Thursday, November 21, 2024
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Repensando Churchill

[Este ensaio aparece originalmente em The Costs of War: America’s Pyrrhic Victories, editado por John V. Denson.]

Churchill como ícone

Em poucos anos, quando os especialistas começarem a questionar sobre: “quem foi o homem do século?”, não há dúvida de que conseguirão chegar a um consenso instantâneo. Inevitavelmente, a resposta será: Winston Churchill. De fato, o professor Harry Jaffa já informara que Churchill não era apenas o Homem do Século XX, mas o Homem de Muitos Séculos[1].

De certa forma, definir Churchill como o Homem do Século será apropriado. Este foi o século do Estado – da ascensão e crescimento hipertrófico do estado de guerra e de bem-estar social – e Churchill foi, do começo ao fim, um Homem do Estado, do estado de bem-estar social e do estado de guerra. A guerra, claramente, foi sua paixão ao longo da vida e, como escreveu um historiador e admirador, “entre outros feitos que o tornaram famoso, Winston Churchill é um dos fundadores do estado de bem-estar social”.[2] Assim, embora Churchill nunca tenha tido princípios que no final não tenha traído,[3] isso não significa que não haja inclinação para as suas ações nem vieses sistemáticos. De fato esses vieses existiram e foram direcionados à redução das barreiras ao poder do Estado.

Para compreender Churchill, devemos ir além das imagens heroicas propagandeadas por mais de meio século. O retrato convencional de Churchill, especialmente de seu papel na Segunda Guerra Mundial foi, em primeiro lugar, o próprio trabalho do Primeiro Ministro, através de histórias distorcidas que ele redigiu e apressou-se em publicar assim que a guerra terminou.[4] Nas últimas décadas, a lenda de Churchill foi adotada por um establishment internacionalista para o qual ele fornece o símbolo perfeito e uma veia inesgotável de chavões elouquentes. Churchill tornou-se, na frase de Christopher Hitchens, um “totem” do establishment americano, não só para os descendentes do New Deal, mas também para o aparato neoconservador: políticos como Newt Gingrich e Dan Quayle, “cavaleiros” corporativos e outros frequentadores dos gabinetes de Reagan e Bush, os editores e escritores do Wall Street Journal e uma legião de colunistas “conservadores” liderados por William Safire e William Buckley. Churchill foi, como escreve Hitchens, “a ponte humana na qual a transição foi feita” entre um EUA não intervencionista e um EUA globalista.[5] É possível que, no próximo século, sua aparência de buldogue apareça no logotipo da Nova Ordem Mundial.

Deve-se admitir abertamente que em 1940 Churchill desempenhou seu papel de maneira soberba. Como o historiador militar, Major General J.F.C. Fuller, um crítico voraz das políticas de guerra de Churchill, escreveu: “Churchill era um homem escalado para o modelo heroico, um berserker sempre pronto para levar uma falsa esperança ou aproveitar uma brecha, e mostrar o seu melhor quando as coisas estavam do pior jeito. Sua retórica glamorosa, sua combatividade e sua insistência em aniquilar o inimigo apelaram para os instintos humanos e fizeram dele um destacado líder de guerra”.[6] A história se superou quando lançou Churchill como o adversário de Hitler. Não importa que em seu discurso mais famoso – “nós devemos combatê-los nas praias … nós lutaremos nos campos e nas ruas” – ele tenha plagiado Clemenceau na época do ataque a Ludendorff, que havia pouquíssima ameaça real de uma invasão alemã ou que, talvez, em primeiro lugar, nem houvesse razão para o duelo existir. Por alguns meses, em 1940, Churchill desempenhou seu papel de forma magnífica e inesquecível.[7]

Oportunismo e retórica

No entanto, antes de 1940 a palavra mais intimamente associada a Churchill era “oportunista”.[8] Ele trocou duas vezes sua filiação partidária – de conservador a liberal e depois a conservador novamente. Sua mudança para os liberais foi supostamente pela questão do livre comércio. Entretanto, em 1930, ele se cansou desta questão, até mesmo do imposto sobre alimentos, proclamando que havia se livrado do “Cobdenismo” para sempre.[9] Como chefe da Junta Comercial antes da Primeira Guerra Mundial, ele se opôs ao aumento de armamentos; depois que se tornou ‘’Lord of the Admiralty’’ em 1911, ele pressionou por orçamentos cada vez maiores, espalhando rumores selvagens sobre a crescente força da Marinha Alemã, assim como fez na década de 1930 sobre a formação da força aérea do mesmo país.[10] Ele atacou o socialismo antes e depois da Primeira Guerra Mundial, enquanto que, durante a guerra, promoveu o mesmo, pedindo a nacionalização das ferrovias e declarou em um discurso: “toda a nossa nação deve ser organizada; deve ser socializada, se você gosta da palavra. “[11] O oportunismo de Churchill continuou até o fim. Na eleição de 1945, ele se ligou brevemente ao Caminho da Servidão de Hayek e tentou pintar o Partido Trabalhista como totalitário, mesmo aceitando, em 1943, os planos de Beveridge para o estado de bem-estar pós-guerra e a administração keynesiana da economia. Ao longo de sua carreira, sua única regra foi subir ao poder e permanecer por lá.

Havia dois princípios que por muito tempo pareciam tocar o coração de Churchill. Um era o anticomunismo: ele foi um dos primeiros fervorosos oponentes do bolchevismo. Durante anos, ele – muito corretamente – condenou os “malditos babuínos” e “assassinos imundos de Moscou”. Sua profunda admiração inicial por Benito Mussolini estava enraizada em sua apreciação perspicaz do que Mussolini havia realizado (ou assim ele pensava). Em uma Itália à beira da revolução leninista, Il Duce havia descoberto a fórmula que poderia neutralizar o apelo leninista: o hipernacionalismo com uma inclinação social. Churchill elogiou “a luta triunfal do fascismo contra os apetites e paixões bestiais do leninismo”, afirmando que “provou o antídoto necessário para o veneno comunista”.[12]

Contudo, chegou o momento em que Churchill fez as pazes com o comunismo. Em 1941, ele deu apoio incondicional a Stalin, acolheu-o como um aliado, abraçou-o como amigo. Churchill, assim como Roosevelt, usou o apelido carinhoso de “tio Joe” a Stalin; até a conferência de Potsdam de Potsdam, ele repetidamente proclamou sobre Stalin: “Eu gosto desse homem”.[13] Ao suprimir as evidências de que os oficiais poloneses em Katyn haviam sido assassinados pelos soviéticos, Churchill observou: “É inútil revirar os túmulos de três anos atrás de Smolensk.”[14] Obcecado não apenas com a derrota de Hitler, mas com a destruição da Alemanha, Churchill estava alheio ao perigo de uma onda soviética na Europa até que fosse tarde demais. O clímax de seu fascínio veio em novembro de 1943, na conferência de Teerã, quando Churchill entregou a Stalin a espada de um Cruzado.[15] Aqueles que estão preocupados em definir a palavra “obscenidade” podem querer refletir sobre esse episódio

Finalmente, havia o que parecia ser o amor permanente de sua vida: o Império Britânico. Se Churchill representava alguma coisa, era o Império; ele notoriamente disse que não se tornou Primeiro Ministro para que o Império fosse liquidado. Mas isso, é claro, foi precisamente o que ele fez, vendendo o Império e tudo mais em nome da vitória total sobre a Alemanha.

Além de seu oportunismo, Churchill era conhecido por sua notável habilidade retórica. Esse talento o ajudou a exercer poder sobre os homens, mas também o levou para um fatídico fracasso. Durante toda a sua vida, muitos dos que observaram Churchill notaram de perto uma característica peculiar. Em 1917, Lord Esher o descreveu da seguinte maneira:

“Ele lida com importantes temas em linguagem rítmica e se torna rapidamente escravizado por suas próprias frases. Ele se engana na crença de que tem uma visão ampla, enquanto sua mente está fixada em um aspecto relativamente pequeno da questão.”[16]

Durante a Segunda Guerra Mundial, Robert Menzies, Primeiro-ministro da Austrália à época, disse sobre Churchill: “Sua real tirania é a frase de efeito – tão atraentes para sua mente que fatos incômodos devem ser esquecidos.”[17] Outro colega escreveu: “Ele é … o escravo das palavras que sua mente forma sobre as ideias… E ele pode se convencer de quase todas as verdades se assim for permitido iniciar sua carreira selvagem através de sua maquinaria retórica.”[18]

Apesar do fato de Winston não ter princípios, havia uma constante em sua vida: o amor pela guerra. Começou cedo. Quando criança, ele tinha uma enorme coleção de soldados de brinquedo (1500 deles) e ele brincou com eles por muitos anos depois que a maioria dos garotos se voltavam para outras coisas. Eles eram “todos britânicos”, ele dizia, e ele lutou batalhas com seu irmão Jack, que “só foi permitido ter tropas coloridas, e eles não foram autorizados a ter artilharia.”[19] Ele frequentou a Sandhurst, a academia militar, em vez das universidades, e “a partir do momento em que Churchill deixou a Sandhurst … ele fazia o seu melhor para entrar em uma batalha, onde quer que uma guerra estivesse acontecendo.”[20] Durante toda a sua vida ele o que mais o empolgava – de acordo com as evidêncis, apenas realmente o empolgava – era a guerra. Ele amava a guerra como poucos homens modernos[21] – ele até “amava as bangs“, como ele a chamava, e ele era muito corajoso sob fogo.”

Em 1925, Churchill escreveu: “A história da raça humana é a guerra”.[22] Isso, no entanto, não é verdade; potencialmente, é desastrosamente falso. Churchill não tinha conhecimento dos fundamentos da filosofia social do liberalismo clássico. Em particular, ele nunca entendeu que, como Ludwig von Mises explicou, a verdadeira história da raça humana é a extensão da cooperação social e da divisão do trabalho. A paz, não a guerra, é o princípio de todas as coisas.[23] Para Churchill, os anos sem guerra não ofereciam nada de bom para ele a não ser “o clichê dos monótonos céus de paz”. Este era um homem, como veremos, que desejava mais guerras do que as que realmente aconteceram.

Quando foi enviado à Índia e começou a ler avidamente para compensar o tempo perdido, Churchill ficou profundamente impressionado com o darwinismo. Ele perdeu qualquer fé religiosa que pudesse ter – através da leitura de Gibbon, disse ele – e nutriu uma antipatia especial, por algum motivo, com a Igreja Católica, bem como com as missões cristãs. Churchill tornou-se, em suas próprias palavras, “um materialista – na ponta dos meus dedos”, defendendo fervorosamente uma visão de mundo onde a vida humana significa lutar pela existência, resultando na sobrevivência do mais apto.[24] Essa filosofia de vida e história que Churchill expressou em seu único romance, Savrola [25]. É notório que Churchill era racista, mas seu racismo foi mais profundo do que a maioria de seus contemporâneos.[26] É curioso como, com sua visão totalmente darwinista, sua elevação da guerra ao lugar central da história humana e seu racismo, bem como sua fixação em “grandes líderes”, a visão de mundo de Churchill se assemelha a de seu antagonista, Hitler.

Quando Churchill não estava realmente participando da guerra, ele estava reportando sobre ela. Ele cedo ganhou fama de correspondente de guerra, durante a campanha de Kitchener no Sudão e na Guerra dos Bôeres. Em dezembro de 1900, um jantar foi dado no Waldorf-Astoria em homenagem ao jovem jornalista, recém-retornado de suas aventuras bem divulgadas na África do Sul. Mark Twain, que o apresentou, já havia, aparentemente, compreendido Churchill. Em um breve discurso satírico, Twain sugeriu maliciosamente que, com seu pai inglês e mãe americana, Churchill era o representante perfeito da hipocrisia anglo-americana.[27]

Churchill e o “Novo Liberalismo”

Em 1900, Churchill começou a carreira para a qual ele estava evidentemente destinado. Sua formação – neto de um duque e filho de um famoso político conservador – levou-o à Câmara dos Comuns como um conservador. A princípio ele parecia se distinguir apenas por sua ambição incansável até mesmo nas posições parlamentares. Mas em 1904, ele se voltou aos liberais, supostamente por causa de suas convicções de livre comércio. Robert Rhodes James, um dos admiradores de Churchill, escreveu: “Acreditava-se [na época], provavelmente com razão, que se Arthur Balfour tivesse lhe dado o cargo em 1902, Churchill não teria desenvolvido um interesse tão ardente pelo livre comércio e se juntado aos liberais”. Clive Ponting observa que: “como ele já havia admitido em Rosebery, ele estava procurando uma desculpa para desertar de um partido que parecia relutante em reconhecer seus talentos”, e os liberais não aceitariam um protecionista.[28]

Lançado pelas marés de uma opinião passageira,[29] sem princípios próprios e faminto por poder, Churchill logo se tornou adepto do “Novo Liberalismo”, uma versão atualizada da “Democracia Tory” de seu pai. O “novo” liberalismo diferia do “velho” apenas na pequena questão de substituir o ativismo estatal incessante pelo laissez-faire.

Embora seus idólatras conservadores pareçam pouco conscientes do fato – para eles, é sempre 1940 –, Churchill foi um dos principais arquitetos do estado de bem-estar na Grã-Bretanha. O estado de bem-estar moderno, sucessor do estado de bem-estar absolutista do século XVIII, começou na década de 1880 na Alemanha, sob Bismarck.[30] Na Inglaterra, a reviravolta legislativa ocorreu quando Asquith sucedeu Campbell-Bannerman como Primeiro-ministro em 1908; seu gabinete reorganizado incluía David Lloyd George no Ministério das Finanças e Churchill na Junta Comercial.

É claro que “a dimensão eleitoral da política social estava em primeiro plano no pensamento de Churchill”, escreve um historiador simpatizante – querendo dizer que Churchill a entendia como o caminho para ganhar votos.[31] Ele escreveu para um amigo:

“Nenhuma legislação atualmente em vista interessa à democracia. Todas as suas mentes estão se voltando cada vez mais para a questão social e econômica. Esta revolução é irresistível. Eles não vão tolerar o sistema existente pelo qual a riqueza é adquirida, compartilhada e empregada … Eles irão rejeitar totalmente o poder do dinheiro – sucessor de todos os outros poderes e tiranias derrubados – e suas injustiças óbvias. E essa repulsa teórica se estenderá a qualquer parte associada à manutenção do status quo. . . Padrões mínimos de salário e conforto, seguro de alguma forma efetiva contra doença, desemprego, velhice, essas são as questões e as únicas questões pelas quais os partidos vão existir no futuro. Ai do liberalismo, se eles escaparem por entre seus dedos.”[32]

Churchill “já havia anunciado sua conversão à política social coletivista” antes de sua ida para a Junta Comercial.[33] Seu tema constante tornou-se “a justa precedência” dos interesses públicos em detrimento dos interesses privados. Ele adotou os clichês da engenharia social da época, afirmando que: “A ciência, tanto física como política, revolta-se com a desorganização escancarada em tantos aspectos da vida moderna”, e que “a nação exige a aplicação de processos corretivos e curativos drásticos”. O estado deveria adquirir canais e ferrovias, desenvolver certas indústrias nacionais, fornecer uma educação vastamente reforçada, introduzir o dia de trabalho de oito horas, impor taxas progressivas e garantir um padrão de vida mínimo nacional. Não é de admirar que Beatrice Webb tenha notado que Churchill estava “definitivamente apoiando sua causa com a ação construtiva do Estado”.[34]

Após uma visita à Alemanha, Lloyd George e Churchill foram convertidos ao modelo bismarckiano de esquemas de seguro social.[35] Como Churchill disse aos seus eleitores: “Meu coração se encheu de admiração ao paciente gênio que acrescentou esses baluartes sociais às muitas glórias da raça alemã.”[36] Ele começou, em suas próprias palavras, a “empurrar uma grande fatia” do bismarckianismo em toda a base do nosso sistema industrial.”[37] Em 1908, Churchill anunciou em um discurso em Dundee: “Eu estou do lado daqueles que pensam que um maior sentimento coletivo deve ser introduzido no Estado e nos Municípios. Eu gostaria de ver o Estado assumindo novas funções. “Ainda assim, o individualismo deve ser respeitado: “Nenhum homem pode ser só coletivista ou só individualista. Ele deve ser tanto um individualista quanto um coletivista. A natureza do homem é uma natureza dual. O caráter da organização da sociedade humana é dual.”[38] Isto, a propósito, é uma boa amostra de Churchill como filósofo político: não tem como melhorar. Mas, embora tanto a “organização coletiva” quanto o “incentivo individual” deveriam ser reconhecidos, Churchill tinha certeza de qual estava em vantagem:

Toda a tendência da civilização é, no entanto, para a multiplicação das funções coletivas da sociedade. As complicações cada vez maiores da civilização criam para nós novos serviços que precisam ser empreendidos pelo Estado e criam para nós uma expansão dos serviços existentes. (…) Há uma determinação bastante firme… de interceptar todo o imerecido acréscimo futuro que pode surgir do aumento do valor especulativo da terra. Haverá uma área cada vez maior de empreendimento municipal.

