Friday, November 22, 2024
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Como o estado irá definhar até se tornar irrelevante

psA Google comprou o YouTube em 2006, quando a histeria sobre violações de direitos autorais estava em seu auge.  Os novos proprietários do YouTube imediatamente se ocuparam em tentar criar uma plataforma condizente com os padrões legais para evitar bilhões de dólares em processos pendentes.  Os usuários do YouTube estavam postando uma enorme quantidade de material protegido por direitos autorais, e a Google seria responsabilizada judicialmente por isso.

Durante os três anos seguintes, as retiradas de materiais postados ocorreram furiosamente.  Usuários estavam tendo seus materiais deletados.  Filmes caseiros que utilizavam músicas de fundo protegidas por direitos autorais tiveram seu som apagado.  Vídeos que faziam homenagens a artistas populares utilizando suas músicas sumiram.  Até mesmo vídeos que mostravam pessoas dançando em seus carros enquanto ouviam alguma música foram abolidos.

Isso não era divertido para ninguém.  Os artistas não gostaram dessas medidas.  Eles são os mais beneficiados quando um fã faz um vídeo em sua homenagem e ficam contentes (e lisonjeados) em ver sua música sendo difundida.  Os proprietários dos direitos autorais também não ganharam nada com essa censura.  Eles não obtinham nenhuma receita com a retirada dos materiais.

Já a Google não gostou nada de ter de fazer isso por causa de todos os gastos que teve de incorrer para criar programas que vasculhassem continuamente o site.  Era também constrangedor quando esses seus programas deletavam um vídeo caseiro de uma festa infantil só porque as crianças estavam cantando “Parabéns pra Você”.  Para os consumidores e usuários, ter seu vídeo removido é um insulto imperdoável.

Ou seja, ninguém realmente se beneficiava desse sistema.  E a situação estava se tornando cada vez mais difícil de ser controlada, uma vez que os uploads de vídeos cresciam exponencialmente (48 horas de vídeos novos surgem a cada minuto).  Mas ainda assim a censura perdurou.  A presunção de que músicas protegidas por direitos autorais não podiam ser postadas no YouTube estava enraizada no sistema.

Ninguém realmente gostava da maneira como o sistema funcionava.  Mas era difícil imaginar outra forma.  Afinal, aquele era o sistema que a lei havia construído.  E certamente a lei deve prevalecer independentemente de quão absurdo seja o resultado.  Era como as cenas de As Bruxas de Salem, de Arthur Miller: ninguém em Salem realmente acreditava na prática de matar bruxas, mas as pessoas prosseguiam com a carnificina porque era assim que o sistema funcionava.

Era evidente que a lei havia criado uma situação insustentável.  Ela criou um sistema custoso demais para todos.  Não podia continuar assim.  Mas o que iria mudá-lo?  E como?  Foi exatamente aí que as forças da economia de mercado vieram ao resgate.

A Google criou um novo sistema que exibe anúncios comerciais na parte inferior de cada vídeo.  E permitiu também a veiculação de propagandas antes do início dos vídeos.  Várias dessas propagandas são incrivelmente interessantes, diga-se de passagem, e nada aborrecidas para os usuários, como poderiam ser — mesmo porque há a opção de pulá-las após 5 segundos de exibição.  (Toda a instituição dos anúncios comerciais no YouTube merece um artigo à parte).

Adicionalmente, a Google costurou um acordo entre os usuários do YouTube e os proprietários de direitos autorais.  Se um determinado vídeo infringisse direitos autorais, o proprietário destes direitos seria notificado e teria então duas opções: ordenar a retirada do vídeo ou permitir um anúncio comercial neste vídeo, o qual lhe garantiria receitas.  Praticamente todos optaram pela solução comercial, e simplesmente porque é mais vantajoso para o proprietário ganhar dinheiro do que perseguir o criador do vídeo utilizando o sistema judicial.

