Tenho notado que a seguinte citação de Rothbard tende a circular periodicamente entre os grupos de livre mercado:
“Não é crime ser ignorante em economia, que é afinal uma disciplina especializada e que a maioria das pessoas consideram ser uma “ciência sombria”, mas é totalmente irresponsável ter uma opinião forte e vociferante sobre temas econômicos enquanto se permanece neste estado de ignorância.”
Penso que a razão dessas linhas serem comprovadamente tão populares é porque elas ordenadamente resumem um problema que é único para a economia: a economia é o campo mais discutido, mas o campo menos estudado da investigação humana. Na verdade, as pessoas geralmente costumam construir suas opiniões sobre ideias econômicas e políticas sobre uma base de conhecimento tão pequeno que pareceria estranho para qualquer outra disciplina.
Por exemplo, se fôssemos selecionar pessoas aleatoriamente na rua e pedir-lhes para debater os avanços recentes na física de partículas, a conversa seria provavelmente limitada, se de fato os sujeitos saberiam o que discutir de qualquer forma. Poderíamos apostar com igual certeza de que quase qualquer pessoa selecionada aleatoriamente teria fortes pontos de vista sobre a medicina socializada, o salário mínimo ou controle de armas.
Igualmente, quando os amigos se encontram para uma bebida ou as famílias se sentam para jantar, é improvável que eles vão discutir física, química, geologia, ou fenomenologia. A razão é simples: muitas pessoas sabem pouco sobre esses assuntos e têm pouco interesse em explorá-los. Mais importante, porém, é que somos todos geralmente felizes em admitir que não temos esse conhecimento especializado, uma vez que, normalmente, não desempenham um papel vital em nossas vidas (mais uma vez, assumindo que não somos especialistas).
Mas com Economia é diferente. Quase todos discutimos e debatemos os problemas econômicos ou as políticas públicas – que carregam profundas implicações econômicas – porque a economia está fundamentada na ação humana e de escolha, ela é universalmente compreensível e, portanto, cada indivíduo tende a se sentir como se ele tivesse alguma experiência pessoal relevante e conhecimento através do qual possa interpretar eventos econômicos.
Infelizmente, esta intuição é muitas vezes errada; daí a irritação de Rothbard.
No entanto, enquanto eu aprecio sua observação, eu também acho que há um problema com a maneira como ela está sendo usada em discussões econômicas populares. O que quero dizer é que, se não tivermos cuidado, é fácil cair na armadilha de acreditar que estamos em segurança fora das fileiras dos ignorantes. Assim, em vez de tomar o aviso do Rothbard como uma crítica sóbria, nós a usamos para dar-nos um tapinha de autocongratulação nas costas.
Dito de outra forma, eu acho que as pessoas concentram-se nas partes erradas da citação. A maioria, inclusive eu mesmo, tende a se concentrar nas partes sobre a ignorância, ao passo que negligenciamos a oração chave que aponta que a economia “é, afinal, uma disciplina especializada”. Em outras palavras, fazer a economia é um trabalho duro e é tão fácil de acreditar erroneamente que já a dominamos quanto é acreditar que não precisamos dela pra tudo.
As palavras de Rothbard são muito mais do que uma crítica simples: elas são um desafio para aqueles que querem levar a tradição austríaca à frente. O desafio é não tornar-se complacente com o conhecimento que temos e nunca pararmos de aprender. Eu acho que se nós enfrentarmos este desafio, nós não devemos ficar surpresos ao repensarmos algumas de nossas próprias opiniões fortes e veementes.
Tradução de Larissa Guimarães | Artigo original aqui