Dado que não sou um indivíduo que acompanha rigorosamente o debate sobre “mudanças climáticas”, costumo evitar discussões sobre medições de temperatura, nível dos oceanos, mudança do tempo ou tendências climáticas.
Por outro lado, considero uma péssima ideia deixar a ciência econômica e a economia política nas mãos de cientistas climáticos e de seus amigos políticos, os quais tendem a ser irrecuperavelmente obtusos no que tange ao conhecimento de como economias funcionam e de como os bens escassos podem ser preservados, obtidos ou manufaturados.
Para o lobby do aquecimento global, todo o necessário para fazer com que tudo fique bem é entregar o controle da economia mundial para os planejadores centrais dos governos. Na mente deles, basta o governo acionar suas engrenagens e elas automaticamente farão tudo com assombrosa precisão para preservar o status quo climatológico. Dentre suas propostas, as duas que mais chamam a atenção é o encarecimento da energia e a redução da atividade econômica. [Nota do IMB: por essa lógica — energia cara e atividade econômica zero — o Brasil está na vanguarda. Somos um dos países mais verdes do mundo].
Os custos de tal empreendimento — sejam eles mensurados em dinheiro, vidas humanas ou conforto humano — seriam irrelevantes, pois, segundo eles próprios, a única alternativa é a total destruição do planeta Terra.
Essa postura de “faça o que eu digo ou você vai morrer” é obviamente o sonho de todo e qualquer propagandista. Só que, no mundo real, onde cabeças mais racionais tendem (ocasionalmente) a prevalecer, os custos de qualquer ação governamental devem ser comparados aos custos das alternativas. Mais ainda: o ônus da prova recai sobre aqueles que querem a intervenção estatal, já que seus planos dependem do uso da violência do estado para impingir o cumprimento das ordens propostas.
Mas, pelo bem debate, vamos assumir, hipoteticamente, que realmente estejam ocorrendo mudanças climáticas globais e que o nível dos oceanos esteja subindo. Isso ainda deixa várias questões que devem ser prontamente respondidas pelos entusiastas do aquecimento global:
1) Qual é o custo do seu plano para as várias populações do planeta, em termos de vidas humanas e de padrão de vida?
2) Os custos do seu plano são maiores ou menores do que os custos de outras soluções, como a realocação gradual de populações que vivem em áreas costeiras?
3) Você seria capaz de demonstrar que o seu plano tem uma alta probabilidade de dar certo? Se a resposta for negativa, por que deveríamos implantar o seu plano em vez de usar os mesmos recursos em outras soluções mais práticas e em necessidades mais imediatas, como água potável, alimentos, e necessidades básicas?
Com grande frequência, a resposta a perguntas como essas consistem de bravatas e diatribes que nos exortam a agir agora. Mas essa postura é similar à de uma pessoa que, vendo que o inverno está se aproximando, exige que todos construam imediatamente abrigos e sigam estritamente suas ordens. “Vocês não estão vendo que está ficando frio?” diz ele. “Se vocês não construírem os abrigos como estou mandando, todos nós iremos congelar.” E quando alguém questiona se esse seu plano de construir abrigos é realmente a melhor maneira de agir, ou ao menos sugere que há outros tipos de abrigo com um melhor custo-benefício, ou, ainda, que é melhor permitir que cada um seja livre para construir seu próprio abrigo, ele se enraivece e dispara que “vocês egoístas ignorantes não se importam se todos nós morrermos!”
Mas se o grupo decidir seguir os planos de abrigo desse cidadão beligerante, eles podem descobrir, no final de tudo, que o abrigo não possui isolamento suficiente contra o frio ou que é estruturalmente instável. Nesse caso, o grupo estará em uma situação pior do que antes, pois desperdiçou uma grande quantidade de recursos escassos e valiosos que deveriam ter sido aplicados em outros investimentos.
Os verdadeiros custos da regulação climática global
Eis um parágrafo bem característico de uma publicação que alega refutar o “mito” de que controles econômicos terão um impacto negativo sobre a economia:
No longo prazo, a menos que reduzamos drasticamente a taxa à qual estamos emitindo gases causadores do efeito estufa, é muito provável que tenhamos de pagar um preço enorme em decorrência da mudança climática. Uma parte desses custos será apenas para a adaptação e para as inevitáveis desordens. Os custos subirão devido a instabilidades e incertezas no mundo econômico. Também existirão custos que não podem ser quantificados, particularmente quando tentamos precificar uma vida humana e a perda da mesma.
