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33. A natureza do Socialismo

Mateusz Machaj

[Mateusz Machaj (mateusz.machaj@mises.pl) é Instrutor de Economia na Universidade de Wroclaw na Polônia]

 

Ao dificultar e, ainda mais, ao tornar completamente ilegal que empreendedores privados façam uma oferta de compra dos meios de produção para aqueles que os controlam, um sistema de produção socializada impede que as oportunidades de melhoria sejam aproveitadas na mesma medida em que são percebidas.

-Hans-Hermann Hoppe[1]

Conheci o professor Hans-Hermann Hoppe em 2003, quando ele visitou a Polônia para uma conferência libertária. A maioria dos participantes estava interessada em questões normativas e filosofia política, enquanto muito poucos estavam interessados ​​na economia austríaca. Consequentemente, eu fui coincidentemente o único a me envolver com o Professor Hoppe em extensas discussões sobre as teorias da Escola Austríaca. Descaradamente, não hesitei em consumir seu tempo para o benefício pessoal de aprender mais sobre economia com um dos seguidores mais importantes de Rothbard. Depois dessa reunião, a sorte continuou a sorrir para mim – aconteceu que, apesar da distância geográfica substancial, tenho desfrutado de conversas produtivas com meu mentor alemão pelo menos algumas vezes por ano.

Um dos meus livros favoritos, e entre os mais importantes para o meu desenvolvimento intelectual, foi Uma Teoria do Socialismo e do Capitalismo de Hoppe, que poderia ser chamado de “economia da propriedade numa única lição” e, na opinião deste autor, é tão importante como introdução à economia austríaca quanto o clássico de Hazlitt. Depois de ler o livro de Hoppe, entende-se que a economia política e a análise comparativa dos sistemas econômicos tratam dos efeitos externos de diferentes regimes de propriedade. Como Hoppe prova, a sociedade e a economia são elas próprias grandes efeitos externos positivos da propriedade privada[2], enquanto o socialismo e o intervencionismo estão associados a efeitos externos negativos que eventualmente levam à destruição da sociedade e da economia.[3] Gostaríamos de seguir os insights de Hoppe aqui: este artigo tenta reformular o argumento do cálculo de Mises em um argumento de propriedade. A propriedade privada oferece efeitos externos enormes e positivos que desaparecerão uma vez que for abolida.

Uma analogia ruim e boa

Imagine um concurso de dança em que um grupo de jurados está avaliando os dançarinos. São necessários três elementos essenciais, sem os quais qualquer julgamento desse tipo não seria possível. O primeiro é um sistema de numeração cardinal. Cada juiz tem certas avaliações qualitativas sobre cada desempenho; ele poderia classificar todas as apresentações em ordem de acordo com sua opinião. No entanto, não haveria como comparar essas avaliações individuais entre si sem a existência de um denominador comum. O uso de números cardinais tem essa função. Os números oferecidos pelos juízes são simplesmente somados, e o resultado final nos mostra uma classificação de todas as performances.

O segundo elemento, necessariamente conectado a esses números, é uma quase “competição” entre as opiniões dos juízes. Obviamente, se todos os juízes expressassem a mesma opinião, não haveria sentido em ter mais de um. Até certo ponto, eles diferem e fazem julgamentos diferentes (mesmo que possam terminar com a mesma conclusão). Ter mais de um juiz justifica o uso de classificações numéricas, pois estas servirão como denominador quantitativo comum para todas as opiniões qualitativas. Se houvesse apenas um juiz, não precisaríamos de números cardinais, pois ele poderia apenas classificar os desempenhos sem atribuir números cardinais a eles.

