos anos.

A teoria de Schumpeter dos ciclos econômicos

A teoria dos ciclos de Joseph Schumpeter se notabiliza por ser a única doutrina, à exceção da austríaca, que se baseia na teoria econômica geral e que nela está integrada.[21] Infelizmente, ela se baseava na economia geral walrasiana, e não austríaca, e portanto estava condenada desde o princípio. O elemento particularmente schumpeteriano na discussão do equilíbrio é seu postulado da taxa de juros igual a zero. Schumpeter, assim como Hansen, descarta as preferências do consumidor enquanto elemento ativo, e também descarta os novos recursos. Ignorando a preferência temporal, no equilíbrio a taxa de juros se torna zero, e seu valor positivo no mundo real se torna um mero reflexo de lucros positivos, os quais, por sua vez, devem-se ao único elemento possível de mudança que resta: as inovações tecnológicas. Essas inovações são financiadas, afirma Schumpeter, pela expansão do crédito bancário, e assim Schumpeter ao menos admite que a expansão do crédito bancário é um elo vital na geração de boom e depressão, ainda que ele efetivamente não se detenha muito nisso. As inovações se aglomeram em alguma indústria específica, e isso gera o boom. O boom termina quando os investimentos inovadores se esgotam, e o aumento de produtividade que deles resulta jorra no mercado e perturba as antigas empresas e indústrias. O fim do aglomerado, acompanhado pelas súbitas dificuldades enfrentadas pelas antigas firmas, e o aumento geral no risco de falência, trazem a depressão, que termina quando as antigas e as novas empresas finalmente se adaptam à nova situação.

Há diversas falácias nessa abordagem:

1. Não se oferece qualquer explicação para a ausência de previsões precisas por parte das antigas e das novas empresas. Por que as dificuldades não foram esperadas e consideradas?[22]

2. Na realidade, um aglomerado de inovações em uma nova indústria pode levar um longo tempo para desenvolver-se, e ainda assim o tempo necessário para que a produtividade daquela indústria aumente como resultado dessas inovações pode ser relativamente curto. Contudo, a teoria precisa presumir que a produtividade aumenta após a ação do aglomerado; sem isso, não há boom nem recessão.

3. Como vimos acima, as preferências temporais e os juros são ignoradas, assim como também é ignorado o fato de que é a poupança, e não a tecnologia, o fator que limita o investimento.[23] Por isso, o investimento financiado pelo crédito bancário não precisa dirigir-se para inovações, mas também pode financiar maiores investimentos em processos já conhecidos.

4. A teoria postula um aglomerado periódico de inovações nos períodos de recessão, mas não apresenta nenhum raciocínio que explique esse aglomerado tão peculiar. Pelo contrário, as inovações e o progresso tecnológico acontecem continuamente, na maior parte das empresas, e não só em algumas. Um aglomerado de inovações implica, além disso, um aglomerado periódico de capacidade empresarial, e esse pressuposto é claramente gratuito. E na medida em que a inovação é um procedimento econômico costumeiro de pesquisa e desenvolvimento, os aluguéis da inovação irão para os departamentos de pesquisa e desenvolvimento das empresas, em vez de se tornar lucros empresariais.[24]

5. A visão de Schumpeter do empreendedorismo — normalmente aclamada como sua maior contribuição — é extremamente estreita e unilateral. Ele enxerga o empreendedorismo apenas como a criação de inovações, o estabelecimento de novas empresas que inovem etc. Na verdade, os empreendedores trabalham continuamente, ajustando-se o tempo inteiro às incertezas das futuras condições de demanda e de oferta, as quais incluem os efeitos das inovações.[25]