A tendência estatista juntou-se com sua total aprovação. Como ele acrescentou:

Eu vou mais longe; Eu gostaria de ver o Estado embarcar em diversos experimentos novos e ousados…. Lamento muito não termos as ferrovias deste país em nossas mãos. Podemos fazer algo melhor com os canais.[39]

Este neto de um duque e glorificador de seu ancestral, o arqui-corruptor Marlborough, não pretendia ceder aos ressentimentos da classe baixa. Churchill alegou que “a causa do Partido Liberal é a causa dos milhões de excluídos”, enquanto ele atacou os conservadores como “o Partido dos ricos contra os pobres, as castas e seus dependentes contra as massas, dos sortudos, ricos, felizes e fortes, contra os milhões de pobres excluídos.”[40] Churchill tornou-se o perfeito empreendedor político, ansioso por politizar uma área da vida social depois da outra. Ele repreendeu os conservadores por não terem sequer um “plano único de reforma ou reconstrução social”, embora gabando-se de que ele e seus associados pretendiam propor “um esquema amplo, abrangente e interdependente de organização social”, incorporado em “uma série maciça de propostas legislativas” e atos administrativos.”[41]

Neste momento, Churchill caiu sob a influência de Beatrice e Sidney Webb, os líderes da Sociedade Fabiana. Em um de seus famosos jantares estratégicos, Beatrice Webb apresentou Churchill a um jovem protegido, William – mais tarde Lorde – Beveridge. Churchill trouxe Beveridge para o Conselho de Comércio como seu conselheiro em questões sociais, iniciando-o assim em sua ilustre carreira.[42] Além de pressionar por uma variedade de esquemas de seguro social, Churchill criou o sistema de trocas trabalhistas nacionais: ele escreveu ao

Primeiro-ministro Asquith sobre a necessidade de “espalhar … uma espécie de rede germanizada de intervenção e regulação estatal” sobre o mercado de trabalho britânico.[43] Mas Churchill nutria metas muito mais ambiciosas para a Junta Comercial. Ele propôs um plano pelo qual:

A Junta Comercial deveria atuar como o “departamento de inteligência” do governo, prevendo comércio e emprego nas regiões para que o governo pudesse alocar contratos para as áreas mais merecedoras. Na cúpula … seria um Comitê de Organização Nacional, presidido pelo ministro das Finanças para supervisionar a economia.[44]

Finalmente, bem consciente do potencial eleitoral do trabalhismo Churchill tornou-se um defensor dos sindicatos trabalhistas. Ele foi um dos principais apoiadores, por exemplo, do Trades Disputes Act de 1906[45]. Essa lei reverteu o Taff Vale e outras decisões judiciais, que haviam responsabilizado os sindicatos pelos danos e prejuízos cometidos em seu nome por seus agentes. A lei ultrajou o grande historiador legal liberal e teórico do estado de direito, A.V. Dicey, que cobrava que

confere a um sindicato uma liberdade de responsabilidade civil pelo cometimento até mesmo do mais hediondo erro do sindicato ou de seus servidores e, em suma, confere a cada sindicato um privilégio e proteção que nenhuma outra pessoa ou grupo de pessoas possua, sejam empresas ou pessoas sem personalidade jurídica, em todo o Reino Unido… Torna um sindicato em um corpo privilegiado isento da lei ordinária do país. Jamais um corpo privilegiado havia sido deliberadamente criado por um parlamento inglês.[46]

It is ironic that the immense power of the British labor unions, the bête noire of Margaret Thatcher, was brought into being with the enthusiastic help of her great hero, Winston Churchill.

É irônico que o imenso poder dos sindicatos britânicos, o bête noire de Margaret Thatcher, tenha sido criado com a ajuda entusiasta de seu grande herói, Winston Churchill.

Primeira Guerra Mundial

Em 1911, Churchill tornou-se o primeiro Lorde do Almirantado, e agora estava verdadeiramente em sua essência. Naturalmente, ele rapidamente se aliou ao partido da guerra e, durante as crises que se seguiram, abanou as chamas da guerra. Quando a crise final chegou, no verão de 1914, Churchill era o único membro do gabinete que apoiava a guerra desde o início, com toda a sua energia costumeira. Asquith, seu próprio Primeiro-ministro, escreveu sobre ele: “Winston muito belicoso e exigindo imediata mobilização … Winston, que já está todo pintado para guerra, anseia por uma luta no mar nas primeiras horas da manhã para resultar no naufrágio do Goeben. A coisa toda me enche de tristeza.”[47]

Na tarde de 28 de julho, três dias antes da invasão alemã da Bélgica, ele mobilizou a Frota Britânica, o maior ajuntamento de poder naval na história do mundo até aquela época. Como escreveu Sidney Fay, Churchill ordenou que:

A frota deveria prosseguir durante a noite em alta velocidade e sem luzes através do Estreito de Dover, de Portland até a base de combate em Scapa Flow. Temendo apresentar esse mandado ao Conselho de Ministros, a fim de que não fosse considerado uma ação provocativa que pudesse prejudicar as chances de paz, o Sr. Churchill havia apenas informado o Sr. Asquith, que imediatamente deu sua aprovação.[48]

Não admira que, quando eclodiu a guerra contra a Alemanha, Churchill, em contraste mesmo com os outros chefes do partido de guerra, fosse todo sorrisos, repleto com um “entusiasmo brilhante”.[49]

Desde o início das hostilidades, Churchill, como chefe do Almirantado, foi fundamental para estabelecer o bloqueio da fome na Alemanha. Esta foi provavelmente a arma mais eficaz empregada em ambos os lados em todo o conflito. O único problema era que, de acordo com a interpretação de todos do direito internacional, exceto a da Grã-Bretanha, era ilegal. O bloqueio não era “próximo”, mas dependia da dispersão de minas, e muitos dos bens considerados contrabando – por exemplo, comida para civis – nunca haviam sido classificados assim antes.[50] Mas, ao longo de sua carreira, o direito internacional e as convenções pelas quais os homens tentaram limitar os horrores da guerra não significaram nada para Churchill. Como comentou secamente um historiador alemão, Churchill estava pronto para quebrar as regras sempre que a própria existência de seu país estivesse em jogo, e “para ele, esse era o caso com muita frequência”.[51]

O bloqueio da fome teve certas consequências desagradáveis. Cerca de 750.000 civis alemães sucumbiram à fome e às doenças causadas pela desnutrição. O efeito naqueles que sobreviveram foi, talvez, tão assustador quanto. Um historiador do bloqueio concluiu: “os jovens vitimados [da Primeira Guerra Mundial] se tornariam os adeptos mais radicais do Nacional Socialismo.”[52] Também foram complicações decorrentes do bloqueio britânico que eventualmente forneceram o pretexto para a decisão de Wilson de ir para a guerra em 1917.

Se Churchill realmente providenciou o afundamento do Lusitania em 7 de maio de 1915, ainda não está claro.[53] Uma semana antes do desastre, ele escreveu a Walter Runciman, presidente da Junta Comercial, dizendo que era “mais importante atrair navios neutros para nosso litoral, na esperança de especialmente envolver os Estados Unidos com a Alemanha”.[54] Pessoas do alto escalão na Grã-Bretanha e nos EUA acreditavam que o afundamento alemão do Lusitania traria os Estados Unidos para a guerra.

O mais recente estudioso do assunto é Patrick Beesly, cujo Room 40 é uma história da Inteligência Naval Britânica na Primeira Guerra Mundial. O relato cuidadoso de Beesly é ainda mais persuasivo para ir contra os seus próprios sentimentos. Ele ressalta que o Almirantado Britânico estava ciente de que o Comando de Submarino Alemão havia informado aos capitães de submarinos no mar as saídas do Lusitânia, e que o submarino responsável pelo afundamento de dois navios nos últimos dias estava nas proximidades de Queenstown, na costa sul da Irlanda, no caminho que o Lusitania estava programado para seguir. Não resta nenhum registro de qualquer aviso específico para o Lusitania. Nenhum escolta de contratorpedeiro foi enviada para acompanhar o navio até o porto, e nenhum dos contratorpedeiro prontamente disponíveis foi instruído a caçar o submarino. De fato, “não foram tomadas medidas eficazes para proteger o Lusitania“. Beesly conclui:

a menos e até que novas informações venham à luz, sou relutantemente levado à concluir que havia uma conspiração deliberada para colocar o Lusitania em risco na esperança de que mesmo um ataque abortivo a ele traria os Estados Unidos à guerra. Tal conspiração não poderia ter sido efetivada sem a permissão expressa e a aprovação de Winston Churchill.[55]

De qualquer forma, o que é certo é que as políticas de Churchill tornaram o naufrágio muito provável. O Lusitania era um navio de passageiros carregado de munições de guerra; Churchill dera ordens aos capitães dos navios mercantes, incluindo os navios de linha, para que subjugassem submarinos alemães se os encontrassem, e os alemães estavam cientes disso. E, como Churchill enfatizou em suas memórias da Primeira Guerra Mundial, envolver países neutros em hostilidades com o inimigo era uma parte crucial da guerra: “Há muitos tipos de manobras na guerra, algumas das quais ocorrem apenas no campo de batalha…”. A manobra que traz um aliado para o campo é tão útil quanto o que ganha uma grande batalha.”[56]

No meio de um conflito sangrento, Churchill era a energia personificada, a fonte de um brainstorming após o outro. Às vezes, seus palpites funcionavam bem – ele era o principal promotor do tanque na Primeira Guerra Mundial – às vezes não tão bem quanto em Gallipoli. A notoriedade desse desastre, que enegreceu seu nome por anos, fez com que ele fosse temporariamente retirado do gabinete em 1915.[57] Sua reação foi típica: para um visitante, ele disse, apontando para os mapas na parede: “É para isso que eu vivo … Sim, eu estou acabado em relação a tudo o que me interessa – a guerra, a derrota dos alemães.”[58]

Entre as guerras

Nos anos seguintes, Churchill foi transferido de um posto ministerial para outro. Como Ministro da Guerra – de Churchill, nesta posição, deve-se dizer o que o historiador revisionista Charles Tansill disse sobre Henry Stimson como Secretário de Guerra: ninguém jamais mereceu tanto o título – Churchill promoveu uma cruzada para esmagar o bolchevismo na Rússia. Como Secretário Colonial, ele estava pronto para envolver a Grã-Bretanha na guerra com a Turquia pelo incidente de Chanak, mas o enviado britânico à Turquia não entregou o ultimato de Churchill, e no final as cabeças mais frias prevaleceram.[59]

Em 1924 Churchill voltou para os conservadores e foi nomeado Ministro das Finanças. Seu pai, no mesmo escritório, ficou perplexo com as decimais: o que eram “aqueles malditos pontos”? O ato mais famoso de Winston era devolver a Grã-Bretanha ao padrão-ouro na paridade irrealista do pré-guerra, prejudicando gravemente o comércio de exportação e arruinando o bom nome do ouro, como foi apontado por Murray N. Rothbard.[60] Quase ninguém hoje discordaria do julgamento de A.J.P. Taylor: Churchill “não compreendeu os argumentos econômicos de uma forma ou de outra. O que o influenciou foi novamente uma devoção à grandeza britânica. A libra mais uma vez” encararia o dólar”; os tempos da rainha Vitória seriam restaurados.”[61]

Até agora, Churchill estava envolvido na política há 30 anos, sem muito a mostrar, exceto uma certa notoriedade. Sua grande reivindicação à fama na mitologia moderna começa com sua linha dura contra Hitler na década de 1930. Mas é importante perceber que Churchill também manteve uma linha dura contra a Alemanha Weimar. Ele denunciou todos os apelos pelo desarmamento dos Aliados, mesmo antes de Hitler chegar ao poder.[62] Como outros líderes aliados, Churchill estava vivendo uma fantasia prolongada: que a Alemanha se submeteria para sempre ao que via como os grilhões de Versalhes. No final, o que a Grã-Bretanha e a França recusaram conceder a uma Alemanha democrática, foram forçados a conceder a Hitler. Além disso, se a maioria não se incomodou em ouvir quando Churchill fulminava a iminente ameaça alemã, eles tinham um bom motivo. Ele tentara provocar a histeria com muita frequência antes: por uma cruzada contra a Rússia bolchevique, durante a Greve Geral de 1926, sobre os perigos mortais da independência da Índia, na crise de abdicação. Por que prestar atenção em sua última ilusão?[63]

Churchill tinha sido um veemente sionista praticamente desde o início, sustentando que o sionismo desviaria os judeus europeus da revolução social para a parceria com o imperialismo europeu no mundo árabe.[64] Agora, em 1936, ele forjou ligações com o grupo de pressão informal de Londres conhecido como The Focus, cujo objetivo era abrir os olhos do público britânico para a única grande ameaça, a Alemanha nazista. “O grande volume de suas finanças veio de judeus britânicos ricos, como Sir Robert Mond (diretor de várias empresas químicas) e Sir Robert Waley-Cohn, diretor administrativo da Shell, contribuindo este último com £ 50.000.” O Focus seria útil para expandir a rede de contatos de Churchill e forçar sua entrada no Gabinete.[65]

Mesmo sendo um deputado conservador, Churchill começou a criticar os governos conservadores, primeiro Baldwin e depois Chamberlain, por sua suposta cegueira à ameaça nazista. Ele exagerou enormemente a extensão do rearmamento alemão, formidável como era, e distorceu seu objetivo ao insistir na produção alemã de bombardeiros pesados. Essa nunca foi uma prioridade alemã, e as invenções de Churchill tinham como objetivo demonstrar um projeto alemão para atacar a Grã-Bretanha, o que nunca foi a intenção de Hitler. Naquela época, Churchill promoveu ativamente a Grande Aliança[66], que deveria incluir a Grã-Bretanha, a França, a Rússia, a Polônia e a Tchecoslováquia. Como os poloneses, tendo quase sido conquistados pelo Exército Vermelho em 1920, rejeitaram qualquer coalizão com a União Soviética e, como o único acesso dos soviéticos à Alemanha era pela Polônia, o plano de Churchill não tinha valor.

