O ensaio de Friedrich Hayek, “O uso do conhecimento na sociedade”, publicado em 1945 na prestigiada American Economic Review, é frequentemente saudado como uma importante contribuição para a economia. Com razão, porque fornece “carne” importante para o “esqueleto” da teoria de preços. No entanto, os economistas austríacos costumam exagerar sua importância de maneiras que correm o risco de minar a teoria econômica austríaca.
O principal dos exageros é a alegação de que Hayek mostrou em seu ensaio que o sistema de mercado oferece a solução para o problema do conhecimento por meio dos preços. Especificamente, como os preços agregam e disponibilizam informações relevantes sobre as particularidades do tempo e do espaço. O papel dos empresários é, então, ajustar seus empreendimentos de produção às mudanças de preços. Isso, então, constitui a maravilha do mercado, como disse Hayek: que a produção empreendedora responde às mudanças sem precisar conhecer as especificidades dessas mudanças.
Enquanto o ensaio funciona bem como uma crítica da suposição de “informação perfeita” na economia mainstream, que foi indiscutivelmente o propósito de Hayek ao escrever o ensaio, uma leitura misesiana deixa claro que o argumento é, na melhor das hipóteses, incompleto. O raciocínio de Hayek simplifica muito o argumento do cálculo econômico, rebaixa o empreendedorismo para ação responsiva e interpreta erroneamente os preços dos fatores como portadores de informações sobre o passado. Embora estes sejam listados aqui como erros separados, eles representam um único problema central: um mal-entendido ou deturpação do processo de mercado.
Cálculo econômico é um processo
O argumento do cálculo econômico misesiano é muitas vezes mal interpretado como a incapacidade de qualquer economia de alocar racionalmente recursos sem preços. Socialistas de mercado, como Fred Taylor e Oskar Lange, cometeram esse erro. Portanto, como solução, os socialistas de mercado ofereceram um esquema no qual o socialismo poderia ser salvo por meio de uma lista central de preços que os burocratas do conselho de planejamento central atualizariam à medida que fossem observados déficits e excedentes. Existem vários problemas práticos com esta tentativa de solução, mas o problema central é teórico: ela falha em reconhecer que o problema não é uma incapacidade de agregar conhecimento disperso, mas uma incapacidade de lidar com a incerteza do futuro.
O problema de cálculo econômico de Ludwig von Mises não é apenas uma questão de coleta e processamento de informações, mas a questão de enfrentar o futuro incerto em termos de valor. Os investimentos na produção hoje são necessariamente feitos sem saber se e em que medida os consumidores irão valorizar os bens e serviços produzidos. A questão não é a eficiência na produção de bens específicos no presente (que é o papel da administração), mas como decidir quais investimentos devem ser feitos dadas as avaliações futuras desconhecidas. Em outras palavras, os preços dos fatores de hoje não podem representar informações sobre o passado.
Os preços são preços futuros
Os preços dos fatores também não podem representar informações sobre o estado atual do mercado porque a produção em andamento não se destina a satisfazer desejos já realizados, mas desejos que os consumidores terão no futuro. Os preços dos fatores também incorporam julgamentos empresariais sobre quais produções são possíveis. Podemos observar isso facilmente quando novas regulamentações são implementadas, que não afetam a produção atual, mas terão efeito no futuro. Por exemplo, uma proibição de automóveis a gasolina muitos anos no futuro faria com que os preços dos fatores usados na fabricação de automóveis a gasolina caíssem, enquanto os preços dos fatores usados na produção de bens substitutos aumentariam. Este não deveria ser o caso se os preços representam o presente. Em vez disso, deveria ser óbvio que os preços representam expectativas sobre o futuro.
O papel dos empreendedores
O empreendedor está no centro do argumento do cálculo econômico de Mises. Não é apenas uma questão de ajustar a produção a novas informações, se elas podem ser facilmente agregadas e comunicadas, mas um processo de determinação de preços. Nos mercados, os empresários que buscam lucrar com os estados futuros incertos do mercado determinam os preços dos fatores. Como Mises colocou em Ação Humana: “Os empresários, ansiosos por obter lucros, aparecem como licitantes em um leilão, por assim dizer, no qual os proprietários dos fatores de produção colocam à venda terras, bens de capital e mão-de-obra”.
Qual é a base das ofertas competitivas dos empresários por fatores? A base é o valor de avaliação dos bens que pretendem disponibilizar aos consumidores (descontados usando sua taxa de preferência temporal). Em outras palavras, um empresário que espera produzir bens que imagina serem de alto valor para muitos consumidores poderá superar os empresários que avaliam suas produções como de menor valor ou de valor para menos consumidores. A receita futura estimada (ajustada para os retornos exigidos dos empreendedores e taxas de preferência temporal) determina os preços que eles podem e irão oferecer para os fatores no presente.
Este processo de licitação elimina os empresários cujas produções são avaliadas como de valor insuficiente. Esse processo também direciona recursos para mãos mais capazes. No entanto, é importante também determinar os preços dos fatores no presente – com base na avaliação coletiva dos empresários do valor futuro da produção presente. Esta questão está ausente da discussão de Hayek. É também o que está faltando nas tentativas de solução dos socialistas de mercado para o problema de cálculo de Mises.
