“De pior, não há nada”, escreveu o poeta Gerard Manley Hopkins, sobre os estados mentais humanos. Se ele estivesse vivo hoje, ele poderia escrever, “De mais absurdo, não há nada”, sobre nossas contorções de linguagem atuais.
Em uma publicação destinada a dermatologistas, o Dermatology Times, lemos em um artigo dedicado ao tratamento de pele em pacientes transexuais o seguinte:
Doentes com potencial reprodutivo que não… abstinem-se de parceiros portadores de pênis, são necessárias 2 formas de contracepção.
Em outras palavras, as mulheres que gostariam de ser homens, mas ainda têm seus ovários e úteros, podem engravidar por relações sexuais com homens férteis, sendo este último conhecido como “portador do pênis”. (A venerável, mas cada vez mais lunática revista médica The Lancet decidiu recentemente chamar as mulheres de “corpos com vaginas”. Quanto tempo pode levar antes de não nos dirigirmos mais a reuniões ou assembleias como senhoras e senhores, mas como portadores de pênis e detentores de vagina, ou talvez P e V para abreviar?)
Ao mesmo tempo que somos instruídos a pensar no sexo biológico como tão sem importância ao ponto da inexistência, e a acreditar que os homens que podem ter bebês por meio de portadores de pênis são homens precisamente no mesmo sentido em que Tarzan era um homem, nós também somos instruídos a distinguir os seres humanos apenas por uma ou outra de suas características genitivas. Isso faz o duplipensar de 1984 parecer honesto ou mesmo lúcido em comparação.
O artigo do Dermatology Times aponta para um problema prático para dermatologistas no tratamento de transexuais de mulher para homem. Essas mulheres recebem hormônios masculinizantes que, entre outros efeitos colaterais, resultam no desenvolvimento de acne em até um terço delas.
A acne é uma condição angustiante e quando é suficientemente grave pode provocar pensamentos suicidas. Além disso, um dos melhores tratamentos para a acne é a isotretinoína, que possui um efeito colateral bem conhecido que são pensamentos suicidas que às vezes resultam em suicídio, mesmo em pessoas que não eram suicidas anteriormente. Como se isso não bastasse, a taxa de depressão e suicídio entre esses indivíduos de gênero diverso atribuídos como mulher ao nascer já é alta – de acordo com o próprio artigo. O que o pobre dermatologista deve fazer? A resposta é simples: prescrever isotretinoína e transferir a responsabilidade para um psiquiatra. Se o dermatologista encaminha o paciente a um psiquiatra, mas o paciente, mesmo assim, comete suicídio durante o tratamento, a culpa é do psiquiatra, não do dermatologista.
O autor do artigo usou o termo parceiro portador de pênis espontaneamente, ou foi o resultado final de uma deliberação séria, seja de sua parte ou do editor, sobre qual termo causaria menos problemas com o lobby intimidatório que nas palavras de Rudyard Kipling, surgiu como um trovão atravessando a baía, embora neste caso não tenha vindo da China? (Na verdade, como eles devem estar rindo na China com essa evidência adicional da decadência ocidental.)
É possível que eu esteja enganado, é claro, e que pesquisas exaustivas provem que estou errado, mas não acho que alguém teria usado a expressão parceiro portador de pênis dez, talvez nem cinco, anos atrás. Parece que as civilizações vão à falência como as pessoas, primeiro lentamente, depois rapidamente.
Existem várias tendências culturais mais amplas discerníveis no atual alvoroço sobre o transexualismo, ou qualquer nome que se queira dar. (“As palavras são contadores de homens sábios”, disse Hobbes, “elas apenas calculam por eles: mas elas são o dinheiro dos tolos.” É justo acrescentar que, com a inflação, o dinheiro pode em breve se tornar o dinheiro dos tolos.)
