A liberdade é o elemento central da natureza humana. Ela é a essência da vontade, a fonte da criatividade e um pré-requisito da virtude. Como tal, é também a força motriz da civilização e o alicerce de qualquer sociedade funcional. No entanto, por ser um conceito abstrato, a sua natureza exata é, muitas vezes, inadequadamente compreendida. Isso é lamentável, pois, embora a liberdade possa operar os seus milagres quando utilizada por aqueles que a entendem apenas em um nível intuitivo, ela permanece frágil até que seja compreendida também em um nível mais profundo, filosófico.
Felizmente, existe uma literatura substancial cujo objetivo é promover esse segundo tipo de entendimento, mais robusto. O presente livro pretende contribuir para a literatura em questão, notadamente para essa ramificação dela, representada por nomes como Frédéric Bastiat, Henry Louis Mencken e Henry Hazlitt, que coloca ênfase específica na concisão e na lucidez da mensagem transmitida. É aqui que a forma do aforismo, com o seu dístico de conteúdo máximo em espaço mínimo, torna-se particularmente útil, tendo em vista, acima de tudo, a saudável preferência da era da informação pela brevidade. A beleza de um aforismo é que ele não precisa sacrificar a brevidade pela profundidade, da mesma maneira como a liberdade não precisa sacrificar a eficiência pela equidade: em vez de serem opostas, as suas melhores características se reforçam mutuamente. Nesse sentido, talvez a liberdade seja a mais aforismática das qualidades humanas, e o aforismo, a mais libertária das formas literárias.
A seguinte coleção de aforismos está agrupada em seis conjuntos de tópicos, todos relacionados ao abrangente tema da liberdade — e todos úteis para o destaque das suas variadas facetas. Tal arranjo baseia-se na minha crença de que a natureza elusiva da liberdade, assim como o seu significado único, apenas pode ser plenamente apreciada investigando-se o conceito em questão a partir de uma variedade de perspectivas.
O primeiro conjunto está centrado nos tópicos da economia e do empreendedorismo. A economia é um sólido entendimento da lógica da ação humana, ao passo em que o empreendedorismo é uma sólida aplicação da lógica da ação humana. Em outras palavras, a economia explica os limites intransponíveis impostos à liberdade humana pela inexorável escassez de recursos, ao passo em que o empreendedorismo demonstra o alcance das atividades produtivas e os objetivos benéficos que podem ser alcançados dentro desses limites. Portanto, a economia explica a relação lógica entre liberdade e prosperidade, ao passo em que o empreendedorismo demonstra como aproveitá-la ao máximo. Ambos os tópicos devem ser adequadamente compreendidos para que as bênçãos da liberdade possam ser adequadamente apreciadas: isto é, beneficiar-se da riqueza infinita de oportunidades que ela oferece sem ao mesmo tempo esperar que ela entregue o impossível.
O segundo conjunto trata da relação entre a liberdade e os seus principais inimigos: a autoridade e o poder. Todos os seres humanos são iguais em liberdade — e, portanto, nenhum indivíduo tem o direito de usar a sua liberdade para restringir a liberdade dos outros, nem mesmo podendo delegar esse direito a outrem. Todavia, existe uma crença generalizada de que tal transferência seja permitida e inclusive traga benefícios. Essa crença é o alicerce e a força vital daquilo que é normalmente conhecido como política. Ao dividir a humanidade em governantes e governados, o fenômeno da política revela-se claramente incompatível com o mencionado princípio da igualdade da liberdade, o que sugere a sua natureza essencialmente destrutiva e corruptora. Uma compreensão profunda da natureza da política é necessária para que o fenômeno em questão seja absolutamente rejeitado como uma forma antiquada, incivilizada e extremamente perniciosa de tomada de decisões e, num passo adiante, substituído por alternativas pacíficas, voluntárias e contratuais.
