Thursday, November 21, 2024
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O desafio de Milei aos falsos economistas

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Em 1972, os membros do recém criado Partido Libertário americano queriam que Murray Rothbard fosse seu candidato à presidência dos EUA nas eleições vindouras. Durante uma entrevista, quando perguntado sobre essa possibilidade, Rothbard primeiro deu uma longa risada. E a risada foi realmente longa, como pode ser constatado no áudio da entrevista exibido pelo entrevistador durante sua palestra recente no Mises Institute. Após a gargalhada, ele comentou que não achava que sequer era o momento de se criar um partido libertário, simplesmente porque não existiam libertários suficientes, mas que se eventualmente existisse um partido libertário forte, diversas coisas poderiam ser alcançadas: com alguns congressistas eleitos, alguma medida estatizante poderia deixar de ser aprovada, outras poderiam ser abolidas etc., mas que a melhor coisa seria que tal partido poderia ser usado como uma arma educacional. Em 2005, quando comecei a juntar libertários brasileiros para a formação de um partido libertário, não tinha nenhuma pretensão que o partido viesse a existir formalmente em um futuro próximo – ainda mais diante da propositadamente impeditiva burocracia necessária para a oficialização de um partido político no Brasil. Para mim, mesmo um partido não oficial poderia servir para divulgar as ideias libertárias, pois o circo político atraí a atenção do público, principalmente em épocas de eleição.

De fato, durante o período eleitoral, algumas – poucas – pessoas buscam conhecer as propostas dos candidatos para resolver os problemas sociais, e seria importante alcançar essas pessoas através das propostas de um partido libertário, tentando mostrar a elas basicamente que estes problemas são causados pelo estado e resolvidos com a eliminação de suas intervenções. Políticos libertários eleitos não podem realizar muita coisa, a não ser que formem uma maioria. Mas mesmo um político libertário solitário eleito pode fazer muito, pois seu cargo funciona como um palanque constante e como um sinal (indevido, mas real) de respeitabilidade perante o grande público. Ron Paul é um exemplo; durante seus anos como congressista, não conseguiu sequer atrasar 1 segundo a expansão cavalar do estado, quanto mais diminuí-lo – mas usou o palanque de seu cargo e de suas candidaturas a presidência para difundir as ideias libertárias. Desde os sucessos dos romances de Ayn Rand (que não era libertária), o libertarianismo nunca mais havia tido tamanha exposição pública, e depois de Ayn Rand, foi a empreitada política de Ron Paul quem mais criou libertários no mundo.

Atualmente o libertarianismo conta com uma nova estrela solitária, o anarcocapitalista Javier Milei, presidente da Argentina e figura pública com alcance global. Na função de presidente, ele pouco pode fazer para deter o Leviatã. Conforme mencionei acima, apenas um congressista libertário nada pôde fazer, mas as coisas não são muito diferentes com relação a um presidente. O sistema democrático serve muito bem a expansão e manutenção do statist quo, porém ele representa um obstáculo quase que intransponível para sua reversão. Vimos isso na história recente no Brasil. Bolsonaro, longe de ser um libertário, tentou abolir algumas intervenções pontuais do estado e não conseguiu. Os Correios são um exemplo. Durante os 4 anos de seu mandato, Bolsonaro avançou para a privatização deste dinossauro socialista. Não conseguiu realizar essa tarefa a tempo, e como foi tirado do cargo, o projeto voltou à estaca zero. Nos primeiros 100 dias de seu governo, Milei já enfrentou este tipo de resistência. Ainda que tenha logrado cortar gastos e ter entregado o primeiro superávit da Argentina em mais de uma década (lembrando que cortar gastos sem cortar impostos não é vantagem para os súditos), sua libertadora “Ley Omnibus” (Lei Para Todos) foi rejeitada pelo Congresso e sua ordem executiva de abolição de uma série de intervenções foi rejeitada pelo Senado. Ambas as ações alforriariam os argentinos de pesadas correntes e colocariam o país no rumo da prosperidade.

