A democracia, sem dúvida nenhuma, é o sistema que permite tudo. Se você é um político, a democracia servirá perfeitamente aos seus propósitos, não importa quão nefastos, depravados, obscuros e autoritários eles sejam. Paradoxalmente, não importa quão destrutiva, corrosiva, pérfida e maléfica possa ser a democracia — bem como os seus efeitos colaterais —, enquanto sistema político, ela continua a usufruir de enorme prestígio, popularidade e de uma excelente reputação. Ela também confere uma aura de graça, redenção e benignidade a todos que a defendem.
Atualmente, um indivíduo afirmar publicamente — seja em uma roda de amigos, professores ou colegas de trabalho — que ele é um árduo e inflexível defensor da democracia é o melhor recurso de autopromoção pessoal e sinalização social de virtude que existe. Quem faz isso é automaticamente visto como uma pessoa correta, sensata, nobre e justa, que merece todos os elogios possíveis por sua boa conduta política. Em muitos círculos políticos, sociais e intelectuais, basta você falar que defende arduamente a democracia, para ser agraciado como o melhor, o mais aguerrido, o mais prudente e o mais benévolo de todos os seres humanos que já existiram.
Acontece que a democracia é um dos mais ambíguos, deficientes, imorais e degradantes sistemas de organização social e política já arregimentados na história humana. Uma análise contundente e profunda da democracia expõe de forma muito evidente suas falhas inerentes, bem como suas arbitrariedades estruturais. Para enxergar a democracia como algo positivo, é necessário analisá-la de forma ostensivamente superficial, ignorando deliberadamente todas as suas ingerências fundamentais.
Imagine que você é um político eleito democraticamente, ou pretende se tornar um. E tenha em mente que, mesmo que inicialmente você tenha ideais belos, nobres e justos, você será eventualmente corrompido pelo sistema democrático — não importa quão correto, moralmente coeso e eticamente guiado você se considera. A democracia irá corrompê-lo. Ignorar isso é ignorar a realidade, a natureza humana e a dinâmica funcional de uma democracia.
Na democracia, por exemplo, você pode ativamente tentar censurar os seus opositores, alegando que eles representam uma ameaça para a democracia. Você pode acusar seus opositores políticos de defenderem um discurso radical; assim, usará oportunamente essa chance para dizer que a única solução para proteger a democracia é proibindo-os de se expressarem — mesmo que o discurso de seus adversários não tenha absolutamente nada de radical ou extremista. Você só precisa fazer parecer que eles possuem um discurso perigoso. Como a democracia é a imprudente arte da astúcia, da manipulação e da dissuasão retórica, obviamente, você usará isso a seu favor.
Da mesma forma, você pode acusar todas as pessoas que se opõem ativamente a democracia de serem fascistas e extremistas. Você pode alegar que silenciá-las arbitrariamente é a única forma de proteger a democracia. Adicionalmente, você pode tentar aprovar uma lei que garante a liberdade de expressão, omitindo as partes que impõem censura a todas as pessoas que defendem ideias e conceitos que divergem das suas propostas, por categoricamente classificar o discurso de todos os grupos que discordam de você como sendo demasiadamente perigosos para os ideais democráticos. Assim, você viabiliza a censura contra os seus opositores, ao mesmo tempo que se promove como o campeão da liberdade de expressão.
Na democracia, é possível consolidar os objetivos mais iníquos e aterradores possíveis, com a aprovação do legalismo constitucional. Todo o tipo de restrições, nepotismo, esquemas fraudulentos e monopólios corporativos podem ser viabilizados e legalizados, se você tiver o poder e a influência para tanto. Na democracia, simplesmente não existem restrições ou limites para o mal. A democracia é, por excelência, o sistema da troca de favores. Invariavelmente, aqueles que estão no poder terão os meios para fazer, literalmente, tudo o que quiserem. Caso alguém descubra algo que pareça ser um negócio minimamente escuso — que se assemelhe vagamente a favoritismo, propina recebida de alguma empreiteira ou suborno recebido de algum corporativista —, bastará ao político que foi flagrado com a mão na massa dizer que trata-se de uma transação lícita em nome da democracia, e que essa é a vontade do povo. Então, tudo ficará bem.