A primeira tendência cultural é uma relutância crescente em aceitar qualquer limitação para a satisfação dos desejos de alguém que são colocados por circunstâncias além do controle, isto é, um prometeísmo exagerado ou exacerbado: Você pode ser o que quiser, sem limitação e, portanto, você não precisa aceitar nada com que nasceu como inevitável. Em tal cultura, a própria morte se torna inaceitável, um insulto à nossa onipotência desejada; não é qualquer tipo particular de morte que rejeitamos ou contra a qual lutamos, muitas vezes com sucesso, mas a própria morte.
A segunda tendência é de um pensamento mágico, apesar da suposta racionalidade de nossa época e de sua alardeada derrota da superstição. Acreditamos que podemos mudar a realidade por meio de meros encantamentos verbais. Se alterarmos nossa linguagem o suficiente, a própria realidade mudará. Algum elemento dessa crença pode ser encontrado na filosofia de Wittgenstein, embora ele provavelmente estivesse mais em sintonia com a tendência futura do que em ser sua criadora. Assim, se continuarmos dizendo por tempo suficiente que as mulheres que tomam hormônios masculinos são homens, e proibirmos a proposição oposta, tais mulheres se tornarão e homens.
A terceira tendência é a adoração do poder. O objetivo da mudança deliberada da linguagem não é melhorar o estado do mundo, ou mesmo o estado de espírito de alguém, mas o exercício e a consolidação do poder por si só. Um exemplo flagrante disso foi a reforma linguística de Ataturk na Turquia: em questão de poucos anos, todo um povo foi isolado de todo o seu passado e história e, portanto, não teve outra opção a não ser aderir à nova derrogação, que nem mesmo Erdogan foi capaz de mudar em muitos aspectos, apesar de um pouco de coreografia e figurino no estilo Busby Berkeley.
A quarta tendência é a centralização do marginal; ou seja, um fenômeno marginal como o transexualismo passa a ocupar o centro da atenção intelectual. Para empregar uma metáfora diferente, o rabo abana o cão.
A quinta tendência é de uma crescente fraqueza ou covardia de grande parte da intelligentsia, que neste caso se provou surpreendentemente fácil de intimidar, um bando de Neville Chamberlains intelectuais (mas Chamberlain tinha mais desculpas, pois ele havia vivido o horror do Primeira Guerra Mundial, que ele não queria repetir). Nada se mostrou absurdo demais para essa intelligentsia engolir; na verdade, engolir o absurdo é mais fácil para a intelectualidade do que para os outros, pois a racionalização é o seu métier. Não tem sentido em ser um intelectual se você pensa apenas o mesmo que todo mundo pensa.
A pergunta mais importante é: Qual é a próxima? – pois haverá uma próxima, porque a reforma transgressiva é o que dá sentido à vida na ausência de qualquer outro significado. Eu aposto que será o incesto, contra o qual não há argumento racional atualmente, dada a disponibilidade de controle de natalidade e aborto e a autoridade moral do consentimento mútuo.
Artigo original aqui
“Eu aposto que será o incesto, contra o qual não há argumento racional atualmente, dada a disponibilidade de controle de natalidade e aborto e a autoridade moral do consentimento mútuo.”
É justamente por causa deste tipo de situação que o libertário mais consistente, tem que ser um conservador e católico romano. Para se impor contra esta nova era, não basta a ética da não-agressão e a moral da propriedade privada. Afinal, o sujeito pode cometer incesto dentro da própria propriedade e, pomposamente como um bosta de um liberal, argumentar racionalmente sobre o seu direito, caso não seja proibido por lei.
Em um ancapistão teológico, não haveriam impedimentos, morais ou legais, para que a vizinhança procedesse de maneira rápida e dolorosa ao linchamento do abusador.
Os libertários ateus ainda estão na primeira infância. O ateísmo é um tipo de homossexualidade intelectual, ou seja, falta de desenvolvimento emocional.
Dalrymple é excelente.
Eu queria comentar o que você falou. Mas eu por muito tempo fui um agnóstico, hj eu acredito em Deus mas não possuo uma religião! Só para vc entender a minha situação moral!
Eu acho que a religião e o libertarianismo possui uma boa simbiose!
