No decorrer do século XX, o mundo testemunhou a ascensão de uma perniciosa ideologia econômica que gradualmente tomou conta do mercado, e que usufruiu de um amplo e irrestrito alicerce político e acadêmico para, aos poucos, desmantelar a ortodoxia de um sistema mais próximo da ordem natural. Como podemos constatar, especialmente após a grande depressão de 1929, o laissez-faire foi gradualmente suplantado por uma escola de pensamento econômico heterodoxa — de natureza totalmente irracional e arbitrária —, baseada inteiramente em intervenções e gastos governamentais ilimitados, criação artificial de crédito e expansão da oferta monetária.
Ou seja, em poucas palavras, podemos dizer que o capitalismo de livre mercado foi paulatinamente substituído pelo keynesianismo em um longo processo que, evidentemente, levou décadas para ser amplamente difundido e normalizado. Infelizmente, com o passar do tempo, o keynesianismo logrou êxito e passou a usufruir de grande aceitação nos meios acadêmicos mainstream, sendo hoje apregoado como uma espécie de “verdade econômica absoluta” que não pode nem deve ser questionada ou contestada.
Não obstante, à despeito do que os acadêmicos falam e escrevem — encastelados nas torres de marfim de suas salas imponentes, aprisionados em suas rotinas universitárias, e portanto confortavelmente distanciados das vicissitudes do mundo real —, a realidade prática mostra impreterivelmente todas as contradições, deficiências e incoerências do keynesianismo, da mesma forma que reforça a vitalidade salutar e construtiva de um sistema mais próximo do livre mercado.
Os efeitos deletérios do sistema de planejamento central e a prosperidade vigorosa do livre mercado serão contrastadas neste estudo, através da análise de dois exemplos reais, completamente distintos e opostos — no caso, a China continental e Hong Kong.
Mas vamos começar pelo princípio.
John Maynard Keynes já havia publicado quase 20 livros e tratados econômicos, quando publicou em 1936 o seu The General Theory of Employment, Interest and Money, que gradualmente deu início ao que se tornaria mais tarde conhecido como “Revolução Keynesiana”. Sua teoria acabou provocando graves e contundentes distorções na ortodoxia do pensamento econômico natural, que vieram a subverter de forma brutal o pragmatismo da realidade dentro dos ciclos produtivos, invertendo a ordem de oferta e demanda.
Nos Estados Unidos — um país reconhecido por seu sistema econômico que, ao menos até o princípio do século XX, possuía uma proximidade considerável com a ordem natural e com o livre mercado —, a irrefreável expansão da intervenção governamental na ordem econômica ficou mais inextrincável, aguda e visceral depois do New Deal, uma série de políticas intervencionistas que foram implementadas pelo presidente Franklin Delano Roosevelt.
Como todos nós sabemos, a crise de 1929 foi responsabilizada como uma tragédia causada pelo livre mercado; a partir de então, governos no mundo inteiro usaram-na como prerrogativa para realizar intervenções cada vez mais pungentes, incisivas e despóticas na economia, com a prerrogativa de proteger a população de instabilidades supostamente geradas pelo mercado.
Com a crise de 1929, a demonização do capitalismo — que já se intensificava desde o final do século 19 com a ascensão de ideologias como o marxismo e o progressismo — se tornou mais difundida e proeminente. Até mesmo a pobreza passou a ser considerada uma consequência inevitável do capitalismo, embora algumas escolas de economia ligadas ao liberalismo clássico tenham se empenhado avidamente em corrigir essa distorção.
Com a ascensão do pensamento keynesiano, governos passaram a se sentir no direito de “proteger” as pessoas das volatilidades, instabilidades e ingerências do mercado, que não poderia ser deixado “livre”, porque dessa maneira causaria danos à sociedade. O mercado precisava ser controlado por burocratas “altruístas”, “abnegados”, “heroicos”, “honestos”, “íntegros” e excepcionalmente “sábios”, preocupados com os cidadãos. A pouca resistência da população a retórica intervencionista coincidiu com a ascensão da demonização do livre mercado, que passou a ser considerado o grande responsável pela miséria e pela pobreza.
O discurso intervencionista e anti-capitalista facilmente encontrou eco em populações desesperadas e ressentidas, excessivamente depauperadas pela recessão que começou em 1929 e se prolongou pelas décadas seguintes. Como em sua maioria tratavam-se de analfabetos econômicos, de fato não foi difícil convencer uma grande parcela da população que o livre mercado era “perigoso” e que intervenções governamentais eram necessárias para proteger a sociedade.
Evidentemente, todas essas justificativas nunca passaram de uma deplorável desculpa para realizar intervenções sistemáticas na economia, de maneira a favorecer determinados cartéis, conglomerados e corporações com conexões políticas. Assim, as empresas de oligarcas poderosos poderiam se transformar em monopólios onipotentes, e verdadeiros impérios econômicos acabaram sendo edificados graças a ação da intervenção governamental, manipulada de maneira a favorecer sempre uma plutocracia de magnatas poderosos e influentes. A crise econômica foi oportuna para a demonização do livre mercado, e os corporativistas proprietários de grandes conglomerados souberam tirar considerável proveito disso.
De uma maneira ou de outra, quando aplicado, o keynesianismo aparentemente beneficia o crescimento econômico porque coloca estado e governo em primeiro plano como os principais vetores da produtividade e do desenvolvimento. Valendo-se das possibilidades oferecidas pelo estado — como expansão monetária e criação de crédito —, a economia propagada pelos vetores keynesianos gera crescimento.
No entanto, não é um crescimento econômico sólido, coeso ou sustentável. O que os keynesianos recusam-se a admitir é que a sua teoria de estimação, além de imoral, está saturada de incoerências, contradições e deformidades. Podemos dizer efetivamente que todas as premissas do keynesianismo se alinham para resolver problemas no curto prazo, enquanto ignoram sistematicamente os problemas que serão gerados no médio e no longo prazo, posteriormente negando com intransigência quase irracional as causas dos problemas econômicos quando eles fatalmente irrompem. O que acontece, no caso do keynesianismo, é que depois que determinadas intervenções econômicas são executadas, segue-se um período de bonança — totalmente artificial —, que é invariavelmente sucedido por uma recessão monumental, que pode até demorar a eclodir, mas sempre chega, mais cedo ou mais tarde.