Em função de doutrinação sistemática, o consciente coletivo associou à própria ideia de democracia coisas inerentemente humanitárias e positivas. Portanto, quando escutam a palavra democracia, muitas pessoas automaticamente associam ao conceito de democracia um ideal construtivo, correto e inerentemente justo e benévolo. Nada, no entanto, poderia estar mais afastado da realidade do sistema democrático.
Na democracia, um político pode se promover como o campeão da liberdade e do humanitarismo, por simplesmente promover a democracia, mesmo que todas as suas ideias, propostas de governo, caráter, conduta, personalidade e histórico como pessoa pública sejam diametralmente opostos à tudo aquilo que é bom, prudente, construtivo e salutar.
Na democracia, tudo é possível. Você pode institucionalizar uma ditadura, mas chamar o seu regime de democrático. Pode aprovar resoluções restritivas e tirânicas, mas alegar que faz isso para proteger a democracia. De fato, não existem quaisquer limites para o grau de malevolência, autoritarismo, corrupção e tirania que podem ser atingidos em um regime democrático.
Na democracia, quanto mais imoral for um político, melhor para ele. Quanto mais irrealista, utópico, ressentido e rancoroso for o seu discurso, mais facilmente ele conseguirá se promover. Quanto mais demagógico, populista e apelativo for o seu discurso, mais entusiasmados ficarão os seus eleitores. Tudo o que você precisa fazer é colocar umas frases de efeito e umas palavrinhas bonitinhas no seu discurso e “voilá” — o eleitorado ficará aos seus pés.
Na democracia, um político precisa apenas ter boa oratória, ser um mestre da retórica. É literalmente a única habilidade que ele precisa possuir para ter um lugar ao sol. Ele não precisa ser um bom administrador, não precisa ter um bom histórico profissional, não precisa ter fundado uma empresa de sucesso, não precisa ter gerado empregos. Ele só precisa ter muita lábia, uma suposta cólera contra as injustiças do mundo e muito amor imaginário aos pobres. E, evidentemente, ele precisa saber expressar isso com maestria para o seu público cativo, de pessoas facilmente manipuláveis e impressionáveis.
Lembre-se que, na democracia, você pode tudo. Na democracia, você pode promover de forma ostensiva inimigos imaginários — como o fascismo, o patriarcado e o capitalismo — e alegar que eles são os responsáveis por todos os problemas da nação. Você pode afirmar que, se for eleito, vai proteger as pessoas desses inimigos imaginários.
Aliás, quando o assunto são inimigos imaginários, estamos falando de um campo que se proliferou muito nos últimos anos, tendo se tornado abundante. Você pode afirmar que está travando uma dura batalha contra o negacionismo, contra os discursos de ódio, contra a misoginia e contra a masculinidade tóxica, e os seus eleitores ficarão sensibilizados no quão duramente você tem sofrido para protegê-los de todos esses inimigos terríveis, que vem fazendo um número cada vez maior de vítimas a cada dia. Só não esqueça de fazer convincentes expressões faciais de indignação e tristeza quando estiver discursando. Se você conseguir fazer uma lágrima escorrer pelo seu rosto, melhor ainda. Tornará tudo muito mais realista.
Na democracia, você pode promover a censura no ambiente virtual, sob a alegação de que está “regulamentando” as redes sociais, afirmando que está combatendo o racismo, o machismo e as “Fake News”, assim tornando o ambiente virtual mais seguro para as pessoas, e fortalecendo as liberdades democráticas.
Ou seja, na democracia, você pode promover ativamente a censura, bem como todo o tipo de restrições e violações das liberdades individuais, sob a alegação de estar protegendo o sistema democrático. A democracia é tão plenamente destituída de valores coesos e coerentes, que você pode efetivamente suplantar a liberdade de forma despótica, truculenta e unilateral, e ainda se promover como o campeão da democracia e o guardião das liberdades individuais. Na democracia, você pode promover literalmente qualquer abominação, crime ou atrocidade. Basta usar a democracia como justificativa, ou inserir o substantivo “democrático” no final de qualquer sentença.
Essa deplorável inversão de valores só é possível através da novilíngua e de sua deturpação sistemática de percepção da realidade, que possibilita aos sofistas cativarem multidões e se manterem no poder. Essa é uma estratégia perfeita para um regime democrático, um sistema demagógico e populista por excelência, que sempre se degenera em uma caquistocracia — o governo dos piores.
