Desde que Lula chamou o agronegócio de fascista durante a campanha presidencial em 2022, essa acusação permanece no ar. Diversas entidades do agro divulgaram notas de repúdio, negando veementemente que fossem fascistas. Acontece que nem a acusação e nem as defesas referem-se apropriadamente ao Fascismo. Lula usou o termo “fascismo” da maneira abjeta que a esquerda o utiliza, querendo se referir a qualquer um que não concorde com ela. No caso, Lula disse que o agro era fascista por querer desmatar, ou seja, absolutamente nenhuma relação com o significado do termo. Já as notas de repúdio negaram que o agronegócio fosse fascista por respeitar as leis, o meio-ambiente, empregar milhões de pessoas, e produzir alimentos para o Brasil e para o mundo todo. Novamente, nenhuma relação com ser fascista ou não. Por exemplo, em sua nota, a ABRAMILHO afirma:
… que esta declaração revela um candidato desinformado sobre a realidade do agronegócio brasileiro, um setor imprescindível para a economia nacional, gerador de empregos e respeitador de toda a legislação trabalhista e ambiental, inclusive tendo se manifestado favorável ao desmatamento ilegal zero.
Nada a ver com fascismo, exceto a menção da CLT. Embora a legislação trabalhista citada na nota seja algo completamente fascista, – sendo ainda mais fascista que a Carta del Lavoro de Mussolini, tendo sido inspirada no governo fascista português de Salazar e introduzida no Brasil pelo ditador fascista Getúlio Vargas – respeitar a CLT não torna um setor fascista, já que estas leis trabalhistas fascistas que atravancam o desenvolvimento econômico do Brasil são imposições compulsórias a todos os setores. Então, afinal, o que significa um setor ser fascista? E o agro é fascista ou não?
Esta semana dois direitistas tentaram responder essa pergunta no programa Pânico, negando que o agro fosse fascista. Primeiro Leandro Narloch também falou sobre a riqueza gerada pelo agronegócio e explicou que a alta tecnologia usada no setor tem preservado muito mais o meio-ambiente. Novamente nenhuma ligação com o que é fascismo. Dois dias depois, Gustavo Segre respondeu a acusação de Lula negando que o agro fosse fascista e direitista usando a definição de fascismo de Lew Rockwell, que ele retirou do artigo “O que realmente é o fascismo”, e a leu no ar:
O fascismo é o sistema de governo que opera em conluio com grandes empresas (as quais são favorecidas economicamente pelo governo), que carteliza o setor privado, planeja centralizadamente a economia subsidiando grandes empresários com boas conexões políticas, exalta o poder estatal como sendo a fonte de toda a ordem, nega direitos e liberdades fundamentais aos indivíduos … e torna o poder executivo o senhor irrestrito da sociedade.
Segre se limitou apenas a dizer que essa definição remete muito mais a esquerda do que a direita. E realmente a descrição do que realmente é fascismo se encaixa perfeitamente nos governos fascistas do PT. Foi o fascista Lula que escolheu empresas para serem campeãs nacionais, direcionando à elas através do BNDES R$ 1,2 trilhões. Grandes empresários conectados politicamente à Lula, como Eike Batista e os irmãos Joesley e Wesley Batista, entraram na lista das maiores fortunas do mundo. Porém, a continuação do artigo usado como referência nos diz que não é só na esquerda que essa definição se encaixa:
Tente imaginar algum país cujo governo não siga nenhuma destas características acima. Tal arranjo se tornou tão corriqueiro, tão trivial, que praticamente deixou de ser notado pelas pessoas. Praticamente ninguém conhece este sistema pelo seu verdadeiro nome. … Suas características estão tão arraigadas em nossas vidas — e já é assim há um bom tempo — que se tornaram praticamente invisíveis para nós.
Rockwell adverte que atualmente todos os países do mundo podem ser tachados de fascistas, e isso é tão comum que as pessoas não percebem. Narloch e Segre, por exemplo, são incapazes de perceber o fascismo no agronegócio. A quantidade de programas do governo que favorecem o setor é acachapante. Abaixo listo apenas alguns:
- Programa Crédito Agropecuário Empresarial de Custeio;
- Programa Crédito Agropecuário Empresarial de Investimento;
- Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF Custeio.
- Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF Investimento.
- Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural – PRONAMP Custeio e Investimento;
- Programa para a Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária – Programa ABC
- Programa para Construção e Ampliação de Armazéns – PCA;
- Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica na Produção Agropecuária – INOVAGRO;
- Programa de Financiamento à Agricultura Irrigada e ao Cultivo Protegido – PROIRRIGA;
- Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras – MODERFROTA;
- Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária – PRODECOOP; e
- Programa de Capitalização de Cooperativas Agropecuárias – PROCAP-AGRO Giro.