Isso é inevitável, porque na prática o keynesianismo é um grande castelo de cartas. Gera “crescimento” e “prosperidade” de formas totalmente artificiais. Essa prosperidade artificial não tem como durar muito tempo; o que os planejadores centrais keynesianos normalmente fazem para postergar problemas é executar mais intervenções econômicas, que são elaboradas e empregadas para mitigar os problemas ou tentar corrigir as distorções geradas pelas intervenções anteriores. Essa sucessão de intervenções discricionárias cria uma bolha — que vai ficando cada vez maior com as sucessivas intervenções — que eventualmente se transforma em uma grande bomba econômica. Quando ela explode, coloca-se a culpa no livre mercado, o bode expiatório para todos os problemas da humanidade.
Quando a recessão chega, é o capitalismo e o livre mercado que são responsabilizados, jamais as medidas intervencionistas keynesianas que foram adotadas e ridiculamente implementadas. Outro problema fundamental do keynesianismo vem do fato dele ser um vetor axial de desenvolvimentismo, o que gera inextrincavelmente uma série de graves problemas. Planejadores centrais frequentemente colocam em ação projetos faraônicos e mirabolantes — que não são orgânicos, pois não são criados de acordo com a real necessidade das pessoas, e nem sequer são construídos com recursos reais, mas com a expansão de crédito dos bancos centrais.
Um ótimo exemplo a ser citado nesse caso é a China, que nos fornece um excelente caso de ultrakeynesianismo moderno — portanto, de tudo aquilo que não deve ser feito.
Há décadas, o governo chinês — além de inúmeras edificações, estabelecimentos e projetos mirabolantes de engenharia — constrói aproximadamente dez cidades por ano, que em sua maioria permanecem vazias e desabitadas. Algumas dessas cidades até possuem um certo número de habitantes, mas nunca chegam a atingir nem sequer a mais ínfima proporção do seu real potencial habitacional.
Por exemplo, Kangabashi, localizada no norte da China, tem potencial estimado para aproximadamente 300 mil habitantes. No entanto, possui um número de residentes estimado entre 20 mil e 30 mil. Tianducheng — também conhecida como Pequena Paris — possui potencial para abrigar aproximadamente 100 mil pessoas. No entanto, tem apenas 2 mil residentes.
Esse é um problema crônico das inúmeras cidades que o governo chinês constrói ano após ano. Apesar de ser o país mais populoso do mundo, o governo nunca conseguiu oferecer estímulos convincentes que motivassem as pessoas a se mudarem em grande quantidade para essas cidades, de maneira que nenhuma delas jamais sequer chegou perto de atingir o seu real potencial populacional; por essa razão, permanecem, em sua maioria, como sombrias e desérticas cidades fantasmas.
Por mais que o governo ofereça estímulos e facilidades diversas para as pessoas se mudarem para essas cidades, elas permanecerão — em sua maioria —, quase que completamente desabitadas. Isso pode ser explicado pelo fato de que cidades devem ser formadas e construídas naturalmente; devem surgir de acordo com as necessidades reais das pessoas, e não conforme projetos arquitetônicos retumbantes e megalomaníacos de planejadores centrais desconectados da realidade.
De nada adianta construir centenas de casas ou milhares de edifícios de apartamentos em uma determinada região se lá não existem fábricas para as pessoas trabalharem, supermercados onde as pessoas possam fazer compras, restaurantes para as pessoas comerem ou um cinema para as pessoas se divertirem. Se não há possibilidades efetivas de sustentar a vida, é evidente que uma cidade planejada irá fracassar. E elas sempre fracassam. Cidades planejadas não tem como competir com cidades que surgiram de forma espontânea e natural, e que portanto são redutos vicejantes de vida, produtividade e interação profissional e pessoal entre os indivíduos.
Governos autocráticos — com seus sistemas de planejamento central — jamais levam os fatores humanos mais elementares em consideração, especialmente quando estão colocando em prática suas deploráveis e irrealistas fantasias desenvolvimentistas, que não servem para absolutamente nada a não ser para desperdiçar monumentais quantidades de dinheiro e recursos.
Da perspectiva dos planejadores centrais, é natural que seja assim. Como eles não operam de acordo com as leis de mercado, não precisam agradar ninguém, nem satisfazer as necessidades das pessoas, a não ser as deles próprios. Os planejadores centrais não possuem clientes reais, que eles deveriam, por obrigação, deixar contentes e satisfeitos. Eles não estão sujeitos às leis de mercado; portanto, podem gastar à vontade os recursos que tem à sua disposição da maneira que julgarem melhor. Por essa razão, os agentes governamentais estarão mais preocupados com os resultados gráficos de suas planilhas e metas corporativas. Não estarão efetivamente preocupados com o elemento humano, que jamais é levado em consideração pela burocracia estatal.
Construir cidades, uma após a outra, mesmo que permaneçam desabitadas, não é problema nenhum para o governo chinês. Enquanto essas cidades forem construídas, o Produto Interno Bruto do país permanecerá elevado. Para os planejadores centrais, isso é tudo o que importa. A “aparência” de desenvolvimento acaba sendo muito mais importante e até mesmo mais desejável do que o desenvolvimento em si — o desenvolvimento real, que deveria acontecer naturalmente, de acordo com as necessidades humanas reais, e que só pode ocorrer de forma orgânica, espontânea, voluntária e horizontal, é simplesmente ignorado.
Não obstante, como um seleto grupo de pessoas enriquece avidamente com isso — proprietários de empreiteiras, corporações, indústrias e imobiliárias ligadas ao governo e ao Partido Comunista Chinês —, evidentemente, os envolvidos lutarão arduamente para manter o sistema exatamente como ele é. Eles irão se opor com veemência a toda e qualquer possibilidade de mudança.
