Seria possível desenvolver uma afeição sincera e profunda por uma simples cadeia numérica binária formada por 1s e 0s? É assim que me sinto em relação ao Bitcoin nesse exato momento.
Não dá para não ter orgulho desta pequena ferramenta, uma implausível criação tecno-monetária que, apenas seis anos atrás, somente um punhado de pessoas acreditava que iria funcionar. Hoje, o Bitcoin está se revelando um refúgio seguro para todo o mundo.
Se tal realidade não for o bastante para levar um pouquinho de humildade a uma fatia das elites financeiras e econômicas, então nada mais poderá fazer isso. Baseando-se na teoria tradicional, não teria como o Bitcoin existir. Ele não foi criado por nenhum poderoso Banco Central; não foi criado por nenhum Congresso de políticos; não foi criado por nenhum acadêmico medalhão. Ele foi criado por um programador que utilizava um nome falso e foi divulgado em um pequeno fórum de internet frequentado exclusivamente por nerds cujo único poder era sonhar de uma maneira inovadora.
De janeiro a outubro de 2009 — ou seja, durante 10 meses —, o Bitcoin existiu sem ter absolutamente nenhum valor. E, ainda assim, algumas centenas de pessoas ao redor do mundo continuaram trabalhando nele, tentando aperfeiçoá-lo, melhorando as redes de comunicação, e testando-o para vários propósitos.
E então, repentinamente, aquela grande curvatura da história se manifestou. No dia 5 de outubro de 2009, o Bitcoin alcançou um pequeno valor de mercado. Essa foi a primeira indicação tangível de que a invenção poderia funcionar.
Tenha em mente que praticamente ninguém, àquela época, acreditava que seria possível inventar uma nova moeda global criada inteiramente por códigos de computador, fora da tradicional estrutura do sistema bancário, sem estar lastreada por nenhum ativo físico (ou por promessas governamentais), sem nenhum investimento de capital, sem nenhum grande nome por trás do projeto, e sem nenhum apoio de nenhuma instituição.
E, ainda assim, lá estava o Bitcoin naquele belo dia, ganhando valor de mercado, como um pequeno broto germinando do chão, indicando que aquela coisinha ínfima estava viva e poderia crescer.
E como cresceu! Nada me entristece mais do que ver algumas pessoas falando que o Bitcoin tem sido uma decepção porque sua atual taxa de câmbio em dólar (1 BTC está valendo US$ 271) ainda está menor do que o pico alcançado há 18 meses (quando 1 BTC chegou a valer US$ 1.100). Ora, que o Bitcoin tenha algum valor já é, por si só, algo fantástico. Que ele tenha conseguido alcançar a paridade com o dólar é algo quase que milagroso. E que ele hoje tenha se tornado um porto-seguro em um mundo repleto de grilhões monetários é algo nada menos que espantoso.
Mais uma vez, o Bitcoin já está empertigando suas plumas em meio às recentes notícias sobre a calamidade grega, a pressão sobre o euro, e o derretimento da bolsa de valores da China. Antes, sempre que havia um cataclismo econômico ao redor do mundo, os investidores corriam para o ouro para proteger suas riquezas. Porém, nos últimos 30 dias, o ouro caiu. [N. do E.: caiu quando cotado em dólares; se cotado em real, o ouro está em seus níveis historicamente altos]. Com efeito, o atual preço do ouro (em dólares) parece estar sendo determinado quase que totalmente pelo seu uso industrial, e não como ativo monetário — uma mudança e tanto para uma commodity que, por 6.000 anos, foi a personificação da moeda forte e da proteção contra incertezas.
E essa pequena e miraculosa ferramenta digital parece ser a responsável por esse desalojamento do ouro. Veja a evolução do preço do Bitcoin (em dólares). Esse magnífico gráfico é uma refutação ambulante a todos os Bancos Centrais, medalhões acadêmicos e planejadores econômicos mundo afora.
Figura 1: no gráfico superior, a evolução do preço do Bitcoin, em dólares, de 6 de junho a 6 de julho de 2015; no gráfico inferior, o volume total de bitcoins transacionados a cada 24 horas
E considere isso também: não é só o Bitcoin que se beneficiou com as recentes instabilidades econômicas. Todas as cripto-moedas estão tendo um ótimo desempenho — até mesmo o Dogecoin, que nasceu como uma piada, mas que hoje tem um valor total de mercado de aproximadamente US$ 20 milhões.
E palmas para o Litecoin também, que alcançou uma taxa de câmbio de US$ 5 por unidade. O Litecoin ainda vive à sombra do Bitcoin, mas isso pode mudar. Assim como a teoria previa que o Bitcoin não poderia existir, o Litecoin também causa espanto. (Siga todas as cripto-moedas no site BraveNewCoin.com)
Figura 2: lista de cripto-moedas existentes e seus respectivos códigos, preço em dólar (taxa de câmbio), quantidade total existente (oferta monetária) e valor total de mercado.
Por mais que as pessoas gostem de falar do preço de cada cripto-moeda (a taxa de câmbio), esse realmente não é o ponto mais importante. Mesmo que uma unidade de uma cripto-moeda estivesse valendo apenas 1 centavo, isso já seria o bastante para comprovar que sua tecnologia funciona, que um código pode se transformar em dinheiro, e que esse dinheiro pode adquirir valor sem depender de bancos, de governos e de bens físicos, fazendo com que realmente seja possível transferir valor de par-a-par (peer-to-peer) instantaneamente ao redor de todo o globo terrestre, sem depender da aprovação de burocratas.
A beleza do mundo digital é sua maleabilidade e sua capacidade de reproduzir infinitamente qualquer coisa que adentre sua esfera. A poderosa contribuição do Bitcoin foi a de reescrever as características básicas do mundo digital e criar um protocolo imutável que reproduz digitalmente as características mais importantes do mundo físico. É como se fosse um padrão-ouro nas nuvens — só que melhor, pois não foi criado e não é gerenciado por nenhum governo.
Não há mais dúvidas de que o dinheiro do futuro será digital. A única dúvida é se o dinheiro será uma ferramenta utilizada pelo estado ou se ele estará sob o comando dos cidadãos.
Que o Bitcoin tenha trazido essa alternativa para nós já é o suficiente para que ele ganhe nosso respeito e gratidão. Jamais deixe que digam que não há como sair do atual arranjo monetário controlado por políticos, burocratas e seus asseclas no sistema bancário. Nenhum sistema é tão hermético ao ponto de não deixar nenhuma brecha de fuga.