Ironicamente – considerando que este era um pilar de sua fama futura –, sua insistência sobre o perigo alemão foi outra posição sobre a qual Churchill renegou. No outono de 1937, ele afirmou:

Três ou quatro anos atrás eu era um veemente alarmista… Apesar dos riscos que envolviam a consumação da predição, declaro minha convicção de que uma grande guerra não é iminente, e ainda acredito que há uma boa chance de que nenhuma guerra importante aconteça em nossa vida… Não vou fingir que, se tivesse que escolher entre comunismo e nazismo, escolheria o comunismo.[67]

Apesar da conversa oca sobre a “clarividência” de Churchill durante os anos 30 em oposição aos “pacificadores”, a política do governo de Chamberlain – de rearmar o mais rápido possível, e ao mesmo tempo ir esgotando todas as possibilidades de paz com a Alemanha – era mais realista que a de Churchill.

A mitologia comum está tão longe da verdade histórica que até um fervoroso simpatizante de Churchill, Gordon Craig, se sente obrigado a escrever:

Já passou muito tempo desde quando ainda era possível ver o prolongado debate sobre a política externa britânica nos anos 1930 como uma luta de Churchill, um anjo de luz, contra as veleidades de homens incompreensíveis e fracos em altos escalões. É razoavelmente bem conhecido hoje que Churchill estava frequentemente mal informado, que suas alegações sobre a força alemã foram exageradas e suas prescrições eram impraticáveis, e que sua ênfase no poder aéreo foi equivocada.[68]

Além disso, como observou recentemente um historiador britânico: “Para sua informação, vale a pena recordar que, nos anos 1930, Churchill não se opôs ao apaziguamento da Itália ou do Japão”.[69] Também vale a pena recordar que foram os governos britânicos pré-Churchill que forneceram o material com o qual Churchill conseguiu vencer a Batalha da Inglaterra. Clive Ponting observou:

os governos de Baldwin e Chamberlain asseguraram que a Grã-Bretanha era o primeiro país do mundo a implantar um sistema totalmente integrado de defesa aérea baseado na detecção de radar das aeronaves que chegavam e no controle terrestre de caças … A contribuição de Churchill foi desprezar o radar quando ele estava em oposição na década de 1930.[70]

Envolver os EUA na guerra – Novamente

Em setembro de 1939 a Grã-Bretanha entrou em guerra com a Alemanha, conforme a garantia de que Chamberlain entrara em pânico com a anexação da Polônia em março. Lloyd George chamara a garantia de “cabeça dura”, enquanto Churchill a apoiara. Não obstante, em sua história da guerra, Churchill escreveu: “Aqui foi finalmente tomada a decisão, tomada no pior momento possível e no terreno menos satisfatório que certamente deve levar ao massacre de dezenas de milhões de pessoas”.[71] Na guerra, Winston foi chamado de volta ao seu antigo trabalho como Primeiro Lorde do Almirantado. Então, no primeiro mês da guerra, uma coisa espantosa aconteceu: o presidente dos Estados Unidos iniciou uma correspondência pessoal não com o Primeiro-ministro, mas com o chefe do Almirantado Britânico, contornando todos os canais diplomáticos comuns.[72]

As mensagens trocadas entre o presidente e o Primeiro Lorde estavam envoltas de um sigilo frenético, que culminou no caso de Tyler Kent, o decodificador americano na embaixada dos EUA em Londres, que foi julgado e aprisionado pelas autoridades britânicas. O problema era que algumas das mensagens continham alusões ao acordo de Roosevelt – mesmo antes do início da guerra – a uma cooperação descaradamente não-neutra com uma Grã-Bretanha beligerante.[73]

Em 10 de junho de 1939, George VI e sua esposa, Queen Mary, visitaram os Roosevelts no Hyde Park. Em conversas particulares com o rei, Roosevelt prometeu apoio total à Grã-Bretanha em caso de guerra. Ele pretendia estabelecer uma zona no Atlântico a ser patrulhada pela Marinha dos EUA e, de acordo com as anotações do rei, o presidente afirmou que “se ele visse um submarino alemão, ele o afundaria imediatamente e esperaria pelas consequências”. O biógrafo de George VI, Wheeler-Bennett, considerou que estas conversas “continham o germe do futuro acordo Bases-para-Destruidores, e também do próprio Contrato Lend-Lease.”[74] Ao se comunicar com o Primeiro Lorde do Almirantado, Roosevelt sabia que estava em contato com o único membro do gabinete de Chamberlain cuja beligerância correspondia à sua.

Em 1940, Churchill finalmente se tornou Primeiro Ministro, ironicamente, quando o governo de Chamberlain renunciou por causa do fiasco norueguês – que Churchill, mais do que qualquer outra pessoa, havia ajudado a realizar[75]. Como ele lutou contra as negociações de paz após a queda da Polônia, ele continuou a se opor a qualquer sugestão de negociações com Hitler. Muitos dos documentos relevantes ainda estão selados – depois de todos esses anos[76] –, mas é claro que um forte apoio a paz existia no país e no governo. Incluía Lloyd George na Câmara dos Comuns e Halifax, o ministro das Relações Exteriores, no gabinete. Mesmo depois da queda da França, Churchill rejeitou as renovações das propostas de paz de Hitler. Mais do que qualquer outra coisa, supõe-se que esta seja a base de sua grandeza. O historiador britânico John Charmley provocou uma tempestade de protestos indignados quando sugeriu que uma negociação de paz em 1940 poderia ter sido uma vantagem para a Grã-Bretanha e a Europa.[77] Um historiador de Yale, escrevendo no New York Times Book Review, referiu-se à tese de Charmley como “moralmente repugnante”.[78] No entanto, o trabalho acadêmico e detalhado de Charmley faz o ponto crucial de que a inflexível recusa de Churchill em até mesmo escutar os termos de paz em 1940 levou a condenação daquilo que ele afirmou ser mais importante para ele – o Império e uma Grã-Bretanha que era não-socialista e independente no cenário mundial. Pode-se acrescentar que provavelmente também condenou o judaísmo europeu.[79] É espantoso que, meio século depois do fato, existam teses críticas sobre a Segunda Guerra Mundial que estejam fora dos limites do debate histórico.

Lloyd George, Halifax e os outros estavam abertos a um acordo paz porque entendiam que somente a Grã-Bretanha e os seus domínios não poderiam derrotar a Alemanha.[80] Depois da queda da França, o objetivo da vitória total de Churchill só pôde ser alcançado sob uma condição: que os Estados Unidos se envolvessem em outra guerra mundial. Não é de se admirar que Churchill tenha colocado seu coração e alma para garantir exatamente isso.

Para acrescentar infâmia à estupidez, Churchill e sua turba nutriam apenas desprezo pelos valentes oficiais alemães, mesmo quando estes estavam sendo massacrados pela Gestapo.

Depois de uma conversa com Churchill, Joseph Kennedy, embaixador americano na Grã-Bretanha, observou: “Todo o tempo será gasto pelos britânicos na tentativa de descobrir como podemos ser envolvidos.” Quando partiu de Lisboa em um navio para Nova York, Kennedy pediu ao Departamento de Estado que anunciasse que se o navio explodisse misteriosamente no meio do Atlântico, os Estados Unidos não o considerariam uma causa de guerra contra a Alemanha. Em suas memórias inéditas, Kennedy escreveu: “Eu pensei que isso me daria alguma proteção contra a colocação de uma bomba no navio por Churchill.”[81]

O medo de Kennedy talvez não fosse exagerado. Pois, embora tivesse sido importante para a política britânica na Primeira Guerra Mundial, envolver os Estados Unidos era a condição sine qua non da política de Churchill na Segunda Guerra Mundial. Em Franklin Roosevelt ele encontrou um cúmplice disposto.

Que Roosevelt, através de suas ações e palavras pessoais, evidenciou um projeto claro para a guerra antes de 7 de dezembro de 1941, nunca foi motivo de controvérsia. O que houve foram discussões sobre questões como sua possível presciência do ataque de Pearl Harbor. Em 1948, Thomas A. Bailey, historiador diplomático em Stanford, já havia elaborado o verdadeiro argumento Pró-Roosevelt: Franklin Roosevelt enganou repetidamente o povo americano durante o período que antecedeu Pearl Harbor. Ele era como um médico que deve dizer às mentiras ao paciente para o bem do paciente … O país era predominantemente não-intervencionista até o dia de Pearl Harbor, e uma tentativa explícita de levar o povo à guerra resultaria em fracasso certo e quase certa destituição de Roosevelt em 1940, com a completa derrota de seus objetivos finais.[82]

O próprio Churchill nunca se preocupou em esconder o papel de Roosevelt como co-conspirador. Em janeiro de 1941, Harry Hopkins visitou Londres. Churchill descreveu-o como “o mais fiel e perfeito canal de comunicação entre o presidente e eu … o principal adereço e animador do próprio Roosevelt”:

Logo compreendi o dinamismo pessoal de [Hopkins] e a notável importância de sua missão … aqui estava um enviado do presidente de suma importância para a nossa vida. Com olhos brilhantes e paixão tranquila e constrangida, ele disse: “O presidente está determinado a vencermos a guerra juntos. Não se engane sobre isso. Ele me enviou aqui para lhe dizer que sejam quais forem os custos e por todos os meios ele irá ficar do seu lado, não importa o que aconteça com ele – não há nada que ele não faça que esteja ao alcance de seus poderes humanos”. Lá estava ele, magro, frágil, doente, mas absolutamente radiante com compreensão refinada da Causa. Seria a derrota, a ruína e o massacre de Hitler, excluindo todos os outros propósitos, lealdades e objetivos.[83]

Em 1976, o público finalmente conheceu a história de William Stephenson, o agente britânico denominado “Intrepid”, enviado por Churchill aos Estados Unidos em 1940.[84] Stephenson montou uma sede no Rockefeller Center, com ordens de usar todos os meios necessários para ajudar a trazer os Estados Unidos para a guerra. Com o pleno conhecimento e cooperação de Roosevelt e a colaboração de agências federais, Stephenson e seus cerca de 300 agentes “interceptaram correspondências, usaram fios, arrombaram cofres, sequestraram, … espalharam boatos” e mancharam incessantemente a reputação de seus alvos favoritos, os “isolacionistas”. Por meio de Stephenson, Churchill estava virtualmente no controle da organização de William Donovan, o embrionário serviço de inteligência dos EUA.[85]

Churchill até ajudou a barrar a propaganda pró-britânica e antigermânica feita por Hollywood nos anos anteriores à entrada dos Estados Unidos na guerra. Gore Vidal, em Screening History, perspicazmente nota que, por volta de 1937, os americanos foram submetidos a um filme após outro glorificando a Inglaterra e os heróis guerreiros que construíram o Império. Como espectadores dessas produções, Vidal diz: “Não servimos nem a Lincoln nem a Jefferson Davis; servimos a Coroa.”[86] Uma figura fundamental de Hollywood na geração dos filmes que “faziam todos nós estranhamente ingleses” era o húngaro emigrado e amigo de Churchill, Alexander Korda.[87] Vidal escreve muito apropriadamente:

Para aqueles que acham desagradável a propaganda sionista de hoje, posso apenas dizer que o pequeno e valente Israel de hoje deve ter aprendido muito com os galanteadores ingleses da década de 1930. Os ingleses mantiveram uma barreira contra a propaganda que permearia toda a nossa cultura … Hollywood foi sutilmente e não tão sutilmente infiltrada por propagandistas britânicos.[88]

Enquanto os americanos estavam sendo moldados, os dois confederados convrsaram sobre como providenciar hostilidades diretas entre os Estados Unidos e a Alemanha. Em agosto de 1941, Roosevelt e Churchill se encontraram na conferência do Atlântico. Aqui, eles produziram a Carta do Atlântico, com suas “quatro liberdades”, incluindo “a liberdade do desejo” – um cheque em branco para difundir a Sozialpolitik anglo-americana em todo o mundo. Quando Churchill retornou a Londres, ele informou ao Gabinete o que havia sido acordado. Trinta anos depois, os documentos britânicos foram liberados. Aqui está como o New York Times relatou as revelações:

Documentos anteriormente secretos do governo britânico divulgados hoje disseram que o presidente Franklin D. Roosevelt disse ao Primeiro Ministro Winston Churchill em agosto de 1941, que ele estava procurando por um incidente para justificar o início de hostilidades contra a Alemanha nazista. Em 19 de agosto, Churchill informou ao Gabinete de Guerra em Londres sobre outros aspectos da reunião da Terra Nova [Carta do Atlântico] que não foram tornados públicos. “Ele [Roosevelt] obviamente estava determinado a entrar. Se ele fosse colocar a questão da paz e da guerra no Congresso, eles debateriam por meses”, acrescentou as minutas do Gabinete. “O presidente disse que faria guerra, mas não a declararia e que se tornaria cada vez mais provocativo. Se os alemães não gostassem, poderiam atacar as forças americanas … Tudo deveria ser feito para forçar um incidente.”[89]

Em 15 de julho de 1941, o Almirante Little, da delegação naval britânica em Washington, escreveu ao Almirante Pound, o primeiro Lorde do Mar: “a mais clara esperança de colocar os EUA na guerra está nos preparativos de escolta para a Islândia, e esperamos que os alemães não demorem em atacá-los”. Little acrescentou, talvez de brincadeira: “Caso contrário, acho que seria melhor para nós organizar um ataque com nossos próprios submarinos e, de preferência, contra a escolta!” Algumas semanas antes, Churchill, procurando uma chance de trazer os EUA para a guerra, escreveu a Pound sobre o navio de guerra alemão Prinz Eugen: “Seria melhor, por exemplo, que ela fosse localizada por um navio americano, pois isso a incitaria a abrir fogo contra aquele navio, proporcionando assim o incidente pelo qual o governo dos EUA seria tão grato.”[90] Ocorreram cada vez mais incidentes no Atlântico Norte, à medida que os Estados Unidos se aproximavam da guerra com a Alemanha.[91]

Mas Churchill não negligenciou a “porta dos fundos para guerra” – envolvendo os Estados Unidos com o Japão – como uma forma de colocar os Estados Unidos no conflito com Hitler. Sir Robert Craigie, o embaixador britânico em Tóquio, como o embaixador americano Joseph Grew, trabalhava febrilmente para evitar a guerra. Churchill orientou seu secretário de relações exteriores, Anthony Eden, para colocar Craigie na linha:

Ele deve certamente ser informado imediatamente que a entrada dos Estados Unidos na guerra, seja com a Alemanha, a Itália, ou com o Japão, está totalmente de acordo com os interesses britânicos. Nada na esfera das munições pode se comparar com a importância do Império Britânico e dos Estados Unidos serem co-beligerantes.[92]

Churchill usou de sua influência para endurecer a política americana em relação ao Japão, especialmente nos últimos dias antes do ataque a Pearl Harbor.[93] Um crítico simpatizante de Churchill, Richard Lamb, escreveu recentemente:

[Churchill] estava certo em tentar provocar o Japão a atacar os Estados Unidos? … Em 1941, a Grã-Bretanha não tinha perspectiva de derrotar a Alemanha sem a ajuda dos EUA como um aliado ativo. Churchill acreditava que o Congresso jamais autorizaria Roosevelt a declarar guerra à Alemanha. Na guerra, as decisões dos líderes nacionais devem ser tomadas de acordo com seu efeito no esforço de guerra. Há verdade no velho ditado: “No amor e na guerra vale tudo”.[94]

No wonder that, in the House of Commons, on February 15, 1942, Churchill declared, of America’s entry into the war: “This is what I have dreamed of, aimed at, worked for, and now it has come to pass.”[95]

Não é de se admirar que, na Câmara dos Comuns, em 15 de fevereiro de 1942, Churchill declarou, sobre a entrada dos EUA na guerra: “É com isso que eu sonhei, visei, trabalhei e agora aconteceu”.[95]

