“Os impostos regularmente pagos pelo pobre são revertidos em serviços públicos focados na sua satisfação. Portanto, os impostos não devem ser vistos como lixos econômicos, mas como investimentos”, argumenta o estatista.
Para objetar esse argumento, é imperativo que nos voltemos à estrutura do fenômeno ação.
A ação, enquanto evento intencional, nada é senão o emprego de meios destinado ao alcance de um fim. O homem, dessa forma, age ao empregar meios com uma dada finalidade, cuja consecução lhe renderá, avalia, um estado de coisas situacionalmente mais satisfatório que o estado de coisas anterior à ação. A consecução do fim, enquanto elemento da ação, deve necessariamente compensar os custos totais relativos ao emprego dos meios, sendo tais custos sempre mensurados em termos de ganhos alternativos possíveis com empregos alternativos dos mesmos meios.
O custo de um bolo, por exemplo, não é somente, digamos, 10 xelins, mas é configurado por todas as aquisições mercadológicas alternativas possíveis com 10 xelins; e é justamente por isso que os jovens estudantes, com frequência, dizem: “a execução desse exame me custou uma tarde com meus amigos, ou uma tarde jogando, ou uma tarde relaxando”, quer dizer, o custo do tempo orientado à execução do exame foi medido em termos de ganhos alternativos possíveis com empregos alternativos do mesmo tempo, o que implica, segundo a correta análise praxeológica, que a execução do exame referida, para ser alcançada, deve ser suficientemente compensatória à tarde perdida de relaxamento, ou à tarde perdida com os amigos, ou à tarde perdida de jogo, etc., etc.
Por intermédio de deduções lógicas, sabe-se, por isso, que quando dado indivíduo compra via dinheiro um bem, o faz precisamente porque espera obter do seu uso um estado de coisas situacionalmente mais satisfatório que o estado de coisas que obteria caso usasse o seu dinheiro doutro modo (alternativamente). Da mesma forma, quando um indivíduo se abstém de gastar seu dinheiro comprando algo, ele o faz precisamente porque não espera obter do uso de tal algo um estado situacional comparavelmente mais compensatório que o que obtém se abstendo da compra do tal algo. A troca, portanto, enquanto inter-ação voluntária, sempre beneficia ambas as partes atuantes, do contrário a mesma não ocorreria.
O conceito de ação é relevante, pois o seu esclarecimento nos leva invariavelmente à conclusão de que os serviços ditos públicos não podem possivelmente satisfazer os indivíduos visto que sempre são custeados por meio da coação central (estatal).
Quando, por exemplo, uma empresa registra lucros demasiadamente altos, isso indica a ela que o cliente atribui ao produto ofertado um valor comparativamente superior que o que atribui ao seu dinheiro; e, para permanecer sendo altamente lucrativa, a empresa terá de verificar com frequência as variações espaciais e temporais da demanda a fim ajustar a sua produção à mesma como forma de manter-se viável. Do mesmo modo, quando uma empresa apresenta prejuízos, contabilmente expressos em termos de perdas financeiras, isso indica a ela que o cliente atribui ao produto ofertado um valor comparativamente inferior que o que atribui ao seu dinheiro; e, para evitar a falência no mais tardar, a empresa terá de ajustar os seus produtos e serviços identicamente aos que são requisitados pelos consumidores.
O mercado, assim, é absolutamente peremptório a uma alocação racional de recursos, pois aqueles que conseguem alocar o capital disponível apenas insuficientemente ao atendimento das necessidades dos indivíduos sofrem perdas, enquanto que os bons alocadores são recompensados com altos lucros.
Alguns teóricos da corrente econômica dominante afirmam incansavelmente que a competição de mercado é brutalíssima, peçonhenta e animalesca. Essa afirmativa, porém, não se adequa tampouco infimamente à realidade, posto que o ambiente, pela seleção natural, compele o animal à sua adaptação; já o mercado, pela competição empresarial, compele o homem à sua satisfação. O ambiente, não deliberadamente, empurra a espécie à adaptação. O mercado empurra o homem à prosperidade mútua.
Esses indicativos (lucros/perdas) operam, contudo, somente num sistema de trocas voluntárias, no qual os indivíduos podem escolher comprar ou não comprar, no qual o indivíduo obtém lucros à medida que supre as necessidades dos consumidores e perdas à medida que falha em suprir tais necessidades.
O estado, por ser custeado sempre por meio da coerção e não da venda voluntária dos seus serviços, não tem como saber se as suas operações estão perfeitamente alinhadas com as que são requeridas pelos indivíduos, pois, afinal, é financiado regularmente saciando ou não as necessidades dos “consumidores” (contribuintes).
É como se uma empresa oferecesse ao consumidor um produto não compatível com o que é por ele demandado e não possuísse absolutamente nenhum mecanismo informacional ao qual recorrer para notificar-se disso.
Se uma padaria, por exemplo, monopolizasse de maneira forçosa a venda de pães e operasse, em razão disso, indiferentemente às preferências valorativas dos seus clientes, não estaria sujeita aos mecanismos corretivos do mercado (concorrência, perdas, etc.), o que implica que se a mesma, eventualmente, oferecesse pães percebidos pelos consumidores como incomestíveis, não estaria à sua disposição absolutamente nenhum método pelo qual poderia informar-se das suas ingerências operacionais. Não registrando prejuízos consequentes da produção de pães que saciam apenas infinitesimalmente as necessidades dos consumidores, a padaria, assim, há de permanecer operando sempre com improdutividade.
O que vale para esta suposta padaria, vale também para o estado.
Além do mais, se os indivíduos percebessem algum valor nos serviços oferecidos pelo estado, tais serviços seriam custeados voluntariamente sem a necessidade de coação. Por isso, o próprio fato de o estado ter de violentar os indivíduos de maneira a arrancar deles o seu sustento já demonstra que ele não provê ao pobre a supressão das suas necessidades, e se não o faz, é tão-somente um estorvo, um imbróglio insuportavelmente pestilencial em meio à sociedade.
Murray Rothbard, outrora, frisou:
“Não há nenhuma maneira de medir a qualidade e o sucesso de um produto pelo qual os consumidores são forçados a pagar”.