Esse tipo de projeto promove uma destruição de riquezas sem precedentes, porque depois que as construções são concluídas, elas não renderão absolutamente nada. Não darão vazão ou continuidade a alguma atividade comercial rentável e lucrativa. Pelo contrário, essas propriedades não serão vendidas, leiloadas ou alugadas. A grande maioria delas ficará ao relento, deteriorando, totalmente abandonadas, e — como é o caso de várias edificações de luxo no distrito de Zhangmutou — desaparecem em meio ao matagal que não para de crescer.
E não são apenas apartamentos e residências que estão nestas condições, mas centros comerciais, shopping centers, parques de diversões e cidades inteiras, totalmente vazias, deteriorando-se de forma inexpugnável; todas essas coisas foram construídas unicamente para saciar insólitos fetiches desenvolvimentistas megalomaníacos e narcisistas, de burocratas despóticos e gananciosos, que jamais buscaram desenvolvimento real e concreto, o que dirá a satisfação, o contentamento e a felicidade da população chinesa.
E qual é o resultado de todo esse colossal desenvolvimentismo desenfreado, ilimitado e sempre expansivo? Invariavelmente, a total ruína econômica. Em apenas três anos, a China consumiu mais concreto do que os Estados Unidos em todo o século 20. Em suas devidas proporções, é possível ter uma boa noção do quão megalomaníacos e faraônicos são os projetos arquitetônicos chineses. O resultado de toda essa expansão material artificial, incoerente e sem sentido é simplesmente nefasta. Hoje, a China tem 63 milhões de apartamentos vazios, o que acabou criando uma das maiores bolhas imobiliárias da história. Isso tem enorme potencial para gerar uma crise financeira que pode ser a catalisadora da maior recessão econômica de todos os tempos.
A verdade é que o keynesianismo fracassou — e não apenas fracassou de forma retumbante, como é, em toda a sua essência, inerentemente imoral, nefasto e absolutamente contraproducente, sob qualquer ponto de vista. Em seus desmesurados arroubos megalomaníacos, o keynesianismo também trouxe consigo outro problema gravíssimo, impossível de ser perdoado sob qualquer forma, situação ou circunstância: o desprezo pelo empreendedor, o verdadeiro eixo axial do desenvolvimento e da prosperidade.
No seu apoio desmesurado ao desenvolvimentismo e a expansão de gastos desenfreados do governo — sob a falaciosa alegação de que gastos do governo ajudam a economia a crescer, afirmação que não pode ser atribuída a nenhuma outra coisa senão desmesurada irracionalidade, ou, na melhor das hipóteses, ingênua ausência de lógica, sob qualquer ângulo analisado, seja ele micro ou macroeconômico —, o keynesianismo contribuiu para que o verdadeiro vetor da economia, o empreendedor, fosse sumariamente marginalizado e relegado a um papel econômico secundário, de menor importância, quase insignificante do ponto de vista dos planejadores centrais.
Essa contradição mostra como o keynesianismo inverte as coisas e confunde causa e efeito. O empreendedor — que é quem efetivamente gera riquezas —, é considerado um mero beneficiário das ações “positivas” e “altruístas” do governo. Porque o governo gastou ou deu dinheiro a ele de “graça” por sua “livre vontade” e “benevolência”, o empreendedor pôde montar o seu negócio. O governo, portanto, é a força motriz da economia. De sua ação, “bondade” e “abnegação altruísta” dependerá o crescimento econômico e a prosperidade da nação. Mas de onde vem o dinheiro que o governo, esse gestor tão “gracioso” e “eficiente”, supostamente gastou ou ofereceu “gratuitamente” ao empreendedor? Muitos keynesianos não hesitariam em dizer que basta imprimir dinheiro para ter cédulas em circulação, mas isso não chega nem perto de corresponder a verdadeira e genuína criação de riquezas.
Como se não bastasse ser amplamente ignorado como um simples beneficiário do governo “gentil” e “competente”, posteriormente — com a ascensão de depravadas ideologias de esquerda — o empreendedor passou a ser ainda mais desprezado e vilipendiado, sendo considerado um indesejável vetor da exploração capitalista.
O empreendedor, no entanto, à despeito do que inúmeras ideologias desconectadas da realidade afirmam, é o eixo axial da economia. É ele que — ao montar uma empresa, e ter capacidade para investir nela em virtude de capital acumulado (o verdadeiro núcleo da prosperidade e da geração de riquezas) —, coloca diversas cadeias de produção em atividade.
Um fabricante de cadeiras, por exemplo, vai precisar de plástico, aço, alumínio, parafusos e ferramentas para montar os seus produtos; isso para citar apenas os materiais mais básicos que serão utilizados em sua cadeia de produção. Para ter uma boa capacidade produtiva, ele vai precisar contratar mão de obra especializada, e sua cadeia produtiva deverá ser dividida em um determinado número de processos, de acordo com as diversas funções necessárias exigidas pelas várias etapas de fabricação do seu produto, além do que for necessário para o empreendedor em questão manter a sua empresa, no que diz respeito à aspectos burocráticos, e também com custos de manutenção.
Ele vai precisar, por exemplo, de um almoxarife para trabalhar no almoxarifado, vai precisar de um funcionário na expedição para receber material dos fornecedores e fazer a entrega dos materiais prontos para as transportadoras, vai precisar de um administrador para calcular as despesas e a receita, além de emitir as notas fiscais, vai precisar de um setor de qualidade que teste a resistência do seu produto — verificando se ele se enquadra com as normas de segurança vigentes —, além de uma série de outros funcionários que deverão desempenhar funções altamente necessárias; o que muito dependerá também, obviamente, do tamanho da sua empresa. O tamanho da sua empresa, por outro lado, será mais ou menos proporcional à demanda existente no mercado pelo produto que ele fabrica.
