Os libertários muitas vezes se perguntam por que o socialismo continua a ser tão popular, mesmo após ele ter se mostrado um fracasso como ideologia política e como sistema econômico. Embora um sistema público de educação e uma grande mídia tendenciosa sejam as principais razões para isso, a resiliência teimosa do socialismo também é um tanto fictícia, já que o socialismo evoluiu: o socialista de outrora não é o socialista de hoje. Essa distinção é importante lembrar ao definir os temas para uma educação libertária.
A diferença entre o socialista tradicional e o moderno corresponde à distinção que Ludwig von Mises criteriosamente fez entre socialismo e intervenção estatal no livre mercado. Os socialistas tradicionais, de inspiração marxista direta, quase desapareceram hoje, pois uma experiência socialista após outra fracassou durante o século XX, bem como em nossos tempos. Ninguém que se diz socialista ou “progressista” hoje acredita que a propriedade estatal dos meios de produção é a melhor forma de organizar a sociedade. Nenhum socialista moderno ou “esquerdista” tolera a típica opressão política do Estado socialista e o sufocamento econômico da sociedade.
Mas o socialista moderno ainda fecha os olhos para as evidências esmagadoras que mostram que o livre mercado é o maior criador de riqueza da história, mesmo quando é prejudicado pela intervenção estatal. Ele ainda se recusa a aceitar que bilhões de pessoas foram tiradas da pobreza pelo capitalismo – embora uma versão obstruída dele – e que centenas de milhões de pessoas se juntaram à classe média graças à liberalização do comércio internacional e à abertura de grandes áreas de economias em desenvolvimento.
O socialista moderno é, portanto, uma criatura paradoxal, ele aceita e rejeita o livre mercado. Acreditar no livre mercado em alguns casos, mas não em outros, é uma posição ideológica ambígua; uma que parece intelectualmente insustentável e que pelo menos deveria ser defendida. Mas os socialistas modernos geralmente não abordam diretamente essa incoerência intelectual. Em vez disso, eles geralmente afirmam que o livre mercado funciona até certo ponto, e que ele deve ser limitado e controlado. Eles estão convencidos de que o Estado deve desempenhar um papel fundamental na sociedade, para proteger os “trabalhadores” contra o capitalismo “desenfreado” que, de outra forma, não só continuará a oprimi-los, mas até mesmo irá destruir a própria civilização.
Os socialistas modernos incluem esquerdistas e progressistas, mas também social-democratas tradicionais e elites, bem como muitos direitistas e aqueles conservadores que abandonaram o liberalismo clássico para se adaptar aos tempos. Eles representam uma maioria muito grande e heterogênea da população, mas têm uma coisa em comum: a confiança no Estado. Seguindo a dicotomia de Mises acima, os socialistas modernos também podem ser chamados de “estatistas”. Como o nome indica, os estatistas acreditam que o Estado deve intervir no mercado para corrigir seus muitos excessos percebidos e fornecer um marco regulatório sem o qual, eles estão convencidos, ele ficaria descontrolado. Grandes áreas da economia (como educação ou saúde) devem ser colocadas sob controle do Estado, se ainda não estão. Os setores que podem ser deixados em mãos privadas devem, em sua opinião, ser regulados pelo Estado e protegidos, se necessário, por subsídios, tarifas e outros tipos de transferências de riqueza. Os estatistas muitas vezes acreditam, embora nem sempre o admitam abertamente, que valores sociais e culturais “inadequados”, como o consumismo ou o conservadorismo, sejam sufocados pelo Estado.
A popularidade de tais ideias teve consequências econômicas, políticas e sociais muito graves nas últimas décadas. A maioria dos estatistas tem boas intenções, mas eles foram inculcados com uma ideologia que se baseia em convicções errôneas, confusões e, falando francamente, ignorância. Talvez o erro mais fundamental que os estatistas cometam seja como definem “capitalismo”. O que eles chamam de “capitalismo” é, na verdade, “capitalismo de estado“. Este capitalismo é o corporativismo, com seu inevitável compadrio, monopólios artificiais, interesses escusos e captura regulatória, que os libertários há muito criticam como o resultado inevitável quando o Estado se envolve na vida econômica da sociedade. Em outras palavras, o que muitos estatistas confusos pensam ser o capitalismo “irrestrito”, é na verdade o capitalismo de livre mercado que está preso ao Estado. Confundem causa e efeito, pois são suas ideias estatistas que, em primeiro lugar, criaram as condições políticas e econômicas que agora criticam. Dito de outra forma, eles estão convencidos de que o Estado deve intervir na sociedade para corrigir problemas pelos quais ele próprio é amplamente responsável.
