Joe Rogan entende claramente que o poder corrompe.
O Oráculo de Delfos disse que Sócrates era o homem mais sábio de toda a Grécia porque só ele entendia o quão pouco ele realmente sabia.
A anedota reflete a humildade intelectual de Sócrates, que tinha um talento especial para chegar ao cerne das coisas fazendo boas perguntas, o que é uma arte amplamente perdida hoje.
Uma pessoa que possui essa habilidade, no entanto, é Joe Rogan. Um dos atributos que fazem de Rogan um podcaster tão popular e influente – o Joe Rogan Experience tem uma média de 11 milhões de ouvintes por episódio, segundo estimativas – é que ele é um entrevistador extraordinariamente habilidoso. Ao contrário de muitos apresentadores famosos de TV e rádio, Rogan realmente ouve atentamente seus convidados, e usa sua habilidade de ouvir para fazer as perguntas certas no momento certo.
Um caso em questão pode ser encontrado na recente entrevista de Rogan com Jann Wenner, o magnata das revistas de 76 anos de idade que co-fundou a Rolling Stone e era dono da Men’s Journal. Na longa conversa de Rogan com Wenner, que falou bastante sobre o lendário escritor da Rolling Stone, Hunter S. Thompson, o assunto da censura acabou surgindo.
“Você quer que o governo regule a Internet?” Rogan pergunta diretamente a Wenner.
“Absolutamente”, responde Wenner.
Rogan, que tem sido ele mesmo alvo de ataques de censura, não diz imediatamente que discorda. Em vez disso, ele primeiro faz a Wenner outra pergunta – e uma boa pergunta.
“Você confia nas pessoas que nos colocaram na Guerra do Iraque sob falsos pretextos para regular a Internet?” Rogan perguntou a Wenner.
Wenner se esforça para responder, e depois de um tanto de conversa cruzada, ele responde com sua própria pergunta: “Quem mais vai regular isso?”
Rogan, ao contrário de Wenner, oferece uma resposta clara.
Se eles vão estar no poder e regulando a Internet, eles vão regular a Internet de uma forma que melhor atenda aos seus interesses. Da mesma forma que fazem com o setor bancário, da mesma forma que fazem com o meio ambiente, da mesma forma que fazem com a energia, da mesma forma que fazem com tudo.
Wenner ainda não está convencido. Ele diz que a Internet deve ser regulamentada.
“Não há como fazer isso exceto por meio do governo”, diz Wenner. “Não há como você fazer isso, exceto por meio do governo… A natureza humana não vai mudar.”
Rogan responde que o governo também não vai mudar. Wenner discorda.
“O governo é capaz de mudar”, diz Wenner.
Uma pergunta óbvia que Rogan não fez a Wenner é se ele confiaria no governo para regular a Internet se o presidente Trump ou o presidente DeSantis (ou pense em qualquer outro) estivesse fazendo a regulação.
Se Wenner respondesse não – como provavelmente teria feito – a falha na sua lógica apareceria imediatamente. Ele estaria esquecendo que o governo atual, aquele em que aparentemente confia, não será o único a exercer esse vasto poder.
Não podemos supor que o poder será exercido apenas por atores benevolentes, especialmente considerando a natureza do poder, que é uma força corruptora. É precisamente por isso que os autores da Constituição dos Estados Unidos criaram um sistema de freios e contrapesos: para frustrar a concentração de poder por causa do efeito que ele tem sobre os seres humanos.
James Madison, o Pai da Constituição, e Alexander Hamilton explicaram a lógica claramente em Os Artigos Federalistas.
“Pode ser uma reflexão sobre a natureza humana, que tais dispositivos sejam necessários para controlar os abusos do governo. Mas o que é o próprio governo, senão a maior de todas as reflexões sobre a natureza humana?” Madison e Hamilton escreveram. “Se homens fossem anjos, nenhum governo seria necessário. Se os anjos governassem os homens, nem controles externos nem internos sobre o governo seriam necessários.”
O raciocínio de Hamilton e Madison é claro. Homens não são anjos; se fossem, não precisariam de governo algum. E porque eles não são anjos, não pode ser confiado a eles poder irrestrito sobre seus semelhantes humanos.
Esta é a lição que Joe Rogan compreende, mas não Wenner, que cede a Rogan ao admitir que a natureza humana é falha, mas depois argumenta que “o governo é capaz de mudar”, implicando que os piores instintos da natureza humana magicamente desaparecem quando humanos entram no serviço público.
Na verdade, o oposto é verdadeiro. A história tem mostrado repetidas vezes que mesmo pessoas aparentemente bem-intencionadas e idealistas podem se tornar monstros quando recebem poder sobre seus semelhantes. É fácil esquecer que antes de começar a decepar a cabeça dos adversários políticos durante a Revolução Francesa, Maximilien de Robespierre era um calmo estudante de Cícero e Montesquieu que se opunha à pena de morte e era apaixonado pela ideia do “homem virtuoso”.
Nem é apenas a história que mostra a natureza corruptora do poder. O famoso Experimento da Prisão de Philip Zimbardo na Universidade de Stanford mostrou o que dar poder a uma pessoa comum sobre seus semelhantes pode fazer com eles.
O experimento social, planejado por Zimbardo para ocorrer durante duas semanas, foi projetado para investigar a psicologia da vida na prisão, usando estudantes universitários que desempenhavam papéis como “guardas” e “prisioneiros”. No entanto, o experimento foi encerrado apenas seis dias depois, porque os alunos envolvidos no experimento começaram a experimentar mudanças extremas de comportamento.
“Em apenas alguns dias, nossos guardas se tornaram sádicos e nossos prisioneiros ficaram deprimidos e mostraram sinais de estresse extremo”, explicou Zimbardo.
Essa é a natureza corruptora do poder, e sua natureza é algo que Rogan entende claramente, mas Wenner, não.
Por essa razão, os funcionários do governo não devem ter o poder de “regular a Internet” – pelo menos não até que os humanos se tornem anjos.
Tradução de Daniel Peterson
Na verdade o poder não corrompe, o poder apenas faz a máscara cair.
Mas infelizmente as pessoas boas evitam o poder, pois acreditam que com grandes poderes vem também grandes responsabilidades.
Já as de péssimo caráter adoram o poder, pois acreditam que o poder as isenta de qualquer responsabilidade, essa prerrogativa de “ficar acima do bem e do mal” seduz qualquer psicopata.
“Quer conhecer uma pessoa ?, dê poder a ela” – esqueci o autor.