Os proprietários dos direitos autorais aprenderam nesse processo algo que já era óbvio para muitos de nós havia muito tempo, mas que, por motivos estranhos, ainda não havia sido captado pelos fiscais da lei.  Eles aprenderam que aquilo que parece ser uma violação da lei e uma transgressão dos direitos de propriedade pode ser retrabalhado e transformado em uma forma pacífica e mutuamente benéfica de publicidade.  O maior inimigo de qualquer empreendimento comercial é a obscuridade; e não há maior aliado do que pessoas atentas que podem eventualmente vir a se tornar clientes.

Hoje, o YouTube hospeda uma vasta quantidade de materiais que, dois anos atrás, eram considerados piratas e ilegais.  Está tudo lá, atendendo às demandas de milhões de usuários que não pagam um centavo para utilizar este serviço.  Ele está fazendo aquilo que o Napster fazia na virada do século, antes de ser destruído pelo governo.  A diferença é que o acesso gratuito é financiado por meio de formas pacíficas de publicidade.  Aquilo que a lei estatal havia transformado em uma guerra de todos contra todos, o mercado converteu em um sistema de paz e abundância para todo mundo.

Trata-se de uma solução absolutamente brilhante, além de ser um fantástico exemplo de como o mercado é capaz de fornecer soluções pacíficas para problemas que, caso contrário, o estado iria abordar com coerção e brutalidade.  A solução do mercado para este caso foi do tipo “breaking bad”[1], no sentido de que foi uma rejeição explícita a tudo que o estado estava tentando impor.  E como os custos impostos pela agressiva abordagem estatal estavam crescendo enormemente, o mercado encontrou outra saída.  Guerra custa caro.

Já a prosperidade requer paz.  O estado queria guerra, mas o mercado disse ‘não’.  É claro que seria muito melhor se as regulamentações e as proteções aos monopólios intelectuais fossem revogadas e o próprio mercado fosse incumbido da tarefa de criar modelos comerciais de distribuição em um ambiente livre de intervenções.  Porém, em vez de apenas ficar inerte esperando por mudanças na lei, o setor privado encontrou uma forma de contornar a lei.

E esta solução está mudando completamente a maneira como se faz distribuição musical.  Quando o cantor/rapper sul-coreano PSY surgiu com sua música “Gangnam Style”, ainda em julho deste ano, seu vídeo se tornou um viral muito além das expectativas de qualquer ser humano.  Ele está fadado a ser o primeiro vídeo do YouTube a receber 1 bilhão de visualizações, e tudo isso em um extremamente curto período de tempo.

PSY (Park Jae-Sang) é um artista que padecia no anonimato havia uma década.  Ele sabia o valor da exposição.  Quando sua música começou a ser pirateada, quando restaurantes com o nome de Gangnam Style começaram a surgir, quando camisetas e produtos com sua marca começaram a pipocar por todos os lados, ele veementemente se recusou a impingir sua propriedade intelectual.  Ele muito sabiamente percebeu que qualquer tipo de compartilhamento de sua imagem poderia ser positivo para ele.  E, sem nenhuma surpresa, estima-se que ele irá faturar US$8,1 milhões este ano apenas com downloads de sua música no iTunes, ingressos para suas apresentações e publicidade.  Graças à sua recusa em participar do sistema estatal de proteção ao monopólio intelectual, ele se tornou um dos músicos mais famosos do mundo, e rapidamente será um dos mais ricos também.

Vale a pena pararmos para refletir um pouco sobre as lições deste exemplo.  Em nossa época, o aparato de regulação estatal — não apenas para a propriedade intelectual, mas também, e principalmente, para todas as áreas da economia — criou uma situação intolerável e insustentável para todos os cidadãos.  Até mesmo aqueles que imaginavam que iriam se beneficiar das regulamentações protecionistas não estão colhendo as promessas — pelo menos não no grau em que imaginaram.  E é assim porque a marcha da história não pode ser interrompida nem mesmo pelas maiores e mais violentas tentativas de coerção estatal.  O mercado sempre irá prevalecer — o que é apenas outra forma de dizer que a ação humana irá preponderar sobre a coerciva maquinaria do estado — no longo prazo.

