Se você é do tipo que acha que ideias não importam, e que aquilo que as pessoas pensam sobre elas próprias e sobre o mundo não tem qualquer consequência real, então o seguinte fato não vai lhe aborrecer nem um pouco.
Uma recente pesquisa da BBC descobriu que apenas 11% das pessoas entrevistadas ao redor do mundo — de um total de 29.000 – creem que o capitalismo de livre mercado é algo bom. Todo o resto acredita em mais regulação governamental. Somente uma pequena porcentagem da população mundial acredita que o capitalismo funciona bem e que mais regulação irá reduzir a eficiência.
Quase um quarto — 23% dos que responderam — disse que o capitalismo possui “defeitos graves”. Na França, 43% acreditam nisso; no México, 38%; e no Brasil, 35%. A maioria acha que o governo deveria roubar os ricos para dar dinheiro aos países pobres. Em apenas um país, a Turquia, uma maioria disse querer menos regulamentação governamental, pois assim seria melhor.
Mas a coisa fica ainda pior. Ao passo que a maioria dos europeus e americanos acha que a desintegração da União Soviética foi algo bom, a maioria das pessoas na Índia, na Indonésia, na Ucrânia, no Paquistão, na Rússia e no Egito acham que foi algo ruim. Sim, você leu corretamente: milhões libertados da escravidão socialista foi algo ruim.
Essas notícias devem acalentar o coração de todos os aspirantes a déspotas que existem ao redor do mundo. É impossível não se assombrar com esse fato vinte anos após o colapso do socialismo na Rússia e no Leste Europeu ter revelado ao mundo o que esse sistema criou: sociedades atrasadas cujos cidadãos viviam vidas curtas e miseráveis. E há também o exemplo chinês: um país resgatado de uma barbárie sanguinolenta sob o comunismo e transformado em uma nação moderna e próspera pelo capitalismo.
O que podemos aprender disso tudo? Que além de não terem aprendido nada, as pessoas se esqueceram totalmente dos resultados daquela experiência, e passaram a cultivar um amor pelo antigo conto de fadas de que todas as coisas podem ser corrigidas por meio do coletivismo e do planejamento central.
Para aqueles que se desesperaram com essa pesquisa, considerem que tudo poderia estar muito pior não fossem os esforços de um punhado de intelectuais que lutaram contra a teoria socialista por mais de um século. Sem eles, poderia ser que os defensores da tirania socialista chegassem a 99%. Portanto, não se pode dizer que esses esforços intelectuais foram em vão.
Ideias também possuem vida própria. Elas podem ficar esquecidas durante décadas ou séculos, apenas esperando seu momento, até que um dia elas são recuperadas e toda a história muda de uma hora para a outra. Especialmente nos dias atuais, nenhum esforço é inútil. Publicações, artigos, ensaios e traduções, ou qualquer outra forma de educação, são imediatamente imortalizados, prontos para serem absorvidos por um mundo desesperado.
Quanto à pesquisa de opinião, não sabemos o quão intensas são essas opiniões ou mesmo o que elas significam. Por exemplo, o que é o capitalismo? Será que as pessoas de fato sabem seu verdadeiro conceito? Michael Moore, por exemplo, não sabe — se soubesse, ele não estaria chamando de capitalismo práticas estatais como pacotes de socorro financeiro para empresas com explícitas conexões políticas. Várias outras pessoas ao redor do mundo reduzem o termo capitalismo a: “o sistema econômico vigente nos EUA”. Isso apesar de a realidade mostrar escancaradamente que os EUA possuem um abrangente e poderoso aparato planejador, que é diretamente responsável por todos os atuais problemas econômicos.
Indo um pouco mais a fundo agora. Dentre as pessoas ao redor do mundo que não gostam do império americano, muitas acreditam não gostarem do capitalismo também. Se a economia americana arrasta o mundo para uma recessão, isso é um exemplo primordial de fracasso do capitalismo. Ainda pior: se você não gostava de George W. Bush, de seus métodos e de seus comparsas, e considera que Obama surgiu meio que como um alívio, então você odeia o capitalismo e venera o socialismo.
Há também um outro ponto de vista em voga que interpreta erroneamente toda a ideia do capitalismo em si: não se trata de um sistema criador de estruturas econômicas que beneficiam o capital às custas do trabalho, da cultura ou da religião. Trata-se de um sistema que protege os direitos de todos e serve ao bem comum. Capitalismo é simplesmente o nome que veio a ser dado a esse sistema. Se você quiser chamar uma banana de ‘liberdade’, ótimo. O que interessa são as ideias, e não os termos.
Apenas sei que nenhuma dessas definições confusas de capitalismo é verdadeira. Você também sabe disso. Mas para todo o resto do mundo, análises ideológicas sérias não são o tonificante de suas vidas diárias. Muitas pessoas apenas se apegam a slogans vagos e passam a vida toda acreditando neles, sem qualquer questionamento mais profundo.
Tudo isso faz com que o verdadeiro capitalismo — um produto da sociedade voluntária e que representa a soma total de todos os atos voluntários de cooperação e troca feitos por pessoas ao redor do mundo — tenha poucos defensores intelectuais de verdade. Eles estão crescendo, mas o trabalho educacional que precisa ser feito é intimidador — e estamos enfrentando as mais poderosas e hipnotizantes forças do mundo.
Não há nada de novo nisso. Na história do mundo, a liberdade sempre foi a exceção, e não a regra. A luta por ela deve ser constantemente renovada a cada geração. Seus inimigos estão em todo lugar, mas o principal inimigo é a ignorância. Por essa razão, a principal arma que temos à nossa disposição é a educação.
Educação inclui explicar que o socialismo é uma ideia impraticável. Não há nada melhor para isso do que o livroSocialism, escrito por Ludwig von Mises em 1922, uma explicação abrangente da falácia do ideal socialista. Outro trabalho essencial é o Livro Negro do Comunismo. Tem-se aí um relato absolutamente apavorante de histórias reais que mostram que o sonho do socialismo é na verdade um pesadelo sangrento.
E há também a questão do argumento a favor do capitalismo. Não dá pra fazer melhor do Ludwig von Mises fez em Ação Humana, um tratado sobre a economia livre que provavelmente jamais será superado. Sim, é verdade que sua leitura não é para todos. Mas isso não é um problema. Há vários compêndios e cartilhas para iniciantes disponíveis também.
O modismo em prol do socialismo e a oposição ao capitalismo deveriam alarmar todos aqueles que amam a liberdade, independente de onde estejam. Temos um grande desafio pela frente, mas com números tão ruins assim não é difícil fazer alguma diferença. Cada golpe que você puder dar no inimigo, divulgando o verdadeiro conceito do livre mercado e mostrando toda a perversidade por trás do estatismo, irá ajudar a proteger a liberdade contra seus inúmeros e implacáveis inimigos.
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Sobre os termos ‘capitalismo’ e ‘livre mercado’, leia Algumas considerações sobre capitalismo, livre mercado e bolsa de valores