Um artigo da rede MSNBC mostra como o preço do trigo (e da pizza, da cerveja, do cahorro-quente, etc.) está sendo pressionado para cima, não apenas por causa da desvalorização do dólar, mas também pelo “aumento da demanda” por etanol – que faz com que os agricultores abandonem o trigo e se concentrem na criação de milho para o etanol, que é mais lucrativa.
Porém o artigo falha ao não mencionar que a demanda por etanol não aumentou por si só, magicamente, mas por causa dos maciços subsídios governamentais que o tornaram relativamente mais atrativo. O artigo também não menciona que o etanol é hoje muito mais atraente aos agricultores por causa destes mesmos gordos subsídios que recebe do governo, sendo que o mesmo não ocorre com o trigo.
O resultado de tudo isso, como não poderia deixar de ser, foi uma incrível distorção no mercado. Os agricultores perceberam que era mais vantajoso plantar milho, por causa dos subsídios, e, assim, abandonaram o plantio de outros grãos e correram em revoada para o cereal. Plantações de lúpulo e trigo, por exemplo, foram reduzidas, o que levou a uma diminuição da oferta e a um aumento do preço desses produtos.
O milho como alimento ficou bem mais caro também, e no México o preço das tortillas disparou devido ao fato de que, no mercado norte-americano, o milho está agora sendo plantado para se tornar etanol (rico em subsídios, ótimo para alguns agricultores), e não para se tornar alimento.
E para coroar toda essa insensatez, há o fato de que são necessários 5 galões de água para se produzir 1 galão de etanol. Assim sendo, previsivelmente, a demanda por água nos áridos estados do oeste já aumentou sensivelmente. Isso provavelmente irá prejudicar mais os residentes urbanos do que os agricultores (já que os agricultores têm prioridade sobre a água, pois conseguiram alguns confortáveis “arranjos” governamentais através de seus lobistas), e certamente causará um aumento nos preços da água nas cidades – o que, por sua vez, levará a inúmeros discursos políticos sobre a importância de se usar conscientemente a água.
É claro que se o governo, em primeiro lugar, não estivesse se intrometendo no mercado de cereais, haveria muito mais água ofertada e os alimentos seriam bem mais baratos. A criação de etanol através do milho nunca foi economicamente viável. Também não é eficiente em termos ambientais. A questão é que os subsídios ao etanol são um jeito fácil de se comprar votos. Se alguém precisar de provas, basta viajar pelo estado de Nebraska e ver todos os outdoors e anúncios publicitários proclamando o poder messiânico do etanol. Eles são suficientes para fazer qualquer um crer na infalibilidade de políticos e de suas políticas.
Pergunta: por que os EUA não liberam a importação de etanol do Brasil, que o produz através da cana-de-açúcar, de maneira muito mais eficiente? Resposta: por causa do poderoso lobby agrícola, que consegue proteger politicamente o monopólio da sua indústria e manter o controle sobre seus preços. O livre comércio e o livre mercado são os únicos e verdadeiros inimigos do corporativismo.[N. do T.]