É sabidamente notório que uma expressiva parcela dos intelectuais contemporâneos são indivíduos altamente politizados, sendo muitos deles de esquerda. Isso tanto é consequência da implacável doutrinação progressista que a grande maioria deles sofreu nas escolas e nas universidades, quanto é decorrente da hegemonia cultural da qual a esquerda usufrui há um tempo considerável. Além do mais, muitos deles — com receio de serem vistos de forma negativa por seus pares — acabam aderindo à receita de bolo progressista, porque assim se sentem parte de um grupo, de uma fraternidade ideológica, e podem até mesmo usufruir de benefícios consideráveis em suas carreiras profissionais.
O mais importante quando falamos da classe intelectual, no entanto — e aí poderíamos incluir, da mesma forma, a classe artística — é entender que estamos falando de pessoas que são, em sua maioria, completamente supérfluas e desnecessárias para o desenvolvimento e o progresso da sociedade. Essas pessoas são, para efeitos práticos, totalmente descartáveis. E elas sabem disso. Por isso, elas estão sempre buscando alicerces de apoio e pilares de sustentação para tentarem prosseguir em suas carreiras. E a organização que está sempre disposta a oferecer esse apoio é justamente o estado.
É reconhecido o fato de que intelectuais não conseguem obter seu sustento do mercado. Mesmo aqueles que são autores publicados — com exceção de meia dúzia —, não vendem tantos livros assim a ponto de conseguirem uma renda estável apenas com a venda de suas obras. Muitos ingressam na vida acadêmica, e viram professores de escolas ou universidades públicas, e frequentemente participam de editais culturais que financiam os seus projetos.
Portanto, em virtude tanto da dependência pessoal na questão financeira, quanto da profissional para progredir na carreira acadêmica, é inevitável que esses indivíduos defendam o estado com implacável mordacidade e veemência. Sem o estado, a esmagadora maioria dos intelectuais teria que trabalhar como vendedor em alguma livraria, como balconista de uma mercearia, como caixa de supermercado ou em alguma outra profissão que não os agradaria. Evidentemente, não há nada de errado com nenhuma dessas ocupações. No entanto, intelectuais considerariam qualquer uma delas como estando muito abaixo da sua dignidade.
Conhecendo essa fraqueza, há muito tempo o estado cooptou essa classe de pessoas. Em troca de um salário, de financiamento para suas obras e de patrocínio para os seus projetos acadêmicos ou artísticos — além de cerimônias ocasionais de louvor, com direito a muitas honrarias, formalidades, prestígio exagerado e glória mundana —, esses indivíduos facilmente se rendem aos “encantos” dos seus benfeitores, a classe política, se dispondo a promover o estado, a democracia e o sistema partidário como as grandes maravilhas da civilização.
Por isso, tantos intelectuais se prostituem e acabam se rendendo à “benevolência” do estado. O estado se dispõe a sustentá-los, ao passo que o mercado não faz isso. Como as massas — de uma forma geral — não possuem grandes aspirações ou interesses intelectuais, para elas tudo o que é procedente dos ambientes acadêmicos são coisas descartáveis, não essenciais, desnecessárias, que não agregam absolutamente nada às urgências da sua sobrevivência. Para o cidadão comum, é muito mais importante o padeiro fazer o pão fresquinho do que o acadêmico estar produzindo um novo ensaio literário sobre a teoria oxfordiana da autoria de Shakespeare.
Portanto — dadas as dificuldades de se sustentar de uma forma mais ética no mercado —, é natural para intelectuais ingressarem em uma vida acadêmica, onde serão sustentados pelo estado, por verbas públicas e pelo patrocínio de departamentos governamentais; isso para não mencionar aqueles que são direta ou indiretamente financiados por partidos políticos.
Por essa razão, o estado é tão palatável para a classe intelectual. O estado os sustenta e age como um “pai” para essas pessoas. Portanto, é inevitável que uma expressiva parcela de intelectuais se tornem aguerridos defensores do estado, dos impostos, de controle e de regulações, da redistribuição de renda e dos direitos sociais — contanto que sejam eles, é claro, os beneficiados.