É fundamental entender que a democracia é deliberadamente projetada para levar os piores elementos da sociedade ao poder. Pessoas imorais, ignorantes e ignominiosas, psicopatas pérfidos e permissivos, parasitas rudes e bestiais que nunca produziram absolutamente nada — e não possuem nem sequer a mais vaga noção de como empreender e gerenciar uma empresa — são justamente as pessoas que mais apelo farão ao sistema democrático, e mais se empenharão em defendê-lo.
Como a democracia normaliza a sordidez, a vulgaridade, a degeneração, a degradação, a iniquidade, a bestialidade, a estupidez, a burrice, a ignomínia, a irracionalidade e a ignorância, tanto quanto institucionaliza a erradicação sumária da originalidade, da individualidade, da produtividade, da inteligência e promove ativamente a exploração econômica da classe política sobre a sociedade produtiva — sob a espúria justificativa de executar a vontade popular —, é inevitável que qualquer país sob um regime democrático acabe se deteriorando de forma inglória, abjeta e irreversível em um repreensível e maléfico antro de hipocrisia populista, oportunismo ideológico, demagogia histriônica, parasitismo institucionalizado e pavor coletivo de ameaças imaginárias.
Justamente pela forma como a democracia é formulada e estruturada, ela jamais atrairá para posições de poder e autoridade pessoas boas, corretas, justas, decentes e verdadeiramente benévolas. Primeiramente, porque pessoas assim jamais sentirão a necessidade de governar os seus pares, ou de exercer poder e controle sobre terceiros.
Em segundo lugar, não apenas essas pessoas não tem recompensa nenhuma por sua boa conduta, como serão frequentemente punidas em um sistema democrático justamente por terem boa conduta. Além disso, a boa conduta — de uma forma geral — dificilmente as colocará em posição de poder, visto que estas posições geralmente são alcançadas por sujeitos que são mentirosos patológicos, criaturas perversas e devassas, terrivelmente astutas, inescrupulosas e manipuladoras, que falam e fazem qualquer coisa para chegar à uma posição de superioridade. Ou seja, a democracia é efetivamente projetada, estruturada e articulada para expulsar da cadeia de comando as pessoas mais nobres, justas e corretas da sociedade.
Só podemos concluir, portanto, que a democracia nunca será o sistema dos bons, dos justos, dos honestos, dos eficientes, dos prudentes e dos produtivos. Consequentemente, a democracia jamais transformará qualquer nação em um paraíso de glória, justiça, prosperidade, decência, cordialidade e temperança. Fará justamente o contrário.
Obviamente, o discurso oficial do sistema continuará a ludibriar e manipular as pessoas a pensarem exatamente o contrário do que a democracia realmente é, de maneira que as massas jamais chegarão a um entendimento correto e coeso do que a democracia verdadeiramente representa. Isso se dará justamente pelo fato de que a democracia é o sistema dos manipuladores oportunistas, dos demagogos dissimulados, dos militantes histéricos e dos sinalizadores de virtudes, que defenderão a perfídia, a hipocrisia, o nepotismo e o favoritismo, sob um verniz de “justiça social”, em todas as ocasiões possíveis — especialmente nos jornais controlados pela mídia corporativa de massa —, porque esse é um sistema que os beneficia. Por conseguinte, aqueles que estão no poder ou ocupam cargos e posições de privilégio graças a esse sistema jamais permitirão que a democracia caia em descrédito ou perca a sua credibilidade.
As deploráveis criaturas do pântano que defendem esse sistema não permitirão a erradicação de uma estrutura que escraviza todas as justas e corretas pessoas produtivas. Afinal, a democracia coloca todos os cidadãos em uma condição de escravos e serviçais ignóbeis daqueles que estão no poder, a serem legalmente explorados, extorquidos e expropriados a qualquer momento, tendo a obrigação de atender a todos os caprichos dos seus donos. E mesmo assim, eles ainda vão ter a cínica desfaçatez de afirmar que esse é o melhor sistema político, de todos que existem ou já existiram.
Viva a democracia.
“Democracia = 2 lobos (em pele de cordeiro) e 1 ovelha decidindo o que vai ter na janta.”
Perfeita descrição dessa “democracia “ que temos hoje.!!!