Evidentemente, o empreendedor em questão não vai fabricar todas as coisas das quais sua empresa necessita; portanto ele terá inúmeros fornecedores, que venderão a ele tudo aquilo que ele precisa para montar as suas cadeiras, como alumínio, madeira e parafusos. Dessa forma, sua empresa irá estabelecer uma vasta e intrincada rede de conexões diretas e indiretas, que são a matéria-prima da demanda produtiva existente no mercado. Se a empresa desse indivíduo for bem sucedida, muitas outras pessoas irão se beneficiar, tanto direta quanto indiretamente. Se a demanda aumentar, ele vai precisar contratar mais funcionários. Com mais receita e mais pedidos de clientes, ele também irá consumir muito mais material dos seus fornecedores, que também passarão a vender mais, e consequentemente irão enriquecer mais. Como se vê, o sucesso de uma empresa pode significar o sucesso de muitas outras empresas e também de profissionais autônomos e liberais, que prestarão serviços a essas empresas em atividade.
É nesse processo que está alicerçada a ortodoxia da ordem econômica natural. Simples de entender, é baseada em trabalho e produtividade que tem por respaldo capital acumulado. Evidentemente, o empreendimento dependerá da comercialização dos seus produtos — e acima de tudo do lucro, que ocorre quando o faturamento é superior aos gastos e investimentos — para obter êxito e prosperar.
Essa ordem rejeita categoricamente intervenções governamentais, sejam elas da natureza que forem, porque além de não construir nada, elas promovem destruição de riquezas e dilaceração de capital. O capital só terá fins produtivos quando é empregado por um verdadeiro empreendedor. Nas mãos de burocratas — como o exemplo chinês demonstrou —, o capital é sempre erodido, triturado e desperdiçado em obras mortas que não tem demanda ou serventia no mundo real.
Por outro lado, no extremo oposto disso — como o exemplo da empresa de cadeiras demonstrou muito bem —, um bom empreendimento gera toda uma cadeia produtiva de fornecedores e prestadores de serviços diretos e indiretos, que acabam formando uma intrincada rede de produtiva colaboração voluntária, onde todo mundo ganha.
Um cenário desses, no entanto, de ampla produtividade e prosperidade, só é possível onde existe respeito pela livre iniciativa, pela propriedade privada e acima de tudo, um nível salutar de liberdade econômica. Com a erosão desses elementos fundamentais — que geralmente são substituídos pelo intervencionismo estatal ou por projetos governamentais desenvolvimentistas —, temos a conformação de um sistema econômico de caráter extremamente artificial, que geralmente coloca o governo como o principal vetor da atividade econômica. Essa é a receita para o desastre.
Quando o empreendedor é deixado de lado, e um sistema de planejamento central econômico é imposto arbitrariamente sobre a sociedade pelas corporações que dominam o estado, a erosão da prosperidade tem início.
Consequentemente, uma expressiva fatia do mercado acaba ficando concentrada nas grandes corporações, que — com o auxílio do estado — invariavelmente se transformam em monopólios titânicos e invencíveis. Como o estado beneficia grandes empresas em detrimento das pequenas e médias, o intervencionismo provoca uma inevitável e contundente cartelização do mercado, que fatalmente culminará com uma fulminante dilaceração de negócios de pequeno e médio porte.
Décadas de keynesianismo tiveram um efeito dramático no desenvolvimento econômico. Gradualmente, o empreendedor — o eixo central de um sistema econômico mais próximo da ordem natural — foi paulatinamente suplantado e substituído por projetos intervencionistas de burocratas e economistas heterodoxos, com suas planilhas histriônicas, compilações de estatísticas, manuais acadêmicos e cartilhas fajutas.
Esse sistema nefasto, centralizado e onipotente acabou recebendo apoio de “economistas” mainstream cujos trabalhos acadêmicos serviram para fornecer suporte à teoria de discricionária liderança governamental da economia, inteiramente baseada em concessões de créditos, expansão da oferta monetária, manipulação da taxa de juros, protecionismo, monopólio dos “recursos estratégicos” e reservas de mercado, entre outros dogmas deturpados e pseudocientíficos, que promulgam enorme concentração de poder e recursos no estado. Para essas máfias, o empreendedor resoluto e independente é visto como um obstáculo aos seus projetos centralizadores e oligárquicos, por ser este o símbolo da liberdade, da perseverança e da autonomia no mercado — a prova contundente de que uma liderança central não apenas é totalmente desnecessária, como é de fato deletéria e indesejável.
O resultado de uma nação com economia planejada e centralizada será sempre o mesmo — uma elite de burocratas e corporativistas que são extremamente ricos, e usufruem de amplos poderes políticos e econômicos dominam uma população majoritariamente pobre e subserviente. Ou seja, uma perfeita descrição do que são países onde o estado tem controle quase absoluto sobre a economia, como a China e o Brasil.
Mas se a China e o Brasil são exemplos de tudo aquilo que não deve ser feito, qual seria um exemplo prático a ser seguido?
Evidentemente, não existem exemplos ideais. No entanto, eu gostaria de abordar um que merece destaque. Hong Kong — especialmente no período que começa durante a década de 1960 — merece uma análise especial por sua excepcional singularidade.
Naquela época, Hong Kong era uma colônia britânica; não estava, portanto, sob domínio da China, que naquele período vivia os horrores nefastos da ditadura maoísta, que — com o seu inflexível e tirânico sistema de planejamento central —, matou centenas de milhões de chineses de fome, o que foi uma consequência do temerário Grande Salto Adiante, um deplorável, irrealista e megalomaníaco projeto desenvolvimentista que resultou na Grande Fome da China, a mais fatal e catastrófica mortandade de todas as carnificinas famélicas da história humana.