Para se ter uma ideia, um dos itens da Ley Omnibus elimina a cobrança de impostos de qualquer produto importado trazido por viajantes. Atualmente o limite é de US$500 e bandidos da polícia aduaneira revistam as malas dos passageiros e assaltam à mão armada, no ato, 50% do valor de tudo que ultrapassa o limite. Muito lamentavelmente Milei não é um ditador com poder de libertar o povo argentino, que segue escravo da casta política e das elites dominantes, e segue sendo achacado por seus capangas armados. Caso suas propostas não sejam aprovadas, Milei aposta que nas eleições de meio de mandato em 2025 ele obterá maioria através do voto e não só estas, como muitas mais de suas propostas liberalizantes serão aprovadas. A democracia não se resume apenas a eleições periódicas, onde, em teoria, uma maioria pode roubar e oprimir uma minoria, mas que, na prática, trata-se de uma minoria organizada que rouba e oprimi uma maioria. O esquema de extorsão democrático desenvolveu uma série de estruturas para se perpetuar. A casta parasitária consolidou-se democraticamente e é pouco provável que seja desmantelada por um presidente democrático. É mais provável que mais cedo ou mais tarde o sistema elimine esta anomalia.

Paralelamente a tarefa executiva, Milei tem aproveitado o palco político para propagar o austrolibertarianismo – e este talvez venha a ser o seu maior legado. Se em política externa ele segue envergonhando os libertários com seu apoio ao genocídio palestino perpetrado pelo Estado de Israel e apoio ao palhaço Zelensky e a guerra por procuração dos EUA contra a Rússia as custas do sangue dos ucranianos, quando o assunto é economia, Milei tem feito um grande trabalho. O cargo de presidente está dando uma visibilidade inédita as ideias austrolibertárias. Jeff Berwick reclamou quando Milei preteriu seu convite para discursar no Anarchapulco, indo, ao invés, ao globalista Fórum Econômico Mundial (FEM). Porém, participar do evento anarcocapitalista seria pregar para os (poucos) convertidos, ao passo que seu discurso em Davos repercutiu mundialmente. Outro grande palco que foi aberto a Milei foi o da CPAC, a Conferencia Política de Ação Conservadora, nos EUA.

Já foi ressaltado em diversos lugares que Milei enfrentou em Davos uma plateia adversa, jogando na cara dos presentes que eles eram o problema; porém o mesmo se deu na CPAC. Enquanto em Davos é bastante óbvio que Milei apresentou ideias antagônicas as da cabala socialista da elite política e econômica do FEM, ele também atacou frontalmente as ideias socialistas estatistas dos conservadores da CPAC, embora eles tenham sido torpes demais para perceber isso e o aplaudiram efusivamente. O discurso na CPAC foi um complemento do discurso de Davos, e se iniciou assim:

       “Em primeiro lugar, muito obrigado por este convite. Quanto à conferência de hoje, dado o impacto da conferência de Davos, na qual apontei que o Ocidente está em perigo, dado o avanço das ideias estatistas, hoje vou me concentrar nos fundamentos técnicos que sustentaram essas visões políticas, naquela conferência.”

Jesús Huerta de Soto já declarou que se arrependeu de ter dado o título de seu livro de Socialismo, cálculo econômico e função empresarial, pois o título adequado seria “Estatismo, cálculo econômico e função empresarial”, e Milei inicia seu discurso deixando isso claro: o problema não é o socialismo, mas o estatismo. Em Davos ele disse que “os principais líderes do mundo ocidental abandonaram o modelo de liberdade, por diferentes versões, do que chamamos de coletivismo”; na CPAC ele esclarece que o estatismo, defendido pelos conservadores, é uma dessas formas de coletivismo. Ele prossegue:

       “Nesse sentido, irei focar em como a economia neoclássica e sua visão das falhas de mercado são funcionais para o avanço do socialismo e como isso destrói o crescimento econômico ao frear as melhorias no bem-estar e a luta contra a pobreza.”

