De tempos em tempos, por causa da implantação de um novo plano de estudos, assistimos a discussões e controvérsias sobre o sistema educacional onde podemos encontrar todo tipo de posturas e argumentos: temos um sistema educacional criado para satisfazer as demandas da revolução industrial que agora está obsoleto por nos encontrarmos em outro sistema produtivo; se deveria incentivar mais a criatividade e não tanto a memorização; deveríamos ensinar a aprender, deixando em segundo plano o conteúdo das matérias; etc. Mas, independentemente de qual seja o sistema designado como correto, o que nunca há dúvida é que deve haver um. Inclusive os que advogam por um sistema menos convencional, para escapar de uma educação cujo único fim, segundo eles, é lavar o cérebro das pessoas parar criar súditos dóceis, propõem também um sistema educacional. Todos eles, seja qual for sua ideologia ou sua orientação política, acreditam que deve existir um sistema educacional. E claro, o melhor, o que irá corrigir todos os males, é o seu.
No entanto, por que deve haver um sistema educacional? Por que a educação deve estar regulada e centralizada? Quem deve regular e determinar o conteúdo da educação? Por que todos devem estudar a mesma coisa?
Um dos argumentos que é utilizado para justificar a existência do sistema educacional é a afirmação de que este parece imprescindível para eliminar a brecha que separa ricos e pobres. É dito que, normalmente, somente os ricos podem estudar, e assim, somente eles podem ter acesso aos cargos do governo a partir dos quais legislam a seu favor. Por sua vez, os pobres, ao não poder estudar, estão condenados a postos de trabalho mal remunerados, de modo que o status quo se perpetue. Ou seja, se acredita que o sistema educacional contribuiria para eliminar a desigualdade e para que todos tenhamos igualdade de oportunidades.
Porém, na verdade, é impossível conseguir essa igualdade, posto que não temos todos as mesmas capacidades, não somos todos iguais em inteligência, ágeis, fortes ou bonitos e, portanto, não vamos ter as mesmas oportunidades (Uma pessoa muito bonita terá mais oportunidades para trabalhar como modelo do que uma feia), a não ser que queiramos enfear o bonito e amarrar o ágil para igualar a todos. Deve-se levar em conta também a influência do meio: não terá as mesmas oportunidades para viver de ciclismo uma pessoa que nasça na Espanha do que outra que nasça na Sibéria, ou de aprender artes marciais um chinês do que um sevilhano. Se gosto de desenho e quero fazer disso minha profissão, será mais fácil se tenho a sorte de ter na minha rua uma loja de revistinhas cuja dono me orienta e me ensina, que se nascesse em outra rua onde não há. Se tenho a sorte de conhecer um bom professor terei mais oportunidades de aprender. Deste modo, para alcançar a igualdade, além de tentar igualar a todos, teríamos que tornar todos os lugares do mundo iguais. E isso é impossível.
Esta irrevogável desigualdade não tem porque ser negativa. Se deveria aceitar as condições nas quais nasceu e tentar alcançar seus objetivos (em vez de se queixar por ter nascido feio, por exemplo). Não escolhemos onde começamos, mas sim aonde queremos acabar. Podemos alcançar nossos objetivos com nosso esforço e nosso trabalho, mas não seria licito querer alcançá-lo com o esforço dos outros, exigindo que o governo tire dos outros o dinheiro que eu necessito para alcançar os meus objetivos. Nesse caso, o custo é assumido pelo resto das pessoas, enquanto o benefício afeta apenas a mim.
Talvez o que o sistema educacional pretenda conseguir é uma igualdade de oportunidades, no sentido de que todos partamos com o mesmo conhecimento. Mas, neste caso, teríamos que fazer duas perguntas: primeiro, que conhecimento é esse?; e segundo, por que temos que possuir todos esse mesmo conhecimento?
