Podemos agradecer à Providência o fato de o terremoto não ter sido 240 km mais perto de Tóquio. O número de mortos no Japão poderia estar em milhões.
O primeiro-ministro Naoto Kan diz que esta é a pior crise desde a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, por mais horrenda que a atual seja, ela não pode, pelo menos até agora, ser comparada àquela. Afinal, os mortos no terremoto não totalizaram nem 1% daqueles que perecerem na Segunda Guerra.
Entre 1942 e 1945, o Japão foi completamente despido de um império que abrangia Formosa, Coréia, Manchúria, toda a costa da China, toda a Indochina Francesa (Vietnã, Laos, Camboja), Tailândia, Birmânia (Myanmar), Malásia, Cingapura, as Índias Orientais Holandesas (Indonésia), as Filipinas e a região do Pacífico Ocidental que vai de Guam a Guadalcanal.
Na época, o Japão testemunhou a morte de 2 milhões de militares e de 500.000 a um milhão de civis após o lançamento de múltiplas bombas americanas sobre áreas limitadas, o que reduziu suas grandes cidades a nada mais do que escombros ardentes, e Hiroshima e Nagasaki a meras cinzas atômicas.
Entretanto, 25 anos após a mais devastadora derrota já vista na história moderna, o Japão já ostentava a segunda maior e mais dinâmica economia da terra.
Sob o proconsulado do General MacArthur, o Japão reergueu-se, renunciou às guerras e alcançou uma taxa de crescimento econômico de 10% na década de 1960, 5% na década de 1970 e 4% na década de 1980. Menor do que o estado americano de Montana e com pouquíssimos recursos naturais, o Japão criou uma economia com metade do tamanho da americana e, em vários aspectos, tecnologicamente superior.
Um feito extraordinário de um povo extraordinário.
No final da década de 1980, o Japão parecia a ponto de superar os EUA. Seu domínio mundial parecia uma inevitabilidade, uma questão de tempo.
Mas isso não ocorreu. As últimas duas décadas foram décadas perdidas, com a economia japonesa encolhendo para um terço da economia americana. Ano passado, a China ultrapassou o Japão e se tornou a segunda maior economia do planeta. Pequim hoje produz mais automóveis e possui um saldo comercial com os EUA tão grande, que ofusca completamente o do Japão.
Em 1988, oito das 10 maiores empresas do mundo eram japonesas. Hoje, o Japão não possui nenhuma empresa na lista das 20 maiores do mundo, e possui apenas seis na lista das 100 maiores. A dívida pública japonesa é de 200% do seu Produto Interno Bruto.
Conseguirá o Japão ressurgir desse terremoto, de seus 20 anos de estagnação econômica e de seu declínio político, recuperando aquele dinamismo que o país exibiu nas décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial?
Isso é uma façanha que requer um milagre ainda maior. O motivo para tal pessimismo pode ser resumido em uma única palavra: demografia.
O Japão possui 127 milhões de habitantes, a maior população de sua história. Entretanto, a ONU estima que 25 milhões de japonês morrerão até 2050. Por quê? O Japão é o país com a população mais velha de todo o globo, com uma idade média de 45 anos e uma taxa de fecundidade tão baixa que o crescimento populacional ficou abaixo de zero nos últimos 40 anos.
Para que uma população se mantenha estável, a taxa de fecundidade de suas mulheres deve ser de 2,1 filhos. A taxa japonesa, de 1,27 filhos por mulher, não é nem dois terços da necessária para repor a atual população.
Em 1960, quando o Japão caminhava a passos largos para superar a Alemanha Ocidental como a segunda economia do mundo, 49% de sua população tinha menos de 25 anos de idade. Menos de 8% tinha mais de 60 anos.
Hoje, apenas 23% da população japonesa tem menos de 25 anos, mais de 30% de todos os japoneses têm mais de 60 anos, e a idade média do Japão disparou para 45 anos. Estima-se que o país perderá 3 milhões de pessoas nessa década, e aproximadamente 6 milhões na década de 2020.
Colocando de maneira mais incisiva, o Japão está envelhecendo, encolhendo e morrendo.
Em 2050, menos de 19% de todos os japoneses terão menos de 25 anos, enquanto que 44% terão mais de 60. A idade média chegará a 55 anos. E tudo isso pressupondo um aumento na taxa de fertilidade, projetado pela ONU, que simplesmente não tem a menor evidência de que irá ocorrer.
Em uma matéria sobre a queda do número de estudantes japoneses nas universidades americanas, o jornal The Washington Post relata que “O número de crianças (no Japão) com idade inferior a 15 anos caiu por 28 anos consecutivos. O tamanho das turmas de formandos do ensino médio do país encolheu 35% em duas décadas”.
Para onde foram todas as crianças?
No entanto, isso que está acontecendo no Japão não é de maneira alguma um fenômeno exclusivo do Japão.
A população russa está encolhendo a um ritmo dois a três vezes maior que a do Japão. A Rússia vem perdendo meio milhão de pessoas por ano. Alemanha e Ucrânia estão disputando para ver quem se equipara ao Japão. Já na Grã-Bretanha, apenas quando se inclui nos cálculos os imigrantes vindos da África, do sul da Ásia e do Oriente Médio é que se pode dizer que haverá algum crescimento populacional. Os britânicos nativos estão emigrando e morrendo.
Com efeito, todas as nações da Europa e do Leste Asiático que ostentam as maiores notas nos testes internacionais de matemática e ciência possuem uma taxa de fertilidade que assegura uma população em rápido envelhecimento e encolhimento.
De onde virá o crescimento da população mundial?
Entre hoje e 2050, a população da África dobrará para 2 bilhões. América Latina e Ásia acrescentarão mais um bilhão de pessoas ao mundo.
Estima-se que apenas seis nações, todas muçulmanas e pobres — Bangladesh, Egito, Indonésia, Nigéria, Paquistão e Turquia —, serão responsáveis por acrescentar ao todo quase 500 milhões de pessoas às suas populações até 2050.
Se a demografia predeterminar o curso dos eventos, então o sol não está se pondo apenas na Terra do Sol Nascente. O sol está se pondo também no Ocidente.
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