A economia neoclássica é a economia mainstream. É a economia que é exclusivamente ensinada em praticamente todas as faculdades do mundo. É a economia que todo ministro da economia considera em seus desmandos. É a economia que todo burocrata de Banco Central utiliza no seu dia a dia de falsificador de dinheiro. É a economia que todo comentarista especialista da mídia se utiliza para justificar para o público as intervenções criminosas do estado. Não só a plateia de Davos, mas também a totalidade da plateia da CPAC subscreve a economia neoclássica, e baseadas em seus erros, justificam e apoiam a existência do estado e suas intervenções no livre mercado. Milei dá uma aula de economia para os incautos e destaca o conceito de “falhas de mercado” como o mais pernicioso erro neoclássico. Ele explica o que é o mercado e conclui logicamente que “falhas de mercado” não existem e “na realidade, todas essas definições elegantes são elementos que possibilitam a intervenção do Estado e com ele o avanço do estatismo e socialismo.”

Milei explica que no socialismo, sem propriedade privada, o cálculo econômico não pode ser realizado e a sociedade colapsa. Não obstante, em suas “versões mais leves que permitem a existência do setor privado, a interferência do Estado coloca ruído no sistema de preços, e quanto mais estado há, mais violência há, mais distorção há e pior o sistema funciona.” Ou seja, qualquer que seja a interferência do governo nos preços – de leis de salário mínimo e barreiras protecionistas à manipulação de taxas de juros – ela só atrapalha e torna a situação pior. Na sequência, Milei demole a teoria neoclássica dos monopólios, mostrando como ela não faz sentido e apenas retarda o progresso. Apesar de a teoria neoclássica do monopólio já ter sido absolutamente refutada pelos economistas austríacos há décadas, ela segue sendo ensinada nas universidades de economia como se nada tivesse acontecido, e sendo usada por interventores estatais para causar pobreza generalizada. A cada ano, falsos economistas recebem seus diplomas de economista e saem por aí pregando teorias impugnadas que tem consequências terríveis para o povo. E alguns desses “economistas” se tornam professores, ensinando a mesma teoria furada que aprenderam e perpetuando o ciclo empobrecedor da ignorância e violência econômicas.

Milei era um desses falsos economistas que se formou na economia neoclássica e se tornou professor de economia. Como Milei relatou quando recebeu seu doutorado honoris causa, “a grande maioria dos lugares que ensinam economia na Argentina nos formam como keynesianos marxistas … nos ensinam que o estado é bom e o mercado é ruim.” E foi exatamente a teoria do monopólio austríaca que o salvou. Milei estava em uma jornada intelectual tentando encontrar respostas para contradições que ele vinha encontrando na economia neoclássica – a principal delas era: como que no período da história em que prevaleceram condições, que sua teoria econômica dizia que eram negativas, de “monopólios” e mercados mais livres, a riqueza geral disparou? Um belo dia – e bota belo nisso – um companheiro de Milei lhe entregou um texto de 150 páginas de Murray Rothbard intitulado “Monopólio e Competição”. Este texto é na verdade o capítulo 10 do livro Homem, Economia e Estado – com Poder & Mercado. Milei era professor de economia há 25 anos, e quando ele terminou de ler o texto ele disse: “Tenho enganado estudantes há mais de vinte anos. Tudo o que lhes ensinei sobre estruturas de mercado está errado”. Então ele não parou mais de ler Rothbard e outros austríacos, aprendeu economia de verdade, deixou de ser um falso economista e se converteu à Escola Austríaca e ao anarcocapitalismo. E isso não faz muito tempo; ainda em 2013 Milei estava elogiando o presidente do Fed Ben Bernanke (assim como um dos economistas ídolos de Milei, Robert Lucas, que também já endossou Bernanke). Milei demonstrou ser possuidor de humildade e integridade intelectual, uma qualidade muito rara. Já é difícil alguém reconhecer pequenos erros; muito mais difícil é admitir que esteve errado por décadas. A maioria dos “economistas profissionais” jamais irá assumir que são fraudes, portanto eles devem ser desmascarados.