Naquela época, Hong Kong era encarada como uma espécie de refúgio seguro. Muitos chineses fugiam da China continental e buscavam refúgio da tirania comunista em Hong Kong, onde podiam encontrar um certo nível de paz e prosperidade. Lá, os indivíduos podiam trabalhar e empreender em paz, sem temer que o exército vermelho fosse sequestrá-los em suas residências durante a madrugada, acusando-os de serem subversivos contrarrevolucionários burgueses, que deveriam ser punidos e prontamente executados por um pelotão de fuzilamento.
Em 1961, John James Cowperthwaite se tornou o procurador de Hong Kong. As autoridades britânicas exigiram que ele elaborasse um projeto que priorizasse o desenvolvimento econômico da ilha. Depois de pouco tempo, no entanto, Cowperthwaite reparou que o comércio e a indústria de Hong Kong se desenvolviam muito bem sem nenhum tipo de intervenção estatal ou regulação econômica. Por conseguinte, ele constatou, corretamente, que era justamente a liberdade — ou seja, a ausência de regulações, barreiras comerciais, imposições tarifárias e restrições governamentais — que propiciavam à ilha a capacidade de desenvolver-se.
Como isso invariavelmente gerou um ambiente de prosperidade, Cowperthwaite decidiu que lutaria para que Hong Kong continuasse assim, sendo um local de livre comércio, livre produtividade e pleno desenvolvimento. Ele recusou-se a aceitar até mesmo a implementação de tarifas protecionistas para beneficiar a produção local. Quem quisesse importar material mais barato do exterior era livre para fazê-lo. Por mais que fosse um burocrata a serviço de sua majestade, Cowperthwaite foi um raríssimo exemplo de burocrata anti-estatista.
Posteriormente, esse ambiente de ampla liberdade econômica protegido e resguardado por ele ficou conhecido como não-intervencionismo positivo (o que é uma redundância, pois qualquer forma de não-intervenção do estado será positiva — se o estado não se intrometer e não colocar a mão, as coisas irão funcionar). Cowperthwaite conseguiu entender que um organograma descentralizado é a melhor forma de obter paz, prosperidade e harmonia. Os cidadãos não precisam ser comandados por políticos. Os diferentes indivíduos que compõem a sociedade se organizam de forma racional e eficiente quando são deixados livres para fazer as próprias escolhas e administram as suas próprias vidas muito melhor do que qualquer burocrata.
Evidentemente, Cowperthwaite teve que lutar muito para impedir que as autoridades britânicas arruinassem o ambiente de prosperidade que ele estava lutando para manter na ilha. Quando solicitavam a ele que compilasse dados e estatísticas, Cowperthwaite se recusava de forma intransigente, alegando aos seus superiores que eles usariam essas informações para planejar a economia da colônia.
Cowperthwaite de fato lutou com unhas e dentes para impedir o intervencionismo político de crescer na ilha. Hong Kong deveria permanecer um local com policiais e delegacias para fazer a segurança da população e garantir os direitos de propriedade. Nada além disso. Por essa razão — em virtude do elevado grau de liberdade econômica que foi possível arregimentar ali — Hong Kong se tornou o local mais economicamente livre do mundo, sendo assim até hoje (embora esteja atualmente em segundo lugar, ficando atrás de Singapura).
É verdade que Hong Kong nunca atingiu o nível de liberdade econômica almejado por anarquistas e libertários. Muitos economistas inclusive recusavam-se categoricamente a classificar o sistema econômico da ilha como genuinamente laissez-faire, em função do fato de que a intervenção estatal não era de todo inexistente; haviam regulações econômicas. Por menores e mais insignificantes que fossem, existiam algumas regulações em setores específicos. Embora o nível ideal realmente nunca tenha sido atingido, a questão é que — se comparada com qualquer país do mundo —, o grau de liberdade econômica existente em Hong Kong ainda era, como continua sendo, muito superior ao de qualquer outra nação.
Infelizmente, a situação atual de Hong Kong não é das melhores. Com o avanço da tirania do Partido Comunista Chinês — que busca dominar a ilha de forma plena e absoluta, o que deflagrou desde o ano passado os maiores protestos a ocorrerem em décadas na região —, essa liberdade tem se deteriorado de forma contumaz, e infelizmente, com o avanço da tirania dos burocratas totalitários de Pequim, parece que não vai durar muito tempo.
A deterioração da liberdade econômica paulatinamente se agravou nas últimas décadas, ao menos até certo ponto. É possível conter a intervenção estatal por algum tempo, mas invariavelmente ela acaba tomando conta da sociedade, pois o estado sempre estará em um movimento de irrefreável e contínua expansão. Em Hong Kong, determinados segmentos do mercado — como o imobiliário — acabaram sendo totalmente cartelizados por corporações que dominaram o estado. Em alguns setores, o capitalismo de livre mercado foi completamente erodido e suplantado pelo capitalismo clientelista.
Para piorar essa condição, o governo totalitário da China continental atualmente está ostensivamente comprometido em dominar completamente Hong Kong. Desde o ano passado, inúmeros protestos vem acontecendo, porque o governo local tenta aprovar resoluções que aumentam substancialmente o poder do governo central sobre a ilha. Essas resoluções dilaceram de forma considerável a autonomia e a liberdade dos habitantes de Hong Kong, que passarão a ser governados pelo despótico e tirânico Partido Comunista Chinês.
Evidentemente, a população está lutando com mordacidade contra a tirania do Partido Comunista, pois eles estão a um passo de deixar de ser uma das sociedades mais livres do mundo, para se tornar uma região totalmente dominada pela pior ditadura totalitária que existe hoje. Por essa razão, inúmeros protestos vem acontecendo em Hong Kong desde o ano passado.
Os habitantes da ilha estão lutando ativamente para tentar preservar a sua liberdade, embora inúmeros ativistas tenham sido presos, e tantos outros afirmem que é só uma questão de tempo até o governo totalitário de Pequim dominar completamente Hong Kong. O que a população está tentando fazer é prorrogar ao máximo esse nefasto projeto de dominação política capitaneado pelo imperialismo chinês.