No último ano do governo Bolsonaro, o Plano Safra, ou seja, planejamento central da economia por burocratas, disponibilizou R$ 340,8 bilhões para o setor agropecuário. E de fato podemos observar que essa ascensão do agronegócio no Brasil foi fruto de um fascismo econômico, com o BNDES desviando o favorecimento da indústria para a agropecuária:
O setor agrário também conta com uma outra enorme ajuda fascista do governo, a EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, uma empresa pública que desenvolve pesquisas para empresários privados. A EMBRAPA tem um orçamento de mais de R$3,5 bilhões por ano. Ou seja, todo o povo brasileiro divide os custos de pesquisas agropecuárias e fazendeiros ficam com os lucros. Outra evidência do fascismo do agro é termos um banco estatal como seu maior parceiro. O Banco do Brasil é responsável por 62% do financiamento do agronegócio:
O Banco do Brasil foi o responsável pelo próprio início da agropecuária no Centro-oeste brasileiro, um projeto da economia planificada da ditadura militar. O Banco do Brasil concedeu empréstimos subsidiados para agricultores sem-terra do sul do país migrarem para o Centro-oeste, adquirirem propriedades e plantarem soja. Os sem-terra dos anos 1970 são grandes latifundiários hoje, como Gilmar Dell’Osbel, um ex-sem-terra que tem cerca de 5 mil hectares de terra, que ele administra com dois sócios.
Diante de tantas evidências, apenas pseudoliberais cegados pelo estatismo como Narloch e Segre são incapazes de ver que o agro é fascista. O ex-presidiário Lula mirou no peixe e acertou o gato. Sem nem saber o que significa fascismo, e sendo ele próprio um fascista, ele tem razão em dizer que o agro é fascista. Em um capitalismo liberal o estado não escolhe quais empresas e setores devem se desenvolver. E não existe vantagem nenhuma para o povo de um país ter um setor desenvolvido pela mão do estado, ao invés de pelo livre mercado. Qual seria a vantagem de o governo do Saara Ocidental tornar seu país um grande produtor agrícola? Recursos infindáveis teriam de ser extraídos compulsoriamente de toda a população que trabalha em outros setores e alocados em meios de tornar produtivas suas terras inférteis. O empobrecimento seria total, com exceção dos agricultores subsidiados, que ficariam podres de rico. Em escala menor, é isso que o governo brasileiro faz ao promover o setor agropecuário.
Os direitistas falam com orgulho que “o agronegócio brasileiro alimenta o mundo”, mas quem ganha com isso é apenas o agropecuarista exportador de produtos alimentícios subsidiados e seus consumidores no exterior. Só poderemos ter certeza da eficiência econômica do agronegócio no dia que ele não receber nenhum empurrão estatal. E somente neste dia, a alcunha de fascista não mais lhe caberá.
Mais uma vez, Fernando Chiocca nos brinda com um dos melhores artigos do ano! Pouquíssimas pessoas perceberam que o governo subsidia também o agronegócio. E como é mesmo o nome disso? Pois é, sem mesmo saber o 9 fingers acertou: é fascismo! Melhor os agros aceitarem que vai doer menos!
É bom lembrar que o “agro nacional” conviveu em paz por mais de uma década com os “governos comunistas do PT”, tolerando toda sorte de violações à propriedade privada no campo em troca de – conforme o artigo torna explícito – políticas de subsídio e reserva de mercado crescente (impedindo ou dificultando que o brasileiro comum tivesse mais alternativas de produtos mais baratos vindos de fora). Essa idealização é mais uma entre muitas usada pela direita brasileira para contar sua história da carochinha permanente, mudando apenas o “herói” da vez: ora o militar, ora o policial, ora o agronegócio, etc. Não há heróis quando a sociedade é escravizada por uma elite político-burocrática, esta á a verdade dura de engolir.
Grande Fernando Chiocca! Ótimo artigo. Que escreva outros mil como esse!
Bravo! É isso mesmo. Praticamente todos países são fascistas, Lula é extremamente fascista, e há dezenas – se não centenas de empresas que dependem do financiamento estatal. A briga entre a esquerda – que acusa – e os beneficiários – que se defendem – é uma pantomima feita para acirrar os ânimos e render votos aos donos do poder. O povo acha que o discurso terá algum efeito, mas políticos e empresários sabem que os arranjos continuarão a valer no próximo mandato. Fascistas, sim.
Bom texto de Fernando Chiocca. Colocou que todos países tomam atitudes fascistas.
E no final colocou uma utopia: o dia em que o agro mostrar a própria eficiência sem empurrão estatal deixará de ser fascista.
excelente artigo, bons apontamentos! se quisermos montar uma frente de direita ampla ela deve estar preparada para enfrentar estes tipos de teses referente ao quanto o estado brasileiro é paternalista com determinados setores economicos