Todavia, essa guerra entre escolas econômicas não é uma disputa intelectual, mas de propagada. A Escola Austríaca já venceu intelectualmente; só não conseguiu mostrar ao mundo sua superioridade. Carl Menger, fundador da Escola Austríaca, derrotou os historicistas durante a Methodenstreit na década de 1890. De lá pra cá, todas as teorias econômicas foram refutadas pelos austríacos. Böhm-Bawerk refutou a teoria da exploração comunista; Mises provou que o socialismo não funciona em 1920, antes das experiências socialistas soviéticas, chinesas e tantas outras fazerem suas milhões de vítimas. Se as ideias dos economistas austríacos tivessem alcançado maior abrangência, o comunismo jamais teria visto a luz do dia. Mas os falsos economistas possuem uma vantagem determinante: suas teorias espúrias servem como justificativa para a exploração do povo pela casta política. Ou seja, as elites dominantes certificam-se que mídia e educação, controladas pelo estado, promovam embustes como verdades científicas econômicas. Foi por isso que Keynes, mesmo após ter sido derrotado por Hayek, teve sua teoria ensinada e aplicada em todo o globo. Para um austríaco participar de um debate econômico, ele precisa primeiro expor a refutação de todas as teorias falsas para depois expor a verdadeira. Por exemplo, neste artigo de 1983, ao apresentar o argumento pela privatização de ruas e estradas, o economista austríaco Walter Block precisou explicar a refutação de cada embuste econômico usado pelos economistas neoclássicos para dizerem que ruas e estradas privadas são uma impossibilidade. (apesar do fato de que nos EUA, antes da estatização, existissem mais de 4 mil estradas privadas.) Então Block passa a maior parte de seu artigo tendo que desfazer os mitos neoclássicos das falhas de mercado, externalidades, “free rider”, bens públicos etc. Ele precisa explicar aos falsos economistas que não existem comparações interpessoais de utilidade, um dado elementar que apesar de anos de estudo da disciplina, eles desconhecem. Pois a disciplina que eles estudaram não é a economia verdadeira – austríaca – mas uma bruxaria disfarçada de ciência econômica, já que praticam a comparação de utilidades interpessoais.

Em outro discurso para uma audiência mais especializada intitulado “Moeda, Preços, Política Monetária e Inflação”, Milei observou que “a grande maioria dos economistas locais, profissionais e respeitáveis, … discutem o problema da inflação e não entendem o que é dinheiro.” Então ele deu uma aula básica e necessária sobre como uma economia de escambo passa para uma economia monetária com a introdução de um meio de troca.

Devido a este estado deplorável de anafalbetismo econômico, Per Bylund clamou por uma nova Methodenstreit. Não que novas teorias precisem ser refutadas pelos austríacos, mas que velhas teorias, algumas requentadas, já refutadas há um século ainda estão sendo ensinadas e praticadas como se fossem perfeitamente válidas. Em outro artigo, Bylund conclui que estudantes concluem os cursos de economia sabendo menos sobre economia do que quando começaram, e nós estaríamos melhor sem a educação econômica que prevalece atualmente. Ao comentar o grito de guerra de Bylund, Jonathan Newman forneceu um apanhado geral da situação da economia mainstream e constatou que:

     “Mesmo um olhar superficial sobre o que passa por erudição econômica nas principais revistas acadêmicas de hoje mostra que os erros metodológicos que foram explodidos por Menger e Mises persistem. Vemos também que os achados empíricos tendem a justificar o estado. Aqui está uma amostra dos métodos e conclusões da edição mais recente da American Economic Review, que é amplamente considerada como a principal revista em economia.”