Em relação a primeira pergunta, considero que o ensino obrigatório tende a transmitir poucos conhecimentos, já que as aulas estão orientadas a realização de um único fim, passar nas provas. Para isso se prioriza a memorização de alguns dados concretos, que normalmente são esquecidos rapidamente. Memorizar informação não constitui conhecimento. Por exemplo, memorizar um poema em inglês sobre o amor sem dominar esse idioma nem nunca ter amado é adquirir dados, não conhecimento. É equivalente a estudar uma lista telefônica. E na verdade, é isso que fazemos no colégio: memorizar uma série de dados que não sabemos muito bem de onde vem nem para que servem. Mas se olharmos com atenção, há uma série de ideias que quase todo mundo aprende bem: a necessidade do Estado, a benevolência da democracia, etc. Não há quase ninguém que tenha ido à escola que discorde dessas ideias. Assim, discursos oficiais à parte, é o que o sistema educacional consegue na prática. Não vejo que vantagens podemos obter possuindo todo esse “conhecimento”.
Quanto à segunda questão, embora o que deva ser estudado não fosse determinado pelo governo (que sempre terá incentivos muito fortes para estabelecer que o que as crianças têm que aprender é algo que o beneficie), mas por um grupo de pessoas totalmente neutras, como estabelecer o que o mundo inteiro tem para estudar se não soubermos os objetivos específicos que cada um deseja? De que vale a álgebra para uma pessoa que quer ser oleiro ou designer de moda? Obviamente, não faz mal saber sobre esse assunto, mas não faria mal saber botânica, dança, literatura, cinema, soldagem, origami, etc. Como escolher? Ou nós olhamos para os fins que uma pessoa específica quer alcançar ou a lista de conhecimento será totalmente arbitrária. Pode-se objetar que, no caso do ensino fundamental, as crianças ainda não possuem objetivos estabelecidos. A resposta é que os pais querem que seus filhos sejam ensinados em assuntos específicos.
Saber ler, escrever e alguma aritmética sempre será útil, mas você precisa de oito anos na escola? Não poderíamos aprender em casa ou com um professor pago por quem quiser? Dessa forma, além de ser uma ação voluntária, as crianças aprenderão o que os pais acham que é apropriado.
Também é comum elogiar o trabalho de socialização da escola. Entendo então que, antes do surgimento do sistema educacional obrigatório, as pessoas não eram socializadas. Presumivelmente, o hábito de dizer bom dia ocorreu a um teórico do ensino. Isso é ridículo, as crianças aprendem a viver juntas e se relacionar com os outros em casa, com suas famílias, seus vizinhos e seus amigos. E esses relacionamentos geralmente são supervisionados por adultos quase o tempo todo, ao contrário dos intervalos escolares, onde você pode ver comportamentos que dificilmente podem se qualificar como educados.
Por tudo o que foi dito acima, não acredito que o sistema educacional sirva para o que seus defensores pregam. O que se consegue de fato é transmitir uma série de ideias que facilitam a existência e as ações do estado: isso constitui seu verdadeiro objetivo. Assim, podemos afirmar que, na realidade, o sistema educacional funciona bem, já que serve ao propósito para o qual foi realmente construído. Por isso, é importante que a educação seja obrigatória e igual em todo o território do estado. Desta forma, logra-se que ninguém possa escapar de uma homogeneização que facilite o controle da população, uma vez que, se todos pensam igual, dominar a todos será como dominar um único indivíduo.
Artigo original aqui.
Tradução de Daniel Navalon
A escola não nos prepara para o mercado de trabalho, e nem para a vida. O que ela realmente faz é colocar na sua cabeça a ideia de que imposto não é roubo, que é um mal necessário e justo.
Se você perguntar para as pessoas se elas acreditam que imposto é roubo, a maioria vai ficar surpresa com essa pergunta, outros vão falar que concordam, mas não saberão lhe explicar porque de fato acham isso.
A escola nos doutrina para sermos a média, em outras palavras, medíocres, e que o estado é necessário, e que os governantes tem todo o direito de impor regras na sociedade como se fossem seres supremos, roubando a liberdade e a propriedade das pessoas.
E quando ocorre um ciclo econômico o governo ainda se intitula o salvador da pátria, aquele capaz de fazer a economia girar novamente e gerar empregos. Prevalece aquela mentalidade marxista anticapitalista.
Parabéns!
O sistema público educacional brasileiro através de pesquisas nacionais e internacionais medindo a taxa de alfabetização dos alunos, conseguiu se mostrar totalmente ineficiente e inútil, apenas formando analfabetos funcionais, além também é claro, que somos um dos países da America Latina que mais gasta com educação e um dos que se sai pior nas provas avaliativas de alfabetização.