Os devotos de Churchill de forma alguma criticam seu papel em trazer os EUA para a Segunda Guerra Mundial. Pelo contrário, eles o contam a favor dele. Harry Jaffa, em seu desatento e frenético pedido de desculpas, parece ser a última pessoa viva que se recusa a acreditar que o Homem de Muitos Séculos foi responsável em qualquer grau pela entrada dos EUA na guerra: afinal, não foram os japoneses que bombardearam Pearl Harbor?[96]

Mas e a república americana? O que significa para nós que um presidente colaborou com um chefe de governo estrangeiro para nos enredar em uma guerra mundial? A questão pouco importaria para Churchill. Ele não tinha nenhuma preocupação com os Estados Unidos como uma nação soberana e independente, com seu próprio caráter e lugar no cenário geral. Para ele, os americanos eram um dos “povos de língua inglesa”. Ele ansiava por uma cidadania comum para britânicos e americanos, uma “mistura”, no caminho para a hegemonia mundial anglo-americana.[97]

Mas a intriga de Churchill-Roosevelt deveria, pode-se pensar, importar para os americanos. Aqui, no entanto, a crítica é interrompida antes de começar. Um postulado moral do nosso tempo é que, em busca da destruição de Hitler, todas as coisas eram permissíveis. Mas por que é auto-evidente que a moralidade exigiu uma cruzada contra Hitler em 1939 e 1940, e não contra Stalin? Nesse ponto, Hitler havia matado seus milhares, mas Stalin já havia matado seus milhões. De fato, até junho de 1941, os soviéticos se comportaram de maneira muito mais assassina em relação aos poloneses em sua zona de ocupação do que os nazistas. Cerca de 1.500.000 poloneses foram deportados para o Gulag, com cerca de metade deles morrendo nos primeiros dois anos. Como Norman Davies escreve: “Stalin estava superando Hitler em seu desejo de reduzir os poloneses à condição de nação escrava.”[98] Claro, houve considerações de equilíbrio de poder que criaram distinções entre os dois ditadores. Mas ainda precisa ser explicado por que deveria existir um duplo padrão ordenando que o acordo com um ditador fosse “moralmente repugnante”, enquanto a colaboração com o outro era moralmente irrepreensível.[99]

“Primeiro pegue sua lebre”

No início da guerra, Churchill declarou: “Eu tenho apenas um objetivo na vida, a derrota de Hitler, e isso torna as coisas muito simples para mim”.[100] “Vitória – vitória a qualquer custo”, entendida literalmente, era sua política praticamente até o fim. Isso aponta para o erro fundamental e fatal de Churchill na Segunda Guerra Mundial: sua separação entre estratégia operacional e estratégia política. Para o primeiro – o planejamento e a direção das campanhas militares – ele dedicou todo o seu tempo e energia; afinal, ele gostava disso. Para o segundo, a adequação das operações militares aos objetivos políticos maiores e muito mais significativos a que deveriam servir, ele não dedicou nenhum esforço.

Stalin, por outro lado, entendeu perfeitamente que todo o propósito da guerra é impor certas reivindicações políticas. Este é o significado do famoso ditado de Clausewitz de que a guerra é a continuação da política por outros meios. Na visita de Eden a Moscou em dezembro de 1941, com a Wehrmacht nos subúrbios de Moscou, Stalin estava pronto com suas exigências: o reconhecimento britânico do domínio soviético sobre os estados bálticos e os territórios que ele acabara de capturar da Finlândia, Polônia e Romênia. (Eles foram finalmente concedidos.) Durante a guerra, ele nunca perdeu de vista esses e outros objetivos políticos cruciais. Mas Churchill, apesar das frequentes advertências de Eden, nunca os levou em consideração, quaisquer que fossem estes objetivos.[101] Sua abordagem, explicou ele, era a da receita da Sra. Glass para Jugged Hare: “Primeiro pegue sua lebre”.[102] Primeiro venceu Hitler, depois começou a pensar no futuro da Grã-Bretanha e da Europa. Churchill colocou tantas palavras: “a derrota, a ruína e o massacre de Hitler, excluindo todos os outros propósitos, lealdades e objetivos”.

Tuvia Ben-Moshe identificou com astúcia uma das fontes dessa indiferença grotesca:

Trinta anos antes, Churchill dissera a Asquith que … a ambição de sua vida era “comandar grandes exércitos vitoriosos em batalha”. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele estava decidido a tirar o máximo proveito da oportunidade dada a ele – a gestão militar quase desimpedida do grande conflito. Ele estava propenso a ignorar ou adiar o tratamento de assuntos que provavelmente prejudicariam esse prazer. Ao fazê-lo, ele adiou, ou até mesmo arquivou completamente, o tratamento das questões que ele deveria ter tratado em sua atribuição de Primeiro Ministro.[103]

A política de Churchill de apoio total a Stalin impediu outras abordagens potencialmente mais favoráveis. O especialista militar Hanson Baldwin, por exemplo, afirmou:

Não há dúvida alguma de que teria sido do interesse da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos e do mundo ter permitido – e de fato encorajado – as duas grandes ditaduras do mundo para lutarem uma contra a outra. Tal luta, com o consequente enfraquecimento do comunismo e do nazismo, não poderia deixar de ter ajudado no estabelecimento de uma paz mais estável.[104]

Em vez de adotar essa abordagem, ou, por exemplo, promover a derrubada de Hitler por alemães antinazistas – em vez de considerar essas alternativas –, Churchill desde o início deu todo o seu apoio à Rússia soviética.

A insensatez de Franklin Roosevelt em relação a Joseph Stalin é bem conhecida. Ele olhou para Stalin como um colega “progressista” e um colaborador inestimável na criação da futura Nova Ordem Mundial.[105] Mas os neoconservadores e outros que contrapõem a inanidade de Roosevelt neste assunto com a astúcia e sagacidade de Velho Mundo de Churchill, estão redondamente enganados. A lisonja nauseante de Roosevelt por Stalin é facilmente igualada por Churchill. Assim como Roosevelt, Churchill elogiava o assassino comunista e estava ansioso pela amizade pessoal de Stalin. Além disso, sua adulação a Stalin e sua versão de comunismo – tão diferente da repulsiva versão “trotskista” – não era diferente em privado do que em público. Em janeiro de 1944, ele ainda estava falando a Eden sobre as “profundas mudanças que ocorreram no caráter do Estado e do governo da Rússia, a nova confiança que cresceu em nossos corações em relação a Stalin”.[106] Em uma carta para sua esposa, Clementine, Churchill escreveu, após a conferência de outubro de 1944 em Moscou: “Eu tive conversas muito agradáveis ​​com o velho Urso. Quanto mais eu o encontro mais eu gosto dele. Agora eles nos respeitam e tenho certeza que eles desejam trabalhar com a gente.”[107] Escritores como Isaiah Berlin, que tentam dar a impressão de que Churchill odiava ou desprezava todos os ditadores, incluindo Stalin, são ignorantes ou desonestos.[108]

Os partidários de Churchill frequentemente alegam que, ao contrário dos americanos, o estadista britânico experiente e astuto previu o perigo da União Soviética e trabalhou obstinadamente para frustrá-lo. A famosa estratégia “mediterrânea” de Churchill – atacar a Europa através de seu “ponto nevrálgico”, ao invés de se concentrar na invasão do norte da França – é supostamente a prova disso.[109] Mas essa foi uma defesa pós-fato, inventada por Churchill. A Guerra Fria havia começado: há pouca ou nenhuma evidência contemporânea de que o desejo de derrotar os russos em Viena e Budapeste fez parte das motivações de Churchill ao defender a estratégia do “ponto nevrálgico”. Na época, Churchill deu razões puramente militares para isso.[110] Como Ben-Moshe declara: “Os historiadores oficiais britânicos verificaram que só no segundo semestre de 1944 e depois da travessia do canal Churchill começou a considerar a hipótese de uma medida militar preventiva contra os russos no sudeste.”[111] Até então, tal manobra teria sido impossível por várias razões. Era outra das bizarras noções militares de Churchill, como invadir a Fortaleza Europa através da Noruega, ou adiar a invasão do norte da França até 1945 – época em que os russos teriam chegado ao Reno.[112]

Além disso, a oposição americana à estratégia sulista de Churchill não resultou da cegueira ao perigo comunista. Como o general Albert C. Wedemeyer, um dos mais fortes anticomunistas do exército americano, escreveu:

se tivéssemos invadido os Bálcãs através do Ljubljana Gap, teoricamente poderíamos ter batido os russos em Viena e Budapeste. Mas a logística teria sido contra nós: seria quase impossível fornecer mais de duas divisões pelos portos do Adriático. (…) A proposta de salvar os Bálcãs do comunismo nunca poderia ter sido compensada por uma invasão de “ponto nevrálgico”, pois o próprio Churchill já havia aberto o caminho para o sucesso de Tito. . . [o qual] tinha sido bem integrado na Iugoslávia com ajuda britânica muito antes de a própria Itália ser conquistada.[113]

Os comentários de Wedemeyer sobre a Iugoslávia foram certeiros. Sobre esta questão, Churchill rejeitou o conselho de seu próprio Ministério das Relações Exteriores, se baseando, em vez disso, nas informações fornecidas especialmente pelo chefe do escritório do SOE – o ramo de Operações Especiais – no Cairo, dirigido por um agente comunista chamado James Klugman. Churchill retirou o apoio britânico ao Leal exército de guerrilheiros do general Mihailovic e o lançou ao líder partidário comunista Tito.[114] O que uma vitória de Tito significaria não era segredo para Churchill.[115] Quando Fitzroy Maclean foi entrevistado por Churchill antes de ser enviado para ser o contato com Tito, Maclean observou que, sob a liderança comunista,

o objetivo final dos partidários seria, sem dúvida, estabelecer na Iugoslávia um regime comunista intimamente ligado a Moscou. Como o governo de Sua Majestade viu tal eventualidade? … A resposta do Sr. Churchill não me deixou dúvidas quanto à resposta ao meu problema. Por tanto tempo, disse ele, como toda a civilização ocidental foi ameaçada pelo perigo nazista, não poderíamos deixar que nossa atenção fosse desviada da questão imediata por considerações de política de longo prazo. A política deve ser uma consideração secundária.[116]

Seria difícil pensar em uma atitude mais frívola diante da guerra do que classificar a “política” como uma “consideração secundária”. Quanto aos “custos humanos” da política de Churchill, quando um assessor assinalou que Tito pretendia transformar a Iugoslávia em uma ditadura comunista no modelo soviético, Churchill respondeu: “Você pretende morar lá?”[117]

A visão benigna que Churchill tinha de Stalin e da Rússia contrasta fortemente com sua visão da Alemanha. Por trás de Hitler, Churchill discerniu o velho espectro do prussianismo, que causara, supostamente, não apenas as duas guerras mundiais, mas também a guerra franco-prussiana. O que ele estava combatendo agora era a “tirania nazista e o militarismo prussiano”, os “dois elementos principais da vida alemã que devem ser absolutamente destruídos”.[118] Em outubro de 1944, Churchill ainda estava explicando a Stalin que: “O problema era como garantir que Alemanha não se reerguesse pelas próximas gerações”.[119] Churchill possuía uma “confusão de espírito a respeito da aristocracia prussiana, do nazismo e das fontes do expansionismo militarista alemão… [sua opinião] era notavelmente similar àquela que Sir Robert Vansittart e Sir Warren Fisher; à saber, surgiram de uma combinação de antipatia quase racial e cálculos de equilíbrio de poder.”[120] O objetivo de Churchill não era simplesmente salvar a civilização mundial dos nazistas, mas, em suas palavras, “tomar precauções para que nunca mais [os alemães] ressurjam como uma Força Militar.”[121]

Não é de se admirar, portanto, que Churchill tenha se recusado até mesmo a ouvir os apelos da oposição alemã contra Hitler que tentava repetidamente estabelecer uma ligação com o governo britânico. Em vez de fazer todos os esforços para encorajar e ajudar um golpe antinazista na Alemanha, Churchill respondeu às sondagens enviadas pela resistência alemã com um silêncio frio.[122] Repetidas advertências de Adam von Trott e outros líderes da resistência da “bolchevização” iminente da Europa foram ignoradas por Churchill.[123] Um historiador atual escreveu, “por sua intransigência e recusa em aceitar conversações com alemães dissidentes, Churchill jogou fora a oportunidade de terminar a guerra em julho de 1944.”[124] Para acrescentar infâmia à estupidez, Churchill e sua turba tinham apenas palavras de desprezo pelos valentes oficiais alemães, mesmo quando estes estavam sendo massacrados pela Gestapo.[125]

Em lugar de ajuda, tudo o que Churchill ofereceu aos alemães em busca de uma maneira de acabar com a guerra antes que o Exército Vermelho inundasse a Europa Central era o slogan da rendição incondicional. Posteriormente, Churchill mentiu na Câmara dos Comuns sobre seu papel em Casablanca e sua conexão com o anúncio de Roosevelt da política de rendição incondicional, e foi forçado a retratar suas declarações.[126] Eisenhower, entre outros, objetivamente e persistentemente se opôs à fórmula de rendição incondicional por esta dificultar o esforço de guerra ao elevar o moral da Wehrmacht.[127] De fato, o slogan foi usado por Goebbels e contribuiu para que os alemães resistissem até o amargo fim.

O efeito pernicioso da diretriz foi imensamente reforçado pelo Plano Morgenthau, que deu aos alemães uma imagem aterradora do que significaria “rendição incondicional”.[128] Esse plano, rubricado por Roosevelt e Churchill em Quebec, exigia transformar a Alemanha em um país agrícola e pastoral; até mesmo as minas de carvão do Ruhr seriam destruídas. O fato de que isso teria levado à morte dezenas de milhões de alemães tornou-a uma analogia perfeita aos esquemas de Hitler para lidar com a Rússia e a Ucrânia.

Churchill foi inicialmente contrário ao plano. No entanto, ele foi conquistado pelo professor Lindemann, um maníaco que odiava os alemães tanto quanto o próprio Morgenthau. Lindemann disse ao lorde Moran, médico pessoal de Churchill: “Expliquei a Winston que o plano salvaria a Grã-Bretanha da falência, eliminando um concorrente perigoso … Winston não tinha pensado nisso, e não disse nada sobre uma ameaça cruel o povo alemão.”[129] De acordo com Morgenthau, o texto do esquema foi elaborado inteiramente por Churchill. Quando Roosevelt retornou a Washington, Hull e Stimson expressaram seu horror e rapidamente dissuadiram o presidente. Churchill, por outro lado, estava irredutível. Quando chegou a hora de mencionar o Plano Morgenthau em sua história da guerra, ele distorceu suas disposições e, por implicação, mentiu sobre seu papel no seu apoio.[130]

Além da questão do plano em si, Lord Moran se perguntou como foi possível que Churchill aparecesse na conferência de Quebec “sem nenhuma consideração sobre o futuro da Alemanha, embora ela parecesse estar prestes a se render”. A resposta foi que “ele ficou tão absorto na condução da guerra que teve pouco tempo para planejar o futuro”:

Os detalhes militares há muito o fascinavam, enquanto ele estava claramente entediado com os tipos de problemas que ocupariam o tempo da Conferência de Paz … O P. M. estava desperdiçando sua força minguante em questões que, com razão, pertenciam aos soldados. Meu diário no outono de 1942 conta como conversei com Sir Stafford Cripps e descobri que ele compartilhava minhas preocupações. Ele queria que o P. M. se concentrasse na ampla estratégia da guerra e na alta política. Ninguém poderia fazer [Churchill] enxergar seus erros.[131]

Crimes de guerra discretamente abafados

Há vários episódios durante a guerra que revelam o caráter de Churchill que merecem ser mencionados. Um incidente relativamente pequeno foi o ataque britânico à frota francesa, em Mers-el-Kebir (Oran), na costa da Argélia. Após a queda da França, Churchill exigiu que os franceses entregassem sua frota à Grã-Bretanha. Os franceses recusaram, prometendo que iriam afundar os navios antes de permitir que caíssem nas mãos dos alemães. Contra o conselho de seus oficiais navais, Churchill ordenou que navios britânicos na costa da Argélia abrissem fogo. Cerca de 1500 marinheiros franceses foram mortos. Este foi obviamente um crime de guerra, pela definição de qualquer um: um ataque não provocado às forças de um aliado sem uma declaração de guerra. Em Nuremberg, oficiais alemães foram condenados à prisão por menos. Percebendo isso, Churchill mentiu sobre Mers-el-Kebir em sua história e suprimiu evidências sobre isso nas histórias oficiais britânicas da guerra.[132] Com o ataque à frota francesa, Churchill confirmou sua posição como o primeiro em duas guerras mundiais a subverter o sistema de leis de guerra que havia evoluído no Ocidente ao longo dos séculos.

