Há muita discussão hoje em dia sobre socorros financeiros e estímulos – o caso mais recente é o da GM. Eles são mesmo necessários? Eles são justos? A resposta para ambos é não e não. Entretanto, vários economistas, políticos e empresários seguem dizendo que os socorros são medidas emergenciais necessárias para se impedir o agravamento de recessões. Sem levar em consideração a justiça e a moralidade dessas medidas, eles nos alertam que haverá um enorme e desnecessário sofrimento se ficarmos inertes e permitirmos que o mercado faça seu serviço, liquidando os ineficientes. Os socorros podem estancar essa dor, alegam eles, e restaurar ordem e calma a uma economia.
Sim, sabemos que uma onda de falências significa desemprego maciço e uma economia em contração – isto é, recessão. Mas o risco moral por trás de medidas supostamente tidas como benfeitoras não pode ser desprezado. (Fora isso, a ideia de que estímulos podem curar recessões está bem debatida aqui e aqui).
O capitalismo depende de três instituições fortemente complementares, porém distintas: preços, propriedade e o mecanismo de lucros e prejuízos. Os liberais clássicos demonstraram a função essencial que esses pilares da prosperidade tiveram durante séculos. Essas instituições fundamentais da economia de mercado são como as pernas de um tamborete. Se formos debilitando gradualmente uma perna, inevitavelmente iremos fazer com que o tamborete desmorone – um colapso econômico.
Quando uma empresa obtém um lucro, é sinal de que ela está utilizando racionalmente seus recursos, aumentando seu valor ao mesmo tempo em que controla seus custos. Quando uma empresa opera com prejuízos, é sinal de que ela está ou diminuindo o valor de seus recursos ou deixando que seus custos operacionais superem o valor daquilo que ela esteja criando. Portanto, uma empresa que opera com prejuízo é uma máquina de destruição de riqueza. (O mecanismo sinalizador que orienta todas as decisões e fornece os resultados é o sistema de preços).
Falências são algo positivo para uma economia porque permitem que aqueles concorrentes mais produtivos tenham a oportunidade de comprar os ativos das empresas falidas a preços de barganha, permitindo-os fortalecer suas operações. Em uma economia que permita esse tipo de crescimento e mudança, os empregos perdidos em um processo de falência serão rapidamente repostos por outros, uma vez que as empresas mais eficientemente geridas ganham acesso a mais ativos e se expandem.
Dito isso, as implicações das ajudas financeiras são claras. Esses socorros são concebidos para imunizar alguns empreendedores dos efeitos de suas decisões ruins. Quando os preços de mercado se alteram dramaticamente, deixando a descoberto as más escolhas de investimento, os socorros financeiros “vêm ao resgate”, prometendo àqueles que erraram em seus cálculos que eles não terão de sofrer as conseqüências de seus erros.
Mas quem está na área de empreendedorismo precisa entender uma questão básica porém crucial: os preços estão sujeitos a mudanças. Mudança é uma característica indelével dos mercados. Empreendedores ganham dinheiro pesquisando e buscando preços “errados” – preços que seus concorrentes estão superestimando ou subestimando – e apostando em qual direção esses preços irão se mover no futuro. Os empreendedores de sucesso, aqueles que corretamente antecipam as mudanças de preços, são recompensados com lucros. Os empreendedores mais inaptos, aqueles que não estimam corretamente os movimentos desses preços, são penalizados com prejuízos. Essa é a essência do processo de mercado.
As ajudas financeiras dadas pelos governos, portanto, são uma tentativa de abolir os efeitos dos prejuízos, do insucesso econômico. Mas tais esforços inevitavelmente solapam o aspecto “prejuízo” do mecanismo de lucros e prejuízos. Lucro e prejuízo andam lado a lado – como direita e esquerda, bem e mal. Se tentarmos abolir os prejuízos, acabaremos diluindo o significado dos lucros. Afinal, por que se esforçar para servir bem o consumidor e obter lucros se no final o governo vai cobrir seus prejuízos com o dinheiro do contribuinte? Por que se esforçar para competir e ter sucesso se, ao invés, você pode apenas se recostar e reclamar sua fatia num pacote de ajuda financeira? Os socorros governamentais destroem a busca pelo lucro – e todos os benefícios trazidos por uma economia concorrencial.
Falências não são o fim do mundo. Ao contrário, elas fazem com que haja menos máquinas de destruição de riqueza atuantes no mundo. O exemplo do Japão não deve ser esquecido. A década de 1990 foi para os japoneses a “década perdida” por causa de seus bancos zumbis que foram mantidos artificialmente vivos pela ajuda do governo japonês. Toda a produtividade e riqueza gerada pela economia japonesa foi redirecionada para essas máquinas de destruição de riqueza, o que resultou em uma estagnação de longo prazo.
Pra finalizar, um último detalhe, quase nunca mencionado: por causa da grande acumulação de riqueza trazida pelo capitalismo, vivemos em um mundo de relativa abundância, o que suaviza enormemente as agruras e privações de um desempregado. Quando um indivíduo perde o emprego em uma recessão, certamente ele terá de apertar os cintos e procurar outro emprego. Mas ele não corre o risco de morrer de inanição. E quanto mais livre for o mercado, maiores serão as oportunidades para ele ir se ajustando às mudanças econômicas. Sim, esse indivíduo irá sofrer um bocado durante a transição, mas essa dor oriunda do fracasso econômico irá guiá-lo para escolhas mais produtivas e exitosas.
O fracasso não é divertido, mas ele nos ensina lições essenciais. Não devemos ignorar essas lições só porque acreditamos que o certo é despejar dinheiro do contribuinte nos cofres de empresas insolventes. Ao invés de tentar abolir as falências por meio de socorros financeiros, deveríamos deixar o mercado funcionar, deixar que os ineficientes quebrem e aprender a lição.