O encontro do G-20 começa hoje na Inglaterra. Ali, os líderes políticos das 20 nações mais ricas irão se encontrar para trocar ideias sobre como resolver a crise financeira internacional que seus próprios bancos centrais criaram, quando seguiam entusiasmadamente a expansão monetária feita por Alan Greenspan e seu FED. Eles nunca foram capazes de previr isso. Absolutamente nenhum deles – nem os banqueiros centrais, nem os políticos e nem os reguladores. Todos foram pegos desprevenidos.
Por isso montaram uma reunião para sair divulgando comunicados à imprensa. Esses comunicados servirão apenas para dizer ao público que eles, os criadores dessa crise, já sabem o que deu errado – eles não sabem – e que, ao discutirem as causas da crise, a qual eles não entendem, serão capazes de chegar a uma solução conjunta que não envolva (1) inflação maciça ou (2) uma depressão mundial que irá durar anos.
É tudo uma distração. Apenas um palanque para autoridades desfilarem baboseiras e darem a impressão de que estão agindo. Tudo propaganda enganosa.
Essa gente não tem a mínima ideia do que fazer. Se tivessem, já haveria duas ou três propostas bem definidas e totalmente documentadas, cada qual apoiada pelo país mais interessado em sua implementação. Inevitavelmente, todas elas teriam graves falhas. Todas seriam mutuamente excludentes. Economistas de várias escolas de pensamento já estariam mobilizados atrás do programa que mais lhes interessasse.
Mas nem isso há. Pelo contrário: não há planos publicados. Não há documentos oficiais. Há apenas vagas promessas de ações conjuntas. Tipo quais?
Não há planos detalhados a partir dos quais esse time de políticos egomaníacos possa concebivelmente chegar a um plano aceitável.
Na há uma agência centralizada de planejamento internacional.
Não há uma agência internacional que irá aplicar eventuais regras. Não há sequer acordo entre os bancos centrais.
Não há unanimidade para se fazer absolutamente nada.
E nem haverá. O encontro do G-20 irá apenas emitir algum tipo de declaração amena e esperançosa, ameaçar alguns pacotes e daí todos irão pra casa.
Eles se recusam a adotar o único sistema que trouxe uma real unidade aos governos e bancos centrais: um padrão ouro internacional, em que o meio de troca eram moedas de ouro. Entre 1815 e 1914, os políticos e banqueiros centrais eram incapazes de controlar os movimentos do ouro, que saíam das nações que inflacionavam e iam para as nações que não inflacionavam. Eles odiavam o fato de que eram as pessoas comuns que exerciam controle efetivo sobre a política monetária doméstica, pois elas podiam simplesmente ir a um banco e redimir suas notas em moedas de ouro. Todos eles acabaram com esse poder no verão de 1914, quando estourou a Primeira Guerra Mundial.
Esses tagarelas, esses políticos, esses fanáticos pelo poder não confiam uns nos outros. Esse é o ponto principal. Eles também não confiam no cidadão comum, o que significa que eles não confiam em um padrão ouro-moeda.
Estão todos presos ao padrão dólar. Eles disseram aos seus eleitores que seus respectivos países podem enriquecer apenas exportando para os EUA. Eles não explicaram que, para poder exportar vários bens para os EUA, seus respectivos bancos centrais têm de criar dinheiro do nada para poder comprar dólares e com isso manter a moeda americana apreciada, o que favorece as exportações. Mas como o dólar está cada vez mais depreciado, tal feito exigirá enormes quantias de dinheiro impresso. Eles também não disseram aos seus eleitores que esse mercantilismo moderno se baseia em emprestar dinheiro de impostos e de seu banco central para o governo americano, que não irá pagar esses empréstimos. Nunca.
Portanto, os políticos das nações do G-20 não chegarão a acordo algum que possa ser aplicado institucionalmente. Eles (corretamente) não confiam na ONU. Eles terão de se manter fiéis aos títulos da dívida americana, o que eles já vêm fazendo desde 1946. Eles manterão as coisas como estão – ou seja, mercantilismo voltado para exportações. Em cada país, o governo irá ordenar que seu banco central desvalorize a moeda nacional para chegar a um câmbio favorável ao mesmo tempo em que o país segue comprando mais títulos da dívida americana. Mas eles não comprarão tanto quanto antes.
