Thursday, November 21, 2024
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Para acabar com a guerra na Ucrânia, exponha sua mentira central

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O argumento essencial usado para evitar a negociação e continuar apoiando a guerra na Ucrânia é baseado em uma mentira. Essa mentira, repetida pelo presidente Joe Biden, é que, quando Vladimir Putin decidiu invadir, ele pretendia conquistar toda a Ucrânia e “aniquilá-la”.

Sua mentira foi exposta várias vezes por especialistas militares, que apontaram, antes e depois da invasão, que a Rússia não poderia ter a intenção de conquistar toda a Ucrânia porque não invadiu com forças suficientes para fazê-lo. De fato, essa foi uma das principais razões pelas quais altos funcionários ucranianos, e até o próprio presidente Volodymyr Zelensky, argumentaram poucos dias antes da invasão que ela não ocorreria.

O erro que a maioria dos analistas da época cometeu (incluindo nós), foi supor que, uma vez que as tropas mobilizadas pela Rússia não eram suficientes para uma ocupação em grande escala da Ucrânia, nenhuma operação militar, nem mesmo limitada, estava em andamento. Foi só mais tarde que os líderes políticos ocidentais transformaram esse erro em sua vantagem de propaganda, insistindo que a Rússia sempre teve a intenção de primeiro tomar Kiev, depois toda a Ucrânia e, finalmente, até mesmo atacar a Otan.

Mas se a lógica militar básica for levada em conta, o fato de Putin ter comprometido apenas 120.000 a 190.000 homens em sua campanha e não ter mobilizado mais recursos até meses depois, depois que Kiev rejeitou o acordo de paz de Istambul, indica que seus objetivos na Ucrânia eram limitados e giravam em torno de garantir a segurança das populações de Donbass e Crimeia dos ataques ucranianos e a Rússia da expansão da Otan. Dado que a Ucrânia havia cortado a água e a eletricidade da Crimeia anos antes, isso exigiu uma ponte terrestre para a região, daí as anexações ilegais das regiões de Kherson e Zaporozhye.

Também temos a confirmação indireta de que o território não era seu objetivo de uma fonte irrepreensível: o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, que afirmou que Putin invadiu a Ucrânia para impedir a expansão da Otan. Isso explicaria por que, assim que esses objetivos estavam ao alcance quando as autoridades ucranianas rubricaram o rascunho do Acordo de Istambul em março de 2022, Putin interrompeu seu ataque e retirou as forças russas de Kiev, em vez de avançar mais para a Ucrânia.

Esse pano de fundo é importante, porque o argumento para aumentar o apoio militar ocidental à Ucrânia se baseia tanto na alegação de que a Rússia sempre teve a intenção de expandir ainda mais, atacar a Otan, e restabelecer o império russo.

Mas, como apontou o notável estudioso John Mearsheimer, “não há evidências no registro público de que Putin estava contemplando, muito menos pretendendo pôr fim à Ucrânia como um Estado independente e torná-la parte da grande Rússia quando enviou suas tropas para a Ucrânia em 24 de fevereiro”. Este nunca foi um dos objetivos declarados de Putin, nem nunca foi levado a sério pela liderança ucraniana. David Arakhamia, chefe da equipe de negociação da Ucrânia na Bielorrússia e Istambul, revelou recentemente que o “ponto-chave” para a Rússia era a Ucrânia não aderir à Otan, e “todo o resto era simplesmente retórica e ‘tempero’ político”.

O próprio Putin tem dito consistentemente que “este conflito não é sobre território (…) [trata-se] dos princípios subjacentes à nova ordem internacional”. Não devemos crer somente na sua palavra, mas ainda vale a pena perguntar: se as ambições de Putin fossem territoriais, ele teria esperado até 2014 para anexar a Crimeia? A câmara alta do Parlamento russo teria revogado a autoridade temporária de Putin para usar tropas na Ucrânia em junho de 2015? Ele teria se oposto aos referendos de independência de 2014 em Donetsk e Lugansk?

Olhando ainda mais para trás, se Putin realmente quisesse incorporar partes da antiga União Soviética, ele tinha a oportunidade ideal de fazê-lo em agosto de 2008, quando as tropas russas estavam a apenas uma hora de carro do Capitólio georgiano de Tbilisi. Ele poderia simplesmente ter reconhecido a independência da Abcásia e da Ossétia do Sul, e depois anexá-las à Rússia, mas não o fez. Analisando o comportamento atual de Putin, portanto, o ex-subsecretário adjunto de Defesa dos EUA Stephen Bryen conclui que “a Rússia não tem intenção de se expandir para fora da área de conflito da Ucrânia”.

A falsa narrativa sobre as intenções russas serviu ao seu propósito essencial de mobilizar os países ocidentais em apoio à Ucrânia. Continuar insistindo nisso agora, no entanto, é correr o risco de envolver a Otan diretamente no conflito e ameaça a própria sobrevivência da Ucrânia.