O terceiro elemento essencial é um conjunto de regras e restrições. Os juízes atuam dentro de certos limites estabelecidos pelas regras. Por exemplo, eles são limitados pela escolha de números entre 1 e 10 e, portanto, não podem estender sua pontuação infinitamente. Além disso, nenhum juiz pode anular a decisão de outro juiz, e não há juiz supremo que atribuiria números possíveis a outros juízes de nível inferior. Caso contrário, se houvesse um juiz final, por exemplo, permitindo que os juízes usassem apenas certos números, então ele certamente decidiria a avaliação final, e não os próprios juízes. Sob essa condição absurda, o processo de decisão se resumiria a um processo em que nem os juízes de nível inferior nem os números que eles usam seriam necessários. A situação em vigor seria idêntica àquela em que um único juiz avalia o desempenho com base em suas preferências. Nesse caso, a avaliação qualitativa pode substituir a numérica.

Esses três elementos são integrados e não podem existir um sem o outro. Sem números, não pode haver denominador comum para todas as avaliações qualitativas. Se os juízes não divergem em suas avaliações, então não há sentido em usar números em primeiro lugar. (O uso de um denominador não seria necessário.) E se não houver regras relativas à avaliação numérica, o processo inteiro não fará sentido.

Por mais trivial que possa parecer, isto na verdade nos fornece uma demonstração da diferença entre socialismo e capitalismo. Eu chamo essa analogia de “analogia ruim e boa”, porque é boa e ruim. É boa, porque demonstra algumas conexões que também estão presentes na economia capitalista. A analogia também é muito ruim, pois o processo de mercado pouco tem em comum com uma competição de dança; portanto, a analogia pode ser facilmente mal interpretada.

Cálculo no capitalismo: a analogia aplicada

O objetivo deste artigo é apontar que as “relações de preços”, como relações numéricas per se, não são o elemento-chave na análise do socialismo, pois é uma estrutura de propriedade que o diferencia do capitalismo. Embora a analogia do concurso acima não descreva exatamente o processo de mercado, podemos dar sentido a algumas observações a respeito. O próprio mercado está necessariamente vinculado a três elementos interligados, que não podem existir separados: o cálculo econômico, a divisão intelectual do trabalho e as restrições da propriedade privada.[4]

O cálculo econômico permite a comparação de muitas maneiras diferentes de produzir coisas. Imagine que se queira produzir uma mesa – o leque de possibilidades é enorme. Pode-se usar diferentes ferramentas, máquinas, recursos ou trabalhadores. Todos esses são heterogêneos e não podem ser somados em termos físicos ou horas de trabalho. Felizmente, existe o cálculo econômico – todos os fatores têm seus preços monetários, portanto, pode-se somá-los em termos de dinheiro e então decidir qual decisão é a mais econômica. Nesse sentido, as unidades monetárias são uma forma de “medir” a quantidade de fatores de produção usados, que não podem ser expressos juntos em uma unidade física.

O termo divisão intelectual do trabalho transmite a ideia de que diferentes empresários têm sua própria propriedade e que competem dentro dos limites da propriedade por fatores de produção. Cada um deles especula e avalia as condições do mercado. A competição entre eles permite que os fatores sejam avaliados em termos de dinheiro. O cálculo torna-se o elo que conecta diferentes oportunidades e expectativas empresariais. Sem a concorrência transmitida por meio de preços dessa forma, não haveria motivo para o cálculo econômico.[5]

O terceiro grupo de elementos, restrições de propriedade privada, é um conjunto de regras sem as quais o processo de competição não poderia ser realizado. Cada empresário controla o capital monetário e os fatores de sua propriedade – sua tomada de decisão econômica sobre esses recursos escassos é a força motriz para o emprego bem-sucedido dos fatores. Ele não decide sobre todos os outros fatores, e suas decisões atuais terão um efeito importante sobre sua renda futura. Isso introduz um limite real em suas escolhas, pois ele pessoalmente perderá ou ganhará no processo de competição (em termos de propriedade). Somente por causa dessa influência a divisão intelectual do trabalho pode ter efeitos reais na economia. O proprietário de determinados recursos está tomando uma decisão apenas sobre um pequeno elemento de toda a economia, uma vez que apenas ele controla sua propriedade, e não a propriedade de outras pessoas. Nesse sentido, a divisão intelectual do trabalho é moldada pela distribuição da propriedade. Sem essa divisão de propriedade, não poderíamos falar de divisão empresarial do trabalho.