Na sequência ele fornece oito exemplos do tipo de necromancia neoclássica que abunda na economia profissional. Os falsos economistas sequer sabem que a ciência econômica é um ramo da praxeologia, e não uma ciência positivista requerendo testes o tempo todo e matematizando suas conclusões. Outro exemplo interessante foi dado no programa Pânico onde o falso economista Samy Dana comentava a morte do ganhador do prêmio Nobel de economia Daniel Kahneman, que ele considera “uma das grandes mentes da economia”. Kahneman nem sequer era economista e sim um psicólogo desenvolvedor da chamada Economia Comportamental que tenta dar mais sentido a economia neoclássica em relação a sua deficiente teoria sobre as escolhas dos consumidores. Economistas austríacos como David Howden, Joakim Book e Frank Shostak já demonstraram as deficiências da Economia Comportamental e como ela é usada para introduzir controles governamentais para “proteger” os indivíduos de seu próprio comportamento irracional; mas a reação dos outros integrantes do programa Pânico aos insights de Kahneman que Samy Dana considera contribuições geniais a economia dizem muito: eles soaram – e são – completamente esdrúxulos e foram motivos de chacota.

Newman conclui seu artigo dizendo:

    “Como você pode ver, cientificismo, empirismo e historicismo abundam, apesar da derrota esmagadora da Escola Historicista Alemã. Não apenas os economistas modernos empregam seus métodos, mas as conclusões tendem a justificar a intervenção do governo e menosprezar o livre mercado, assim como o trabalho de Schmoller e seus discípulos.

Per Bylund tem toda razão. Precisamos de outra Methodenstreit.”

Sim, uma nova Methodenstreit é necessária para desmascarar mais uma vez os falsos economistas, e Milei os está chamando para a briga. Muitos destes economistas neoclássicos, por se considerarem pró livre mercado e inimigos do socialismo estão achando – ou fingem achar – que a briga não é com eles, e até elogiaram os discursos de Milei em que ele chama a teoria deles de fajuta e de força auxiliar do socialismo/estatismo. A briga é principalmente com eles. Uma coisa são os falsos economistas que defendem abertamente o socialismo; mas pior que eles são os falsos economistas que amparam o socialismo enquanto posam de capitalistas defensores do livre mercado, como por exemplo, Samy Dana e Paulo Guedes. Como pode um economista se dizer contra o estado grande sem dizer uma palavra contra a instituição do Banco Central, que confere ao Leviatã o poder descomunal de controlar a moeda. Esses economistas ainda usam suas teorias falsas – pura feitiçaria – para justificar o Banco Central perante o público desavisado. Samy Dana é o típico economista do regime, que se limita a sugerir qual deveria ser a próxima taxa de juros que o governo irá fixar, jamais explicando que a determinação da taxa de juros é apenas um controle de preços, e como todo controle de preços, gera distorções nos sinais do mercado, prejudicando a economia. Combater o criminoso Banco Central é uma das principais frentes de batalha do desafio de Milei aos neoclássicos.

Além disso, Milei também enfrenta economistas alinhados com a Escola Austríaca, que apesar de se oporem ao Banco Central, apoiam outro crime: o sistema bancário de reservas fracionárias. Esta questão já foi tema de intensos debates de diversos economistas austríacos, com o lado que diz que esta prática fraudulenta é legitima sendo representado principalmente por George A. Selgin e Lawrence White. (No Brasil este lado é defendido mais notoriamente por Fernando Ulrich.) Contra esses estão os maiores nomes da Escola Austríaca como Murray Rothbard, Jesús Huerta de Soto e Walter Block. Hans-Hermann Hoppe talvez tenha enterrado definitivamente o “sistema bancário livre” ao refutar Selgin e White e demonstrar claramente que reservas fracionárias são fraude. Ao propor por um fim ao sistema de reservas fracionárias na Argentina, Milei vem sendo criticado por apoiadores desta fraude como Juan Ramón Rallo. Philipp Bagus entrou no meio e elucidou todas as falhas da crítica de Rallo a Milei. Bagus já está há algum tempo refutando todas as confusões econômicas de Rallo, e até publicou um livro denunciando este embusteiro chamado ANTI-RALLO: Una crítica a la teoría monetaria de Juan Ramón Rallo.

