Capítulo VI. O socialismo e o cálculo econômico
A economia “austríaca” sempre fora implicitamente favorável a uma política de mercado livre, mas, no mundo tranquilo e relativamente livre do final do século XIX, os “austríacos” jamais se tinham dado ao trabalho de formular uma análise explícita da liberdade ou da intervenção governamental. Num ambiente de estatismo e socialismo crescente, Ludwig von Mises, enquanto continuava a desenvolver sua teoria do ciclo econômico, voltou sua penetrante atenção para a análise da economia da intervenção e do planejamento governamentais. Um artigo que publicou num jornal em 1920, “Economic Calculation in the Socialist Commonwealth“[6] (O cálculo econômico na comunidade socialista), teve o efeito de uma bomba: era a primeira demonstração de que o socialismo era um sistema inviável para uma economia industrial.
Mises provou que uma economia socialista, inteiramente desprovida de um sistema de preços de mercado livre, não teria como calcular custos racionalmente ou conjuminar eficientemente os fatores de produção com suas funções mais necessárias. Embora também só traduzida para o inglês em meados da década de 30, essa demonstração teve enorme impacto sobre os socialistas europeus, que, durante décadas, empenharam-se em refutá-la, contrapondo-lhe modelos exequíveis de planejamento socialista. Mises reuniu suas descobertas numa crítica abrangente do socialismo, Socialism (1922).[7] Quando suas devastadoras críticas ao socialismo foram finalmente traduzidas, o meio da ciência econômica norte-americana foi informado de que o socialista polonês Oskar Lange tinha “refutado” Mises; e assim os socialistas continuaram sem se dar ao trabalho de ler a contribuição do próprio Mises. Os malogros crescentes e confessados do planejamento econômico comunista na Rússia e na Europa Oriental – economias em processo de industrialização crescente – após a Segunda Guerra Mundial constituíram uma dramática confirmação das previsões de Mises, ainda que sua própria demonstração permaneça convenientemente esquecida.
Se o socialismo não pode funcionar, então tampouco podem ter eficácia os atos específicos de intervenção governamental no mercado, batizados por Mises de “intervencionismo”. Ao longo da década de 20, Mises criticou e demoliu grande número de medidas econômicas estatistas numa série de artigos que reuniu emKritik des Interventtonismus (1929).[8] Se nem o socialismo nem a intervenção eram viáveis, restava-nos então o liberalismo do laissez-faire, ou economia de mercado livre. Mises, então, o expôs minuciosamente em sua análise dos méritos do liberalismo clássico, a notável obra Liberalismus (1927)[9], em que revelou a íntima relação existente entre a paz internacional, as liberdades civis e a economia de mercado livre.
[6] Tradução inglesa em F.A. Hayek (ed.) Collectivist Economic Planning (Londres: G.Routledge & Sons, 1935).
[7] Tradução inglesa: Ludwig von Mises, Socialism (Indianapolis: Liberty Classics, 1981).
[8] Tradução inglesa: Ludwig von Mises, Socialism (Indianapolis: Liberty Classics, 1981).
[9] Tradução inglesa: Mises, Liberalism (Kansas City: Sheed, Andrews & McMeel, 1979).