Na versão posterior, Schumpeter admitiu que ciclos gerados por diferentes inovações específicas implicariam diferentes “períodos de gestação” para que suas oportunidades fossem exploradas até que a nova produtividade tivesse chegado ao máximo. Por isso, ele modificou sua teoria postulando uma economia de três ciclos separados, interagindo entre si: basicamente um de cerca de 3 anos, outro de 9 anos, e mais um de 55 anos. Mas o postulado multicíclico derruba qualquer teoria cíclica. Todos os processos econômicos interagem no mercado, e todos os processos se misturam. Um ciclo acontece na economia inteira, e tanto o boom quanto a depressão são generalizados. O sistema de preços integra e inter-relaciona todas as atividades, e não há nem motivo nem justificativa para presumir a existência de “ciclos” hermeticamente selados, todos acontecendo paralelamente e somando-se uns aos outros, de modo a formar uma certa resultante de atividade econômica. O esquema multicíclico é, portanto, um recuo total em relação ao modelo schumpeteriano original, recuo esse que ainda lhe acrescenta graves falácias.[26]

Doutrinas de qualidade do crédito

Das teorias discutidas até agora, somente a austríaca ou misesiana considero que há algo de errado no boom. As outras teorias exaltam o boom, e veem a depressão como uma desagradável inversão da prosperidade anterior. As doutrinas austríaca e schumpeteriana enxergam a depressão como o resultado inevitável de processos iniciados no boom. Mas enquanto Schumpeter considera a deflação da “onda secundária” algo infeliz e perturbador, ele vê o boom e a recessão de seu modelo puro como o preço inevitável a pagar pelo desenvolvimento capitalista. Apenas a teoria austríaca, portanto, considera o boom inflacionário algo inteiramente infeliz, e julga que a depressão é necessária para eliminar as distorções introduzidas pelo boom. Diversas escolas de “qualidade do crédito”, porém, também consideram que a depressão é uma consequência inevitável do boom inflacionário. Elas concordam com os austríacos, portanto, que os booms deveriam ser evitados antes que comecem, e que o processo de liquidação da depressão deveria poder começar sem impedimentos. Elas diferem consideravelmente, porém, na análise das causas, e nas maneiras específicas como o boom e a depressão podem ser impedidos.

A ala mais venerável da teoria do crédito qualitativo é a antiga doutrina da Escola Bancária, de grande importância no século XIX e até o fim da década de 1930. Trata-se da tradição à moda antiga de “bancos sólidos”, dominante nos livros textos mais antigos sobre moeda e bancos, e liderada durante a década de 1920 por dois eminentes economistas: odoutor Benjamin M. Anderson do Chase National Bank, e odoutor H. Parker Willis do Departamento de Bancos da Columbia University, e editor do Journal of Commerce. Essa escola de pensamento, hoje bastante em declínio, afirma que a expansão do crédito bancário somente gera inflação quando direcionada para as linhas erradas, isso é, para ativos que não sejam créditos autoliquidantes de curto prazo garantidos por “bens reais”, dadas a mutuários de histórico de crédito impecável. A expansão do crédito bancário nesses ativos não é considerada inflacionária, já que supostamente ela é apenas uma resposta às legítimas “necessidades econômicas”, na qual a oferta monetária cresce junto com a produção, e diminui novamente quando os bens são vendidos. Todos os outros tipos de créditos — seja o de longo prazo, o imobiliário, o do mercado de ações, ou aquele feito a mutuários duvidosos — são considerados inflacionários, e criam uma situação de boom e depressão, em que a depressão é necessária para liquidar o desperdício da inflação do boom. Como os empréstimos bancários da década de 1920 em grande medida englobavam ativos não considerados sólidos pela Escola Bancária, esse teóricos juntaram-se aos “austríacos” na oposição à inflação do crédito bancário da década de 1920, e nos avisos de que uma depressão se anunciava.