O argumento incompleto de Hayek
Como Hayek coloca em seu famoso ensaio:
O caráter peculiar do problema de uma ordem econômica racional se caracteriza justamente pelo fato de que o conhecimento das circunstâncias sob as quais temos de agir nunca existe de forma concentrada e integrada, mas apenas como pedaços dispersos de conhecimento incompleto e frequentemente contraditório, distribuídos por diversos indivíduos independentes. O problema econômico da sociedade, portanto, não é meramente um problema de como alocar “determinados” recursos — se por “determinados” entendermos algo que esteja disponível a uma única mente que possa deliberadamente resolver o problema com base nessas informações. Em vez disso, o problema é como garantir que qualquer membro da sociedade fará o melhor uso dos recursos conhecidos, para fins cuja importância relativa apenas estes indivíduos conhecem. Ou, colocando sucintamente, o problema é a utilização de um conhecimento que não está disponível a ninguém em sua totalidade.
Lido como uma crítica à suposição de “informação perfeita” na economia dominante, o argumento de Hayek aponta para um problema importante sobre como a informação é (mal) compreendida. Não é perfeita, mas ao mesmo tempo imperfeita e assimétrica, sempre incompleta e dispersa.
Lendo o ensaio de uma perspectiva misesiana, no entanto, Hayek não apenas direciona a atenção do leitor para uma questão relativamente sem importância, mas, na verdade, deturpa o problema de cálculo e, portanto, o processo de mercado.
Artigo original aqui
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Mises contra Hayek – o socialismo é um problema de propriedade ou de conhecimento?
De modo que a produção de alimentos tende a ser mais estável e previsível por conta do desejo dos consumidores. Somente por conta da intervenção do estado é que todo o aumento da produção e da produtividade na agricultura não reflete em preços cada vez menores ao longo do tempo.
Não gostei muito deste artigo do Per Bylund, é confuso e erra os pontos em discussão. O artigo do Hoppe sobre o assunto é muito mais claro e preciso sobre esta questão. O objeto de Hayek com o artigo não era atacar a ideia de conhecimento perfeito sobre o futuro, e sim explicar porque uma economia onde os fatores de produção são controlados centralmente pelo estado (ou seja, socialismo) não funciona corretamente para alocar os recursos econômicos. Heyek vai pela linha da falta de conhecimento sobre as condições específicas do lugar e do momento em q cada pessoas age e impossibilidade de decisões “centralizadas” lidarem com esse problema, com isso tenta associar os preços como solução disso, porém acaba falhando intelectualmente ao fazer isso, pois os preços não são informações “dispersas”, e a própria informação dispersa ou centralização das decisões (q é bom lembrar, empresas privadas tbm tomam decisões centralizadas) n é o verdadeiro problema do socialismo, como Hoppe explica bem no artigo. Já Mises propõe q a falta de propriedade sobre os fatores de produção (q é onde o socialismo se assenta), será justamente aquilo q fará o socialismo falhar, pois sem propriedade privada sobre os fatores de produção, não haverá mercado de venda e troca deles, sem esse mercado não haverá formação de preços (veja q n é simplesmente dificuldade em saber os preços, mas sim q eles se quer surgem) e sem esse informação dos preços fica impossível de fazer cálculos contábeis de receitas e despesas, não sabendo se está tendo lucro ou prejuízo, e com isso fica do totalmente no escuro nas decisões de como alocar eficientemente os recursos econômicos. Diferente do q Bylund coloca, o problema do socialismo é sim o de saber os preços praticados no passado (especialmente passado recente) e com isso não ter o substrato necessário para alguma ideia de por onde começar o processo de produção. Embora vc tenha esse aspecto da especulação das condições futuras do mercado, sem q vc tenha a informação dos preços de trocas passadas vc simplesmente fica no escuro. Em poucas palavras os preços de trocas passadas são uma condição necessária, em bora n totalmente suficiente, para alocar os recursos econômicos, sem eles se quer é possível ter alguma chance de alocar os recursos eficientemente, pois os produtores n terão por onde começar.
Per Bylund no artigo conseguem errar tanto o posicionamento de Hayek quanto de Mises, não consegue compreender a importância dos preços passados e coloca o foco do problema do socialismo na especulação futura (q é um problema, porém secundário) ao invés de essencialmente na falta de propriedade e da formação de preços de troca, substrato sinequanon e absolutamente indispensável para o funcionamento normal do processo econômico. Embora possa se dar outros motivos para a economia socialista não funcionar, o ponto principal e mais importante é a falta de preços de troca q ocorrerá no passado recente sobre os fatores de produção.
Por mais q se coloque as pessoas mais inteligentes e bem intencionadas para administrar os recursos econômicos estatizados, por mais q vc tente fazer ajustes aqui ou ali com base em tentativa e erro, e por mais q vc consiga usar um super computador (ou IA) para juntar e processar informações “dispersas” sobre as melhores formas de produção, ou seja, mesmo fazendo todo tipo de concessão ao socialismo, q tira os mecanismo corretivos do mercado, como lucro e prejuízo, q incentiva as pessoas a procurarem as melhores formas de produzir, ainda assim, o socialismo falharia por necessidade lógica, pois n haveria a informação dos preços de troca passado, q servem como a base indispensável no processo racional de alocação de recursos, pois no socialismo, n existe a propriedade dos fatores de produção q é o q faz os preços surgirem em primeiro lugar, e portanto o processo de produção n seria nada além de jogar na loteria.
Desculpe os erros de português dos textos anteriores, n da pra editar e corrigir.