O que são esses “enormes custos?” Quantos deles virão da “desordem” e quantos virão da “adaptação”? Se examinarmos com mais profundidade os planos propostos, descobrimos que as tentativas de se estimar tais custos são baseadas em modelos computacionais extremamente especulativos. Há apenas a suposição de que seu plano de ação é superior ao procedimento preferido por terceiros. Há apenas a suposição de que os custos de implantar medidas regulatórias são menores do que os custos da alternativa, que é deixar como está. Mas, novamente, o ônus da prova está com aqueles que querem aplicar a coerção estatal sobre os outros.
No que mais, mesmo as pesquisas convencionais (pró-regulação) reconhecem que os cortes de emissões propostos, como cortar “emissões de CO2 para 80% dos seus níveis de 1990”, são puramente arbitrários. Com efeito, eles têm de ser arbitrários, pois as próprias pessoas que defendem tais medidas não fazem a mais mínima idéia de em quanto as emissões de gás carbônico devem ser cortadas para atingir suas metas, ou mesmo se existe um nível de cortes que seja suficiente para atingi-las.
O que nós realmente sabemos, por outro lado, é que a energia gerada pelo uso de combustíveis fósseis é a responsável pela maior parte do enorme progresso alcançado nos países em desenvolvimento. Os combustíveis fósseis tornaram possível a mecanização, o transporte e a própria existência de economia industrial. Foi o surgimento de fábricas e de outras operações industriais que retirou milhões de chineses (apenas para citar um exemplo) da pobreza do trabalho agrícola de baixa produtividade e os alçou para dentro das fábricas nas quais eles ganham mais de dez vezes o que ganhavam. Esses trabalhadores enviam dinheiro para os membros mais idosos de suas famílias idosas e assim possibilitam as enormes taxas de poupança que alimentam a economia chinesa.
Trata-se de um trabalho mais seguro, mais produtivo, e que dá acesso a mais alimentos de melhor qualidade, melhores cuidados médicos e melhores moradias do que o trabalho agrícola.
A energia oriunda dos combustíveis fósseis é a responsável por tudo isso. Propor que se puxe o tapete que está sob os pés dessas pessoas demonstra uma falta de preocupação com a humanidade que é realmente revoltante.
No entanto, argumenta o lobby do aquecimento global, “os efeitos do aquecimento global irão afetar essas pessoas.” Talvez. E, se for esse o caso, os aquecimentistas ainda têm de provar que os custos do aquecimento global serão mais altos do que os custos de tornar essas pessoas menos produtivas, mais pobres, e possivelmente indigentes.
Menos energia significa menos água limpa
Um segundo fator de extrema importância é a necessidade de energia para a produção e distribuição de água limpa. A atual seca na Califórnia (e em várias regiões do Brasil) nos lembrou de que água potável é um recurso escasso, mesmo que o governo goste de tratá-la como se não fosse.
Ainda assim, mesmo com a crescente demanda originada por populações cada vez maiores, água limpa e potável pode ser produzida por meio do uso de energia intensiva, como dessalinização e aquedutos com bombeamento.
Hoje, esses métodos ainda não são economicamente viáveis porque o problema da escassez de água pode ser resolvido por meios mais baratos, como transposição de rios e o uso de aquedutos que trabalham com a força da gravidade.
No futuro, no entanto, à medida que a população for crescendo e a água for se tornando cada vez mais escassa, a resposta mais prática para o problema terá inevitavelmente de passar por soluções que requerem um uso mais intenso da energia.
Só que, ao defender o planejamento centralizado e ao limitar artificialmente o uso de energia, o que o lobby do aquecimento global quer fazer é elevar o custo do processamento de água e, ao mesmo tempo, inibir o progresso tecnológico que resultaria da experiência prática na produção e processamento de água potável.
Bizarramente, várias dessas pessoas alegam que a regulação estatal da água é necessária porque, caso contrário, “os ricos” irão entesourar toda a água disponível. Só que, com suas políticas que levam a um aumento do custo do processamento e tratamento de água, o lobby ambientalista está apenas garantindo um maior controle monopolista da água e preços mais altos para todos. Ou seja, na prática, está garantindo que a água ficará menos acessível.
“Mas o aquecimento global está causando secas!”, alguns dirão. Talvez. Mas essas pessoas ainda não provaram que o seu plano irá acabar com as secas e produzir água suficiente para todos. Elas ainda não conseguiram sequer provar que secas como a da Califórnia (e do Brasil) foram causadas pelo aquecimento global.
E, desnecessário dizer, a afirmação de que controles globais sobre o uso de energia farão com que a água jorre abundantemente do topo das colinas em um futuro distante é pura especulação. Nesse meio tempo, temos a certeza de que o efeito sobre o custo de vida das pessoas comuns será enorme.
Em outras palavras, o lobby do aquecimento global quer que a humanidade troque um pássaro real na mão — o desenvolvimento de tecnologias para a produção de água — por dois pássaros totalmente teóricos — um futuro sem secas — voando.
