O Estado é uma quadrilha de crime organizado. Ele apropria-se de riqueza através da coerção e usa regularmente a força em violação do princípio da não-agressão. O Estado é um parasita que se perpetua a todo custo e se estende por todos os meios possíveis. Independentemente de seus putativos líderes, o Estado cresce e aumenta seu poder às custas de seus hospedeiros e outros que são vítimas de suas predações.
Como Hans-Hermann Hoppe escreveu de forma pungente, os Estados são “gangues de assassinos, saqueadores e ladrões, rodeada de carrascos voluntários, propagandistas, bajuladores, vigaristas, mentirosos, palhaços, charlatães, imbecis e idiotas úteis – [o Estado é] uma instituição que suja e macula tudo o que toca.”
Uma das ocupações sujas do Estado é a guerra. Ao empreender a guerra, o Estado usa a riqueza expropriada e o capital humano para defender seu território ou ampliar seu alcance e influência. Limpando a névoa dos preconceitos estatistas em relação à guerra, Hoppe explica que guerra é guerra de gangues:
As guerras de gangues, portanto, normalmente envolvendo algumas questões territoriais, são sempre guerras conduzidas por líderes de gangues rivais com dinheiro, equipamentos e força de trabalho de outras pessoas (basta pensar na tributação e no alistamento militar obrigatório!).
Segundo Hoppe, decorre desse reconhecimento que a postura adequada dos libertários antiestatistas em relação à guerra é a neutralidade. Ou seja, devemos opor-nos igualmente a todos os Estados na guerra.
Esse entendimento forma a base de qualquer tratamento libertário digno de um conflito militar – seja entre Rússia e Ucrânia (e Estados Unidos e Otan) ou a perspectiva de guerra entre China e Taiwan (e os Estados Unidos).
No entanto, dado que a guerra entre Israel e o Hamas representa um Estado versus uma gangue militar não estatal, devemos avaliar se existem diferenças significativas.
Mas, primeiro, devemos reconhecer que, como sindicatos do crime organizado, os Estados não têm reivindicação legítima de território. Isso não é menos verdade em Israel do que em qualquer outro lugar. Os Estados adquirem território por pilhagem e confisco, e por impostos coercitivos que são usados para expandir e manter a chamada propriedade estatal. Mas os Estados não podem possuir legitimamente propriedade; toda propriedade do Estado é propriedade roubada.
Da mesma forma, quaisquer reivindicações coletivistas de terras no que antes era chamado de Palestina são ilegítimas per se. Assim como a reivindicação britânica anterior sobre a região. Ao contrário da noção incutida de que os Estados têm direitos naturais, pedaços específicos de propriedade só podem ser propriedade de indivíduos e grupos, mas regiões inteiras não podem ser legitimamente reivindicadas pelos Estados.
No caso da guerra entre Israel e o Hamas, não estamos perante um conflito entre dois Estados enquanto tal. Em vez disso, o conflito representa uma “guerra” entre um Estado e uma região não estatal. Além disso, a região não-estatal é supostamente governada por um grupo militante de oposição ao Estado. Mas é uma região sobre a qual o Estado exerce um controle considerável, incluindo o controle sobre a entrada e saída da população, e até mesmo sobre seu acesso a alimentos, água e outros bens e serviços essenciais.
Então, a questão é qual a posição libertária adequada em um caso como esse? O Hamas deve ser considerado como um participante igual na guerra, como uma gangue de Estado rival igual um Estado adversário, exigindo assim a nossa neutralidade em relação ao conflito? Afinal, dizem-nos que o Hamas é um representante de outros Estados, especialmente do Irã. O Hamas também recebeu apoio financeiro do Catar.
Ou o Hamas deve ser considerado como uma milícia dissidente que reside essencialmente sob a alçada do Estado e realiza ataques retaliatórios contra o Estado e seus cidadãos? Embora o Hamas tenha violado os direitos dos outros, o Hamas é simplesmente um inimigo do Estado?
Esta visão é dificultada pela questão de saber se os palestinianos buscam ardentemente estabelecer um Estado separado. Sem julgar a história pós-século XIX da região, basta dizer que a perspectiva de um Estado fez essencialmente da causa palestina um projeto estatista.
Mesmo que uma “solução de dois Estados” seja provavelmente impossível após o ataque sem precedentes a Israel pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 e a resposta cruel e extremamente desproporcional de Israel, nunca foi o meio para a obtenção de qualquer paz duradoura em primeiro lugar. O estatismo é a causa do conflito, e não a solução.