A religião sem envolvimento com política no meu modo de ver é como se fosse um livre mercado da moral! E nós como defensores do mercado temos que reconhecer que a religião tem um papel muito forte de passar bons costumes morais que venceram no teste do tempo! Ou seja passado de geração para geração e com uma imensa resistência a mudanças desnecessárias! Além de usar uma linguagem que não é a mais precisa como ciência mas que é uma linguagem vencedora no teste do tempo para penetrar na mente do máximo de pessoas não importando o nível intelectual!
E o libertarianismo são valores deduzidos por lógica, que implicam numa convivência pacífica em sociedade, no aumento do bem estar e da produtividade!
O libertarianismo é importante porque ele permite que você por lógica questione lideres religiosos quando por exemplo um papa estiver flertando com o comunismo!
A religião é importante para você conseguir aprender costumes morais sem a necessidade de ter lido uns 50 livros de ética, economia e filosofia! E sem a necessidade de ter facilidade com lógica ou grandes pré-requisitos de formação intelectual!
No meu modo de ver questões como incesto e aborto (aqui vou seguir o meu entendimento da leitura de ética da liberdade, uma opinião pessoal), não necessariamente o linchamento seria a solução de uma sociedade libertária!
Eu considero o incesto e aborto praticas repugnantes, que devem ser combatidas!
Porém o meu entendimento dessas leituras é que talvez em uma sociedade livre, bons costumes morais seriam incentivados e de conhecimento publico! Empresas bem sucedidas de mídia passariam esses valores diariamente a população!
Existe ao meu modo de ver a possibilidade que tais praticas como incesto e aborto em uma sociedade livre, não serem punidas através da violência! Mas sim da exclusão de qualquer convivência com a sociedade!
Eu imagino ser possível que o todos os fornecedores de comida, hospital, de roupas, de habitações se recusem a fazer negócios com pessoas que aderem essas práticas! Representando para essas pessoas a volta a vida selvagem! E se numa situação de desespero roubar comida de alguém aí sim a polícia privada provavelmente iria usar da violência!
Outra possibilidade é que a sua leitura está correta!
O linchamento publico ou por parte de alguém seria feito no caso de aborto ou de incesto!
A sociedade teria valores morais muito fortes presentes!
As pessoas que executaram o linchamento seriam julgados e condenados por agressão! Porém os familiares da pessoa que abortou ou praticou o incesto perdoariam os autores do linchamento!
E se os familiares da pessoa que abortou ou praticou o incesto não tivessem esses valores presentes, provavelmente eles iriam proceder condenando os autores do linchamento mas o restante da sociedade iria excluí-los da convivência social voltando a existência selvagem!
Isso é uma análise pessoal baseada no que eu entendi do livro ética da liberdade!
Excelentes comentários!
Eu sou católico romano e me tornei bastante crítico devido a influência – má, liberal. Isso foi até o ponto de perceber que, independente da crença em Deus, somente uma religião organizada é capaz de desafiar o estado. Ainda que isso não seja tão evidente nos dias de hoje – principalmente devido ao jesuíta comuna sentado no trono de Pedro, a vasta maioria dos católicos está com o Arcebispo Viganó, cujas palavras seguidamente são publicadas aqui.
De toda a forma, a justiça do linchamento é um caso radical. O que eu quis dizer basicamente é que uma sociedade cristã tende a ser mais justa do que uma somente baseada na razão.
De que forma nós podemos impedir que o estado torne o incesto – ou pedofilia, legal? como o Dalrymple disse: racionalmente não tem como. É neste caso que entra a moral católica – e em outros casos. Incesto é errado porque Deus disse que é. Se isso encontra sanção no libertarianismo – violação de propriedade, torna-se um argumento poderoso contra o incesto.
O estado é um problema artificial sob nossas vidas, mas certamente não é o único. É exatamente por isso que Mises disse que somente a liberdade pode encontrar soluções para os problemas humanos, pois se soubéssemos de tudo, a liberdade seria fútil e desnecessária.
Uma coisa que observo através destas cinco tendências citadas no texto é como muitas pessoas são imaturas hoje em dia, mais do que no passado.