Se o desafio que o Ocidente enfrenta neste conflito é definido como “existencial“, então que escolha tem a Otan senão enviar suas próprias forças militares para evitar a derrota da Ucrânia? O presidente Biden deu a entender o mesmo quando disse: “Se Putin tomar a Ucrânia, ele não vai parar por aí. É importante ver o longo prazo aqui. Ele vai continuar… Então teremos algo que não buscamos e que não temos hoje: tropas americanas lutando contra tropas russas.”

Em algum momento, uma decisão terá que ser tomada para expandir muito o compromisso do Ocidente ou abandonar a Ucrânia à sua sorte. Infelizmente, o pedido do presidente Biden de US$ 61 bilhões em financiamento adicional para 2024 não faz nenhuma dessas duas coisas, já que a Ucrânia precisa de pelo menos cinco vezes esse valor para vencer, de acordo com seu principal comandante militar. Com a contraofensiva ucraniana já perdendo fôlego devido à falta de financiamento, falta de armamento e perdas insustentáveis, a Ucrânia provavelmente enfrentará em breve uma contraofensiva russa.

Antes de tal ataque, no entanto, a Rússia pode oferecer à Ucrânia novos termos de paz, embora muito menos vantajosos do que os oferecidos em março de 2022. Se a Ucrânia recuar, a Rússia pressionará sua vantagem esmagadora e tomará mais território, coisa que ela realmente não quer (para uma boa discussão do porquê, veja o ex-diplomata ucraniano Rostislav Ishchenko), a fim de forçar a Ucrânia à mesa de negociações.

Nesse ponto, o Ocidente será confrontado com uma escolha fatídica: aceitar a rendição da Ucrânia ou enviar tropas da Otan. Qualquer um dos cenários provavelmente levará a divisões acentuadas na aliança da Otan, já que Hungria, Eslováquia e Turquia indicaram que querem uma resolução pacífica para o conflito, não uma escalada.

A única coisa que a escalada não pode garantir, no entanto, é a derrota da Rússia. Isso porque, ao confirmar a narrativa de Putin de que a Otan tem a intenção de destruir a Rússia, seu apoio tanto dentro da Rússia quanto em todo o mundo provavelmente dispararia. Um Ocidente mais dividido estaria, portanto, diante de uma Rússia mais unida, desta vez apoiada abertamente pelos países do Brics, bem como por muitos outros grandes atores internacionais atualmente à margem. Isso efetivamente viraria o jogo sobre a estratégia dos EUA de usar a Ucrânia para conter as ambições globais da China. Em vez disso, agora seria a Rússia e seus aliados usando a Ucrânia para conter as ambições globais dos Estados Unidos.

Foi, em grande parte, a narrativa falsa original do Ocidente sobre os objetivos da Rússia na Ucrânia que nos levou a esse resultado sombrio; a segurança europeia enfraqueceu, o espectro da guerra nuclear, a Ucrânia destruída e a posição global dos EUA minada. Ela já foi usada uma vez antes para acabar com o Acordo de Istambul, que poderia ter encerrado a guerra antes que centenas de milhares morressem. Para que as negociações de paz se tornem uma alternativa aceitável à aniquilação mútua, essa mentira deve ser exposta e descartada.

 

 

 

Artigo original aqui

Ted Snider & Nicolai N. Petro
Ted Snider & Nicolai N. Petro
Ted Snider é um colunista regular sobre política externa e história dos EUA no Antiwar.com e no Libertarian Institute, e é um colaborador frequente do Responsible Statecraft, The American Conservative e outros veículos. Ele pode ser contatado em tedsnider@bell.net Nicolai N. Petro é professor de Ciência Política na Universidade de Rhode Island e autor de The Tragedy of Ukraine: What Classical Greek Tragedy Can Teach Us About Conflict Resolution (Berlim e Boston: De Gruyter, 2023).
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16 COMENTÁRIOS

  1. Inaceitável um país invadir outro que não iniciou agressão, quem acha isso normal me parece receber incentivos financeiros russos ou banaliza a soberania dos países e vale a lei do mais forte. Estranho a Russia “achar” russos oprimidos na Moldávia, Geórgia e Ucrânia. A luta Ucraniana é para manter seu território, a da Rússia é qual mesmo?

    • Pare de levar à sério aqueles canalecos de YouTube:
      Hoje no mundo da OTAN,
      Professor HOC,
      Peter Ucraniev, …

      Dou como certo que você anda vendo muito esses canais aí e os tomando como fontes “imparciais” de informações.

      • “A luta Ucraniana é para manter seu território, a da Rússia é qual mesmo?”

        Você não se lembra do que o Lloyd Austin falou ?
        – O objetivo dessa guerra é enfraquecer a Rússia ao máximo…

        O velho senil do Biden já deixou escapar várias vezes que o objetivo deles é destruir a Rússia.

        Henry Kissinger, o Mr. Realpolitik, se opôs a essas políticas muito antes do Euromaidan.
        Para Kissinger, arrumar confusão com a Rússia seria péssimo para os interesses dos EUA, ele foi um crítico da expansão da OTAN desde o fim da guerra fria.
        A estratégia proposta pelo Kissinger era trazer a Rússia para o lado dos EUA e isolar a China.