Um experimento construído às expensas das populações mais vulneráveis
Dessa maneira, um mundo com controle de emissões de gás carbônico e outros planejamentos centralizados com o objetivo de evitar o aquecimento global é um mundo de preços mais altos para todos quando se trata de comida, água e qualquer necessidade básica que envolva o uso de energia. Ou seja, quase tudo.
Naturalmente, as pessoas nos países mais pobres e menos industrializados sofrerão mais. O lobby do aquecimento global gosta de alegar que as suas políticas são voltadas principalmente para os países ricos. Mas, se eles acreditam que isso irá poupar o mundo subdesenvolvido, isso só comprova que eles não entendem o funcionamento de uma economia globalizada. Esmagar a atividade econômica e o consumo no mundo desenvolvido fará apenas com que os salários e o crescimento econômico nos países em desenvolvimento seja reduzidos.
Assim como aquele indivíduo que exige histericamente que os outros construam um abrigo da sua maneira ou morram, o lobby do aquecimento global acredita que seus planos altamente especulativos, não comprovados, não testados, maciçamente caros, e geradores de pobreza representam a solução fácil para tudo. Naturalmente, eles querem utilizar os poderes coercivos do estado para forçar todos a entrarem na linha e se conformarem aos seu planos; e caso um bilhão de pessoas pobres tenham que pagar um alto preço, bem, esse é um preço que acadêmicos e ativistas de classe média-alta para cima estão perfeitamente dispostos a deixarem os pobres pagarem.
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Um adendo do IMB
O mais poderoso sinal de mercado não acredita no aquecimento global
Aqueles que acreditam no aquecimento global gostam de citar a estatística de que 97% dos cientistas climáticos acreditam que os humanos são os causadores do aquecimento global. Supostamente, esse altíssimo percentual de aderência seria uma confirmação irrefutável do fenômeno.
Muito embora a validade desse número já tenha sido questionada, vamos aqui, pelo bem do debate, partir do princípio de que ela esteja correta. O que isso significa?
Cientistas climáticos são, por definição, uma ínfima minoria da população mundial. Presumidamente, não alcançam nem 1% da população mundial total. Fazendo uma adaptação da lei dos grandes números, cientistas climáticos podem realmente ser as pessoas mais inteligentes, preparadas e sábias do mundo, só que todas as outras pessoas do mundo são, em conjunto, mais inteligentes, espertas e sábias do que os cientistas climáticos.
E daí?
Segundo os cientistas climáticos, o nível dos oceanos irá subir substancialmente nas próximas décadas em decorrência do derretimento do gelo da Groelândia. Alguns, inclusive, chegam a afirmar que 80 das maiores cidades do mundo ficarão totalmente submersas.
Só que, se houvesse alguma verdade nessa previsão apocalíptica, as pessoas que moram em todas as cidades litorâneas do mundo já estariam saindo de lá em revoadas.
Segundo o The Wall Street Journal, nada menos que 44% da população mundial vive no litoral. Ou seja, nada menos que 44% dos seres humanos que habitam esse planeta (quase 3 bilhões de pessoas) morrerão submersos caso não saiam de suas atuais moradias.
O comportamento das pessoas e local onde elas vivem representa o mais poderoso e mais irrefutável sinal de mercado dentre todos. Nada chega perto. Fatos são teimosos. Se a contagem de cabeças é vista como algo perfeitamente válido pelos aquecimentistas quando o objetivo é enfatizar quantos cientistas acreditam no aquecimento global, então o fato de que quase metade da população mundial não está abandonando o litoral significa que esses bilhões de pessoas estão deixando cristalino que as previsões apocalípticas sobre aquecimento global não passam de muito barulho por nada.
Este é um sinal de mercado extremamente poderoso.
Você pode ser a pessoa mais esperta da sua cidade, mas todas as pessoas da sua cidade, quando somadas, são infinitamente mais espertas do que você. Similarmente, cientistas climáticos podem ser as pessoas mais espertas do mundo, mas, conjuntamente, todas as pessoas do mundo são mais espertas do que os cientistas.
Se o aquecimento global realmente existisse e fosse um risco, então estaríamos testemunhando uma debandada de pessoas que moram em todas as cidades litorâneas do mundo — afinal, essas são as que mais serão atingidas pelas inundações.
Os litorais eram para estar se esvaziando. Mas não estão. Nem na Califórnia, nem na costa leste americana, nem no México, nem na Europa, nem na Austrália, nem no Brasil e nem em toda a América do Sul. Por enquanto, esse potente sinal do mercado — o comportamento das pessoas — mostra que não há crença nenhuma em aquecimento global.
Dado que absolutamente ninguém está fugindo dos litorais, então temos que todas essas pessoas — por mais crentes na ciência que sejam — não acreditam realmente em aquecimento global.