Thursday, November 21, 2024
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As enchentes no Rio Grande do Sul ajudaram o anarcocapitalismo?

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O youtuber Negão publicou em seu Twitter/X que “o governo do Rio Grande do Sul e o governo federal em apenas 1 semana fizeram mais pelo anarcocapitalismo do que todos os influenciadores e estudiosos do tema em toda história.” Ele provavelmente não saberia citar o nome de um único pensador anarcocapitalista, e os influenciadores ancaps que ele conhece devem ser Milei e Paulo Kogos – e é claro que sua proposição não procede. Murray Rothbard, o criador do anarcocapitalismo, e centenas de outros estudiosos ancaps empreenderam uma demolição econômica, moral e ética cabal de todos os argumentos favoráveis a existência do estado e propuseram modelos para alicerçar uma sociedade livre. Porém, é verdade que a atuação – ou falta de atuação – do estado durante as enchentes no RS fizeram muito pelo anarcocapitalismo. Uma quantidade surpreendente de pessoas finalmente enxergou que o estado é dispensável e não faz quase nada além de atrapalhar. E o que é melhor: como podemos ver nas mídias sociais, o povo está com ódio do estado, e odiar o estado é essencial para o anarcocapitalismo.

Veja aqui uma pequena amostra de depoimentos da população do RS nas mídias sociais

Porém, odiar o estado não é tudo. A maioria do povo gaúcho reconheceu que durante uma tragédia, a melhor coisa que o estado pode fazer é desaparecer; mas para tempos normais, nada mudou: o povo continua sendo enganado sobre outras funções do estado, considerando necessário serviços como educação estatal, saúde estatal, moeda estatal, regulamentações estatais, etc. Com essa mentalidade encharcada de socialismo, as vítimas da enchente no RS continuam muito distantes do anarcocapitalismo. Não obstante, o ódio que o povo está sentindo do estado deve ser canalizado para motivá-lo a estudar as teorias anarcocapitalistas, e assim reconhecer que o estado também é dispensável e só atrapalha em todas as outras áreas, e deve desaparecer totalmente o quanto antes.

A ajuda às vítimas da enchente veio da própria população, e não do estado. É claro que houve alguma ajuda do poder público, mas segundo as estimativas de muitos voluntários, 90% dela veio dos civis e apenas 10% dos funcionários públicos. E matematicamente nem poderia ser diferente: estima-se que o número de vítimas diretamente atingidas é de mais de 2 milhões. Não obstante, além da pouca ajuda do poder público, ele atrapalhou mais do que ajudou. A população ficou revoltada com algumas ocorrências, mas elas eram nada mais nada menos do que o poder público agindo normalmente.

Forças Armadas

Uma boa maneira de os libertários explorarem essa indignação popular contra o estado é começar pelas áreas onde essa indignação está mais intensa. Por exemplo, os direitistas já estavam revoltados com a falta de uma atuação das Forças Armadas diante do golpe eleitoral perpetrado em 2022 pela aliança entre o judiciário, o legislativo e a mídia corporativa. A enchente no RS extrapolou uma opinião geral sobre as Forças Armadas como sendo inúteis, inadequadas, imprestáveis, negligentes e desnecessárias durante tragédias. Então os ancaps devem explanar que as Forças Armadas não só são inúteis para manter a legalidade política ou ajudar vítimas de tragédias, mas são totalmente inúteis para qualquer coisa em tempos de paz e devem ser abolidas. Exército, marinha e aeronáutica servem para guerra. Um país que não está em guerra não precisa manter exércitos permanentes, como sustentavam os antifederalistas liberais, derrotados durante a ratificação da Constituição americana. Na realidade exércitos permanentes são uma ameaça à liberdade e se tornam “instrumentos de opressão, seja por meio da opressão direta ou por meio da cobrança de altos impostos para aumentar as enormes somas necessárias para sustentá-los.” E é exatamente isto, e nada além disto, que são as Forças Armadas Brasileiras: funcionários públicos parasitas inúteis que oprimem o resto do povo obrigando-os a pagar por seu sustento e suas aposentadorias gordas.

Segurança

Os ancaps podem apontar também para o fato que a polícia foi incapaz de proteger as pessoas de saques e assaltos. Portanto, o desarmamento é um atentado contra a segurança pública, que deixou as pessoas à mercê da ação de criminosos durante a enchente. Não existe segurança pública melhor, mais eficiente e mais rápida do que um público armado. O direito de portar armas é um direito humano essencial, e nenhum governo tem autoridade para legislar sobre isso.

