Uma rápida examinada em qualquer jornal sugere que o alto preço dos combustíveis desorganizou toda a rotina dos americanos. Enquanto políticos e palpiteiros espalhados por todo o espectro ideológico estão irritados, clamando pela necessidade de uma política nacional de energia, dizendo que a dependência de petróleo estrangeiro é algo “não-americano”, e preocupados que o aumento repentino do preço da gasolina nos últimos meses levará a um desastre econômico, as forças de mercado estão calmamente se ajustando, de modo a suavizar o choque e a resolver os problemas que aparecem.
Em uma economia de mercado, lucros e prejuízos são os sinais que dizem aos empreendedores se suas escolhas estão sendo sábias ou infelizes. Os lucros e os prejuízos também dizem aos empreendedores como eles devem ajustar seus empreendimentos de acordo com condições que estão mudando constantemente. As mudanças que a Toyota está fazendo na linha de montagem de seus carros e caminhões ilustram esse princípio.
Se você dirige muito, uma gasolina a $4 dólares o galão come uma grande fatia de sua renda disponível e requer alguns ajustes na maneira como você vive. Assim, como o mercado coordena essas mudanças? A Toyota está respondendo de uma maneira previsível: sua fábrica em construção na cidade de Blue Springs, Mississippi, irá produzir o híbrido Prius, que consome pouca gasolina, em lugar dos utilitários (SUVs) tradicionalmente beberrões. Ela também irá consolidar sua produção de caminhões e picapes na fábrica de San Antonio, Texas. Ou seja, ninguém, nem mesmo a Toyota, está imune às pressões inerentes a uma gasolina custando por volta – ou acima – de $4 dólares o galão.
A miríade de ajustes feitos para se adaptar à gasolina mais cara nos mostra como os processos de mercado alteram nossas atividades e nosso comportamento. Passamos a fazer um uso menor de algumas coisas e um uso maior de outras, e também começamos a inovar. Em termos mais concretos, passamos a dirigir menos e a andarmos mais, e a investir em fontes alternativas de energia. Outros passam a trabalhar em casa, on-line, conectados às suas empresas, ao invés de dirigir até ela. O número de empresas de capital de risco focadas em fontes de energia alternativa vem crescendo rapidamente nos últimos anos, e projetos do tipo faça-você-mesmo de carregadores solares de iPod, cortadores solares de grama e outras tecnologias baseadas em energia solar já estão por toda a internet. Alguns alunos da minha instituição criaram um carregador solar de iPod como parte do projeto de fim de ano, no semestre passado. E a lista de respostas inovadoras ao alto preço da gasolina continua se expandindo.
Algumas dessas idéias irão funcionar bem e outras, não. Não são as idéias e/ou as tecnologias específicas que importam, mas, sim, o processo. Algumas idéias irão funcionar e outras irão fracassar; é o mecanismo de lucros e prejuízos fornecido pelo processo de mercado que nos ajuda a separar as idéias boas das ruins. Sábios como F.A. Hayek se referiram à “concorrência como um processo de descobrimento”, e em um artigo publicado na Business and Society Review, em 2006, Walter Block, Stephen W. Carson e eu nos referimos ao mercado como sendo um “processo de descobrimento”. A concorrência na economia de mercado separa as boas idéias daquelas nem tão boas e nos ajuda a economizar recursos escassos. Não podemos predizer quais tecnologias surgirão e nem como nossos problemas serão resolvidos, mas podemos compreender as condições institucionais sob as quais esse processo emergirá.
A decisão da Toyota de consolidar a produção de caminhões e picapes em San Antonio e de produzir o Prius em Blue Springs é uma maneira de se ajustar ao preço mais alto da gasolina. Se essa foi uma escolha sábia ou não é algo que será determinado apenas com o decorrer do tempo. A Toyota anunciou as mudanças no início de agosto. Suas ações subiram ligeiramente, mas voltaram a cair no dia seguinte, o que sugere que ainda não é possível obter muita informação sobre como o mercado está avaliando a jogada. O mercado é o processo através do qual se dará as informações sobre sucesso e/ou fracasso.
“O mercado” não é uma conseqüência, um resultado; também não é um fim em si mesmo. O mercado é um processo através do qual as pessoas descobrem maneiras eficazes (e nem tão eficazes) de satisfazer as nossas necessidades e desejos. O empreendedorismo é essencial; isso consiste em avaliar os fatores de produção disponíveis no mercado e em experimentar novos planos de produção baseando-se na expectativa de que tais empreendimentos serão lucrativos. Aqueles que escolhem sabiamente serão recompensados com lucros. Aqueles que escolhem deficientemente serão punidos com prejuízos.
Não, a Toyota não teve de seguir ordens de um uma agência estatal de planejamento central que determina como será a construção e a distribuição de automóveis. A Toyota tomou sua decisão baseando-se na sua expectativa de como será a estrutura futura dos preços dos insumos e dos produtos, dos suplementos e das reservas. Ela decidiu que seus recursos estariam mais bem investidos se aplicados na melhora e na construção de híbridos ao invés de em veículos maiores. O dinheiro manda, e as empresas têm de obedecer.
Mesmo uma grande empresa como a Toyota tem de se render aos desejos e necessidades dos consumidores. São os consumidores que pagam as despesas e, portanto, são eles que ditam as ordens. À medida que a gasolina vai ficando mais cara, as pessoas (consumidores) passam a demandar veículos menores e energeticamente mais econômicos. Qualquer empresa que queira permanecer lucrativa terá de ouvir e responder, e qualquer empresa que se recuse a fazê-lo estará em perigo de extinção.
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Obs: para uma descrição mais detalhada sobre o fantástico funcionamento do mercado, veja o artigo de Murray Rothbard, O que é o Livre Mercado?