A ênfase da Escola Bancária é porém inválida. O aspecto importante da expansão do crédito bancário é a quantidade de dinheiro novo jogada nos empréstimos às empresas, e de modo algum o tipo de empréstimos que são feitos às empresas. Os empréstimos de curto prazo, “autoliquidantes”, são tão inflacionários quanto empréstimos de longo prazo. As necessidades de crédito das empresas, por outro lado, podem ser financiadas por empréstimos feitos da poupança voluntária; não há qualquer boa razão por que os empréstimos de curto prazo em particular devam ser financiados pela inflação bancária. Os bancos não ficam simplesmente esperando passivamente que as empresas demandem empréstimos; essas demandas mesmas variam inversamente à taxa de juros cobrada pelos bancos. O ponto crucial é a injeção de novo dinheiro nas empresas; independentemente do tipo de empréstimo feito, esse dinheiro vai então passar para a economia, com os efeitos descritos pela análise austríaca. A irrelevância do tipo de empréstimo pode ser vista no fato de que para as empresas, financiar o investimento de longo prazo indiretamente dos bancos é tão eficiente quanto financiá-lo por empréstimos diretos. Uma empresa pode simplesmente parar de usar seus próprios fundos para financiar o estoque de curto prazo, e, no lugar disso, tomar emprestados os fundos dos bancos. Os fundos liberados por esse empréstimo podem então ser usados para fazer investimentos de longo prazo. É impossível aos bancos impedir que seus fundos sejam usados indiretamente dessa maneira. Todo crédito está inter-relacionado no mercado, e não há maneira de os vários tipos de crédito ficarem hermeticamente isolados uns dos outros.[27] E, mesmo que eles ficassem, isso não faria sentido economicamente.

Em suma, o empréstimo “autoliquidante” é tão inflacionário quanto qualquer outro tipo de empréstimo, e o único mérito dessa teoria é o mérito indireto de limitar quantitativamente os empréstimos dos bancos que não conseguem emprestar tanto quanto gostariam. Esse empréstimo não tem nem o mérito de um encerramento mais rápido, já que os empréstimos de curto prazo podem ser renovados, ou refeitos em outros bancos, como efetivamente o são, perpetuando assim o empréstimo por tanto tempo quanto o de “longo prazo”. Essa ênfase da escola bancária enfraqueceu seu efeito salutar na década de 1920, porque serviu para agravar a ênfase excessiva e generalizada nos tipos de empréstimos — sobretudo os relativos ao mercado de ações — em detrimento de uma ênfase na quantidade de dinheiro devido.

Mais perigosos do que a Escola Bancária com essa ênfase qualitativa são aqueles observadores que determinam que algum tipo de crédito é particularmente terrível. Se a Escola Bancária era contra uma inflação quantitativa que passava para todos os ativos, exceto aqueles que eram rigidamente autoliquidantes — outros observadores não ligam a mínima para a quantidade, mas apenas para algum tipo particular de ativo — por exemplo, imóveis ou ações em bolsa. O mercado de ações foi um saco de pancadas comum na década de 1920, e muitos teóricos pediram restrições a empréstimos relacionados a ações, que seriam diferentes de empréstimos “legítimos”. Uma teoria comum acusava o mercado de ações de “absorver” crédito de capital que poderia ter ido para necessidades “legítimas” da indústria ou da agricultura. “Wall Street” tem sido um bode expiatório vulgar desde os dias dos Populistas, e desde que Thorstein Veblen legitimou uma distinção falaciosa entre “finanças” e “indústria”.

O argumento da “absorção de capital” está hoje em declínio, mas ainda existem muitos economistas que sempre culpam o mercado de ações. Claro está que o mercado de ações é um canal para o investimento na indústria. Se A compra um novo título, então os fundos são investidos diretamente; se ele compra ações antigas, então (1) o aumento no preço das ações incentivará a empresa a negociar mais títulos de ações, e (2) os fundos então serão transferidos ao vendedor B, que por sua vez irá consumir os fundos ou investi-los diretamente. Se o dinheiro for investido diretamente por B, então outra vez o mercado de ações canalizou a poupança para o investimento. Se B consumir o dinheiro, então seu consumo ou despoupança tão-somente contrabalança a poupança de A, sem que ocorra qualquer poupança líquida agregada.