Estamos testemunhando isso em todas as áreas da vida.  As leis estatais antidrogas estão sob séria pressão de pessoas revoltadas com as horrendas ondas de encarceramento por causa de ações que a maioria das pessoas não considera serem crimes sérios (como fumar maconha).  A educação pública, por mais poderosos que sejam os sindicatos de seus funcionários, está desacreditada, e sua decadência está levando os pais a optarem pelo ensino doméstico autônomo, pela educação via internet ou por alternativas criativas oferecidas pelo mercado (como a Khan Academy).  Em poucos anos, a educação pública — e sua usina de doutrinação marxista — deixará de ter qualquer importância.

Até mesmo o até então poderoso e intocável setor bancário está passando por turbulências, não obstante todas as tentativas dos bancos centrais e dos governos de monopolizarem o sistema.  A nova moeda Bitcoin está crescendo e prosperando, não obstante todas as tentativas de dizer que o arranjo é uma farsa e uma fraude.  Novos sistemas de pagamento estão surgindo diariamente na forma de cartões-presentes [também chamado deGift Card, é um cartão pré-pago que tem como objetivo ser usado para presentear pessoas para quem você não sabe qual presente específico dar] e de cartões que podem ser instantaneamente carregados com dinheiro.  Aplicações digitais estão permitindo novas formas de empréstimos que contornam completamente o sistema oficial chancelado pelo estado.

Pessoal, se vocês quiserem entender como o estado entrará em colapso no futuro, é para essa direção que vocês têm de olhar.  O colapso do estado não ocorrerá pela via política.  Não ocorrerá por meio de reformas implementadas de cima para baixo.  Ocorrerá, isso sim, por meio do sistema empreendedorial de tentativa e erro, pois o mercado não ficará inerte.  Tendo de lidar com os pavorosos custos impostos pelo anacrônico sistema estatal, o mercado continuará encontrando maneiras criativas e surpreendentes de burlar o aparato coercivo, inventando com eficácia novas esferas de liberdade que permitirão que o progresso ocorra.

Todo e qualquer ato de empreendedorismo é, por definição, revolucionário.  Há um espírito anarquista em sua raiz.  Um ato empreendedorial é um ataque ao cerne do status quo.  Empreender significa estar insatisfeito com a atual situação.  Empreender significa imaginar algo novo e melhor.  Empreender é um ato que produz mudanças graduais, inesperadas e não consentidas, pois acrescenta uma nova dimensão de experiência a como nos vemos, a como nos entendemos e a como interagimos com os outros.

Sem empreendedorismo, a história não registraria nenhum momento de progresso, a nossa compreensão do quão singular e especial é essa nossa época neste mundo seria para sempre indefinida, e toda a sociedade iria atrofiar até finalmente morrer.  Com o empreendedorismo, toda e qualquer tentativa de controlar e paralisar o mundo encontra resistência e, no longo prazo, sempre fracassa.

A história nos ensina que aqueles que ousam tentar bloquear o progresso humano sempre acabam sendo atropelados.  Sim, haverá muito atrito e vários poderosos serão vitimados à medida que tentamos nos mover do atraso para o progresso.  Mas chegaremos lá, um ato de desobediência criativa de cada vez.

 


[1] Trocadilho com um seriado americano homônimo.  O termo “breaking bad” é uma gíria do sul dos EUA que significa que alguém se desviou do caminho correto e passou a fazer coisas erradas.

Jeffrey A. Tucker
Jeffrey A. Tucker
é fundador e presidente do Brownstone Institute e autor de muitos milhares de artigos na imprensa acadêmica e popular e dez livros em 5 idiomas, entre eles It's a Jetsons World: Private Miracles and Public Crimes e Bourbon for Breakfast: Living Outside the Statist Quo
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