Hong Kong foi devolvida aos chineses e deixou de ser colônia britânica em 1997. As autoridades britânicas o fizeram com a condição de que o governo chinês respeitasse as liberdades e a autonomia de Hong Kong por no mínimo 50 anos. Ou seja, o governo chinês não poderia interferir politicamente na ilha antes de 2047. Embora o governo totalitário tenha respeitado a soberania de Hong Kong por pouco mais de duas décadas, é evidente que eles não esperariam 50 anos para tentar reivindicar o domínio absoluto da região.
Com o domínio chinês, Hong Kong invariavelmente deixará de ser o refúgio econômico do capitalismo liberal que fora até então. Se a ilha tiver o seu sistema econômico — que ainda é um dos mais livres do mundo — substituído pelo sistema de planejamento central que é o padrão do governo chinês, isso invariavelmente irá desencadear uma grande fuga de capital, que certamente resultará em um amplo declínio da prosperidade, da livre iniciativa e de quaisquer atividades produtivas.
Ou seja, Hong Kong deixará de ser um lugar relativamente livre, para se tornar um quintal dominado pelos ditadores e planejadores centrais do Partido Comunista Chinês, que irão expropriar, espoliar e cartelizar tudo o que puderem na ilha, para enriquecerem a si próprios e aos seus associados. Infelizmente, tudo indica que isso invariavelmente irá acontecer; o que será lastimável, para dizer o mínimo.
Com a dilaceração e a desintegração de um ambiente que propicia prosperidade e produção de riquezas, a fuga de capital e o declínio da produtividade será inevitável na ilha. Quando há falta de consideração com o empreendedor e a ortodoxia da ordem econômica natural, o resultado final será invariavelmente a catástrofe e o caos do estatismo, que centraliza recursos e riquezas nas mãos de alguns poucos burocratas e corporativistas. Com a ausência de produtividade, investimentos e empreendedorismo, haverá desemprego, o que fatalmente irá gerar pobreza e miséria sistêmicas.
Invariavelmente, o planejamento central do Partido Comunista Chinês entrará em ação para dominar a ilha economicamente. Mas tudo o que esse sistema faz é enriquecer os burocratas, corporativistas e capatazes que são os líderes do sistema político, ao passo que a ausência de liberdade econômica empobrece sistematicamente a população; na melhor das hipóteses, esses avatares do capitalismo político chinês jogarão algumas migalhas aos habitantes de Hong Kong, para mostrar ao povo como eles são gestores “bons”, “competentes” e “benévolos”.
Sabemos que governos tem a arrogância e a prepotência megalomaníaca de achar que podem fazer melhor o que só os agentes produtivos movidos pela ordem natural de mercado são capazes de realizar. O único verdadeiro legado do keynesianismo foi propiciar o protagonismo de burocratas na área econômica, que destruíram enormes quantidades de riquezas produzindo coisas inúteis que ninguém poderia ou queria comprar. Muito diferente do empresário, que tenta — com o menor custo, porém com a maior qualidade possível —, saciar uma determinada demanda que apenas a genuína criatividade pode converter em uma possibilidade de mercado produtiva e eficiente.
Precisamos tirar os burocratas do caminho e substituí-los por empreendedores. A sociedade precisa de menos políticos e de mais empresários. São os agentes construtivos da sociedade que podem efetivamente gerar progresso, prosperidade e desenvolvimento. Burocratas geram dificuldades, arbitrariedades, despesas, estagnação, paralisia e tirania. Burocratas e corporativistas deturpam a ordem natural substituindo-a compulsoriamente pela tirania do planejamento central, e enriquecem a si próprios com todos os ativos usurpados dos setores produtivos da sociedade, posteriormente usando o estado para arregimentar monopólios e cartelizar o mercado, o que os deixa ainda mais ricos.
Quando governos acham que podem fazer melhor o que só os agentes produtivos do mercado efetivamente são capazes de realizar, o resultado inevitável é o utilitarismo sombrio, inútil e vazio do desenvolvimentismo, que é simplesmente o agenciador de um enorme e deplorável desperdício de riquezas e destruição de capital.
Quando o empreendedor não é respeitado, a dilaceração do ambiente produtivo é inevitável. Apenas onde existe amplo respeito à propriedade privada, ao capital privado e aos direitos naturais, empresários se sentirão seguros e confiantes para produzir. Com o domínio do Partido Comunista Chinês, Hong Kong pode ver centenas ou até mesmo milhares de empresários tanto nativos quanto estrangeiros debandarem da ilha.
A tirania do estado corporativo produz riquezas para os que estão no poder e miséria para todos os demais. A dilaceração de um sistema de livre mercado — que é moralmente ético, justo e salutar, um elemento inerente à ordem natural — contribui unicamente para estabelecer uma ordem hostil de despotismo, servidão, retrocesso e estagnação na sociedade.
Com a marginalização do empreendedor, tudo o que resta a uma sociedade é o corporativismo estatal — que beneficia apenas um determinado grupo de pilantras — e a expansão da miséria e da pobreza para todos os que não fazem parte da quadrilha.
A civilização só pode evoluir, progredir e se desenvolver se os agentes produtivos não estiverem subordinados ao despotismo e a tirania de parasitas políticos que nada fazem, a não ser espoliar de forma sistemática a população. Foi a gradual marginalização de uma economia de mercado ortodoxa, baseada na produtividade, no capital privado e no direito natural — e sua eventual substituição por depravações como keynesianismo, planejamento central, corporativismo oligárquico, capitalismo político e politização dos agentes produtivos — que nos conduziu ao precipício em que nos encontramos hoje, onde produzir, comercializar e vender sem a autorização do estado onipotente se tornou praticamente um crime.
Atualmente, na maioria dos países, apenas quem possui as conexões políticas certas consegue obter os alvarás, as licenças, as concessões e as autorizações necessárias para produzir e empreender. Normalmente, o Leviatã só concede essa autorização aos magnatas e oligarcas de grandes corporações, sendo absolutamente inacessível ao empreendedor comum, que é desprezado pelas autoridades governamentais como um player de menor importância.