Os sistemas socialistas diferem do processo capitalista pelo estabelecimento de um proprietário compulsório, que se torna o tomador de decisão final no sistema econômico.[6] As consequências dessa etapa são inevitáveis, pois sem propriedade privada não pode haver divisão intelectual do trabalho. Em vez do processo de mercado, há uma exclusão física e compulsória da concorrência, que substitui o mercado por um processo de tomada de decisão superior, direcionando as alocações dos fatores. O proprietário central não determina o valor dos fatores de produção como o faz o processo de mercado, porque ele não tem meios de relacionar sua avaliação a outras oportunidades que possam ter sido percebidas por outros empresários. Não há base para a discriminação quantitativa entre projetos de produção, pois só pode haver uma avaliação ordinal direta deles (uma avaliação de processos totalmente integrados verticalmente). O chamado “processo de avaliação social” é abolido quando a propriedade privada é abolida.[7]

Possíveis respostas e réplicas sugeridas

Os socialistas responderam ao desafio de Mises de muitas maneiras diferentes. Infelizmente, em sua crítica ele se concentra demais em apenas um aspecto do problema, a saber, o cálculo econômico. Na seção anterior, o argumento de Mises foi reformulado principalmente em termos da seguinte ênfase: agora mudamos o foco dos preços para a divisão intelectual do trabalho como um produto da distribuição da propriedade.

O socialismo é um sistema organizado por um proprietário, onde não há empreendedores competindo pelo uso mais valioso dos recursos. Mesmo que um proprietário estabeleça algum sistema numérico, isso em nada difere de uma escala de preferências de todas as maneiras possíveis de produzir coisas. Esses “preços” administrados centralmente não mudam nada, uma vez que um proprietário os estabelece, um proprietário age sobre eles e um proprietário os altera ex post. Desde o início, ele emprega os gerentes (não há mercado para controle corporativo) e decide aquilo que nos livros contábeis é registado como lucros e prejuízos. Em contraste, os preços da economia de mercado são o resultado de diferentes ações de proprietários concorrentes e esta é a sua natureza: como um denominador comum para diferentes avaliações de propriedades.[8] Se apenas um proprietário estabelece preços, eles perdem sua característica básica como um denominador para o processo de competição e se tornam apenas a expressão das preferências de um proprietário (portanto, eles não podem ser usados ​​como um indicador econômico independente).[9] Usar preços em um sistema socialista é equivalente a uma classificação ordinal direta dos processos por um planejador central.

Vamos agora considerar algumas respostas a Mises:

  1. Abolir a propriedade e deixar os preços para os fatores

Isso certamente possibilita o cálculo, mas não nos leva muito longe, pois os preços por si só não bastam. Junto com os preços, são necessárias decisões de alocação, que então reconstruirão o sistema de preços. Em um sistema capitalista, as expectativas e decisões de propriedade dos proprietários concorrentes reorganizam constantemente os preços. Nos sistemas socialistas, temos um proprietário e preços capitalistas anteriores. Mas o que vem a seguir? Como um planejador deve agir sobre esses preços ou reformulá-los? A competição não se baseia na existência de preços passados, mas em especulações sobre o estado futuro do mercado.[10] Só porque alguns preços existiam no passado não resolve o problema de cálculo econômico proposto por Mises.[11]

  1. Uma solução matemática[12]

Não temos espaço aqui para criticar a abordagem matemática, mas aproveitamos a oportunidade para rejeitar o mito de que Barone resolveu o problema no papel. Uma citação totalmente negligenciada in extenso da fonte deve ser suficiente:

Muitos dos escritores que criticaram o coletivismo hesitaram em usar como evidência as dificuldades práticas em estabelecer no papel os vários equivalentes; mas parece que não perceberam quais são realmente as dificuldades – ou, mais francamente, a impossibilidade – de resolver tais equações a priori. Se, por um momento, assumirmos que a variabilidade econômica dos coeficientes técnicos pode ser desprezada e levarmos em consideração apenas sua variabilidade técnica, não é impossível resolver no papel as equações de equilíbrio…. Mas é francamente inconcebível que a determinação econômica dos coeficientes técnicos possa ser feita a priori, de modo a satisfazer a condição de custo mínimo de produção, condição essencial para obter aquele máximo a que nos referimos. Esta variabilidade econômica dos coeficientes técnicos é certamente negligenciada pelos coletivistas…. A determinação dos coeficientes economicamente mais vantajosos só pode ser feita de forma experimental: e não em pequena escala, como poderia ser feito em laboratório; mas com experimentos em grande escala.

Alguns escritores coletivistas, lamentando a destruição contínua de empresas (aquelas com custos mais elevados) pela livre concorrência, pensam que a criação de empresas a serem destruídas posteriormente pode ser evitada, e esperam que com a produção organizada seja possível evitar a dissipação e destruição de riqueza que tais experimentos envolviam, e que eles acreditam ser característica peculiar da produção “anarquista”. Desse modo, esses escritores simplesmente mostram que não têm uma ideia clara do que realmente é a produção, e que nem mesmo estão dispostos a se aprofundar um pouco mais no problema que concernirá ao Ministério que se estabelecerá para este propósito no Estado Coletivista.[13]

  1. A decisão coletivista[14]

Nesta proposição, o planejador deve empregar especialistas, talvez ex-empreendedores e homens de negócio; sentando-se ao redor de uma mesa, devem decidir qual gama de processos de produção seria a melhor (ou, como no caso do socialismo democrático, isso poderia ser colocado em votação). Como vimos acima, este seria apenas um jogo de papel, uma vez que o processo competitivo real requer que cada participante do mercado possua alguns recursos e por suas expectativas e antecipações, dentro dos limites da propriedade, concorra com outros por mais propriedade. Como um planejador e seus funcionários determinam a gama de processos de produção na ausência de demanda competitiva e exclusão com base em limites de propriedade, seu esforço é de natureza completamente diferente do capitalismo. Não existe competição neste cenário, pois a “competição” nele é tão real quanto aquela entre crianças que, sem fundos, licitam no leilão. Nossa analogia “boa e ruim” nos mostra que os jurados no concurso de dança devem agir dentro de limites numéricos devidamente definidos. De forma semelhante, os empreendedores estão agindo dentro de limites reais – possibilidade de controle de recursos. Se eles se sentarem à mesa sem o limite estabelecido pelas restrições de propriedade, como podem competir e licitar pelos fatores? Como alguém pode discriminar dentro de proposições e sugestões simples? O fato de que o serviço público difere das transações comerciais no mercado não decorre do problema de incentivos, ou da vaidade dos funcionários públicos. O problema está exatamente na diferença entre atuar no papel e realmente licitar preços com o uso da propriedade. Caso contrário, o processo de licitação não é de forma alguma diferente de um jogo de Banco Imobiliário.[15]

  1. O planejador central deve introduzir competição entre gestores de empresas públicas[16]

Essa solução pressupõe erroneamente que o empreendedorismo é resultado de gestão, não de controle. Ignora o fato de que o empreendedorismo é o resultado de ser um proprietário, controlador supremo, ou seja, o tomador de decisão final.[17] Naturalmente, no capitalismo, os proprietários podem delegar a outros a autoridade de agir em seu nome, mas isso não muda a natureza do empreendedorismo, ou seja, o controle final de um recurso particular.[18] Mas essa característica muda sob o socialismo, onde apenas um proprietário delega a responsabilidade pelas decisões aos subordinados na economia. Seguindo nossa analogia com a dança, se houvesse uma pessoa decidindo qual juiz deveria usar qual número, então seria óbvio quem está, de fato, fazendo a avaliação. É exatamente o mesmo caso da “competição” entre os gerentes, já que todos eles têm o mesmo chefe. O planejador central nomeia os gerentes; o planejador central decide sobre os salários. O planejador central decide sobre a estrutura das indústrias, sobre qual parte será controlada pelo gerente e como determinados estoques podem ser afetados. Certamente, é ele quem decide em última instância, embora possa transferir algumas de suas funções para seus subordinados. Isso não muda o fato de que todo o sistema está sujeito à ação de uma única vontade.[19] Não existe mercado de capitais, não existe mercado de terras e imóveis, não existe mercado de ativos, nem mercado de controle societário. Da mesma forma, embora os gerentes no capitalismo controlem os recursos até certo ponto (o que cria uma possibilidade para problemas de agência), em última análise, os proprietários ainda controlam os ativos.