Mas o grande crime de guerra que sempre estará ligado ao nome de Churchill são os bombardeios aterrorizantes das cidades da Alemanha que, no final, custou a vida a cerca de 600.000 civis e deixou cerca de 800.000 gravemente feridos.[133] (Compare isso com as cerca de 70.000 vidas britânicas perdidas em ataques aéreos alemães. De fato, houve quase tantos franceses mortos por ataques aéreos aliados quanto ingleses mortos por alemães.[134]) O plano foi concebido principalmente pelo amigo e conselheiro científico de Churchill, o professor Lindemann, e realizado pelo chefe do Comando de Bombardeiros, Arthur Harris (“Bomber Harris”). Harris afirmou: “No Comando de Bombardeiros sempre trabalhamos na suposição de que bombardear qualquer coisa na Alemanha é melhor do que bombardear nada.”[135] Harris e outros líderes da força aérea britânica se gabavam que a Grã-Bretanha havia sido pioneira no uso maciço de bombardeios estratégicos. J.M. Spaight, ex- principal secretário auxiliar do Ministério do Ar, observou que enquanto os alemães (e os franceses) consideravam o poder aéreo como uma extensão da artilharia, um apoio aos exércitos no campo, os britânicos entenderam sua capacidade de destruir as bases de operação do inimigo. Eles construíram seus bombardeiros e estabeleceram o Comando dos Bombardeios de acordo.[136]

Mentindo descaradamente para a Câmara dos Comuns e para o público, Churchill alegou que apenas instalações militares e industriais eram alvos. De fato, o objetivo era matar o maior número possível de civis – assim, o bombardeio “de área” ou o bombardeio de “saturação” – e, assim, quebrar o moral dos alemães e aterrorizá-los para se renderem.[137]

Harris pelo menos teve a coragem de manter suas convicções. Ele clamou para que o governo anunciasse abertamente que:

o objetivo da Ofensiva Combinada de Bombardeiros … deveria ser inequivocamente declarado [como] a destruição das cidades alemãs, o assassinato de trabalhadores alemães e a interrupção da vida civilizada em toda a Alemanha.[138]

A campanha de assassinato aéreo arrasou a Alemanha. Uma cultura urbana milenar foi aniquilada, pois as grandes cidades, famosas nos anais da ciência e da arte, foram reduzidas a montes de ruínas fumegantes. Pode-se destacar: o bombardeio de Lübeck, quando aquela antiga cidade hanseática “queimava como lenha”; o ataque de mil bombardeiros a Colônia e as incursões que, de algum modo, milagrosamente, pouparam a grande Catedral, mas destruíram o resto da cidade, incluindo treze igrejas românicas; a tempestade de fogo que consumiu Hamburgo e matou cerca de 42.000 pessoas. Não admira que, ao saber disso, um homem europeu civilizado como Joseph Schumpeter, em Harvard, chegou a dizer “a quem quisesse ouvir” que Churchill e Roosevelt estavam destruindo mais do que Genghis Khan.[139]

O ato mais infame foi a destruição de Dresden, em fevereiro de 1945. De acordo com a história oficial da Força Aérea Real: “A destruição da Alemanha estava então em uma escala que poderia ter aterrorizado Átila ou Gengis Khan”.[140] Dresden, que foi a capital do antigo reino da Saxônia, era uma parada obrigatória no Grand Tour, a joia barroca da Europa. A guerra estava praticamente terminada, a cidade cheia de massas de refugiados indefesos que escapavam do avanço do Exército Vermelho. Ainda assim, durante três dias e três noites, de 13 a 15 de fevereiro, Dresden foi arrasada por bombas. Pelo menos 30.000 pessoas foram mortas, talvez até 135.000 ou mais. O Palácio Zwinger; a Igreja de Nossa Senhora (die Frauenkirche); o Terraço de Bruhl, com vista para o Elba, onde, nos Fathers and Sons de Turgenev, o tio Pavel passou seus últimos anos; a Ópera Semper, onde Richard Strauss conduziu a estreia de Rosenkavalier; e praticamente todo o resto foi incinerado. Churchill fomentara isso. Mas ele foi abalado pelo clamor que se seguiu. Enquanto em Georgetown e Hollywood, poucos ouviram falar de Dresden, a cidade significava algo em Estocolmo, Zurique, e no Vaticano, e até mesmo em Londres. O que nosso herói fez? Ele enviou um memorando para os Chefes de Estado Maior:

Parece-me que chegou o momento em que a questão do bombardeio das cidades alemãs simplesmente para aumentar o terror, embora sob outros pretextos, deveria ser revista. Caso contrário, entraremos no controle de uma terra totalmente arruinada… A destruição de Dresden continua sendo uma séria questão contra a conduta dos bombardeios aliados. Sinto a necessidade de uma concentração mais precisa nos objetivos militares, em vez de meros atos de terror e destruição arbitrária, por mais impressionantes que sejam.[141]

Os chefes militares perceberam o que estava por traz do estratagema desprezível de Churchill: percebendo que estavam sendo jogados em uma arapuca, recusaram-se a aceitar o memorando. Depois da guerra, Churchill negou casualmente qualquer conhecimento do bombardeio de Dresden, dizendo: “Eu pensei que os americanos tinham feito isso”.[142]

E ainda assim o bombardeio continuou. Em 16 de março, em um período de 20 minutos, Würzburg foi arrasada. Ainda em meados de abril, Berlim e Potsdam foram novamente bombardeadas, matando outros 5 mil civis. Finalmente, pararam; como observou Bomber Harris, não havia praticamente mais alvos a serem bombardeados na Alemanha.[143] Não é preciso nem dizer que Churchill apoiou o bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki, que resultou na morte de outros cem mil ou mais civis. Quando Truman criou o mito das “500.000 vidas americanas salvas” evitando uma invasão das ilhas japonesas principais – a estimativa militar mais alta foi de 46.000 – Churchill superou sua mentira: os bombardeios atômicos salvaram 1.200.000 vidas, incluindo 1.000.000 de americanos, ele fantasiava.[144]

A ansiedade com que Churchill dirigiu ou aplaudiu a destruição aérea das cidades deveria suscitar dúvidas naqueles que ainda o consideram o grande “conservador” de seu, ou talvez de todos, os tempos. Eles fariam bem em considerar o julgamento de um autêntico conservador como Erik von Kuehnelt-Leddihn, que escreveu: “Os não-britânicos não importavam para o Sr. Churchill, que sacrificava seres humanos – suas vidas, seu bem-estar, sua liberdade – com o mesmo desdém elegante de seu colega na Casa Branca.”[145]

1945: O Lado Negro

E assim chegamos a 1945 e ao sempre radiante triunfo do Bem Absoluto sobre o Mal Absoluto. Tão potente é a mística daquele ano que os monótonos estados de bem-estar da Europa de hoje se agarram a ele em todas as oportunidades, em busca de alguns fragmentos de glória tão necessários.

O lado negro desse triunfo, no entanto, foi praticamente suprimido. É a história dos crimes e atrocidades dos vencedores e seus protegidos. Desde que Winston Churchill desempenhou um papel central na vitória dos Aliados, é a história também dos crimes e atrocidades em que Churchill estava envolvido. Estes incluem o repatriamento forçado de cerca de dois milhões de soviéticos para a União Soviética. Entre eles estavam dezenas de milhares que haviam lutado com os alemães contra Stalin, sob o comando do general Vlasov e seu “Exército Russo de Libertação”. Isto é o que Alexander Solzhenitsyn escreveu em The Gulag Archipelago:

Em seu próprio país, Roosevelt e Churchill são reverenciados como personificações da sabedoria estadista. Para nós, em nossas conversas nas prisões russas, as consistentes miopia e estupidez deles eram surpreendentemente óbvias … qual era o sentido militar ou político em entregarem à destruição pelas mãos de Stalin centenas de milhares de cidadãos soviéticos armados determinados a não se renderem.[146]

O mais vergonhoso de tudo foi a entrega dos cossacos. Eles nunca foram cidadãos soviéticos, uma vez que lutaram contra o Exército Vermelho na Guerra Civil e depois emigraram. Stalin, compreensivelmente, estava particularmente interessado em se apossar deles, e os britânicos obrigaram. Solzhenitsyn escreveu, de Winston Churchill:

Ele entregou ao comando soviético o exército cossaco de 90.000 homens. Junto com eles, ele também entregou muitos vagões repletos de idosos, mulheres e crianças …. Este grande herói, que em pouco tempo teria monumentos dedicados a ele espalhados por toda a Inglaterra, ordenou também que eles fossem entregues à morte.[147]

O “expurgo” de supostos colaboradores na França foi um banho de sangue que exigiu mais vítimas do que o Reino do Terror na Grande Revolução – e não apenas entre aqueles que, de uma forma ou de outra, ajudaram os alemães: foram incluídos quaisquer direitistas que os grupos de resistência comunista queriam liquidar.[148]

Os massacres realizados pelo protegido de Churchill, Tito, devem ser acrescentados a essa lista: dezenas de milhares de croatas, não apenas os ustashi, mas quaisquer “inimigos de classe”, no estilo comunista clássico. Houve também o assassinato de cerca de 20 mil combatentes anticomunistas eslovenos por Tito e seus esquadrões da morte. Quando os partidários de Tito saquearam Trieste, que ele estava tentando capturar em 1945, milhares de anticomunistas italianos foram massacrados.[149]

Enquanto as tropas do aliado soviético de Churchill varriam a Europa central e os Bálcãs, começaram as deportações em massa. Alguns no governo britânico tinham escrúpulos, sentindo uma certa responsabilidade. Churchill não teria nada disso. Em janeiro de 1945, por exemplo, ele salientou ao Ministério das Relações Exteriores: “Por que estamos fazendo tanto alarde sobre as deportações russas na Romênia de saxões [alemães] e outros? … não consigo ver onde que os russos estão errados em fazer 100 ou 150 mil dessas pessoas trabalham por sua passagem … Eu não consigo ver onde que os russos estão errados em levar romenos de qualquer origem que queiram para trabalhar nos campos de carvão russos.”[150] Cerca de 500.000 civis alemães foram deportados para trabalhar na Rússia Soviética, Segundo o acordo de Churchill e Roosevelt em Yalta, esse trabalho escravo constituía uma forma adequada de “reparações”.[151]

O pior de tudo foi a expulsão de cerca de 15 milhões de alemães de suas terras ancestrais na Prússia Oriental e Ocidental, na Silésia, na Pomerânia e na região dos Sudetos. Isso foi feito conforme os acordos em Teerã, onde Churchill propôs que a Polônia fosse “movida para o oeste” e com o consentimento de Churchill ao plano do líder checo Eduard Benes para a “limpeza étnica” da Boêmia e da Morávia. Entre 1,5 a 2 milhões de civis alemães morreram nesse processo.[152] Como escreveu o liberal húngaro Gaspar Tamas, ao expulsar os alemães da Europa centro-oriental, “cujos ancestrais construíram nossas catedrais, mosteiros, universidades e estações ferroviárias”, uma antiga cultura inteira foi apagada.[153] Mas por que isso deveria ter algum significado para os devotos de Churchill que se dizem “conservadores” nos EUA hoje?

Então, para completar, vieram os Julgamentos de Nuremberg, uma farsa da justiça condenada pelo grande senador Robert Taft, onde os juízes e promotores de Stalin – veteranos experientes dos expurgos dos anos 30 – participaram de outro grande julgamento teatral.[154]

Em 1946, Churchill estava reclamando com indignação dos acontecimentos na Europa Oriental: “De Stettin no Báltico a Trieste no Adriático, uma cortina de ferro desceu sobre a Europa”. Goebbels havia popularizado a frase “cortina de ferro”, mas ela era bastante precisa.

O continente europeu continha agora uma única potência hegemônica. “Quando os sinais de guerra foram removidos”, escreve John Charmley, “Churchill começou a perceber a magnitude do erro cometido.”[155] De fato, as próprias expressões de insegurança de Churchill conspiram bizarramente contra o triunfalismo retrospectivo de seus admiradores. . Depois da guerra, ele disse a Robert Boothby: “Os historiadores estão aptos a julgar os ministros da guerra menos pelas vitórias obtidas sob sua direção do que pelos resultados políticos que fluíram deles. Julgados por esse padrão, não sei se irão considerar que minhas ações foram muito boas.”[156] No prefácio do primeiro volume de sua história da Segunda Guerra Mundial, Churchill explicou por que estava tão perturbado:

A tragédia humana atinge seu clímax no fato de que, depois de todos os esforços e sacrifícios de centenas de milhões de pessoas e das vitórias da Causa Justa, ainda não encontramos Paz ou Segurança, e que estamos nas garras de coisas ainda piores do que aquelas que superamos.[157]

No Dia da Vitória na Europa, ele anunciou a vitória da “causa da liberdade em todas os países”. Mas, para seu secretário particular, ele refletiu: “O que ficará entre as neves brancas da Rússia e os penhascos brancos de Dover?”[158] Era um pouco tarde para levantar a questão. Sério, o que devemos dizer de um estadista que durante anos ignorou o fato de que a extinção da Alemanha como um poder na Europa acarretou … certas consequências? Seria este outro Bismarck ou Metternich? Ou é um caso de um Woodrow Wilson reciclado – de outro Príncipe dos Tolos?