Esse sistema — que prejudica ostensivamente empreendedores individuais, além de pequenos e médios empresários — e beneficia exclusivamente oligarcas e corporativistas com conexões políticas, é tão imoral e nefasto quanto indesejável e contraproducente. É um sistema que trava todo o progresso e desenvolvimento econômico, para que apenas alguns agentes devidamente aprovados e empossados pelo estado possam ter o monopólio exclusivo do comércio e da manufatura de bens e commodities. Em um ambiente tão nefasto, tóxico e hostil ao desenvolvimento, o retrocesso e a estagnação serão sempre uma realidade. E a criminalização da atividade produtiva, especificamente o de pequenos e médios empreendedores que não possuem conexões estatais, é um sintoma irremediável dessa doença.
Precisamos nos opor vigorosamente ao estado, ao governo, às grandes corporações, que são diferentes tentáculos do mesmo sistema, e começar um retorno — dentro da medida do possível — ao laissez-faire. Este é não apenas infinitamente mais moral, ético e correto, como também promove a produtividade e a interação pacífica entre os diferentes setores que compõem a sociedade humana. O nível de degradação, destruição, imoralidade, estagnação, ruína e depauperamento causado pelo keynesianismo foi tão imensurável que chega a ser surpreendente que tantas pessoas hoje o defendam. Quem defende o keynesianismo, no entanto, o faz por nenhuma outra razão senão o mais cínico e descarado oportunismo.
Muitas pessoas que defendem centralização política e intervencionismo governamental o fazem por necessidade, porque são integrantes do sistema e tem muito a ganhar com isso — industriais, políticos, acadêmicos, corporativistas, oligarcas —, e evidentemente esses indivíduos lutarão com unhas e dentes para que o sistema continue exatamente como está. Suas posições de destaque e notoriedade, as fortunas que acumulam, as medalhas, os prêmios e as condecorações honoríficas inúteis que recebem dependem de manter o sistema exatamente da maneira como está.
Portanto, essas pessoas criticarão o livre mercado e o laissez-faire em todas as oportunidades possíveis, argumentando que este sistema é ruim e não leva os pobres em consideração. Isso tudo é oportunismo midiático e interpretação calculada. Todos os integrantes da cleptocracia institucionalizada do estado democrático de direito do sistema político moderno sabem perfeitamente que em um organograma plenamente descentralizado e livre — onde eles não teriam como arregimentar favores, tampouco conseguiriam usufruir de subsídios ou protecionismo das autoridades políticas e governamentais —, essas pessoas invariavelmente empobreceriam e rapidamente seriam descartadas como as fraudes inúteis, imorais, maléficas e destituídas de real serventia que verdadeiramente são. Elas defendem o sistema porque dependem do sistema, especialmente na questão financeira.
Exemplos disso não faltam no Brasil. Vários artistas, músicos e atores são de esquerda e defendiam — como alguns até hoje arduamente defendem — o PT unicamente por conta dos subsídios, em muitos casos multimilionários, que recebiam para os seus editais e projetos culturais; como ganhavam verbas polpudas oriundas da Lei Rouanet, é natural que essas pessoas se prestassem a defender com determinação e mordacidade o governo que as beneficiava, e tenham se empenhado tanto para manter o sistema da forma como estava. Como o PT não está mais no poder, muitas delas perderam os benefícios dos quais usufruíam. E por isso elas se dedicam tanto em criticar o atual governo, tanto quanto sonham com um eventual retorno do PT ao poder. O que elas querem são as suas verbas e subsídios de volta.
Atores, intelectuais, artistas e acadêmicos manifestamente odeiam o livre mercado porque em um sistema de livre mercado, seria muito mais difícil para essas pessoas sobreviverem. Como elas iriam se sustentar? De quem elas receberiam verbas e subsídios? Por isso, um estado intervencionista, discricionário e paternalista é muito mais palatável para essa gente. Essas pessoas são cooptadas. O que o estado paternalista propõe para a classe artística — entre outras, que são igualmente cooptadas — é basicamente isso: “Se você nos defender e nos apoiar, nós vamos subsidiar você e custear os seus projetos”. O estatismo político fez uma expressiva parcela da sociedade ver a parasitagem institucionalizada como uma alternativa viável para a aquisição de renda.
Essas pessoas que aparentemente amam os pobres e por isso desejam protegê-los das “agruras” do livre mercado na verdade lutam arduamente para manter suas fontes de renda, riquezas, status e privilégios, que só podem ser mantidos através de um estado soviético, intervencionista, paternalista e protecionista. Em um sistema laissez-faire, são justamente os pobres que tem mais facilidade para enriquecer. Sem pobres para “defender” ou “proteger”, não existirão motivos que justifiquem a apologia de um estado soviético paternalista, que as elites de oligarcas poderão manipular de acordo com os seus interesses, para beneficiar as suas corporações e os seus conglomerados. A existência de pobres justifica a existência do estado. Essa é a única razão pela qual as elites corporativas e oligárquicas “amam” tanto os pobres. Ou melhor ainda, podemos dizer que elas não gostam dos pobres em si, mas unicamente da pobreza (dos outros).
Os oligarcas e corporativistas, por sua vez, temem o livre mercado, porque em um regime de livre mercado seria muito mais difícil para eles se manterem intocáveis e onipotentes. Sem um estado que faça inúmeras concessões para protegê-los, as companhias e os conglomerados que pertencem a essas plutocracias beneficiadas pelo Leviatã teriam que se adaptar. Deveriam fornecer produtos e serviços de ótima qualidade pelo menor valor possível, ou rapidamente seriam devoradas por empresas mais competentes, dinâmicas, éticas e produtivas.