Na década de 1920 houve muita preocupação com os empréstimos dos corretores, e o aumento na quantidade de empréstimos para corretores foi considerado prova da absorção de crédito pelo mercado de ações. Mas um corretor só precisa de um empréstimo quando seu cliente lhe pede dinheiro após vender suas ações; sem isso, o corretor manterá uma conta corrente em aberto sem necessidade de dinheiro vivo. Mas quando o cliente precisa de dinheiro, ele vende suas ações e sai do mercado. Por isso, quanto maior o volume de empréstimos que os corretores tomarem dos bancos, maior o grau em que os fundos estão saindo do mercado de ações, e não entrando nele. Na década de 1920, o alto volume de empréstimos de corretores indicava o alto grau em que a indústria estava usando o mercado de ações como canal para adquirir fundos poupados para investimento.[28]

Não deveriam surpreender as flutuações do mercado de ações, muitas vezes bem demarcadas durante um boom. Vimos que a análise austríaca demonstra que flutuações maiores ocorrerão nas indústrias de bens de capital. As ações, porém, são unidades de títulos de massas de bens de capital. Assim como os preços dos bens de capital tendem a subir durante um boom, igualmente subirão os preços de títulos de propriedade de massas de capital.[29] A queda na taxa de juros causada pela expansão do crédito aumenta o valor de capital das ações, e esse aumento é estimulado simultaneamente pelo aumento presente e prospectivo dos rendimentos das empresas. A consideração do aumento dos rendimentos prospectivos durante o boom naturalmente tenderá a elevar os preços das ações mais do que a maioria dos demais preços. O mercado de ações portanto não é um elemento realmente independente, distinto do sistema industrial, ou que efetivamente o perturbe. Pelo contrário, o mercado de ações tende a refletir os desenvolvimentos “reais” do mundo dos negócios. Os corretores de valores que protestaram durante o fim da década de 1920, dizendo que o boom tão somente refletia seu “investimento nos Estados Unidos” não mereciam os comentários amargos dos críticos posteriores; o erro deles foi o erro universal de acreditar que o boom da década de 1920 era natural e perpétuo, e não um prelúdio artificialmente induzido do desastre. É difícil dizer que esse foi um equívoco particular do mercado de ações.

Outro saco de pancadas favorito nos últimos booms tem sido o crédito parcelado ao consumidor. Acusa-se os empréstimos parcelados aos consumidores de serem particularmente inflacionários e insustentáveis. Contudo, o contrário é que é verdade. O crédito parcelado é tão inflacionário quanto qualquer outro empréstimo, e faz muito menos mal do que os empréstimos às empresas (incluindo os empréstimos supostamente “sólidos”) porque não leva ao ciclo de boom e recessão. A análise de Mises do ciclo econômico aponta que sua causa é a expansão inflacionária do crédito às empresas no mercado de empréstimos. É a expansão do crédito às empresas que superestimula o investimento nas ordens superiores, iludindo as empresas a respeito da quantidade de poupança disponível etc. Mas os empréstimos aos consumidores enquanto consumidores não têm efeitos negativos. Como eles estimulam o consumo e não os gastos das empresas, eles não principiam um ciclo de boom e recessão. Nesses empréstimos há menos motivos para preocupação do que em quaisquer outros.

Excesso de otimismo, excesso de pessimismo

Outra teoria comum atribui os ciclos econômicos a ondas psicológicas alternantes de “excesso de otimismo” e de “excesso de pessimismo”. Essa perspectiva negligencia o fato de que o mercado é estruturado para recompensar as previsões corretas e penalizar as incorretas. Os empreendedores não precisam depender de sua própria psicologia; eles sempre têm a opção de referir suas ações aos testes objetivos de lucros e prejuízos. Os lucros indicam que suas decisões foram boas; os prejuízos indicam que eles cometeram erros graves. Esses testes objetivos de mercado oferecem um contrapeso a quaisquer erros psicológicos que possam ser cometidos. Além disso, os empreendedores de sucesso no mercado serão precisamente aqueles que, ao longo dos anos, estiverem melhor preparados para fazer previsões corretas e usar seu bom senso na análise das condições de mercado. Nessas condições, é absurdo supor que todos os empreendedores cometerão esses erros, a menos que os fatos objetivos do mercado fiquem distorcidos por um período de tempo considerável. Essa distorção enfraquecerá os “sinais” objetivos do mercado e iludirá a grande maioria dos empreendedores. É essa a distorção explicada pela teoria de Mises do ciclo. O otimismo dominante não é a causa do boom; ele é o reflexo de acontecimentos que parecem oferecer prosperidade ilimitada. Além disso, não há qualquer razão para que o excesso generalizado de otimismo subitamente se transforme em excesso de pessimismo; na verdade, como Schumpeter observou (e isso certamente era verdade após 1929), os empresários costumam insistir num otimismo obstinado e sem razão por bastante tempo após o começo da depressão.[30] A psicologia empresarial portanto é derivativa da situação econômica objetiva, e não uma de suas causas. As expectativas econômicas portanto corrigem a si mesmas em vez de agravar a si mesmas. Como observou o professor Bassic:

O empresário pode esperar uma queda, e pode diminuir seus estoques, mas produzirá o bastante para atender aos pedidos que recebe; e, assim que as expectativas de queda mostrem-se equivocadas, ele voltará a refazer seus estoques… a teoria psicológica inteira dos ciclos econômicos não parece muito mais do que uma inversão da verdadeira sequência causal. As expectativas são mais intimamente derivadas das condições econômicas do que causadoras delas. O empresário tanto expande quanto espera que sua expansão vá ser lucrativa porque as condições que ele vê justificam a expansão… Não é a onda de otimismo que faz com que o tempo seja bom. Os bons tempos quase que obrigatoriamente trazem consigo uma onda de otimismo. Por outro lado, quando vem o declínio, ele vem não porque todos perdem confiança, mas porque as forças econômicas básicas estão mudando. Uma vez que o real apoio do boom desabe, todo o otimismo acumulado em anos de prosperidade cairá junto. O costume é que a confiança tenda a permanecer estável após o início de uma queda.[31]
[1] Ver a discussão de Scott em Wesley C. Mitchell, Business Cycles: The Problem and its Setting (Nova York: National Bureau of Economic Research, 1927), pp. 75ss.

[2] Ver C. A. Philips, T. F. McManus, e R. W. Nelson, Banking and the Business-Cycle (Nova York: MacMillan, 1937), pp. 59?64.

[3] Na teoria keynesiana, o “equilíbrio agregado” é alcançado por duas vias: lucros e prejuízos, e o investimento “impremeditado” ou desinvestimento em estoque. Só que não existe investimento impremeditado, já que os preços sempre poderiam ser cortados a um ponto baixo o suficiente para que o estoque seja vendido se houver essa intenção.

[4] Frequentemente nos deparamos com o argumento de que a oferta monetária precisa ser aumentada “para acompanhar o aumento na oferta de bens”. Mas bens e moeda não são proporcionais sob nenhum aspecto, e portanto nada nessa injunção faz sentido. Sob nenhum aspecto a moeda pode ser igualada aos bens.

[5] Para uma brilhante crítica do subconsumismo feita por um austríaco, ver F. A. Hayek, “The Paradox of Saving”, em Profits, Interest, and Investment (Londres: Routledge and Kegan Paul, 1939), pp. 199?263. Hayek chama a atenção para as fraquezas sérias e ignoradas na teoria do capital, do interesse e da estrutura de produção dos subconsumistas Foster e Catchings. Ver também Philips, et al., Banking and the Business Cycle, pp. 69?76.

[6] A abordagem keynesiana enfatiza mais o subgasto do que só o subconsumo; sobre o”entesouramento”, a dicotomização keynesiana entre poupança e investimento, e sobre a visão keynesiana dos salários e do desemprego, ver acima.

[7] Ou isso, ou essa expansão deve ter ocorrido em alguma década anterior, após a qual a empresa ? ou a economia inteira ? caiu num estado preguiçosamente estacionário.

[8] Ver sua brilhante crítica do princípio de aceleração em W. H. Hutt, “Coordination and the Price System” (texto inédito, mas disponível na Foundation for Economic Education, Irvington-on-Hudson, Nova York, 1955), pp. 73?117.

