Quando houve a cisão no Instituto Mises Brasil em 2015 e nós demos continuidade aos princípios fundadores do instituto com o Instituto Rothbard, uma tradução do livro de Murray Rothbard, Man, Economy and State acabara de ser concluída. No entanto, os anos foram passando e nunca saia a publicação do mais importante tratado de economia desde Ação Humana (1949), de Mises. Mas graças aos Céus, em 2021 a Editora Konkin concluiu a sua tradução independente e publicou o tão aguardado Homem, Economia e Estado – com Poder & Mercado.
Aparentemente o Mises Brasil alegou falta de dinheiro para a publicação deste volume, apesar da tradução já estar concluída, apesar de que neste período eles publicaram livros irrelevantes e antagônicos ao austrolibertarianismo, e apesar do instituto pertencer a um bilionário. Quanto a este último fator, quando eu fazia parte do Mises Brasil tentei priorizar a tradução e publicação desta e de outras obras libertárias e austríacas, chegando até a propor o cancelamento de nossa conferência anual de Escola Austríaca em 2013 para usar os recursos que seriam gastos nela na publicação de livros. Com o custo de uma conferência, seria possível traduzir diversos livros. A conferência não ocorreu naquele ano, retornando apenas em 2014, porém, o homem do dinheiro não soltou a verba poupada com a não realização do evento para ser usada no projeto dos livros.
Mais tempo passou e no dia de hoje o Mises Brasil está publicando a sua edição de Man, Economy and State, porém com um “detalhe” no mínimo curioso. Em uma decisão sui generis, eles escolheram alterar o título da obra e ao invés de traduzirem Man por Homem, colocaram o termo Indivíduo no lugar. Então hoje estamos testemunhando a publicação do livro Indivíduo, Economia e Estado, de Murray N. Rothbard.
Ora, o termo Homem não é uma mera opção estética: o axioma “O homem age” é a base apriorística de toda a praxeologia. Mises usou o termo “agente homem” no seu Ação Humana (ou, provavelmente, Ação Individual na próxima edição). Por que alterar? Eu só ouvi uma explicação que fez sentido para esta inusitada mudança do título, e o motivo é ultrajante. A opção pela substituição do termo Homem foi para não molestar a lacração woke, que considera machismo o uso do substantivo masculino para designar a espécie humana. Isto é algo tão medonho que a primeira coisa que me fez lembrar foi do asqueroso ditador progressista do Canadá, Justin Trudeau, corrigindo uma estudante que usou o termo ‘mankind’ enquanto formulava uma pergunta para ele. Trudeau disse que preferia o termo mais inclusivo ‘peoplekind’!
E por que esta explicação faz sentido? Por tudo que temos visto daquele instituto nos últimos anos, um esforço constante de pertencer e não enfrentar o mainstream, que aliás foi a principal razão da separação, que ocorreu precipitada pela proibição do tema “secessão” após a vitória de Dilma nas eleições presidenciais de 2014 – ou seja, o melhor momento possível para falar ainda mais sobre secessão. Mas Helio Beltrão dizia que falar sobre secessão naquele momento faria com que fôssemos enxergados como xenófobos, racistas e sei lá mais o que. Enxergados por quem? Essa é a questão… Enxergados pela Folha, a Globo, a CNN. Após esta gota d’água, abrimos mão do financiamento do bilionário e seguimos caminhos separados. E não tardou muito para que a decisão de Beltrão rendesse os frutos que ele esperava. Tempos depois da cisão ele se tornou colunista da Folha e comentarista da Globo – como eu comentei em um artigo do começo do ano passado, deméritos absolutos. O nível de conformidade que uma pessoa precisa se sujeitar para ser aceita nesses meios é absolutamente degradante. E a coisa piorou, se é que é possível. Hoje Beltrão é comentarista da CNN!
Há muitos anos que eu não assisto nada do esgoto de propaganda esquerdista que é a mídia tradicional; eu simplesmente não tenho estômago para isso. Mais recentemente, muitas pessoas que não são libertárias como eu também pararam de consumir a grande imprensa. São conservadores, direitistas, bolsonaristas ou qualquer pessoa que tenha percebido que está diante de uma máquina de doutrinação e não de um canal de notícias. A audiência desses veículos despencou; mas está longe de ser zero e ter a irrelevância que merecem. Por isso não acho ruim que neles tenha pelo menos um comentarista que faça um contraponto às ideias socialistas e narrativas progressistas.
Porém, acompanhei um seguimento com a participação de Beltrão e concordei com tudo o que ele disse. Não tenho dúvidas de que ele esteja entre os melhores (ou menos piores, como preferirem) comentaristas da CNN, assim como deveria ser um dos melhores da Globonews e da Folha. Afinal, ele é alguém que via de regra está lá dando pontos de vista liberais sobre os temas abordados, algo raríssimo nestes meios tomados por socialistas. Por exemplo, o comentarista que falou depois de Beltrão foi o Joel Pinheiro da Fonseca, e de tão asqueroso que era o que saia da boca dele eu precisei mudar de canal para não dar um soco na tv e destruir o aparelho. Beltrão é mil vezes melhor que Pinheiro da Fonseca. … o problema é que ele está lá como presidente do Mises Brasil, como um representante do austrolibertarianismo! Alguém consegue imaginar Lew Rockwell, chairman do Mises Institute do Alabama, sendo comentarista da MSNBC ou da CNN? Isto é impossível. Nem na FoxNews, que é um canal autenticamente de direita, ele é aceito.
