Quando prédios desabam após um terremoto, em qualquer lugar do mundo, o primeiro instinto é presumir que a Mãe Natureza é a culpada. O segundo é imaginar por que os prédios não foram construídos de modo a considerar o risco de terremotos. Mas é no terceiro passo que as pessoas realmente entendem tudo errado. Elas culpam os construtores, por não terem seguido as normas de construção, e o governo, por ter falhado em obrigar os construtores a seguirem essas normas.
Este é a explicação geral para a infernal situação em Dujiangyan, na China, onde dezenas de milhares de pessoas morreram – incluindo milhares de crianças em aproximadamente 7.000 salas de aula.
Um foco em particular que vem sofrendo muita cobertura midiática é a escola pública Xianjian, de educação básica, onde centenas de crianças morreram. Um pai de uma das crianças disse ao New York Times: “Isso não é um desastre natural. Essa escola não foi feita com aço de qualidade. Ela não está dentro dos padrões. Eles nos roubaram nossas crianças”.
Agora as pessoas estão exigindo que o governo local seja responsabilizado.
É certo que esses prédios não estavam dentro dos padrões, mas a questão mais fundamental é por que eles não estavam. Não se trata simplesmente de uma questão de obediência às normas de construção. Trata-se de uma questão econômica. As pessoas que constroem prédios devem ser responsáveis pela integridade estrutural dos prédios. Mas, obviamente, a negação da responsabilidade final é uma célebre feição de todos os governos em qualquer lugar do mundo, ao contrário do que ocorre com empresas privadas.
A China passou por uma revolução da iniciativa privada na última década e meia, revolução essa que transformou o país e aumentou fragorosamente o padrão de vida da população. Mas o sistema que construiu as escolas que desmoronaram está tão empacado no passado quanto o próprio sistema comunista chinês. Se o governo ordena que escolas sejam construídas, elas devem ser construídas e ponto final.
E se os recursos não estiverem disponíveis? E se os trabalhadores não tiverem a habilidade necessária para completar a tarefa? E se a maquinaria utilizada não estiver funcionando corretamente e não houver peças de reposição? E se a oferta de recursos tiver de ser alocada diferentemente, de acordo com as necessidades do povo? Sob um sistema socialista, as leis econômicas são irrelevantes. As escolas têm que aparecer. É assim que o sistema funciona.
Considere essa escola Xinjian. Era um prédio de quatro andares. Quando ele desabou por completo no chão, um hotel de 10 andares bem nas adjacências não sofreu qualquer perturbação por causa do terremoto. Sendo assim, quais são os detalhes por trás da construção de Xinjian?
Como diz a reportagem do Times:
“Quando Xinjian foi construída em 1992, muitos pais trabalhavam na fábrica de cimentos Dongfeng. Os diretores da empresa doaram 40 toneladas de cimento. Mas não era o suficiente. “Todo mundo sabia que eles não tinham cimento suficiente”, disse Dai Chuanbin, um homem mais velho familiarizado com o projeto. “Então eles usaram muita areia”.
Pais dizem que o governo municipal cortou ainda mais os custos da obra contratando lavradores para fazer o trabalho, ao invés de equipes de construção experientes. Um ex-funcionário da escola disse que os operários resolveram construir os alicerces durante uma época de chuvas tão fortes que ele acabou ruindo. Um outro alicerce teve de ser construído.
A escola abriu em 1993 e rapidamente se tornou saturada de alunos. O anexo separado foi reconstruído em 1998 após inspetores considerarem-no abaixo dos padrões. A Srta. Deng, a ex-diretora da escola, disse que obras em áreas adjacentes à escola, em maio de 2006, fazia com que o piso do prédio principal tremesse violentamente. Mas ela disse que nunca teve motivos para acreditar que a construção era estruturalmente instável e, assim, nunca apresentou nenhuma queixa por escrito aos seus superiores”.
Muitas pessoas de fato reclamaram e suspeitaram de graves problemas. Mas até onde interessava ao governo, o plano estava perfeitamente cumprido. A escola existia e isso era tudo o que importava.
Um outro problema estava na falta de vergalhões de reforço para o concreto. Os vergalhões foram utilizados como planejado, mas eram muito finos em relação à grossura das próprias paredes. Quando foram submetidos à pressão do tremor, eles se entortaram como um clipes de papel, e o concreto se desintegrou pra todos os lados.
Vendo as fotos tiradas por fotógrafos do Times, é de se imaginar como o prédio sequer conseguiu ficar de pé.
A preservação não é sempre algo bom, certo? Mas onde devemos aplicar os recursos? E onde e como devemos preservá-los? Esse é o problema econômico essencial que o socialismo não pode resolver. E por quê? Porque,como Mises explicou em 1920, a chave para o planejamento econômico racional é o sistema de preços. Mas não qualquer preço, escolhido do nada, e sim um genuíno sistema de preços produzido pelas trocas sob um sistema de propriedade privada. Os preços de bens de capital como concreto e aço são as ferramentas através da quais esses recursos são alocados. Não basta simplesmente desejar que algo exista. O projeto em questão deve ser economicamente viável, o que significa que ele deve ser lucrativo, ou ao menos pagável de alguma forma.
Quando os ditames de funcionários do governo substituem o sistema de preços, o resultado pode parecer toleravelmente apresentável. As escolas existiram. Os professores lecionaram. Os prédios se mantiveram de pé. Mas veio o terremoto e a ilusão ficou a descoberto às custas de muitas vidas, vidas que foram roubadas pelo planejamento central socialista.
Existem escolas públicas nos EUA, então por que não ocorrem os mesmos problemas? Uma razão tem a ver com a escassez relativa de materiais e habilidade. Prédios públicos nesse país são ilhas de socialismos envoltas por um mar de livre iniciativa, de maneira que os materiais e os trabalhadores estão à disposição. Os planos dos burocratas centrais são mais realizáveis simplesmente porque existem vastas reservas de capitais à mão, apesar de que devemos nos lembrar que quando os políticos falam do “deplorável” estado de nossas escolas e de nossa infra-estrutura são eles mesmos os responsáveis por tal estado. O setor público ordenou construí-las e as construiu.
E quanto às normas de construção e seu cumprimento? É um grande mito que tais normas são responsáveis de alguma maneira pela estabilidade de nossos edifícios. A iniciativa privada satisfaz a demanda por segurança da mesma maneira que satisfaz qualquer demanda dos consumidores. O motivo pelo qual sua casa não vem abaixo não é por causa das normas de construção, mas pelo fato de os construtores serem responsáveis pelos seus erros e porque há concorrência entre eles pela construção de melhores edifícios. Mais ainda: a iniciativa privada se regula a si própria, com um vasto arranjo de normas regulatórias que são auto-impostas. (A Underwriters Laboratory[*], por exemplo, é totalmente privada). Então, por que existem essas normas governamentais de construção? Na maioria das vezes elas são usadas por grandes corporações como forma de erigir barreiras à entrada de empresas menores, limitando bastante a concorrência.
Mas não nos afastemos demais do ponto central. Os resíduos do planejamento central socialista mataram as crianças. Sim, o governo é o culpado. Os sobreviventes e suas famílias estão certos quanto a isso. Mas eles têm outro inimigo também. E esse inimigo é a ideologia mortal concebida para colocar o governo no comando da vida econômica, o que inclui a construção de estruturas para alojar crianças com propósitos educativos. Eles podem colocar a tragédia da Escola Primária de Xianjian na lista das mortes causadas pelo socialismo.
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[*] Para mais informações sobre a Underwriters Laboratory, clique aqui.
Tradução de Leandro Roque