Com o equilíbrio de poder na Europa destruído por sua própria política, havia apenas um recurso disponível a Churchill: trazer os EUA para a Europa permanentemente. Por isso tivemos seus apelos ansiosos para os americanos, incluindo seu discurso de Fulton, Missouri “Cortina de Ferro”. Tendo destruído a Alemanha como o equilíbrio natural com a Rússia no continente, ele foi forçado a tentar envolver os Estados Unidos em outra guerra – desta vez uma Guerra Fria, que duraria 45 anos, e mudaria os EUA fundamentalmente, e talvez irrevogavelmente.[159]

O triunfo do estado de bem-estar

Em 1945, eleições gerais foram realizadas na Grã-Bretanha e o Partido Trabalhista obteve uma vitória esmagadora. Clement Attlee e seus colegas tomaram o poder e criaram o estado de bem-estar socialista. Contudo a socialização da Grã-Bretanha era provavelmente inevitável, devido a guerra. Era uma consequência natural do sentimento de solidariedade e emoção coletivista do tempo de guerra, do sentimento de que a experiência da guerra de alguma forma tornara a estrutura e a hierarquia de classes – características normais de qualquer sociedade avançada – obsoletas e indecentes. E havia um segundo fator – a sociedade britânica já havia sido em grande parte socializada nos anos de guerra, sob o próprio Churchill. Como Ludwig von Mises escreveu:

Marchando cada vez mais em direção ao intervencionismo, primeiro a Alemanha, depois a Grã-Bretanha e muitos outros países europeus adotaram o planejamento central, o padrão de socialismo de Hindenburg. É digno de nota que na Alemanha as medidas decisivas não foram adotadas pelos nazistas, mas algum tempo antes de Hitler tomar o poder por Bruning … e na Grã-Bretanha não pelo Partido Trabalhista, mas pelo Primeiro Ministro Conservador, o Sr. Churchill.[160]

Enquanto Churchill travava a guerra, ele permitiu que Attlee encabeçasse vários comitês do Gabinete sobre política interna e elaborasse propostas sobre saúde, desemprego, educação, etc.[161] O próprio Churchill já havia aceitado o projeto mestre para o estado de bem-estar, o Relatório Beveridge. Como ele colocou em um discurso de rádio:

Você deve classificar a mim e a meus colegas como fortes partidários da seguridade obrigatória nacional para todas as classes, para todos os propósitos, desde o berço até a morte.[162]

Que Mises estava correto em seu julgamento sobre o papel de Churchill, é indicado pela conclusão de W. H. Greenleaf em seu monumental estudo do individualismo e do coletivismo na Grã-Bretanha moderna. Greenleaf afirma que foi Churchill quem,

durante os anos de guerra, instruiu R. A. Butler a melhorar a educação das pessoas e que aceitou e patrocinou a ideia de um plano de quatro anos para o desenvolvimento nacional e o compromisso de manter o pleno emprego no período do pós-guerra. Também aprovou propostas para estabelecer um esquema nacional de seguridade, serviços de moradia e saúde e estava preparado para aceitar um amplo campo de empresas estatais. Foi por causa dessa política de coalizão que Enoch Powell se referiu à verdadeira revolução social que ocorreu nos anos de 1942-44. Objetivos desse tipo estavam incorporados na declaração de políticas conservadoras emitida pelo premier antes das eleições de 1945.[163]

Quando os conservadores voltaram ao poder em 1951, “Churchill escolheu um governo que era o menos reconhecidamente conservador da história”.[164] Não houve nenhuma tentativa de reverter o estado de bem-estar e a única indústria que foi realmente reprivatizada foi a do transporte rodoviário.[165] Churchill “deixou o núcleo da obra [do governo trabalhista] inviolada”.[166] A vitória “conservadora” funcionou como as republicanas nos Estados Unidos a partir de Eisenhower (para consolidar o socialismo). Churchill até se comprometeu a compensar “deficiências” nos programas de bem-estar social do governo trabalhista em habitação e obras públicas.[167] Mais insidiosamente do que todo o resto, orientou seu ministro esquerdista do Trabalho, Walter Monckton, a satisfazer os sindicatos a todo custo. A rendição de Churchill aos sindicatos, “ditada por pura conveniência política”, preparou o terreno para o caos nas relações trabalhistas que prevaleceu na Grã-Bretanha pelas próximas duas décadas.[168]

No entanto, na verdade, Churchill nunca se importou muito com assuntos domésticos, nem mesmo com o assistencialismo, exceto como um meio para alcançar e manter um cargo. O que Churchill adorava era o poder e as oportunidades que o poder fornecia para viver uma vida de drama, luta e guerra sem fim.

Existe uma maneira de olhar para Winston Churchill que é muito tentadora: uma criatura profundamente falha que foi convocada em um momento crítico para lutar contra um mal excepcionalmente terrível e cujas próprias falhas contribuíram para uma vitória gloriosa (como Merlin no grande romance cristão de CS Lewis, That Hideous Strength[169]). Tal julgamento seria, creio eu, superficial. Um exame sincero de sua carreira produz uma conclusão diferente: que, no final das contas, Winston Churchill era um Homem Sanguinário e um político sem princípios, cuja apoteose serve para corromper todos os padrões de honestidade e moralidade na política e na história.

 

 

Artigo original aqui.

Tradução de Daniel Navalon e Fernando Chiocca

 


Notas:

[1] Harry V. Jaffa, “In Defense of Churchill,” Modern Age 34, no. 3 (Spring 1992): 281. Sobre o valor disso, Henry Kissinger, “With Faint Praise,” New York Times Book Review, July 16, 1995, p. 7, chegou ao ponto de chamar Churchill de “herói por excelência”

[2] Paul Addison, “Churchill and Social Reform,” em Churchill, Robert Blake e William Roger Louis, eds. (New York: Norton, 1993), p. 57.

[3] Um historiador simpatizante, Paul Addison, Churchill on the Home Front 1900–1955 (London: Pimlico, 1993), p. 438, escreve a mesma ideia de outra forma: “Como [Churchill] nunca se permitiu ser impedido por um programa fixo ou uma ideologia rígida, suas ideias evoluíram da mesma maneira que ele se adaptava aos tempos.” Curiosamente, o próprio Churchill confessou, em 1898: “Eu não me importo muito com os princípios que defendo nem com a impressão que minhas palavras causam e a reputação que me dão” Clive Ponting, Churchill (London: Sinclair-Stevenson, 1994), p. 32.

[4] Para algumas das distorções de Churchill, veja Tuvia Ben-Moshe, Churchill: Strategy and History (Boulder, Colo.: Lynne Rienner, 1992), pp. 329–33; Dietrich Aigner, “Winston Churchill (1874–1965),” em Politiker des 20. Jahrhunderts, 1, Die Epoche der Weltkriege, Rolf K. Hocevar, et al., eds. (Munich: Beck, 1970), p. 318, afirma que Churchill, em suas obras sobre a Segunda Guerra Mundial, “lançou as bases para uma lenda que não passa de uma caricatura do fato histórico….Mas a segunda versão de Churchill sobre a Segunda Guerra Mundial e sua pré-história continua inabalável, o poder de sua eloquência perdurou além de sua morte.” Aigner, incidentalmente, é um crítico formal e erudito de Churchill e de forma alguma pode ser considerada “de direita radical”.

[5] Christopher Hitchens, Blood, Class, and Nostalgia: Anglo — American Ironies (New York: Farrar, Straus, and Giroux, 1990), p. 186.

[6] J.P.C. Fuller, The Conduct of War 1789–1961 (London: Eyre and Spottiswoode, 1961), p. 253.

[7] Para um relato imarcial de Churchill nesse período, veja Clive Ponting, 1940: Myth and Reality (Chicago: Ivan R. Dee, 1991).

[8] Cf. A.J.P. Taylor, “The Statesman,” em idem, et al., Churchill Revised: A Critical Assessment (New York: Dial Press, 1969), p. 26.

[9] Henry Pelling, Winston Churchill (New York: Dutton, 1974), pp. 347–48, 355; e Paul Addison, Churchill on the Home Front, pp. 296–99.

[10] Taylor, “The Statesman,” p. 31; Robert Rhodes James, “Churchill the Politician,” em A.J.P. Taylor, et al., Churchill Revised, p. 115, fala das “exageradas alegações de Churchill sobre  o poder aéreo da Alemanha”.

[11] Emrys Hughes, Winston Churchill: British Bulldog (New York: Exposition, 1955), p. 104.

[12] “Churchill Extols Fascismo for Italy” New York Times, January 21, 1927. Churchill até expressou sua admiração por Hitler; já em 1937, ele escreveu: “alguém pode não derrotado, eu espero que encontremos um campeão indomável para restaurar nossa coragem e nos levar de volta ao nosso lugar entre as nações.” James, “Churchill the Politician,” p. 118. Sobre as condições da tomada fascista na Itália, veja Ralph Raico, “Mises on Fascism and Democracy,” Journal of Libertarian Studies 12, no 1 (Spring 1996): 1-27.gostar do sistema de Hitler e ainda admirar sua realização patriótica. Se nosso país fosse

[13] Robin Edmonds, “Churchill and Stalin,” em Churchill, Blake e Louis, eds., p. 326.

[14] Norman Rose, Churchill: The Unruly Giant (New York: Free Press, 1994), p. 378.

[15] J.F.C. Fuller, The Second World War 1939–45: A Strategical and Tactical History (London: Eyre and Spottiswoode, 1954), p. 218.

[16] James, “Churchill the Politician,” p. 79. O mesmo comentário de Esher é citado e endossado por Basil Liddell Hart, “The Military Strategist,” em A.J.P Taylor, et al., Churchill Revised, p. 221.

[17] David Irving, Churchill’s War, vol. 1, The Struggle for Power (Bullsbrook, Western Australia: Veritas, 1987), p. 517.

[18] Charles Masterman, citado em James, “Churchill the Politician,” p. 71.

[19] Hart, “The Military Strategist,” pp. 173–74.

[20] Ibid., p. 174.

[21] Churchill disse à filha de Asquith em 1915: “Eu sei que esta guerra está destruindo e acabando com a vida de milhares a cada momento – e ainda assim – eu não posso evitar – eu amo cada segundo que eu a vivo”. Michael Howard, “Churchill and the First World War,” em Churchill, Blake and Louis, eds., p. 129.

[22] Maurice Ashley, Churchill as Historian (New York: Scribner’s, 1968), p. 228.

[23] Ludwig von Mises, Liberalism: A Socio-Economic Exposition, Ralph Raico, trans. (Kansas City: Sheed Andrews and McMeel, [1927] 1985), pp. 23–27.

[24] Ponting, Churchill, p. 23; Dietrich Aigner, Winston Churchill: Ruhm und Legende (Göttingen: Musterschmidt, 1975), p. 31.

[25] Ibid., pp. 40–44.

[26] Andrew Roberts, Eminent Churchillians (New York: Simon and Schuster, 1994), pp. 211–15. Roberts acha irônico que, dadas as opiniões de Churchill sobre raça, foi “ele de todos os primeiros-ministros [que] permitiu que a Grã-Bretanha começasse a se tornar uma sociedade multi-racial” através da imigração de Comunidades Internacionais durante o último “período de sucesso” da sua administração.1951–55.

[27] Mark Twain, Mark Twain’s Weapons of Satire: Anti-Imperialist Writings on the Philippine-American War, Jim Zwick, ed. (Syracuse, N.Y.: Syracuse University Press, 1992), pp. 9–11.

[28] Robert Rhodes James, “Churchill, o parlamentarista, orador e estadista” em Churchill, Blake e Louis, eds., p. 510; Ponting, Churchill, p. 49.

[29] Churchill neste momento chegou até a se pronunciar em favor da temperança imposta pelo Estado, uma divertida dose de hipocrisia em um homem cuja vida toda de amor a bebida tornou-se lendária.

[30] Sobre a história do estado de bem-estar alemão, absolutista e moderno, veja Gerd Habermann, Der Wohlfahrtsstaat: Geschichte eines Irrwegs (Berlin: Propyläen, 1994).

[31] Addison, “Churchill and Social Reform,” p. 60.

[32] Addison, Churchill on the Home Front, 1900–1955, p. 59.

[33] Ibid, p. 51.

[34] W. H. Greenleaf, The British Political Tradition, vol. 2, The Ideological Heritage (London: Methuen, 1983), pp. 151–54.

[35] E. P. Hennock, British Social Reform and German Precedents: The Case of Social Insurance 1880–1914 (Oxford: Clarendon, 1987), pp. 168–69.

[36] Gordon A. Craig, “Churchill and Germany,” em Churchill, Blake and Louis, eds., p. 24.

[37] E. P. Hennock, “The Origins of British National Insurance and the German Precedent 1880–1914,” em The Emergence of the Welfare State in Britain and Germany, W.J. Mommsen and Wolfgang Mock, eds. (London: Croom Helm, 1981), p. 88.

[38] Winston Churchill, Complete Speeches 1897–1963, vol. 1, 1897–1908, Robert Rhodes James, ed. (New York: Chelsea House, 1974), pp. 1029–30, 1032.

[39] Winston Churchill, Liberalism and the Social Problem (London: Hodder and Stoughton, 1909), pp. 80–81.

[40] lbid., pp. 78, 226.

[41] Ibid., p. 227.

[42] Hennock, British Social Reform, pp. 157–60.

[43] Ibid., p. 161.

[44] Ponting, Churchill, p. 83.

[45] Veja, por exemplo, Churchill, Liberalism and the Social Problem, pp. 74–75.

[46] A. V. Dicey, Lectures on the Relation Between Law and Public Opinion in England during the Nineteenth Century, 2nd. ed. (London: Macmillan, [1914] 1963), pp. xlv — xlvi.

[47] Herbert Henry Asquith, Memories and Reflections 1852–1927 (London: Cassell, 1928), 2, pp. 7, 21.

[48] Sidney Fay, Origins of the World War, 2nd. rev. ed. (New York: Free Press, [1930] 1966), p. 495.

[49] Lady Violet Asquith, cited em Hart, “The Military Strategist,” p.182.

[50] C. Paul Vincent, The Politics of Hunger: The Allied Blockade of Germany, 1915–1919 (Athens: Ohio University Press, 1985); veja também Ralph Raico, “The Politics of Hunger: A Review,” Review of Austrian Economics 3 (1988): 253–59.

[51] Aigner, Winston Churchill (1874–1965), pp. 63–4.

[52] Vincent, Politics of Hunger, p. 162. See also Peter Loewenberg, “The Psychohistorical Origins of the Nazi Youth Cohort,” American Historical Review 76, no. 5 (December 1971): 1457–1502.

[53] Veja Colin Simpson, The Lusitania (London: Penguin, [1972] 1983), que apresenta o caso da culpa de Churchill; e Thomas A. Bailey e Paul B. Ryan, The Lusitania Disaster: An Episode in Modern Warfare and Diplomacy (New York: Free Press, 1975), que tentam desculpá-lo. Veja também Hitchens, Blood, Class, and Nostalgia, pp. 189–90.

[54] Patrick Beesly, Room 40: British Naval Intelligence 1914–18 (San Diego: Harcourt, Brace, Jovanovich, 1982), p. 90.

[55] Ibid., p. 122. Ênfase no original.

[56] Winston Churchill, The World Crisis (New York: Scribner’s, 1931), p. 300.

[57] Sobre a campanha de Dardanelles, cf. Taylor, “The Statesman,” pp. 21–22: “Uma vez que Churchill assumiu a ideia, ele exagerou tanto a facilidade com que poderia ser realizada quanto as recompensas que isso traria. Não houve inquérito sobre os meios disponíveis. Churchill apenas supôs que os navios de guerra poderiam forçar os Estreitos sem ajuda. Quando isso falhou, ele assumiu que havia um poderoso exército disponível para Gallipoli e supunha também que essa península inóspita não apresentava obstáculos militares formidáveis. Além disso, ele assumiu também que a queda de Constantinopla infligiria um golpe mortal na Alemanha. Todas essas suposições estavam erradas.”

[58] Hughes, Winston Churchill: British Bulldog, p. 78.

[59] James, “Churchill the Politician,” p. 93.

[60] Murray N. Rothbard, America’s Great Depression (Princeton, N.J.: Van Nostrand, 1963), pp. 131–37.

[61] Taylor, “The Statesman,” p. 27.

[62] Aigner, Winston Churchill (1874–1965), pp. 100–3. Em conexão com a conferência desarmamentista em Geneva 1931–32, Churchill expressou a mesma posição anti-alemã de antes: A Alemanha ressurgiria. Aigner vê isso como resultado da filosofia darwinista social de Churchill.

[63] Goronwy Rees, “Churchill in der Revision,” Der Monat, Nr. 207 (Fall 1965): 12.