Nas discussões que se seguiram a decisão da cisão do instituto em 2015, eu e meus irmãos insistimos para ficarmos com o Mises Brasil. Entendemos que Beltrão queria coisas diferentes da ideia original inspirada no Mises Institute, diferente do que vínhamos fazendo até então. Dissemos à ele que também havia espaço para um libertarianismo mais “inclusivo” e uma economia mais diversificada que ele queria, ao invés da estrita economia misesiana/rothbardiana (praxeologia) que é a proposta do Mises Institute e continuou sendo a do Instituto Rothbard. Aliás, existe muito mais espaço para este liberalismo complacente do que para o libertarianismo intransigente, de princípios. E como era ele quem queria mudar as coisas, o mais óbvio e correto seria ele sair e começar um projeto novo. Mas ele insistiu em ficar com o Mises Brasil para ele, e como ele sempre havia sido o financiador, e por isso já se considerava o dono, acabou usando clausulas inclusas no financiamento para nos expulsar.
Péssima ideia. Com o dinheiro que ele tem, poderia ter criado algo com a cara dele, ao invés de perverter o Mises Brasil e com isso desvirtuar todo o movimento austrolibertário brasileiro. Inclusive a associação de Beltrão com o radicalismo do Mises Institute e de pessoas como Lew Rockwell é péssima para as pretensões dele. Já ouvi dizer que essa carreira de comentarista da grande mídia de Beltrão seria parte de um plano que ele traçou para ser o candidato a presidente pelo partido Novo em 2026. Seria a segunda tentativa dele de obter um cargo político, pois já entrou na chapa do candidato a prefeito de São Paulo em 2020, o covidiota Arthur do Val (Mamãe Falei). Agora imaginem se entrando para valer no lamaçal político seus adversários não iriam apurar que o cargo que ele ocupa aqui é equivalente ao de Rockwell nos EUA, que é um “negacionista da covid”, “antivacina”, “secessionista xenófobo”, “conspiracionista”, “pró drogas”, “racista”, “bebe e dirige” e tantas outras coisas (libertárias, corretas e heroicas) que Beltrão fez de tudo para desvencilhar-se, ao remodelar o meu antigo instituto.
Trocar Homem por Indivíduo terá sido em vão. Nem se na segunda edição eles trocarem Indivíduo por Indivídue vai adiantar alguma coisa. Enquanto isso, Murray, que foi um ferrenho arqui-inimigo do progressismo, se revira no túmulo.
Ele é mais um entre tantos libertários brasileiros que só querem “ser amados”, um entre tantos que, por exemplo, durante a fraudemia, sugeriam ideias brilhantes como “fiscalizar doses da vacina usando a blockchain”, e outras vergonhas do gênero.
Dessa eu não sabia.
Uma que eu vi foi o Beltrão indo em um podcast de máscara. Ele ficou com a máscara abaixada no queixo a entrevista toda sinalizando virtude mostrando que ele foi até lá de máscara e só abaixou para falar no microfone e disse que ele sabia que as máscaras eram a solução, que se todos usassem máscara, a “terrível pandemia” acabaria.
Alguém tinha que fazer um vídeo reunindo os clips de todas as vergonhas desse cara. É muita coisa.
PQP! Que fase…
Quando eu vi a edição de Homem, Economia e Estado da LVM, me perguntei o motivo de estar “indivíduo” ao invés de “Homem”. Após ler esse artigo, agora tudo faz sentido.
O que Ron Paul diria do Helio Beltrão na política? Ron Paul sentiria vergonha de tudo que esse pessoal do Mises Brasil e Partido Novo estão fazendo. Isso é uma decadência do movimento liberal no Brasil. Esse pessoal está fora da realidade.
Não me surpreendo mais nada com o esgoto que é a Direita SA brasileira (IFL, IEE, Institutos Liberais, Stupidos for Liberty, Instituto Millenium, Mises Brasil, Centro de Liberdade Econômica do Mackenzie, Livres, Novo, acadêmico, ativistas e alunos auto intitulados de “liberais”), que é uma cópia da Direita SA americana (libertarios de esquerda, neoconservadores, centristas e reaganistas). Todos estes grupos são contraditórios, falsários e defensores do status quo.
Fico imaginando aqui o que a tal Mises Academy vai produzir de estragos na cabeça de inocentes estudantes, que mal sabem economia, ética ou história das ideias. Não vai ser pequeno este estrago!
O Mises do Alabama se envolveu esta controérsia? tempos atrás eu li um artigo no Mises.org que colocava o Rothbard Brasil ao lado do Mises Brasil como instituições para formar uma nova direita. Mas era um artigo de opinião…
Eu costumava acessar o site, porque há ainda bons artigos (como os do Leandro Roque) e bons comentaristas. Até sou grato por eles terem publicado um artigo meu lá (embora tivesse recebido algumas alterações).
Mas aí, nas últimas semanas, simplesmente mudaram o layout do site, o que ficou catastrófico.
Agora não consigo mais acessar comentários antigos e afins.
Nem há mais artigos novos. Apenas estão repetindo textos publicados há anos.
De fato, esse novo layout do Mises é tosca e bugada, estão andando revisando e corrigindo os erros, mas não se sabe o porquê deles terem sequer alterado ela sendo que já estava basicamente perfeita do jeito que estava.
Leandro Roque faz uma falta imensa!