Caridade estatal

Apesar de toda a imensa ajuda e toneladas de doações de voluntários, muitos estão cobrando que o governo também ajude as vítimas da enchente. Todavia, os ancaps devem lembrar a todos que o governo não deve ajudar ninguém, como David Crockett lembrou seus colegas de congresso durante a votação de uma doação estatal. Tudo que o estado possui, ele roubou de alguém. Logo, clamar por ajuda estatal é clamar por agressão de inocentes. Se Jorge não quer ajudar Oliveira, ninguém pode obriga-lo à força a ajudar. Só existe caridade voluntária. Se uma doação é obtida através do cano de um revólver, isso não é caridade, mas roubo. Além disso, o professor Guido Hülsmann demonstra em seu novo livro as consequências nefastas da imoral  pseudo-doação estatal. Não, não são as doações privadas que devem ser interrompidas, como pediu o canalha hipócrita do governador tirano do RS, que fechou o comércio durante a fraudemia covid e agora diz que as doações iriam prejudicar o comércio local – sobre o qual ele arrecada impostos. O auxílio estatal não é bem-vindo nem durante tragédias e nem em tempos normais, e a ação estatal na ajuda aos necessitados deve ser abolida permanentemente.

Fiscais

A visita de funças da Vigilância Sanitária à tendas armadas por voluntários para alimentar vítimas da enchente que estavam passando fome, exigindo o cumprimento de uma série de regulamentos para não fechar o local, e a visita que fizeram a uma clínica médica que estava atendendo as vítimas da enchente e fechou o local por falta de água na caixa d’água (a cidade inteira estava sem água), apesar de ter água de poço e garrafas de água potável, gerou uma revolta generalizada contra esses parasitas desalmados. Os ancaps devem aproveitar esta revolta para ensinar que não é só em meio a calamidades que esses burocratas atrapalham, mas sempre. Padrões de higiene, quando exigidos por consumidores (que também devem poder escolher não exigi-los) tanto em situações de calamidade como em condições normais, devem ser voluntários e fiscalizados por entidades privadas que se responsabilizarão por danos a sua reputação pelas atribuições de seus “selos de qualidade”.

Burocracia

Os ancaps podem também explorar três inconveniências da burocracia estatal que causaram indignação geral: (1) Bombeiros seguindo seus protocolos burocráticos se recusando a colocar seus jet-skis na água suja para não danificá-los, ao mesmo tempo em que civis estavam usando os seus, resgatando milhares de pessoas e animais; (2) agentes do estado proibindo barcos de resgatarem vítimas exigindo a habilitação dos voluntários e proibindo a decolagem de helicópteros particulares para levar mantimentos e resgatar vítimas, ao não autorizar que estes fossem abastecidos; (3) caminhões com doações sendo barrados e multados nos postos de fiscalização rodoviários por falta de nota fiscal e excesso de peso.

Enquanto alguns desses procedimentos são legítimos em situações normais e existiriam em um livre mercado, a completa falta de tato e de agilidade em abrir exceções diante de uma catástrofe humanitária só pode ser causada pelos “malefícios gerados por uma arrogante, mesquinha, tacanha, ineficiente, morosa e sempre crescente burocracia do governo”. O controle de excesso de peso existe em estradas privadas e bombeiros voluntários teriam suas regras de uso de jet-skis, mas proprietários privados seriam ágeis em flexibilizar imediatamente seus procedimentos quando vidas estivessem em perigo – como demonstrado no caso de jet-skis privados X públicos. Já a exigência de nota fiscal (= roubo puro) e de habilitação sequer existiriam em um livre mercado.

Diques

Todo o exposto até aqui está relacionado ao tratamento das consequências da enchente, entretanto é imprescindível também que os ancaps foquem nas causas. Esta tragédia não foi causada pelas chuvas, mas pelo estado. As regiões afetadas são propensas a alagamentos e só foram ocupadas após o estado fazer aterramentos e construir diques, “garantindo” proteção contra o avanço das águas (Veja aqui como Porto Alegre e Canoas avançaram em direção ao rio Guaíba e o rio dos Sinos). Só que apesar de extrair bilhões de reais dos proprietários dessas áreas ao longo de décadas, o estado não manteve sua parte do “acordo”. Além de não atualizar os diques, sequer os preservou, e foi por esta falha de infraestrutura que as enchentes ocorreram. O estado falhou em oferecer a mais básica proteção que essas pessoas precisavam e elas perderam tudo – muitas perderam a própria vida. Quantas vezes os gaúchos não elegeram prefeitos e governadores do PT e de outros partidos de esquerda como o atual governador woke, que priorizaram gastos socialistas de redistribuição de renda, isto é, roubar de uns para dar para outros, enquanto deixavam a infraestrutura sucatear? Mas não, não precisamos eleger o político certo nas próximas eleições. Os ancaps devem mostrar que todos os serviços que o estado oferece são mais caros e piores que os oferecidos pela iniciativa privada, e a proteção contra enchentes é só mais um deles. Diques podem ser e devem ser privatizados.