Desde a Methodenstreit os economistas austríacos seguem reafirmando sua superioridade, demonstrando as inconsistências das teorias econômicas espúrias que dominam o mainstream. Frank Shostak é um desses, que há muitos anos está constantemente escrevendo artigo que, partindo de uma proposição dos falsos economistas, aplica o paradigma austríaco e dá uma aula desfazendo o mito econômico em questão – mas sempre para uma audiência reduzida. Agora Milei está gritando para o mundo, apontando os erros cabais e fatais dos neoclássicos. Huerta de Soto declarou que ele está há 40 anos dizendo as mesmas coisas que Milei em suas aulas, mas que agora, graças a Milei, elas estão tendo um eco universal, e por conta disso, Milei merecia ganhar o Nobel de economia. Nós aqui do Instituto Rothbard também estamos há muitos anos dizendo essas mesmas coisas, porém, em um cantinho da internet para uma audiência de poucas centenas de leitores. Ver agora essas ideias ressoarem globalmente é um deleite. Apesar de ser uma desgraça como libertário – ou no máximo como um microlibertário, estando mais para um neocon sionista como demonstrou Oscar Grau – e mesmo que seja impedido de fazer mudanças libertadoras efetivas no aparato estatal argentino, o feito de Milei na promoção da verdadeira ciência econômica (= Escola Austríaca) é realmente fascinante. Quando poderíamos imaginar que as pessoas comuns saberiam mais de economia do que os farsantes professores e comentarias de economia? Milei conseguiu fazer isso para boa parte do povo argentino, como mostra essa entrevista de um jovem aleatoriamente escolhido na rua:

O repórter só queria entrevistar um NPC que respondesse “Milei ou Massa”, mas começou a ouvir uma aula da verdadeira economia sobre como o governo realmente se financia, até que o rapaz foi cortado. Em seu poder limitado como chefe do executivo, Milei tem sido um austríaco meia boca, tomando medidas contrárias a boa economia e até colocou em seu governo falsos economistas da Escola de Chicago. E mesmo estando longe de ser o melhor economista austríaco do mundo, Milei merece um prêmio econômico de verdade – não o Nobel, pois ganhar o prêmio Nobel, financiado pelo Banco Central sueco, é uma desonra, não uma honra, mas um como o que Milei receberá do Instituto Juan de Mariana – por combater diante de todo o mundo, em seus discursos e agora até em um novo livro, os erros neoclássicos dos falsos economistas.

 

 

 

Uma versão resumida deste artigo foi publicada aqui.

Fernando Chiocca
Fernando Chiocca
Fernando Chiocca é um intelectual anti-intelectual, abolicionista e praxeologista. Foi um dos fundadores do Instituto Mises Brasil em 2007, rebatizado como Instituto Rothbard em 2015.
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2 COMENTÁRIOS

  1. Excelente artigo!
    De fato, chamar a economia maintream de feitiçaria é mais salutar do que chamar de estelionato. Porque a bruxaria desta gente é igual a dos feitiçeiros do faraó, que faziam o mesmo que Moisés, mas somente até um ponto em que não conseguiram fazer o mesmo e tiveram que reconhecer que era obra de Deus. Ou seja, Deus é o colapso econômico que um dia irá relutar de vez a economia neoclássica – aos olhos do público.

    “o problema não é o socialismo, mas o estatismo”

    Assim como a teologia da libertação não é o problema, mas o modernismo. De modo que essa bagunça toda acaba sendo um simples sintoma da crise da Igreja Católica medieval. E nesse caso, é preciso saber que o libertarianismo também é consequência desta crise, mas pelo lado defensivo. De modo que se pode chamar o movimento libertário de religião da mesma forma que o comunismo ☭. Porém é a única filosofia política compatível com o cristianismo, na forma que a autoridade vier a tomar um dia, quando a gangue de ladrões em larga escala for varrida da face da terra. Para a maior honra e glória de Deus.

  2. Chiocca sempre nos brindando com brilhantes artigos. Esse artigo deveria ser distribuído em todos os cursos de economia.

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