A maioria dos estatistas não está ciente dessa contradição, nem das consequências nefastas de suas crenças políticas. Isso é inevitável, já que eles não aprenderam como funciona a economia de mercado sem entraves e as inúmeras maneiras pelas quais a intervenção estatal a distorce. Eles são simplesmente seguidores das ideias socialistas modernas e dos valores “progressistas” que receberam de suas escolas e universidades, da mídia e, muitas vezes, sem querer, de familiares e amigos. A esmagadora maioria da população, infelizmente, nunca foi introduzida ao libertarianismo e, portanto, não tem as ferramentas conceituais para entender por que essa sabedoria convencional estatista está errada.
Há, portanto, uma necessidade gritante de um tipo diferente de educação – uma educação libertária. É a educação nos pilares econômicos e políticos do libertarianismo; respectivamente, economia austríaca e direito natural. Pode parecer presunçoso, e até condescendente, sugerir que os socialistas modernos precisam ser educados. De fato, pareceria presunçoso propor uma educação alternativa à maioria se a sociedade moderna fosse livre, pacífica, harmoniosa e rica. Mas esse não é o caso, como a maioria dos estatistas imediatamente reconhece. Além disso, os libertários são refutados pelo fato de que a maioria deles eram eles mesmos estatistas, antes de também receberem a mesma educação sobre liberdade. Aliás, é por isso que os libertários entendem tão bem os estatistas, enquanto o inverso quase nunca é o caso.
Ao definir o currículo para essa educação libertária, a distinção entre socialistas tradicionais e modernos é relevante. Uma vez que os socialistas modernos interpretam e expressam o “socialismo” de forma diferente em comparação com os socialistas tradicionais, a educação necessária para convencer os estatistas da insensatez de suas ideias políticas e econômicas não pode ser a mesma usada no passado. Os socialistas tradicionais precisavam ser educados em primeiro lugar nas consequências desastrosas do planejamento central, na definição de liberdade e no papel essencial dos preços na sociedade. É por isso que eles precisavam entender a crítica inicial de Böhm-Bawerk ao marxismo, a crítica de Mises ao cálculo econômico socialista, a advertência de Hayek contra o coletivismo e sua teoria do uso do conhecimento na sociedade.
Essa educação, embora ainda importante, não é tão essencial quanto costumava ser, uma vez que os socialistas modernos já aprenderam implicitamente essas lições. Eles percebem que a teoria da mais-valia de Marx é falha, que uma economia centralmente planejada e a tentativa de abolir a propriedade privada acabarão levando ao colapso da sociedade. O que os estatistas precisam ser educados são as causas e consequências da intervenção do Estado em uma sociedade livre. A educação do socialista moderno deveria, portanto, incluir conceitos-chave como o efeito Cantillon da inflação, a lei da Say da produção, a falácia de janela quebrada de Bastiat, a análise do Estado de Rothbard, e a crítica de Hoppe à tributação.
Esses conceitos libertários são essenciais para entender por que uma sociedade capitalista estatal altamente regulada e financiada por impostos se torna insustentável e instável no longo prazo, inevitavelmente embarcando em um declínio econômico, político e cultural. Uma educação libertária é essencial para reverter essa tendência, ensinando às gerações mais jovens que o socialismo moderno é inerentemente decadente, à medida que a poupança individual diminui, os valores familiares enfraquecem, a responsabilidade pessoal evapora, os rent seekers se multiplicam e a confiança nos políticos despenca. Todos esses resultados são consequências previsíveis do socialismo moderno.
A falência moral e financeira do atual sistema político e econômico, e com ela a sensação incômoda de que esse sistema chegou ao fim do caminho, pode fazer com que muitos estatistas sejam receptivos às respostas que o libertarianismo proporciona. A educação do socialista moderno também deveria ser uma tarefa mais simples do que converter um socialista tradicional ao libertarianismo. Este último muitas vezes tinha um sólido arcabouço ideológico baseado nos escritos de Hegel, Marx, Engels e Lênin. Mas a maioria dos socialistas modernos nunca leu esses autores e, na melhor das hipóteses, está apenas vagamente familiarizada com suas ideias. Os estatistas não têm ideologia real; suas crenças políticas são geralmente baseadas mais em emoções do que em princípios. Um exemplo típico é quando o pagamento obrigatório de impostos é interpretado como um ato de “solidariedade”.