Invariavelmente, intelectuais irão sempre manifestar simpatia para com ideologias estatizantes — como a social-democracia —, sendo altamente favoráveis a aberrações como intervencionismo e keynesianismo; isso quando esses sujeitos não são assumidamente socialistas, comunistas ou progressistas. Evidentemente, esses indivíduos serão vigorosos opositores do livre mercado e da redução dos poderes do estado. Pelo contrário, essas pessoas defenderão de forma radical a expansão e a centralização de recursos no estado, com irrefreável veemência e mordaz convicção.
Nos seus discursos, esses sujeitos irão sempre proclamar a importância da educação, da leitura, de programas de assistência cultural, e de todo o tipo de ladainhas sociais que sinalizam suas supostas virtudes. Não obstante, o que eles realmente desejam é um estado que seja capaz de patrocinar todos os seus projetos, seus editais culturais e seus programas acadêmicos. Eles não se importam com absolutamente nada além de suas próprias carreiras. A verdade é que o estado oferece uma trajetória muito mais confortável e agradável para a classe intelectual do que o mercado. Por isso é tão fácil para o sistema cooptar essas pessoas e induzi-las a defender o status quo.
Os fatos comprovam que, como grupo, a classe intelectual — uma classe que, com gloriosas e justas exceções, nada produz de essencial ou fundamental para a humanidade — é inteiramente dependente do dinheiro que o estado confisca da sociedade produtiva através de impostos. É com parte desse dinheiro confiscado pelo estado que a classe intelectual conseguirá financiar seus projetos, incrementar seus currículos acadêmicos e muitas vezes ter até mesmo um salário fixo. Uma boa parte dos acadêmicos e intelectuais contemporâneos, portanto, não passam de parasitas, tanto quanto políticos, burocratas, diplomatas, desembargadores e demais agentes da fauna estatal.
É verdade que existem intelectuais anarquistas e libertários. Mas tanto dentro como fora do universo acadêmico, eles são uma minoria se comparados com a quantidade total de intelectuais, autores e celebridades amantes do estado, da democracia e da classe política. Além do mais, o establishment faz de tudo para promover os seus, ao mesmo tempo que exclui ativamente os intelectuais que não lhe agradam.
Você nunca vai ver autores libertários sendo convidados para dar palestras em escolas, ou para participar de eventos culturais ou de feiras de livros. Muito pelo contrário, o establishment faz questão de ignorar ativamente todas as vozes destoantes e divergentes, em uma tentativa deliberada de fingir que tais grupos não existem. Nos eventos literários, políticos e culturais, são aceitos apenas aqueles sujeitos que proclamam e divulgam aquilo que o establishment deseja difundir: que o estado é maravilhoso, que você precisa dele e que o governo é sempre sábio, justo, magnânimo e toma as melhores decisões possíveis.
Se amamos a liberdade, a nossa desconfiança e cinismo para com a classe intelectual deve sempre estar em alerta máximo. Como os demais parasitas estatais, a classe intelectual deseja perpetuar o sistema e manter as coisas exatamente como estão. A liberdade sempre será vista como indesejável por essas pessoas.
Intelectuais, de maneira geral, são excepcionalmente hostis para com as pessoas comuns, e farão de tudo para continuar vivendo encastelados nas torres de marfim do mundo acadêmico, distantes dos mortais “simplórios” e “inferiores”, que são incapazes de compreender a glória da sua “exuberante genialidade”.
Esses mortais “simplórios” e “inferiores”, no entanto, são muito mais éticos e agregam muito mais valor à sociedade do que a esmagadora maioria dos intelectuais — indivíduos geralmente perdidos em seus megalomaníacos delírios de grandeza —, que dependem totalmente do estado e necessitam desesperadamente do parasitismo institucionalizado para sobreviver.
Ao contrário do que o establishment apregoa, intelectuais não são criaturas iluminadas e maravilhosas que levam o conhecimento aonde vão. Eles só são promovidos dessa maneira porque falam aquilo que o establishment deseja ouvir.
Intelectuais, em sua maioria, são indivíduos excepcionalmente arrogantes, prepotentes, egoístas, egocêntricos e ensimesmados, que não seriam absolutamente nada sem o seu tão adorado e venerado deus, o estado paternalista, que os financia, os promove, os alimenta e os coloca em um pedestal, justamente porque eles não passam de bonecos de ventríloquo — completamente destituídos de personalidade, autenticidade e originalidade —, sendo devidamente programados para difundir as mentiras histriônicas e ignóbeis que o sistema usa para escravizar as massas.