[64] E.g., no ensaio de Churchill de fevereiro, 1921, “Zionism vs. Bolshevism”; veja Aigner, Winston Churchill (1874–1965), p. 79. Veja também Oskar K. Rabinowicz, Winston Churchill on Jewish Problems: A Half Century Survey, publicado por World Jewish Congress, British Section (London: Lincolns-Prager, 1956); e N. A. Rose, The Gentile Zionists: A Study in Anglo — Zionist Diplomacy, 1929–1939 (London: Cass, 1973). Desde cedo, Churchill compartilhava do ponto de vista corrente entre muitos direitistas da época, do bolchevismo como um fenômeno “judeu”: ele se referiu aos líderes vermelhos como “esses conspiradores semitas” e “comissários judeus” Norman Rose, Churchill: The Unruly Giant, p. 180.

[65] John Charmley, Chamberlain and the Lost Peace (London: Hodder and Stoughton, 1989), p. 55. Veja também Irving, Churchill’s War, pp. 54–65, 67–68, e 82–83. O nome completo do grupo foi o Focus para a Defesa da Liberdade e da Paz. Para uma história, veja Eugen Spier, Focus. A Footnote to the History of the Thirties (London: Oswald Wolff, 1963). Em março, 1937, depois de um encontro com Churchill, Spier chegou à conclusão de que “o destino o havia marcado para se tornar o destruidor do hitlerismo”. (Ibid., p. 112) Em Outubro, 1937, um representante da Focus, H. Wickham Steed, percorreu o Canadá e os Estados Unidos. Entre os que ele encontrou “prontos para a linha Focus” estavam Roosevelt, Cordell Hull e Arthur Sulzberger, proprietário do New York Times. Em Nova Iorque, Steed se dirigiu ao Conselho de Relações Exteriores. Outros com quem Steed se encontrou incluíam os financistas Bernard Baruch e Felix Warburg. (Ibid., pp. 124–25.) Sobre o The Focus, assim como outros fatores que influenciaram a opinião pública britânica em relação à Alemanha na década de 1930, veja Dietrich Aigner, Das Ringen um England. Das deutsch-britische Verhältnis. Die öffentliche Meinung 1933–1939, Tragödie zweier Völker (Munich/Esslingen: Bechtle, 1969).

[66] Aigner, Winston Churchill (1874–1965), p. 105–6; veja também Irving, Churchill’s War, pp. 38–40, 44–45, 78–79.

[67] Hart, “The Military Strategist,” p. 204.

[68] Craig, “Churchill and Germany,” p. 35.

[69] Donald Cameron Watt, “Churchill and Appeasement,” in Churchill, Blake and Louis, eds., p. 214.

[70] Ponting, Churchill, p. 464.

[71] Winston Churchill, The Gathering Storm, vol. 1, The Second World War (Boston: Houghton Mifflin, 1948), p. 347. Churchill comentou que a garantia foi estendida a uma Polônia “que, com um apetite de hiena, havia participado apenas seis meses antes da pilhagem e destruição do Estado da Checoslováquia”. Ele estava se referindo à anexação do distrito de Teschen, pela qual a Polônia havia recuperado as áreas etnicamente polonesas daquela mistura bizarra que Churchill tinha o prazer de dignificar como “o Estado da Checoslováquia”.

[72] Irving, Churchill’s War, pp. 193–96.

[73] James Leutze, “The Secret of the Churchill-Roosevelt Correspondence: September 1939 — May 1940,” Journal of Contemporary History 10, no. 3 (July 1975): 465–91; Leutze conclui que esta foi a verdadeira razão pela qual os dois governos conspiraram para silenciar Tyler Kent.

[74] John W. Wheeler-Bennett, King George VI: His Life and Reign (New York: St. Martin’s, 1958), pp. 390–92. Wheeler-Bennett acrescentou: “Em seu retorno a Londres, o rei comunicou a essência de suas conversas com o presidente aos círculos apropriados, e ele teve tamanho apreço pela sua importância que carregou o manuscrito original de suas anotações sobre ele em sua pasta durante toda a guerra “.

[75] Hart, “The Military Strategist,” p. 208.

[76] John Charmley, Churchill: The End of Glory (London: Hodder and Stoughton, 1993), p 423.

[77] Veja também a revisão de Charmley sobre o trabalho de Clive Ponting no Times Literary Supplement, May 13, 1994, p. 8.

[78] Gaddis Smith, “Whose Finest Hour?” New York Times Book Review, August 29, 1993, p. 3.

[79] Em 27 de maio de 1942, Goebbels comentou em seu diário sobre a destruição dos judeus europeus que estava em curso: “Aqui também, o Führer é o defensor desencorajado de uma solução radical exigida pelas condições e, portanto, inexoráveis. Felizmente, toda uma série de possibilidades se apresentam para nós em tempos de guerra, que nos seriam negadas em tempo de paz. Teremos que lucrar com isso”. Ele acrescentou: “o fato de que os representantes do Judiciário na Inglaterra e nos Estados Unidos estarem hoje organizando e patrocinando a guerra contra a Alemanha, deve custar caro para seus representantes na Europa – e isso está certo”. The Goebbels Diaries, 1942–1943, Louis P. Lochner ed. and trans. (Garden City, N.Y.: Doubleday, 1948), p. 148.

[80] Paul Addison, “Lloyd George and Compromise Peace in the Second World War,” em Lloyd George: Twelve Essays, A.J.P. Taylor, ed. (New York: Atheneum, 1971), pp 359–84. O próprio Churchill disse a Stalin em 1944: “Nunca pensamos em fazer uma paz separada, mesmo no ano em que estávamos sozinhos e poderíamos facilmente ter feito uma sem grande perda para o Império Britânico e em grande parte às suas custas”. Ibid, p. 383.

[81] Irving, Churchill’s War, pp. 193, 207.

[82] Thomas A. Bailey, The Man in the Street: The Impact of American Public Opinion on Foreign Policy (New York: Macmillan, 1948), p. 13. Um escritor recente comentou a posição de Bailey: “Na realidade, quando Roosevelt e outros presidentes mentiram, eles o fizeram para seu próprio bem, ou o que eles acreditavam ser seu próprio bem. Mas eles estavam errados muitas vezes porque tendiam a ter uma visão tão míope quanto a das massas … O acordo destruidor de Roosevelt marcou um divisor de águas no uso e abuso do poder presidencial, prenunciando uma série de aventuras perigosas e muitas vezes desastrosas no exterior ” Robert Shogan, Hard Bargain (New York: Scribner’s, 1995), pp.271, 278. O clássico caso revisionista sobre a política de guerra de Roosevelt foi apresentado em Charles A. Beard, President Roosevelt and the Coming of War 1941 (New Haven, Conn.: Yale University Press, 1949); e Perpetual War for Perpetual Peace, Harry Elmer Barnes, ed. (Caldwell, Idaho: Caxton, 1953), entre outras obras.

[83] Winston S. Churchill, The Grand Alliance, vol. 3, The Second World War (Boston: Houghton Mifflin, 1950), pp. 23–24.

[84] William Stevenson, A Man Called Intrepid (New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1976).

[85] Irving, Churchill’s War, pp. 524–27.

[86] Gore Vidal, Screening History (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1992), p.40.

[87] Ibid., p. 47.

[88] Ibid., p. 33.

[89] “War-Entry Plans Laid to Roosevelt,” New York Times, January 2, 1972.

[90] Beesly, Room 40, p. 121 n. 1.

[91] Veja por exemplo, William Henry Chamberlin, America’s Second Crusade (Chicago: Henry Regnery, 1950), pp. 124–47.

[92] Richard Lamb, Churchill as War Leader (New York: Carroll and Graf, 1991), p. 149.

[93] Ibid., pp. 147–62.

[94] Ibid., p. 162.

[95] Chamberlin, America’s Second Crusade, p. 177. Sobre o uso “backdoor to war” de Churchill para os Estados Unidos, veja John Costello, Days of Infamy. MacArthur, Roosevelt, Churchill — The Shocking Truth Revealed (New York: Pocket Books, 1994). Sobre a questão de Pearl Harbor, é interessante notar que, mesmo como “mainstream”, um historiador como Warren F. Kimball, editor da correspondência Churchill-Roosevelt, escreve: “Ainda não foram colocadas dúvidas sobre as questões britânicas ainda fechadas dos arquivos de inteligência sobre o ataque japonês a Pearl Harbor: informações que Churchill pode ter optado por não transmitir aos americanos na esperança de que tal ataque levasse os Estados Unidos à guerra ”. Veja também Warren F. Kimball, “Wheel Within a Wheel: Churchill, Roosevelt, and the Special Relationship,” em Churchill, Blake and Louis, eds., p. 298, onde Kimball cita James Rusbridger e Eric Nave, Betrayal at Pearl Harbor: How Churchill Lured Roosevelt into World War II (New York: Summit, 1991).  Kimball reclama que, apesar dos pedidos escritos dele e de outros historiadores, os arquivos do governo britânico sobre as relações com o Japão no final de 1941 permanecem fechados. Churchill, p. 546 n. 29. Robert Smith Thompson, in A Time for War: Franklin Delano Roosevelt and the Path to Pearl Harbor (New York: Prentice Hall, 1991), apresenta um relato recente útil da vinda da guerra com o Japão.

[96] Jaffa, “In Defense of Churchill,” p. 277.

[97] Charmley, Churchill: The End of Glory, p. 538.

[98] Norman Davies, God’s Playground: A History of Poland, vol. 2, 1795 to the Present (New York: Columbia University Press, 1982), pp. 447–53.

[99] Para uma crítica da visão de que o objetivo de Hitler era “conquistar o mundo”, veja Geoffrey Stoakes, Hitler and the Quest for World Domination (Leamington Spa, England: Berg, 1986)

[100] Taylor, “The Statesman,” p. 43.

[101] Por exemplo, em maio de 1944, Eden protestou contra Churchill, a respeito da perspectiva da “Comunidade dos Bálcãs”: “Devemos pensar no efeito posterior desses desenvolvimentos, em vez de nos limitarmos, até agora, à visão de curto prazo do que dará os melhores dividendos durante a guerra e para a guerra “.Charmley, Churchill: The End of Glory, p. 538.

[102] Ben-Moshe, Churchill: Strategy and History, pp. 236–37.

[103] Ibid., 241.

[104] Hanson W. Baldwin, Great Mistakes of the War (New York: Harper, 1949), p. 10.

[105] A atitude de Roosevelt é sintetizada em sua declaração: “Se eu der a ele [Stalin] tudo o que for possível, e não pedir nada dele em retorno, [então] noblesse oblige, ele não tentará anexar nada e trabalhará comigo por um mundo de paz e de democracia.” Robert Nisbet, Roosevelt and Stalin: The Failed Courtship (Washington, D.C.: Regnery, 1988), p. 6. As observações de Joseph Sobran em seu breve ensaio, “Pal Joey,” Sobran’s 2, no. 8 (August 1995): pp. 5–6, são caracteristicamente perspicazes.

[106] Ben-Moshe, Churchill: Strategy and History, pp. 287–88, 305–6.

[107] Ponting, Churchill, p. 665.

[108] Isaiah Berlin, “Winston Churchill,” em idem, Personal Impressions, Henry Hardy, ed. (New York: Viking, 1980), p. 16., onde Churchill é citado dizendo que Stalin é “ao mesmo tempo um gigante insensível, astuto e mal informado”. Note, no entanto, que mesmo essa citação mostra que Churchill colocou Stalin em uma categoria totalmente diferente do indescritivelmente mal Hitler. De fato, como as obras de Charmley, Ponting e Ben-Moshe demonstram amplamente, até o final da guerra, a atitude típica de Churchill em relação a Stalin era amistosa e admiradora. O ensaio de Berlin, com sua paixão obsessiva por “o maior ser humano do nosso tempo”, precisa ser lido para ser acreditado. Uma indicação de uma fonte da paixão de Berlim é sua referência à simpatia de Churchill pela “luta dos judeus pela autodeterminação na Palestina”.

[109] Cf. Charmley, Churchill: The End of Glory, pp. 572–73, na “Operação Axila”, a extensão da campanha italiana e um impulso para Viena; Charmley conclui que, contrariamente aos defensores da Guerra Fria de Churchill: “há pouca evidência para mostrar que o apoio de Churchill a ‘Armpit’ foi baseado em motivos políticos … [Ele apoiou] pela razão que qualquer estudante de sua carreira estará familiarizado – isso incitou sua imaginação “.

[110] Cf. Taylor, “The Statesman,” pp. 56–57: ” De acordo com uma versão, Churchill ficou alarmado com o crescimento do poder soviético e tentou tomar precauções contra ele, se não em 1942, pelo menos bem antes do fim da guerra. É difícil sustentar essa visão a partir de registros contemporâneos. Churchill nunca vacilou em sua determinação de que a Alemanha nazista fosse totalmente derrotada. Churchill não tinha nenhuma política para a Europa em nenhum sentido mais amplo. Sua visão era puramente negativa: a derrota da Alemanha. Com Churchill, era sempre uma coisa de cada vez.” Ver também Ben-Moshe, Churchill: Strategy and History, pp. 292-99, sobre a estratégia sulista não ter como objetivo impedir os ganhos soviéticos.

[111] Ibid., p. 287.

[112] Um exemplo do quão longe os apologistas de Churchill chegam é fornecido por John Keegan, em “Churchill’s Strategy”, em Churchill, Blake and Louis, eds., P. 328, onde ele afirma sobre Churchill: “No entanto, ele nunca adotou um curso estratégico verdadeiramente imprudente, nem contemplou um. Seu compromisso com uma campanha nos Bálcãs era temeroso, mas essa campanha não teria arriscado perder a guerra.” Arriscar perder a guerra parece ser um critério excessivamente rigoroso para um curso estratégico verdadeiramente imprudente.

[113] Albert C. Wedemeyer, Wedemeyer Reports! (New York: Holt, 1958), p. 230. Todo mundo estava contra o plano de Churchill, incluindo seus próprios conselheiros militares. Brooke disse ao seu chefe que, se seguissem a ideia, “deveríamos embarcar em uma campanha pelos Alpes no inverno”.Churchill, p. 625.

[114] Lamb, Churchill as War Leader, pp. 250–75.

[115] O próprio Ministério das Relações Exteriores de Churchill informou-o que: “nós terminaríamos com um Estado comunista intimamente ligado à URSS depois da guerra, que empregaria os métodos terroristas usuais para superar a oposição”. Ibid., p. 256. Anthony Eden disse ao gabinete em junho de 1944: “Se alguém é culpado pela atual situação em que os movimentos liderados pelos comunistas são os elementos mais poderosos da Iugoslávia e da Grécia, somos nós mesmos”. Os agentes britânicos, segundo Eden, haviam feito o trabalho dos russos por eles. Charmley, Churchill: The End of Glory, p. 580.

[116] Fitzroy Maclean Eastern Approaches (London: Jonathan Cape, 1949), p. 281.

[117] Lamb, Churchill as War Leader, p. 259. Churchill acreditava nas promessas de Tito de uma eleição livre e de um plebiscito sobre a monarquia; acima de tudo, ele se concentrou em uma única questão: matar alemães. Veja também Charmley, Churchill: The End of Glory, p. 558.

[118] Em 21 de setembro de 1943, por exemplo, Churchill declarou: “As raízes gêmeas de todos os nossos males, a tirania nazista e o militarismo prussiano devem ser extirpadas. Até que isso seja alcançado, não haverá sacrifícios que não faremos e nem violência a que não recorreremos ” Russell Grenfell, Unconditional Hatred (New York: Devin-Adair, 1953), p. 92.

[119] Ponting, Churchill, p. 675.

[120] Watt, “Churchill and Appeasement,” p. 210.

