Embora esse conceito seja popular e o que prevalece, ele é incorreto. Revela uma ignorância chocante sobre a função dos intermediários, que, ao contrário, prestam um serviço. Se eles fossem eliminados, a ordem toda da produção cairia no caos. A oferta de bens e serviços seria reduzida – se é que haveria alguma -, e o volume de dinheiro que teria de ser gasto para obtê-los aumentaria violentamente.
O processo de produção de uma “mercadoria” típica consiste de matérias-primas que têm de ser reunidas e trabalhadas. O maquinário e outros fatores utilizados na produção precisam ser adquiridos, instalados, consertados etc. Ao obter-se o produto final, este tem de ser segurado, transportado, e deve-se fazer um acompanhamento. O produto tem de ser anunciado e vendido no varejo. Devem ser mantidos registros, o trabalho jurídico e fiscal tem de ser feito, e as finanças precisam estar em perfeita ordem.
A produção e o consumo de nossa mercadoria típica poderiam ser descritos da seguinte forma:
No 10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
O número 10 representa o primeiro estágio na produção de nossa mercadoria, e o número 1, o último, quando a mercadoria está nas mãos do consumidor. Os números 2 até 9 indicam os estágios intermediários da produção. Todos estes são manipulados por intermediários. O número 4, por exemplo, pode ser um publicitário, varejista, atacadista, corretor, agente, intermediário, financiador, montador ou transportador. Independentemente de seu título ou função específicos, o intermediário compra o produto do número 5 e revende-o ao 3. Sem especificarmos o que ele faz ou mesmo sabendo-o exatamente, fica óbvio que o intermediário executa um serviço necessário, de forma eficiente.
Se esse serviço não fosse necessário, o número 3 não compraria o produto do número 4 por um preço mais alto do que aquele pelo qual poderia comprá-lo do número 5. Se o número 4 não estivesse prestando um serviço de valor, o número 3 cortaria o intermediário número 4 e fá-lo-ia ele mesmo.
Também é certo que o número 4, embora desempenhando uma função necessária e de forma eficiente, não cobra demais por seus esforços. Se o fizesse, isso contribuiria para que o número 3 o evitasse, assumindo ele próprio a tarefa ou subcontratando outro intermediário. Além disso, se o número 4 estivesse obtendo um lucro maior do que o obtido nos demais estágios da produção, a tendência seria os empresários dos outros estágios se deslocarem para esse estágio e comprimirem o percentual de lucro até que este equivalesse ao lucro obtido nos outros estágios (proporcionalmente ao risco e à incerteza).
Se os intermediários do estágio número 4 fossem eliminados através de um decreto, suas tarefas teriam de ser assumidas pelos do número 3, pelos do número 5 ou por outros, ou não seriam feitas. Se os do número 3 ou os do número 5 assumissem as tarefas, o custo da produção aumentaria. O fato de que eles negociavam com os do número 4 enquanto isso era possível, legalmente, indica que não podem fazer o serviço tão bem – ou seja, pelo mesmo preço ou por menos – quanto aqueles. Se os do estágio número 4 fossem completamente eliminados, e ninguém assumisse essas funções, então o processo de produção seria seriamente abalado, a essa altura.
Não obstante essa análise, muitas pessoas continuarão a achar que existe algo de mais “puro” e “direto” nas trocas que não envolvem um intermediário. Talvez os problemas que o que os economistas chamam de “dupla coincidência de desejos” envolve, os desiluda sobre esse ponto de vista.
Consideremos o apuro da pessoa que tenha em seu poder um tonel de picles que gostaria de trocar por uma galinha. Ele precisa achar alguém que tenha uma galinha e queira trocá-la por um tonel de picles. Imaginemos que rara coincidência teria de ocorrer, para que os desejos de cada uma dessas pessoas fossem satisfeitos. Essa “dupla coincidência de desejos” é, de fato, tão rara, que ambas as pessoas naturalmente se precipitariam em busca de um intermediário, se houvesse um. Por exemplo, o dono dos picles que quisesse uma galinha, poderia vender seu artigo ao intermediário por uma mercadoria de maior aceitação (ouro) e então usar o ouro para comprar uma galinha. Se fizesse isso, não mais precisaria encontrar alguém que tivesse uma galinha e quisesse trocá-la por picles. Qualquer pessoa que possuísse uma galinha serviria, querendo ou não os picles. Obviamente, o comércio fica imensamente simplificado pelo advento do intermediário. Ele torna desnecessária a dupla coincidência de desejos. Longe de pilhar o consumidor, o intermediário é que, em muitos casos, torna possíveis seus desejos.
Algumas das críticas ao intermediário baseiam-se nos argumentos representados no diagrama a seguir. Num primeiro momento, representado pelo Diagrama 1, o preço da mercadoria era baixo, e a parte que ia para o intermediário era pequena.
Depois, a parcela do valor do produto final que ia para o intermediário aumentou, e aumentou também o custo da mercadoria (Diagrama 2). Exemplos como estes foram usados para provar que os altos preços da carne, na primavera de 1973, deveram-se aos intermediários. Mas provam – se é que provam alguma coisa – exatamente o contrário. A fatia dos intermediários pode ter aumentado, mas somente porque as contribuições prestadas pelos intermediários também aumentaram! Um aumento dessa fatia, sem um correspondente aumento da contribuição, simplesmente elevaria os lucros e atrairia muito mais empresários para essa área. E o ingresso destes dissiparia os lucros. Assim, quando a fatia do intermediário aumenta, tem de ser em virtude de sua produtividade.
Exemplos desse fenômeno são abundantes nos anais da economia dos negócios. Quem pode negar que, hoje, as lojas de departamentos e os supermercados têm um papel maior (e obtêm uma fatia maior do mercado) do que os intermediários de antigamente? E as lojas de departamentos e os supermercados ainda levam a uma maior eficiência e a preços mais baixos. Essas novas formas de venda a varejo requerem mais despesas com as fases de produção intermediárias, mas a maior eficiência resulta em preços mais baixos.