A educação libertária do socialista moderno deve, portanto, incluir também a moralidade. É preciso que os estatistas se convençam de que adotar o libertarianismo fará com que se sintam bem consigo mesmos. Se eles embarcarem nessa educação com a mente aberta, se dedicarem tempo para entender verdadeiramente os insights políticos e econômicos do libertarianismo, descobrirão que o capitalismo de livre mercado, devidamente compreendido, leva à sociedade mais pacífica, estável e justa.
Artigo original aqui
Falta educação sociológica para esse cidadão: uma gangue de ladrões em larga está tão disposta a ser educada no austrolibertarianismo quanto um indiano está disposto a incluir churrasco na sua dieta. Existem estímulos primários como mania por controle, psicopatia, egos inflamados e de sobrevivência antes de qualquer necessidade de educação. Anti-libertários são políticos ideológicos, preocupados substancialmente em vencer.
Acredito que ao se referir aos estadistas, ele elenca a grande maioria da população, conforme mencionado:
“Os socialistas modernos incluem esquerdistas e progressistas, mas também social-democratas tradicionais e elites, bem como muitos direitistas e aqueles conservadores que abandonaram o liberalismo clássico para se adaptar aos tempos. Eles representam uma maioria muito grande e heterogênea da população, mas têm uma coisa em comum: a confiança no Estado.”
Um operador do estado, ou simplesmente um comunista/socialista declarado, é minoria. Estes não têm salvação.
Lembrando, claro, que existe um abismo de diferença entre uma professora de creche municipal no interior da Bahia e um fiscal municipal que fecha negócios durante a fraudemia covid.
Os declarados são quase irreversíveis de fato.
Tenho um parente que se declara “socialista libertário” (sim, tente imaginar um quadrado redondo e assim tudo fará sentido); mas que não hesitava em participar de protestos contra ambientes que coibissem beijos entre pessoas do mesmo sexo, como bons credores que são. O mesmo festejou abertamente que o atleta de voleibol Douglas Souza foi demitido do Cruzeiro, por ordens da patrocinador Fiat, simplesmente por opor-se a um quadrinho mostrando o filho do Super Homem bissexual (nem trata-se de alguém de carne e osso, pasme-se!), pois a postura LGBTQIA@K+o resto do alfabeto é sagradíssima em demasia para críticas. E quando Bolsonaro foi declarado inelegível? O mesmo comemorou nas redes sociais, como se o Brasil tivesse vencido a Copa do Mundo. Triste escrever isto sobre um parente próximo, mas é a realidade patética, tratando-se de alguém, que se visse o próprio Barba abrindo fogo contra alguém, justificaria o ato em segundos, passando todo o pano possível.
A vasta maioria da população é constituída de pessoas ignorantes, não no sentido negativo, mas de não ter tempo, disposição, desejo ou condições materiais para entender o mundo. Não é uma crítica, é uma constatação. O cotidiano é mais urgente, entre dor e prazer. De modo que supostamente uma educação austro-libertária poderia mudar este quadro, levando indivíduos que eventualmente se tornariam operadores do estado à uma posição crítica. Impossível. Os compromissos assumidos entre as pessoas concretas é que são relevantes, ou seja, a gangue estatal se sustenta no espírito de corpo. Isso vai além de qualquer educação. Isso me lembra que Hayek – e a arrogância dos randnóides é isso, que imaginava que uma educação formal pró-mercado para empresários poderia formar uma elite capaz de enfrentar o estado. O povo não muda, é bucha de canhão seria a conclusão derivada. Quando eu li o “Ação humana” pela primeira vez cheguei exatamente à uma conclusão oposta: este livro do Mises deveria estar na mão de todos os individuos.
De forma que eu acho que educação formal em austro-libertarianismo nenhuma pode mudar uma situação que não veio da educação, mas da violência. O estado é uma gangue de ladrões e assassinos em larga escala que usa a educação para formar e aprimorar indivíduos estatistas e assim se legitimar. Ajuda o estado a se manter com menos trabalho – sufocar rebeliões tem um custo, mas o seu poder reside nas armas e ponto final. Ou seja, quem tem as armas sempre terá razão, mesmo não tendo. Um ponto de vista imposto com um fuzil ainda é um ponto de vista…
Um outro eficiente método, a meu ver, é oferecer um emprego medíocre, com carga horária de ao menos 8 horas diárias, chefe bastante exigente, salário mínimo e quase nada além disso, tendo ao menos 5 ou 6 contas que ultrapassem R$ 150,00 ao menos. O ímpeto de defender o socialismo vai para o vinagre em instantes, principalmente na hora que o/a soça de apartamento descobrir o quanto paga de tributos indiretamente, mesmo na hora de comprar um Sonho de Valsa. Em tal cenário, duvido tal revolução na mente deslumbrada de alguém durar demais.