Uma das perguntas favoritas dos jovens e dos recém-iniciados é: a teoria econômica da Escola Austríaca ajuda a prever o comportamento da economia e do mercado financeiro?
Primeiramente, é necessário fazer uma distinção entre o significado coloquial de previsão (ter uma relativa acurácia nas expectativas quanto ao futuro) e o significado mais rigoroso de realmente conhecer o futuro. Os seguidores da Escola Austríaca enfatizam que a crença de que seja possível conhecer o futuro é extremamente perigosa, especialmente quando burocratas e planejadores centrais começam a acreditar que suas estatísticas e seus gráficos constituem uma bola de cristal.
Por outro lado, economistas seguidores da Escola Austríaca certamente são capazes de ‘prever’ no sentido mais coloquial do termo, que é o de ter uma relativa acurácia nas expectativas quanto ao futuro. Com efeito, os economistas austríacos olham para os dois lados antes de atravessar a rua.
Quando se adentra nesse assunto, torna-se inevitável debater alguns prognósticos não-cumpridos feitos por determinados comentaristas financeiros que tentam utilizar uma abordagem austríaca. Qualquer pessoa que ganhe a vida fazendo prognósticos e previsões econômicas merece ter seu histórico escrutinado. Isso é inevitável. Mas, nesse processo, é necessário ser cuidadoso antes de se atribuir culpas. Afinal, quem realmente errou, a teoria ou o prognosticador? A culpa é toda da teoria ou será que o prognosticador fez um mau uso da teoria? Será que ele utilizou a teoria correta mas cometeu o erro de combiná-la a dados errados?
Por isso, é necessário ser específico em relação ao que a teoria econômica pode fazer e ao que ela não pode fazer. Os críticos parecem acreditar que a teoria é como um mapa, que indica todos os trajetos para se chegar a um lugar. Só que, na realidade, a teoria funciona muito mais como uma bússola: ela diz para onde você está indo, mas não diz como você deve chegar lá. Assim como existem bússolas boas e bússolas ruins, existem teorias boas e teorias ruins.
No mundo real, prognósticos são um espectro contínuo: podemos prever que o sol irá se levantar amanhã, que o inverno será mais frio que o verão, e que a criação de dinheiro gera aumento nos preços. Só que todas essas previsões estão sujeitas a fatores externos imprevisíveis. E esses fatores externos imprevisíveis podem alterar significativamente as probabilidades de as previsões se concretizarem da maneira como foram previstas. Podem também alterar a magnitude do que foi previsto.
A astronomia, por si só, não é capaz de dizer se o inverno será ameno. E certamente não dirá se um determinado dia será frio. Similarmente, a teoria econômica não irá lhe fornecer magnitudes precisas, e nem muito menos irá lhe prover um cronograma acurado dos eventos. Para isso, é necessário complementar a teoria com dados.
Essa proposição — de que a teoria por si só não fornece todas as respostas — faz parte da “incerteza radical” defendida pela teoria econômica da Escola Austríaca, um conceito admiravelmente popularizado por Nassim Taleb em seu best-seller A Lógica do Cisne Negro.
Para realmente prever um fenômeno utilizando uma teoria econômica — qualquer teoria —, você tem de utilizar dados. Uma boa teoria irá lhe especificar quais dados você tem de ter. Se você escolher corretamente, os dados irão lhe informar as magnitudes. E são as magnitudes que irão lhe fornecer o melhor cronograma para a ocorrência dos fenômenos previstos.
Para entender por quê, imagine que você está dentro de um trem que está viajando para leste, mas você está andando para oeste dentro do vagão. Ou seja, o trem está indo para o leste e você está andando para o oeste. Para qual direção o seu corpo está se movendo? Com apenas essa descrição da situação, você é incapaz de saber a resposta. Você está andando rapidamente? O trem está se movendo vagarosamente? A física newtoniana ou a anatomia humana irão lhe fornecer apenas respostas parciais, embora certamente melhores do que forneceriam a física aristotélica e a anatomia de um polvo. Ou seja, você terá de suplementar a teoria com dados. A teoria é necessária, mas é insuficiente.
A questão, então, passa a ser se a teoria econômica da Escola Austríaca é a melhor. É ela quem fornece as melhores respostas sobre tendências fundamentais? Afinal, não importa qual seja a sua teoria escolhida, você terá de suplementá-la com dados.
Um dos meus exemplos favoritos é o do papel do consumo no crescimento econômico. O consumo é tido por vários economistas não-austríacos como um indicador positivo da saúde de uma economia. Como o termômetro de um médico, o consumo diz se a economia está “saudável” e se irá crescer. Economistas não-austríacos fazem essa previsão baseando-se em uma simples correlação: um maior consumo está correlacionado com um crescimento futuro.
Já um austríaco, por outro lado, começa sua análise partindo de uma relação de causalidade lógica. Quando um recurso extra é consumido, isso significa que ele não foi investido e não foi poupado. Afinal, você pode fazer apenas três coisas com um recurso — consumi-lo, investi-lo ou guardá-lo para ser usado no futuro. Portanto, um aumento no consumo de recursos irá necessariamente reduzir ou o investimento físico ou o estoque de recursos poupados.
Sendo assim, um economista austríaco não sai por aí ingenuamente celebrando o aumento no consumo. Ao contrário, nossa teoria nos diz quais dados temos de usar quando tal fenômeno é noticiado. Esse consumo extra foi feito à custa de novos investimentos? Ou ele foi retirado a poupança?
Se o consumo extra veio da poupança, então esse consumo pode perfeitamente aumentar o PIB, muito embora ele impeça um crescimento econômico futuro mais robusto por ter exaurido recursos poupados. Se, por outro lado, o consumo extra veio à custa de novos investimentos, então os economistas convencionais estão errados em comemorar — retirar recursos de investimentos e direcioná-los para o mero consumo não apenas não terá impacto no atual crescimento econômico, como também irá afetar o crescimento futuro. E isso simplesmente porque são os investimentos que produzem bens para o futuro; o consumo não faz isso.
O objetivo aqui é apenas dizer que dados, por si sós, não contam toda a história. E isso é central na abordagem austríaca. Com efeito, você tem de começar sua análise econômica tendo uma boa teoria que lhe diga quais dados são importantes e para onde você deve olhar em seguida. Querer mais do que isso significa que você ainda não entendeu o que uma teoria realmente pode fazer. Assim como Newton sozinho não irá lhe dizer se o seu corpo está indo para o oeste naquele trem, a teoria austríaca sozinha não irá fazer todo o trabalho sobre prever investimentos no mercado financeiro e na economia como um todo.