Secessão

O retumbante fracasso estatal na prevenção e resposta à enchente deve ser usado pelos ancaps para lembrar aos gaúchos o quanto é primordial e urgente que seu estado se separe do resto do Brasil. Por mais que os sucessivos governos socialistas eleitos pelos gaúchos tenham sido incompetentes em manter o mais básico direito de proteção de propriedade contra o ataque devastador das águas, algum dinheiro foi dispensado para isso ao longo dos anos. Se grande parte dos impostos extorquidos dos gaúchos não fosse confiscado por Brasília e distribuído para outros estados, o montante de recursos que teria sobrado para esta manutenção seria maior e provavelmente essa tragédia causada pelo descaso dos governos não teria ocorrido. O apoio aos movimentos secessionistas deve ser a prioridade dos ancaps. E se alguém contestar essa ideia destacando como essa calamidade mostrou a união do Brasil no envio de ajuda ao RS, devemos apontar que estrangeiros, como os vizinhos uruguaios e argentinos, também ajudaram. A secessão é política, ou seja, apenas o confisco coercitivo entre entidades políticas cessa. A humanidade continua unida nas trocas voluntárias, caritativas ou comerciais. O Rio Grande do Sul é a pátria dos gaúchos. Independência de Brasília ou morte!

Propaganda

O desempenho claramente terrível do estado antes e depois dessa tragédia não pode ser acobertado, mas isso não quer dizer que o estado não tentou acobertar. Quando a população local, com seus telefones celulares, disseminou através das mídias sociais tudo o que estava ocorrendo, o guarda costas intelectual do regime veio em sua defesa. A grande mídia corporativa-estatal iniciou uma guerra de narrativas, tentando desmentir fatos que pessoas comuns divulgaram. O principal veículo de propaganda estatal, a Rede Globo, o Pravda brasileiro, vilipendiou e menosprezou os voluntários e exaltou os funcionários públicos num verdadeiro louvor ao estado que a sustenta. Talvez essa narrativa tenha colado no Nordeste e em outros locais, pois embora decadente, a TV aberta ainda possui 61% da audiência no Brasil. Mas o RS não recebeu muito bem este ataque. Somando-se ao atraso da emissora em reportar a situação calamitosa do RS enquanto destacava exclusivamente a celebração satanista da cantora Madona no RJ, a repulsa dos gaúchos foi tão grande que a Rede Pravda praticamente não conseguiu mais gravar no estado, sendo hostilizada quase sempre que tentavam fazer isso perto do público.

Conclusão

Infelizmente a tragédia no RS não criou nenhum anarcocapitalista, mas ajudou a causa ao alimentar um ódio ao estado. A narrativa estatal tem apresentado rachaduras que podem ser exploradas para ajudar a fazer sua barragem desabar e a liberdade florescer. A batalha é intelectual, e a arma é o conhecimento, vamos usa-la. Os mitos estatistas devem ser atacados e destruídos por ancaps estudados.

 

@politicortess

O POVO ESTÁ ACORDANDO! #sosriograndedosul #riograndedosul #fy #fyp

♬ They Don’t Care About Us (Remastered Version) – Michael Jackson

Fernando Chiocca
Fernando Chiocca
Fernando Chiocca é um intelectual anti-intelectual, abolicionista e praxeologista. Foi um dos fundadores do Instituto Mises Brasil em 2007, rebatizado como Instituto Rothbard em 2015.
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3 COMENTÁRIOS

  1. Muito bem colocado.

    Para o público em geral o estado é um fracasso físico: ruas esburacadas, hospitais decadentes, escolas/Universidades caindo aos pedaços, sujeira para todos os lados etc… o que talvez tenha ficado claro agora é o fracasso moral dos burocratas como um todo, não só políticos.

    Mas a máquina de proteção ideológica do estado não foi arranhada.

  2. Que o povo em longa data já conhece a falácia do “pai” Estado é evidente. Mas parece que o comodismo brasileiro é um vírus nacional e a espera por “alguém” que faça o trabalho duro – que cabe a cada brasileiro individualmente – para se libertar do Estado aumenta com o passar dos anos. Gramsci não fez segredo sobre o verdadeiro fundamento do Estado, mas a população parece cega quanto a isto: mudar algumas leis da constituição, demitir ministros e retirar políticos atuais de seus cargos (apesar de desejável) NÃO muda a estrutura fundamental do Estado.

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