Intelectuais não raro são criaturas escravas de suas próprias permissivas e deploráveis vaidades. São narcisistas que precisam do aplauso e da aclamação das massas para se sentirem bem consigo próprios — apesar de não inovarem, não construírem e não produzirem absolutamente nada de verdadeiramente útil. E por essa razão a grande maioria deles despreza de forma contundente o capitalismo e o livre mercado. Eles sabem que precisam de estado e corporativismo para conseguirem se sustentar e ter carreiras de “sucesso”.
Em um mundo verdadeiramente livre, intelectuais não seriam adorados, venerados, tampouco conseguiriam sobreviver. O egocentrismo patológico e o desejo por atenção dessas pessoas jamais seriam saciados. Na verdade, essa classe de indivíduos sequer conseguiria se sustentar ou existir. Em uma sociedade realmente livre, a dispersão de conhecimento seria muito mais horizontal e orgânica, e só seriam exaltados os intelectuais que realmente se sobressaíssem de forma natural, por seus próprios méritos, competência e iniciativa, sem qualquer tipo de impulso artificial.
Evidentemente, não são todos os intelectuais que defendem o sistema, e não são todos eles que são deletérios para a promoção da liberdade. No entanto, há muito tempo o establishment político cooptou uma expressiva parcela dessas pessoas, de maneira que devemos estar sempre desconfiados de tudo o que intelectuais dizem, falam, escrevem ou publicam em suas redes sociais.
Intelectuais — de uma forma geral —, não possuem grande apreço pela liberdade e muitos deles defendem até mesmo ditaduras. Assim como artistas e jornalistas, essas pessoas não merecem nosso respeito ou consideração, visto que se ocupam em repetir jargões infantis que enfatizam a fé e a crença absoluta no sistema político, e são motivados primariamente pelo desejo narcisista de se promoverem e serem aplaudidos.
Eles não estão envolvidos em uma jornada para construir um mundo melhor, tampouco embarcaram em uma missão pessoal para desenvolver a sociedade. Sua prioridade é ter uma carreira de sucesso e lutar ativamente para que tudo continue exatamente como está.
Eu acho que faltou desenvolver um pouco mais a questão do amor incondicional dos atuais intelectuais a democracia. Que eles são amantes de uma boquinha no governo não resta a menor dúvida. Assim como os jornalistas e artistas, não passam de parasitas. Mas isso não quer dizer necessariamente uma adesão a democracia. Qualquer intelectual hoje é sinônimo de esquerdista, mas devemos reconhecer que o mundo está infestado de marxistas que notadamente são anti-democracia, ao menos na versão burguesa. E bem ou mal, esses caras são intelectuais. E dizem que a ditadura do proletariado não é um estado. São anarquistas transviados.
Na minha opinião, a adesão da esquerda radical que aceita participar da democracia é meramente circunstancial. Mas isso também pouco importa, já que a democracia e democratas tem mais é que se fuder. Quando alguém fala que defende a democracia eu trato de me encostar na parede… ou como eu ouvi a Camila Vargas falando em uma live: quem não quer aprender sendo racional, vai aprender pela via anal.
Não deixa de ser curioso também, que o Guilherme Merquior, maior intelectual liberal brasileiro – de verdade, não tipinhos como os randianos ou os aloprados do mimimises Brasil -, fosse um funcionário público… e esse sem dúvida não era de esquerda. E lendo alguns de seus textos não podemos dizer que fosse o maior democrata do mundo…
Os próprios intelectuais anarquistas de propriedade privada, por exemplo, são abertamente anti-democratas. E mesmo que não gostem desta definição, a grosso modo, são de direita.
Na verdade, quem gosta de democracia são os políticos de esquerda, pois é a única maneira que eles tem alguma chance de sair da insignificância. Ou como disse o autor deste texto: não passariam de balconistas…
Excelente artigo, tão evidente que somente não seria compreendido ou aceito por um… “intelectual” (aka YIY) !