O terceiro conjunto trata destes temas: dinheiro, ganância, igualdade, inveja e caridade. A moeda sólida é, ao mesmo tempo, o fruto e o veículo da liberdade. Ela facilita o comércio, permite o cálculo econômico e serve como proteção contra o futuro incerto. Entretanto, assim como no caso da liberdade, a sua natureza relativamente abstrata muitas vezes faz com que as pessoas apreciem de forma insuficiente os seus benefícios. Essa falta de apreço mostra-se particularmente perigosa quando é motivada e reforçada pelos vícios da ganância e da inveja. Tais vícios, por sua vez, são frequentemente racionalizados como desejos por igualdade material; porém, embora determinados tipos de igualdade sejam necessários para que as vantagens da troca monetária sejam aproveitadas, o tipo aqui referido não se encontra entre eles. Por esse motivo, é importantíssimo fazer as distinções conceituais pertinentes, e a concisão aforismática pode vir a ser, nesse contexto, especialmente útil. Ela também pode auxiliar no esclarecimento da relação entre a criação de moeda e a caridade, relação essa que se encontra no centro da tão incompreendida questão da eficiência e da equidade.
O quarto conjunto está focado no conceito de felicidade e em noções relacionadas. A essência da felicidade é difícil de definir; todavia, independentemente de ser concebida como a satisfação de desejos subjetivos ou como o cultivo de traços de caráter objetivamente desejáveis, a liberdade individual continua sendo o seu pré-requisito indispensável. Ademais, visto que satisfazer os próprios desejos e desenvolver as próprias virtudes nada mais é que concretizar o potencial do próprio livre arbítrio, pode-se até mesmo argumentar que a felicidade, essencialmente, não seja nada além da liberdade utilizada no seu potencial máximo.
O quinto conjunto trata destes temas: estética, cultura e gosto. A cultura é a expressão estética da primazia do indivíduo e, como tal, mostra-se incompatível com instintos tribalistas, sentimentos coletivistas e outras tendências psicológicas hostis à liberdade pessoal. Onde o poder criativo do indivíduo é subjugado aos caprichos das massas, a cultura invariavelmente definha, e basta essa observação para acabar com a noção de que a sobrevivência das “artes elevadas” requeira apoio político — isto é, fomento, subsídio, estímulo por aparatos monopolistas de violência institucionalizada.
Finalmente, o sexto conjunto abrange tópicos como conhecimento, expectativas, ordem e caos. Liberdade e conhecimento florescem juntos, visto que o livre mercado — o fundamento econômico da sociedade civilizada — é um veículo perfeito para disseminar informações dispersas, inclusive de natureza manifestamente local e tácita. Entretanto, para garantir que o fluxo de conhecimento na sociedade permaneça ininterrupto, os seus membros devem ser capazes de reconhecer e rejeitar o pseudoconhecimento, em especial aquele que promete substituir o sistema de livre mercado por algo supostamente mais “racionalmente planejado” ou “cientificamente organizado”. Acreditar em tais promessas, por mais atraentes que possam parecer, invariavelmente conduz à substituição da ordem espontânea de trocas voluntárias pelo caos planejado de decisões coercitivas. Por isso é tão importante cultivar a virtude do bom senso, que permite distinguir entre sabedoria e sofisma, preservando assim tanto a busca do conhecimento genuíno quanto a fruição da liberdade genuína.
Conforme indicado nos parágrafos iniciais deste prefácio, a liberdade é um conceito elusivo e multifacetado, cujo entendimento exige a investigação do seu conteúdo a partir de uma variedade de perspectivas. Ao mesmo tempo, ela é o traço definidor da natureza humana — e a sua apreciação e o seu aproveitamento são a chave para o progresso material, intelectual e moral da nossa civilização. Portanto, não existe tarefa educativa mais perenemente urgente que a de difundir a mensagem da liberdade da forma mais ampla possível. Tenho a esperança de que, no contexto da conclusão desta tarefa, a concisão de um aforismo possa complementar a abrangência de um tratado filosófico e a pungência de um romance. Em outras palavras, espero que a mensagem da liberdade — a essência da nossa vida — seja bastante pertinente para ser transmitida numa forma literária que, no seu melhor, é tão concisa quanto viva.