[9] Não se trata só do problema do tempo necessário para produzir as novas máquinas; há a questão muito maior da ampla gama de escolhas do período em que fazer o investimento. Mas isso nos recorda de outra falácia dos aceleracionistas: de que a produção das novas máquinas é praticamente instantânea.

[10] Os aceleracionistas habitualmente confundem o consumo com a produção de bens de consumo, e falam de um quando o outro é que vem ao caso.

[11] O “Teorema de Cobweb” é outra doutrina construída sobre o pressuposto de que todos os empreendedores são palermas que reagem cegamente em vez de especular e ter sucesso na previsão do futuro.

[12] A teoria econômica anglo-americana sofre terrivelmente desse deficiência. O sistema marshalliano baseava-se numa teoria parcial da “indústria”, ao passo que a economia moderna se fragmenta cada vez mais discutindo a empresa isolada. A fim de remediar esse defeito, os keynesianos e os demais sistemas econométricos posteriores discutem a economia em termos de alguns agregados holísticos. Somente os sistemas misesiano e walrasiano são verdadeiramente gerais, por basearem-se em trocas individuais inter-relacionadas. O esquema walrasiano não é realista, consistindo meramente numa análise matemática de um sistema de equilíbrio irrealizável (ainda que importante).

[13] Outro defeito da explicação aceleracionista do ciclo é sua ênfase em que o equipamento de capital durável é a atividade mais flutuante de todas. Na verdade, como mostramos anteriormente, o boom não é caracterizado por uma ênfase indevida no capital durável; o fato é que esses itens não-duráveis, como as matérias-primas da indústria, flutuam com a mesma força que os bens de capital fixo. A flutuação acontece nas indústrias de bens de produção (a ênfase austríaca) e não só nas de bens de produção duráveis (a ênfase aceleracionista).

[14] Ver Hutt, “Coordination and the Price System”, p. 109.

[15] O princípio de aceleração também diz explicar a suposta tendência de a queda nos bens de capital preceder quedas na atividade de bens de consumo. Contudo, ela só poderia explicar isso, mesmo segundo seus próprios termos, a partir do pressuposto especialíssimo ? e praticamente nunca percebido ? de que a venda de bens de consumo descreve uma curva em forma de sino sobre o ciclo econômico. Outras curvas possíveis não abrem espaço para precedência nenhuma.

Sobre o princípio de aceleração, ver também L. Albert Hahn, Common Sense Economics (Nova York: Abelard-Schuman, 1956), pp. 139?43; Ludwig von Mises, Human Action (New Haven, Conn.: Yale University Press, 1949), pp. 581?83; e Simon S. Kuznets, “Relation Between Capital Goods and Finished Products in the Business Cycle”, em Economic Essays in Honor of Wesley C. Mitchell (Nova York: Columbia University Press, 1935), pp. 209?67.

[16] Alvin H. Hansen, “Economic Progress and Declining Population Growth”, em Readings in Business Cycle Theory (Filadélfia: Blakiston, 1944), pp. 366?84.

[17] Para um exemplo, ver George Terborgh, The Bogey of Economic Maturity (Chicago: Machinery and Allied Products Institute, 1945).

[18] Curiosamente, as mesmas pessoas que tinham essa preocupação não pediram ao governo federal que abandonasse suas políticas de conservação, que levaram-no a fechar milhões de acres de terras públicas permanentemente. Atualmente, pode-se presumir que o espaço sideral vá oferecer “fronteira” suficiente.

[19] Poupança, não expansão monetária. Um país atrasado, por exemplo, não poderia industrializar-se emitindo quantidades ilimitadas de papel-moeda ou de depósitos bancários. Isso só faria trazer inflação descontrolada.

[20] As fortunas econômicas de um país pequeno que só produz um produto para o mercado serão obviamente dominadas pelo curso dos acontecimentos naquela indústria.