[121] Em memorando para Alexander Cadogan, do Foreign Office; Richard Lamb, The Ghosts of Peace, 1935–1945 (Salisbury, England: Michael Russell, 1987), p. 133.

[122] Peter Hoffmann, German Resistance to Hitler (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1988), pp. 95–105; idem, The History of the German Resistance, Richard Barry, trans. (Cambridge, Mass.: MIT Press, 1977), pp. 205–48; e idem, “The Question of Western Allied Co-Operation with the German Anti-Nazi Conspiracy, 1938–1944,” The Historical Journal 34, no. 2 (1991): 437–64.

[123] Giles MacDonogh, A Good German: Adam von Trott zu Solz (Woodstock, N.Y.: Overlook Press, 1992), pp. 236–37.

[124] Lamb, Churchill as War Leader, p. 292 Lamb argumenta esta tese longamente e persuasivamente em seu The Ghosts of Peace, 1935–1945, pp. 248–320. Um julgamento menos conclusivo é feito por Klemens von Klemperer, German Resistance Against Hitler: The Search for Allies Abroad 1938–1945 (Oxford: Clarendon, 1992), esp. pp. 432–41, que enfatiza as dificuldades no caminho de qualquer acordo entre o governo britânico e a resistência alemã. Estes incluíam, em particular, a lealdade do primeiro ao seu aliado soviético e a insistência do segundo na Alemanha pós-guerra de manter áreas etnicamente alemãs, como Danzig e os Sudetos.

[125] Marie Vassiltchikov, que estava perto dos conspiradores, em sua Berlin Diaries, 1940–1945 (New York: Knopf, 1987), p. 218, expressou sua perplexidade com a linha dos britânicos: “A rádio aliada não faz sentido para nós: eles continuam citando pessoas que, segundo eles, participaram da trama. E, no entanto, algumas delas ainda não foram oficialmente implicadas. Eu me lembro avisando Adam Trott que isso iria acontecer, ele continuava esperando o apoio aliado de uma Alemanha “decente” e eu continuava dizendo que a essa altura eles estavam dispostos a destruir a Alemanha, qualquer Alemanha, e não parariam de eliminar os alemães sem separar os ‘bons’ dos ‘mals’”.

[126] Ben-Moshe, Churchill: Strategy and History, pp. 307–16. Veja também Anne Armstrong, Unconditional Surrender (Westport, Conn.: Greenwood, [1961] 1974); e Lamb, The Ghosts of Peace, 1935–1945, pp. 215–35. Entre os críticos de guerra mais fortes da política de rendição incondicional, bem como do bombardeio de civis, estava o especialista militar, Liddell Hart; veja Brian Bond, Liddell Hart: A Study of his Military Thought (New Brunswick, N.J.: Rutgers University Press, 1977), pp. 119–63.

[127] Lamb, The Ghosts of Peace, 1935–1945, p. 232.

[128] Ibid., pp. 236–45.

[129] Lord Moran, Churchill: The Struggle for Survival, 1940–1965 (Boston: Houghton Mifflin, 1966), pp. 190–91. A pronta aceitação de Churchill desse argumento ilusório põe muito em dúvida a afirmação de Paul Addison, Churchill on the Home Front, p. 437, Churchill foi “educado” em doutrinas de livre comércio, que estavam “arraigadas” nele. Mais consistente com as evidências, incluindo sua rejeição direta ao livre comércio a partir de 1930, é que Churchill usou ou deixou de lado a teoria econômica da economia de mercado, uma vez que se adequava a seus propósitos políticos.

[130] Moran, Churchill: The Struggle for Survival, 1940–1965, pp. 195–96.

[131] Ibid., p. 193. Que o espírito pelo menos do Plano Morgenthau continuou a orientar a política aliada na Alemanha do pós-guerra é mostrado em The High Cost of Vengeance de Freda Utley (Chicago: Henry Regnery, 1949).

[132] Lamb, Churchill as War Leader, pp. 63–73. Veja também Ponting, Churchill, pp. 450–54; e Hart, “The Military Strategist,” pp. 210–21.

[133] A “obsessão britânica por bombardeiros pesados” também teve consequências para o esforço de guerra; Isso levou, por exemplo, à falta de aviões de combate em Cingapura. Taylor, “The Statesman” p. 54. Em toda a questão, veja Stephen A. Garrett, Ethics and Airpower in World War II: The British Bombing of German Cities (New York: St. Martin’s Press, 1993). Veja também Max Hastings, Bomber Command (New York: Dial Press, 1979); David Irving, The Destruction of Dresden (New York: Ballantine, 1963); e Benjamin Colby, ‘Twas a Famous Victory (New Rochelle, N.Y.: Arlington House, 1974), pp. 173–202. Sobre o uso britânico do poder aéreo para “pacificar” as populações coloniais, ver Charles Townshend, “Civilization and ‘Frightfulness’: Controle Aéreo no Oriente Médio Entre as Guerras”, em Warfare, Diplomacy, and Politics: Essays in Honor of A.J.P. Taylor, Chris Wrigley, ed. (London: Hamish Hamilton, 1986), pp. 142–62.

[134] Ponting, Churchill, p. 620.

[135] Hastings, Bomber Command, p. 339. In 1945, Harris escreveu: “Eu não consideraria que as cidades restantes da Alemanha valessem os ossos de um granadeiro britânico” Ibid., p. 344. Harris mais tarde escreveu: “Os alemães permitiram que seus soldados ditassem toda a política da Luftwaffe, que foi projetada expressamente para auxiliar o exército em rápidos avanços … Muito tarde, viram a vantagem de uma força de bombardeio estratégico”. Hughes, Winston Churchill: British Bulldog, p 189.

[136] J.M. Spaight, Bombing Vindicated (London: Geoffrey Bles, 1944), p. 70–71. Spaight declarou que os britânicos deveriam se orgulhar do fato de que “começamos a bombardear alvos no continente alemão antes que os alemães começassem a bombardear alvos no continente britânico”. Hitler, enquanto pronto o suficiente para usar o bombardeio estratégico de vez em quando, “não queria que isso se tornasse uma prática. Ele fez o melhor que pôde para que fosse banido por acordo internacional”. Ibid., pp. 68, 60. Escrevendo durante a guerra, Spaight, claro, mentiu a seus leitores ao afirmar que os civis alemães estavam sendo mortos apenas acidentalmente pelos bombardeios britânicos.

[137] Em 14 de Fevereiro, 1942, A Diretriz No. 22 foi emitida ao Comando de Bombardeiros, estipulando que os esforços agora deveriam ser “focados no moral da população civil inimiga e, em particular, dos trabalhadores industriais”. No dia seguinte, o chefe do Estado-Maior da Aeronáutica acrescentou: “Referente a nova diretriz de bombardeio: suponho que seja caro que os pontos de mira sejam as áreas urbanizadas, e não, por exemplo, as docas ou fábricas de aviões”.Garrett, Ethics and Air Power in World War II, p. 11. Ao mentir sobre o objetivo do bombardeio e tentar encobrir a guerra, Churchill admitiu implicitamente que a Grã-Bretanha havia cometido violações das regras de guerra. Ibid., pp. 36–37.

[138] Ibid., pp. 32–33.

[139] Richard Swedberg, Schumpeter: A Biography (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1991), p. 141.

[140] Garrett, Ethics and Air Power in World War II, p. 202.

[141] Hastings, Bomber Command, pp. 343–44. Em novembro de 1942, Churchill propusera na campanha italiana: “Todos os centros industriais deveriam ser atacados de maneira intensa, todo esforço para torná-los inabitáveis e para aterrorizar e paralisar a população”. Ponting, Churchill, p. 614.

[142] Para um historiador que desejava verificar alguns detalhes, Churchill respondeu: “Não me lembro de nada sobre isso. Achei que os americanos o fizeram. O Marechal Chefe da Força Aérea Harris seria a pessoa que você deve contatar.” Rose, Churchill: The Unruly Giant, p. 338.

[143] Garrett, Ethics and Air Power in World War II, p. 21.

[144] Veja Barton J. Bernstein, “A postwar myth: 500,000 U.S. lives saved,” Bulletin of the Atomic Scientists 42, no. 6 (June/July 1986): 38–40; e, idem, “Wrong Numbers,” The Independent Monthly (July 1995): 41–44. Veja também, idem, “Seizing the Contested Terrain of Early Nuclear History: Stimson, Conant, and Their Allies Explain the Decision to Use the Atomic Bomb,” Diplomatic History 17, no. 1 (Winter 1993): 35–72, onde se rgumenta que um motivo importante na campanha de propaganda inicial da elite política que justifica o uso das bombas atômicas foi evitar uma retirada receada para o “isolacionismo” pelo povo americano. É interessante notar que Richard Nixon, às vezes conhecido como o “Mad Bomber” da Indochina, justifica “ataques deliberados contra civis” citando os bombardeios atômicos das cidades japonesas, bem como os ataques contra Hamburg e Dresden. Richard M. Nixon, “Letters to the Editor,” New York Times, May 15, 1983.

[145] Erik von Kuehnelt-Leddihn, Leftism Revisited: From de Sade and Marx to Hitler and Pol Pot (Washington, D.C.: Regnery, 1990), p. 281. Este trabalho contém numerosas passagens perceptivas sobre Churchill, por exemplo, pp. 261-65, 273 e 280-81, bem como sobre Roosevelt.

[146] Aleksandr I. Solzhenitsyn, The Gulag Archipelago, 1918–1956: An Experiment in Literary Investigation, Thomas P. Whitney, trans. (New York: Harper and Row, 1973), 1–2, p. 259n.

[147] Ibid., pp. 259–60.

[148] Sisley Huddleston, France: The Tragic Years, 1939–1947 (New York: Devin-Adair, 1955), pp. 285–324.

[149] Veja, por exemplo, Richard West, Tito and the Rise and Fall of Yugoslavia (New York: Carroll and Graf, 1995), pp. 192–93.

[150] Ponting, Churchill, p. 665.

[151] Herbert Mitzka, Zur Geschichte der Massendeportationen von Ostdeutschen in die Sowjetunion im Jahre 1945 (Einhausen: Atelier Hübner, 1986). Sobre outros crimes contra civis alemães no rescaldo da guerra, ver, entre outras obras, Heinz Nawratil, Die deutschen Nachkriegsverluste unter Vertriebenen, Gefangenen, und Verschleppten (Munich/Berlin: Herbig, 1986); John Sack, An Eye for an Eye (New York: Basic Books, 1993); e James Bacque, Verschwiegene Schuld: Die allierte Besatzungspolitik in Deutschland nach 1945, Hans-Ulrich Seebohm, trans. (Berlin/Frankfurt a. M.: Ullstein, 1995).

[152] Alfred de Zayas, Nemesis at Potsdam: The Anglo-Americans and the Expulsion of the Germans. Background, Execution, Consequences (London: Routledge and Kegan Paul, 1977).

[153] Gaspar M. Tamas, “The Vanishing Germans,” The Spectator, May 6, 1989, p. 15.

[154] Críticas dos Julgamentos de Nuremberg estão incluídas no Lord Hankey, Politics, Trials, and Errors (Chicago: Henry Regnery, 1950), and F.J.P. Veale, Advance to Barbarism: The Development of Total Warfare from Serajevo to Hiroshima (New York: Devin-Adair, 1968).

[155] Charmley, Churchill: The End of Glory, p. 622.

[156] Robert Boothy, Recollections of a Rebel (London: Hutchison, 1978), pp. 183–84.

[157] Churchill, The Gathering Storm, pp. iv — v.

[158] Nisbet, Roosevelt and Stalin: The Failed Courtship, p. 106.

[159] Cf. Robert Higgs, “The Cold War Economy: Opportunity Costs, Ideology, and the Politics of Crisis,” Explorations in Economic History 31 (1994): 283–312.

[160] Ludwig von Mises, Human Action (New Haven, Conn.: Yale University Press, 1949), p. 855.

[161] Charmley, Churchill: The End of Glory, p. 610, 618. Cf. Peter Clarke, Liberals and Social Democrats (Cambridge: Cambridge University Press, 1978), p. 281: “Quando a Coalizão Churchill foi formada em maio de 1940, ela deu ao progressismo um papel político central que lhe faltava desde 1914. A guerra popular trouxe um governo popular em que os trabalhistas comuns e os bons liberais eram os elementos ascendentes … Anti-apaziguamento era o mito dominante, ajudou a deslocar os homens culpados de Munique e também preparou o terreno para o derrube do consenso de Chamberlain na política interna. De repente, Keynes assumiu uma posição central dentro do Tesouro. A resposta patriótica dos trabalhadores à causa comum foi simbolizada pela presença maciça de Ernest Bevan como Ministro do Trabalho”.

[162] Addison, “Churchill and Social Reform,” p. 73. Addison afirma: “Na primavera de 1945, o governo da Coalizão havia preparado projetos de lei para um seguro social abrangente, abonos de família e um serviço nacional de saúde”. Como Líder da Oposição pelos próximos seis anos, “na política social [Churchill] invariavelmente contestou a reivindicação do Partido Trabalhista de monopólio da preocupação social e insistiu que o crédito para a criação do estado de bem-estar pós-guerra fosse dado a Coalizão de tempo de guerra, e não ao governo de Attlee.” Para uma visão contrastante, veja Kevin Jeffreys, The Churchill Coalition and Wartime Politics, 1940–1945 (Manchester: Manchester University Press, 1991).

[163] Greenleaf, The British Political Tradition, pp. 254–55.

[164] Roberts, Eminent Churchillians, p. 258.

[165] Ibid., p. 254. Roberts ressalta que “quando as indústrias de ferro e aço foram desnacionalizadas em 1953, elas efetivamente continuaram a ser operadas via o Conselho de Ferro e Aço”.

[166] Roy Jenkins, “Churchill: The Government of 1951–1955,” em Churchill, Blake e Louis, eds., p. 499.

[167] Addison, “Churchill and Social Reform,” p. 76.

[168] Roberts, Eminent Churchillians, pp. 243–85.

[169] C.S. Lewis, That Hideous Strength: A Modem Fairy-Tale for Grown-Ups (New York: Collier, [1946] 1965), p. 291.

Ralph Raico
Ralph Raico
(1936–2016) foi professor emérito de história europeia no Buffalo State College e membro sênior do Mises Institute. Ele era um especialista na história da liberdade, na tradição liberal na Europa e na relação entre a guerra e a ascensão do Estado. É o autor de The Place of Religion in the Liberal Philosophy of Constant, Tocqueville, and Lord Acton.
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3 COMENTÁRIOS

  1. Eu gostaria de parabenizar o Instituto Rothbard por este magnifico ensaio. Vocês estão de parabéns pela tradução, sei que não foi fácil.

  2. Excelente artigo, realmente nota-se os pesos das políticas “Churchianas” na Europa até hoje de forma bem evidente, a Europa hoje está em frangalhos, a Rússia consegue dominar, a séculos não se vê uma Europa tão debilitada, fadada a políticas socialistas, a Alemanha é exemplo de povo doutrinado, até hoje se sentem culpadas e acham que, desculpe o termo, mas engolir merda sem reclamar.

  3. Obrigado pela conveniente tradução deste excelente artigo, cujo original havia lido e encaminhado a alguns contatos ainda na semana passada, e que agora poderei então compartilhar c/ bem mais pessoas.

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Maurício J. Melo on Bem-estar social fora do estado
Maurício J. Melo on A guerra do Ocidente contra Deus
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Ex-microempresario on O bombardeio do catolicismo japonês
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Marco Antônio F on Anarquia, Deus e o Papa Francisco
Carola Megalomaníco Defensor do Clero Totalitário Religioso on Política é tirania por procuração
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Francês on O mistério continua
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