Um sistema de planejamento central — como o que existe em países como China e Brasil — beneficia os oligarcas e políticos da elite, enquanto mantém o resto da nação refém da pobreza e da miséria sistêmicas. Resgatar o laissez-faire é importantíssimo, não apenas por ser um sistema mais ético, funcional e descentralizado, mas por possibilitar um nível de desenvolvimento econômico verdadeiramente próspero, salutar, coeso e racional. Crises poderão vir, mas sem os efeitos e as sequelas da intervenção estatal, elas também serão muito mais rápidas e fáceis de solucionar.
O keynesianismo, além de destruir a prosperidade e difundir um nível de progresso artificial que eventualmente se transforma em uma recessão monumental, destrói não apenas a prosperidade presente, mas todas as perspectivas de prosperidade futura para os atores produtivos do mercado, especialmente empreendedores individuais, e pequenos e médios empresários, e todos aqueles que deles dependem. Ou seja, é fundamental compreender que o keynesianismo não compromete apenas o presente, mas também o futuro.
Analisado de uma perspectiva inteiramente objetiva e factual — não apenas cíclica —, o keynesianismo pode até mesmo ser considerado um crime contra a humanidade. Seu vetor produtivo beneficia um pequeno grupo de líderes políticos e oligarcas, enquanto condena populações inteiras à mais extrema miséria, ao mesmo tempo que nega categoricamente ser o catalisador de recessões monumentais e avassaladoras, que não aconteceriam em um sistema de livre mercado, ou ao menos não aconteceriam de forma tão estarrecedora e destrutiva. Como descrito acima, o keynesianismo destrói o presente e compromete o futuro, em nome de uma arrogância elitista de gestores pseudoiluminados, que acreditam serem dádivas de Deus para a humanidade.
Isso faz com que o laissez-faire não seja apenas uma questão meramente econômica, mas uma revolução tão necessária quanto fundamental para o resgate da civilização.
Dito isso, é com profunda tristeza que os amantes da liberdade hoje observam Hong Kong — um dos pouquíssimos pilares de liberdade que ainda restam ao mundo civilizado — ser gradualmente desmantelada e dominada pela ditadura chinesa, enquanto aos poucos vai combalindo diante do caos político e social provocado pela conflagração do totalitarismo político.
A distinção entre o livre mercado e o despotismo político é notória. Enquanto o livre mercado propicia a criação de um ambiente de trabalho, prosperidade e cooperação pacífica e voluntária, o estado, por outro lado, traz consigo conflagrações políticas, tirania, dominação, opressão e totalitarismo. Ou seja, tudo aquilo que é fundamental erradicar para que haja progresso e prosperidade. Consequentemente — como é o caso de Hong Kong — as pessoas, de forma totalmente justificada, lutarão desesperadas para tentar se libertar dos grilhões escravagistas que o estado tenta impor a elas.
O resultado inevitável desse cenário, como podemos constatar por nós mesmos, é a transformação de um local outrora pacífico e salutar habitado por cidadãos produtivos e cooperativos em um local saturado de protestos e violência. É isso o que o estatismo político faz com o mundo. Deturpa a ordem natural, convertendo regiões livres e pacíficas em antros de degradante escravidão e beligerante tirania.
Mais do que nunca, o projeto do Partido Comunista Chinês para destroçar a liberdade, a autonomia e a soberania de Hong Kong — e infelizmente a mesma coisa acontecerá em breve com Taiwan — mostra que o estado de fato não passa de um bandido estacionário, uma gangue de ladrões sádicos, maléficos e oportunistas, que vive para assaltar, expropriar e espoliar a sociedade produtiva.
Como os salteadores nômades da antiguidade faziam com as suas vítimas, eles — os depravados e sanguinolentos bandidos mafiosos que comandam a despótica, maligna e tirânica organização criminosa conhecida como Partido Comunista Chinês — veem Hong Kong como uma aldeia rica e próspera, porém desprotegida. Como são fortes o suficiente, eles podem se dar ao luxo de assaltá-la, saqueá-la e dominá-la como bem quiserem, para aumentar o seu espólio, suas riquezas e o seu patrimônio pessoal.
Ou seja, o estado é um demônio hostil e truculento, disposto a praticar os mais sádicos e cruéis atos de violência para subjugar, conquistar e dominar aqueles que são livres. O estado não existe para protegê-lo, de maneira alguma, salvo da fúria dele próprio; se você obedecê-lo em tudo e não questionar sua autoridade suprema e absoluta, você pode até ser poupado. Essa é toda benevolência que o estado está disposto a conceder a você. Permitirá que você viva, se for um cachorrinho leal e obediente.
Não podemos de maneira alguma agir com indiferença com relação a deprimente situação atual de Hong Kong. Evidentemente, pessoas que não são entusiastas da liberdade jamais compreenderão a gravidade dessa tragédia. A apatia e a letargia dessas pessoas, no entanto, não deve nos desmotivar a continuar lutando pela liberdade.
Esse tipo de situação serve para nos mostrar como a luta pela liberdade não apenas é necessária, como é uma obrigação moral de todo homem que se presta a ser minimamente benévolo e virtuoso. Não podemos ficar de braços cruzados observando silenciosamente a tirania política avançar aonde quer que seja. A resistência deve ser moral, intelectual e, quando necessária, até mesmo física. Políticos, burocratas e corporativistas são inimigos juramentados da humanidade. Não podemos jamais nos submeter ao subserviente papel de escravos do totalitarismo político. A liberdade é uma necessidade humana inegociável que precisa ser defendida de forma contumaz e intransigente, não importa o que isso venha a custar.
A luta pelo estabelecimento de um regime de livre mercado — verdadeiramente laissez-faire — não deixa de ser um ato de resistência contra a tirania do estado e o totalitarismo político. E, por extensão, é também uma luta a favor da emancipação da humanidade, em todos os demais sentidos.
Verdadeiramente nossa situação é constrangedora; temos muita luta para superar essa triste realidade…
Infelizmente a cada dia nos enterramos ainda mais no keynesianismo. Parece uma realidade impossível de se reverter no Brasil.
Esse artigo ficaria bem no usurpador Mises Brasil…