[21] A teoria pura de Schumpeter foi apresentada em sua famosa obra Theory of Economic Development [Teoria do Desenvolvimento Econômico] (Cambridge, Mass: Harvard University Press, 1934), publicada pela primeira vez em 1911. Depois ela apareceu como uma “primeira aproximação”que na verdade equivalia a uma confissão de fracasso, e que introduziu abundantes novas falácias no argumento. A versão posterior foi sua obra Business Cycles [Ciclos Econômicos], 2 vols. (Nova York: McGraw-Hill, 1939).

[22] Certamente o “Modelo Puro” schumpeteriano postula explicitamente o conhecimento perfeito e portanto a ausência de erros por parte dos empreendedores. Mas esse pressuposto é flagrantemente autocontraditório dentro do próprio modelo de Schumpeter, já que a razão mesma da depressão no Modelo Puro é o fato de que os riscos aumentam, as antigas empresas subitamente ficam contra a parede etc., e ninguém volta a inovar até que a situação se equilibre.

[23] Schumpeter sabiamente percebeu que a poupança voluntária só poderia causar o simples crescimento econômico e não poderia gerar ciclos econômicos.

[24] Ver Carolyn Shaw Solo, “Innovation in the Capitalist Process: A Critique of the Schumpeterian Theory”, Quarterly Journal of Economics (August, 1951): 417?28.

[25] Isso refuta a defesa que Clemence e Doody fizeram contra a crítica de Kuznets a Schumpeter. Kuznets afirmava que o aglomerado de inovações presume um aglomerado de capacidade empreendedora. Clemence e Doody identificaram essa capacidade exclusivamente com as inovações e com o estabelecimento de novas empresas. Ver Richard V. Clemence e Francis S. Doody, The Schumpeterian System (Cambridge, Mass: Addison Wesley Press, 1950), pp. 52ss; Simon S. Kuznets, “Schumpeter’s Business Cycles”, American Economic Review (junho de 1940); 262?63.

[26] Schumpeter também discute uma “onda secundária” superposta a seu modelo puro. Essa onda leva em conta a inflação geral, a especulação de preços etc., mas nada há de particularmente schumpeteriano nessa discussão, e se descartarmos tanto o modelo puro quanto a abordagem multicíclica, a teoria de Schumpeter desaba.

[27] Assim, durante o fim da década de 1920, quando os bancos, influenciados pelas doutrinas de crédito qualitativo, tentaram cortar o fluxo de crédito especificamente para o mercado de ações, o mercado conseguiu tomar empréstimos dos fundos inchados de não-banqueiros, fundos inchados por anos de inflação do crédito bancário.

Sobre as falácias dos teóricos do crédito qualitativo, e de suas opiniões sobre o mercado de ações, ver o excelente estudo de Fritz Machlup, que à época era um dos principais teóricos austríacos. The Stock Market, Credit, and Capital Formation (Nova York: Macmillan, 1940).

[28] Sobre isso tudo, ver Machlup, The Stock Market, Credit, and Capital Formation. Um corretor individual pode tomar dinheiro emprestado para pagar outro corretor, mas, no agregado, as transações entre os corretores compensam-se umas às outras e os empréstimos totais dos corretores refletem meramente as relações entre corretores e clientes.

[29] Os valores do mercado imobiliário com frequência vão se comportar de modo análogo, uma vez que os imóveis transmitem unidades de título de capital em terra.

[30] Ver Schumpeter, Business Cycles, vol. 1, cap. IV.

[31] V. Lewis Bassic, “Recent Developments in Short-Term Forecasting”, em Short-Term Forecasting, Studies in Income and Wealth (Princeton, NJ: National Bureau of Economic Research, 1995), vol. 17, pp. 11?12. Ver também pp. 20?21.

Murray N. Rothbard
Murray N. Rothbard
Murray N. Rothbard (1926-1995) foi um decano da Escola Austríaca e o fundador do moderno libertarianismo. Também foi o vice-presidente acadêmico do Ludwig von Mises Institute e do Center for Libertarian Studies.
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