Duas semanas atrás, os ministros das finanças dos países do G-20 suspenderam seu inútil e infrutífero encontro na cidade de Horsham, Inglaterra. Eles não chegaram a conclusão alguma. O jornal The Telegraph reportou que:
Após toda a verborragia já esperada, havia uma profunda sensação, enquanto os ministros do G-20 voltavam para seus respectivos cantos do globo, de que a coisa foi, na essência, uma decepção.
Essa análise foi precisa. Nada ocorreu durante as duas últimas semanas que indicasse que algo de substancial havia sido consumado.
O evento terminou com uma sensação de ambição semifrustrada. Pelo menos não houve grandes embates entre os europeus, que queriam centrar o debate em uma maior regulação dos mercados financeiros, e os americanos, que queriam alvos mais específicos para receber ajuda financeira do governo.
E foi só. Os europeus, sendo europeus, querem mais regulamentação governamental. Os americanos, sendo americanos, querem socorros financiados pelo governo. Ninguém quer um livre mercado.
E agora toda a esperança jaz nas prima-donas: os políticos.
Havia de fato a esperança de que a cúpula do G-20 iria produzir uma resposta conclusiva para a crise. A esperança é que houvesse um momento em que surgiria uma solução miraculosa para acabar com a bagunça. Mas quanto mais cedo as pessoas entenderem que isso é esperar muito da conferência do G20 que começa em Londres no dia 2 de abril, melhor. Este é de fato um pensamento muito depressivo. Entretanto, o consolo é que, pelo menos, ninguém agora duvida da dimensão do problema e, o que é mais importante, as maiores economias do mundo ainda estão conversando entre si.
A dimensão dos problemas de fato é gigantesca. A solução será mais do mesmo. A probabilidade de um acordo é mínima. Os políticos irão tagarelar e bufar, mas nenhum deles irá sacrificar sua carreira e a autonomia da política monetária de seu país a fim de entregar sua soberania a um novo banco central internacional, que não é comandado por país algum. Foi isso que o padrão ouro fez, mas a um preço hoje intolerável para essas prima-donas: a rendição da autonomia política nacional.
Ninguém no poder confia em seus pares. Eles sabem como cada um chegou ao poder. Todos eles incorreram nas mesmas fraudulências.
O sistema irá piorar ainda mais
O sistema bancário internacional está instável. Estamos na fase inicial de uma sequência de enormes prejuízos corporativos, imensos déficits orçamentários nacionais, queda no comércio internacional e inflação monetária.
Os ministros das finanças não sugeriram qualquer programa de reforma. Os políticos não irão propor qualquer tipo bem definido de programa de coordenação que irá aumentar os lucros, aumentar o comércio, aumentar a produção e estabilizar a oferta monetária de cada nação. Os investidores estão à procura de esperança. Não precisa ser uma esperança plausível – apenas uma esperança.
Já o porta-voz da Morgan Stanley disse não ver esperança alguma de lucros corporativos durante os próximos dois trimestres. Isso mal descreve a natureza da real ameaça à prosperidade mundial. O sistema bancário americano, o maior do mundo, ainda está subcapitalizado e sofrendo prejuízos enormes devido a maus empréstimos feitos ao setor imobiliário e a calotes dados nas empresas de cartão de crédito (como previsto aquie aqui).
Não há qualquer solução proposta a nenhum desses problemas, além de meros socorros financeiros. Há várias e seguidas afirmações de que há uma solução que não envolve nem inflação em massa e nem depressão em massa. Mas ninguém explica que solução é essa.
Os investidores são um alvo fácil para essa propaganda enganosa. Eles não sabem por que investiram em ações ao invés de em ouro, de 2000 a 2008. Eles não sabem como nenhuma autoridade foi capaz de prever essa crise. Eles não entendem a teoria monetária da escola austríaca. Eles só sabem que os lucros corporativos estão despencando. E, por algum motivo, eles creem que os governos têm a solução.
Com o tempo, essa esperança irá desaparecer, junto com os índices da Dow Jones e da S&P 500.
Conclusão
Monitore o encontro do G-20. Veja se haverá algum programa anunciado por todos os 20 membros. Veja se haverá algo além da inevitável afirmação de que “Algo Será Feito, E Agora É Pra Valer”.
Qual deve ser a sua fé nesses pronunciamentos? Nula.