Artigo original aqui
Leia também:
Ótimo artigo e que bom que o Instituto Rothbard posta esse tipo de artigo sobre a polêmica guerra. A direita estatista-socialista chula e medíocre já tá do lado do governo inútil e terrorista de Israel (não me refiro aos inocentes vítimas do terrorismo do Hamas, mas ao governo inútil).
Não se trata de torcer para este ou aquele estado, mas levar em consideração o dissabor de estarmos cercados pela ingerência estatal.
Em uma situação como esta, nos resta buscar o cenário menos danoso e mais justo possível.
Tudo isto respeitando ao máximo a ética libertária.
Uma analogia pode ser realizada com relação ao processo migratório. Fronteiras determinadas pelas burocracias estatais ao longo da história são inerentemente arbitrárias. Fronteiras legítimas são aquelas determinadas por proprietários. Isso quer dizer que a migração deve ser irrestrita? Eu discordo. Assim como Hoppe, à propósito. Exatamente pelo fato de termos diversos instrumentos e estruturas financiadas pelos pagadores de impostos, não podemos inferir que qualquer indivíduo deve atravessar fronteiras sem qualquer critério. Pode levar o xiita para a sua casa; mas já eu gostaria de manter meu entorno pacífico.
Inclusive, Hoppe também discorre bastante sobre a Grande Guerra e as tentativas de paz empreendidas pelo imperador austríaco Carlos I, conjecturando sobre a paz.
Isso nada tem a ver com sanção, ajuda militar financiada pelos servos e afins.
Tenham cuidado com essa indiferença; no mínimo, soa como um discurso “progressista”.
Todo estado deve ser desmoralizado em função de sua estirpe, mas são civis inocentes sofrendo com o ataque de grupos terroristas. Não é como se membros do estado estivessem se digladiando e a população estivesse segura segurando uma pipoca.
De fato, mas como próprio Hoppe disse em algumas de suas palestras, toda e qualquer guerra causada pelos Estados se tratam de conflitos entre gangues, seja tendo como justificativa uma “guerra ao terror” aos moldes das cruzadas pela “liberdade” dos EUA ou não. Os Judeus da região já viviam pacificamente com os palestinos antes de virar toda essa bagunça devido à imposição criminosa de um novo Estado pela ONU em terras estrangeiras; some isso a todos os conflitos de interesses que se desenrolaram devido ao fato das nações árabes terem um lacaio armado pelos EUA logo ao seu lado, e saberemos que nunca haverá paz verdadeira por lá até que os outros Estados deixem de intervir militarmente na região (apesar que dá para debater que já chegaram a um ponto incontornável). Logo, não é apenas ingerência fronteiriça, mas um completo desrespeito à ética da propriedade, baseada em um “direito histórico” falacioso e que só serve para gerar contra-ataques do mesmo nível.
Com isso, é apenas natural que grupos extremistas financiados por outros Estados constantemente surjam para desestabilizar a região, essa matança de um lado contra o outro já ocorre, por lá, há muitas décadas, e suas respectivas populações também tomam lados devido ao fantasma do nacionalismo e o desejo de exterminar uma etnia “inimiga” e “terrorista”. Nada disso é novo na história das nações modernas, e logo, “indiferença” não pode ser tida como “progressismo”, pois se trata de uma situação como um todo sofrendo de agravante ad infinitum, até que um lado tenha completamente destruído ou expulso o outro, ou ambos os lados tenham chegado a um acordo sem intervenções externas, mas sabemos que nenhum Estado ou grupo criminoso quer isso, pois estão sempre querendo obter vantagem.
Isso vale para todas às guerras acontecendo ao redor do globo, todas se tratam de conflitos fronteiriços, e tipicamente justificadas com casus bellis contraditórios. Os únicos que devem ser ajudados e apoiados são às populações inocentes envolvidas involuntariamente em tais conflitos que estão sofrendo com tudo isso, nada mais, nada menos.
Quando eu menciono a indiferença, não estou me referindo ao esquema mental que você provavelmente elucubrou. Sendo lacônico, faço menção ao seu último parágrafo – com o qual estou de acordo, reitero.
Eu concordo com basicamente toda a essência do seu comentário.
A ONU já nasce criminosa, bem como a ideia de sua precursora.
Entretanto, houve, sim, desconforto com a migração judaica. Muitos judeus se estabeleceram comprando terras de libaneses, por exemplo. A atual Tel Aviv foi fundada em 1909. Além disso, a propaganda nazista foi muito bem recebida por grupos islâmicos.
Todavia, nada se compara ao que você corretamente descreveu.