        Cuidado com esses canalecos de YouTube aí que você anda seguindo, se você pensar um pouquinho só, verá que sobram narrativas “non sequitur” nesses canalecos.

        • Sendo objetivo com a pergunta do Fernando, se a Rússia sair da Ucrânia, ela então continuará sendo atacada? Já que o objetivo que tu apontou seria supostamente enfraquecer a Rússia?
          Alguém forçou a Rússia a invadir a Ucrânia ou sequer atacou ela?

          • O que a Rússia fez foi exatamente o mesmo que Israel fez na guerra dos seis dias, não foi a coalizão árabe que iniciou aquela guerra.

            A Rússia reagiu ao plano de cerco do Ocidente, assim com fez Israel e os EUA também fariam se o México tentasse entrar em uma aliança militar pró Rússia e China.

            Ah, a crise dos mísseis em Cuba mandou lembranças, Cuba como nação soberana tinha todo o direto de ter mísseis atômicos russos no seu território.

    • No geral, afirmar que um país invadir o outro é algo inadmissível, condena todos os países do mundo como instituições criminosas. Talvez se a Ilha de Fernando de Noronha declarar independência um dia eventualmente isso possa mudar.

      #Fernando de Noronha livre

    • Fernando, se “a luta ucraniana é para manter seu território”, dê uma olhadinha na história e diga em que a Ucrânia se baseia para dizer que aquele território é dela.

  2. “Dado que a Ucrânia havia cortado a água e a eletricidade da Crimeia anos antes”

    Se Israel faz isso é genocídio mas se é a Ucrânia é um direito soberano! É piada alguém dizer que receber informação/contra informação da mídia do sistema é estar bem informado. Esses caras mentem desde 1517: são todos discípulos de Lutero, que por sua vez foi secretário geral de Satanás.

    “Ele poderia simplesmente ter reconhecido a independência da Abcásia e da Ossétia do Sul, e depois anexá-las à Rússia, mas não o fez”

    É curioso que por esta época eu tenha pensado que a Rússia deveria ter feito exatamente isso. O estado tem disso: às vezes eles perdem oportunidades por causa de algum motivo que jamais saberemos. É a mesma coisa com a turma do bigodinho em Dunquerque.

  3. Esse texto obviamente é um piada. Putin não invadiu com força total, porque teve medo da repercussão de uma guerra total, então preferiu apenas uma operação militar especial.

    Na cabeça do Putin, ele teria chances de invadir Kiev, tomando assim o poder, nem precisa de uma mobilização maior, e aproveitar todo o aparato industrial da Ucrania(veja a Ucrania era o país que mais produzia armas na União Soviética), para conseguir equipamentos e tentar atacar outros países da Europa. Os nazista também invadiram a Tchecoslováquia, exatamente pensando na capacidade industrial militar, antes de começar sua expansão pela Europa.

    Se esse plano não funcionasse, ao menos ele teria os territórios do mar negro para aumentar a hegemonia geopolítica.

    No fim, o Putin ficou até doente, ao perceber que seu plano no final, ajudou a fortalecer a Otan, e não está garantindo poder sobre o mar negro.

    • Piada é dizer que “Putin não invadiu com força total, porque teve medo da repercussão de uma guerra total” considerando que a Rússia é uma potência nuclear que poderia varrer da face da terra em poucos minutos a OTAN, a Europa e os Estado Unidos inteiro. E acredite que Putin seria incapaz de sentir um segundo de remorso, bem seguro dentro de um submarino nuclear em algum lugar desconhecido.

      Essa história de “não vamos utilizar armas nucleares porque vamos nos matar mutuamente” é balela. Desde quando uma elite que mantêm bilhões escravizados por aí tem preocupações humanitárias? Por favor! A Otan e seus lacaios querem uma guerra geral e Putin não. Acabou

    • Hilário ver alguém falando sobre guerra total em um mundo aonde existem bombas nucleares. No momento em que uma guerra total começar, todos os continentes do planeta serão varridos de vida humana. Só não o fazem porquê os oligarcas sabem que eventualmente morreriam de fome em seus bunkers, mas isso pode mudar no futuro.

    • Eu vejo a OTAN como uma instituição DECADENTE, pois está se expandindo demais…
      Os custos de administração estão só subindo com tantas adesões.
      A corrupção também é outra praga que assola grandes instituições gerida por governos.

      Aliás, a OTAN é um dinossauro que está sendo mantido vivo graças aos governos, se fosse uma instituição privada já tinha falido faz tempo.

  4. Hilário ver alguém confundir guerra geral com guerra total… escalada da guerra convencional é o objetivo de Otan e seus lacaios…

    Agora, qual o sentido de ter armas nucleares se toda a vez que surgir uma oportunidade de utiliza-las os psicopatas do estado irão fazer algum tipo de cálculo de custo-benefício? Graças a falsificação de dinheiro em larga escala as máfias estatais conseguem manter suas guerras convencionais ainda por um bom tempo.

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