  1. Os preços socialistas devem ser preços contábeis, equilibrando a quantidade demandada e a quantidade ofertada

Essa proposição deveria ser misturada com a anterior; no entanto, lidaremos com eles separadamente. Especificamente, Taylor, e Lange depois dele, sugeriram que os preços deveriam ser indicadores que respondiam a quantidades físicas.[20] Se os martelos se acumulam em um depósito, o planejador central deve reduzir o preço. Se a entrega atrasar, o planejador deve aumentar o preço. No entanto, o problema observado anteriormente ainda permanece: as decisões sobre todas as estruturas industriais, empregos e ações possíveis são estabelecidas desde o início pelo planejador central. Nada, nesse sentido, é resultado do processo competitivo. Ele, é claro, deve instruir seus subordinados sobre como agir usando seu “sistema de preços” inventado. As instruções para os gerentes sobre as regras a serem seguidas são fornecidas pelo próprio planejador. Essas duas decisões causarão excedentes e escassez em algum lugar, de modo que o planejador central terá que ajustar continuamente suas proporções para chegar à contabilidade que equaliza a quantidade demandada com a quantidade ofertada. Mas o que isso significa exatamente? Cada fator em uma fábrica não está sujeito à decisão do planejador central? Cada fator já foi considerado no plano central – o que significa, então, um “excedente” ou “escassez”? O planejador decide quando e como os preços devem mudar – ele então estabelece seus limites e ajusta suas decisões às suas próprias decisões (no sistema capitalista, um mecanismo de precificação para um empreendedor é um mecanismo de ajustar suas ações às ações de outros no área da divisão intelectual do trabalho).

Além disso, não existem “falências” verdadeiras como as vemos no sistema capitalista. Os “prejuízos” no capitalismo estão ligados a um rearranjo de propriedade, pois os custos que são maiores do que os preços causam a liquidação – uma transferência de ativos entre partes diferentes. Nada disso está presente no socialismo, uma vez que um único proprietário toma todas as decisões sobre a administração oficial de preços, distribuição de fatores, e empregos alternativos. Vemos então que tudo é derivado da decisão final do planejador central. Além disso, é útil ressaltar que um processo de produção não é instantâneo. Em outras palavras, só porque alguns fatores ou bens ficam estocados por um determinado tempo, não utilizados a todo momento, não significa que tal estocagem seja antieconômica. No capitalismo, esse estoque está dentro dos limites da divisão intelectual do trabalho. No socialismo, é um produto do uso impositivo de força agressiva. Ou, em outras palavras, as categorias de escassez e excesso não são simples categorias contábeis e físicas, mas fenômenos econômicos complexos julgados pelos empresários dentro da estrutura de avaliação monetária.

Conclusão

A argumentação sobre o caos econômico decorrente da implantação do socialismo (entendido como proprietário único compulsório) foi reafirmada neste artigo. Foi mostrado que a deficiência econômica do socialismo não resulta da falta de um sistema numérico; na verdade, decorre de características essenciais do socialismo. Socialismo significa ditadura, necessariamente sobrevive como ditadura, e nenhuma proporção contábil produzida centralmente mudará esse fato. Como tal, a competição é literalmente impossível sob o socialismo, e isso não pode ser mudado pela introdução de índices contábeis administrados centralmente.

 

_____________________________

Notas

[1] Hans-Hermann Hoppe, A Theory of Socialism and Capitalism: Economics, Politics, and Ethics (Londres: Kluwer, 1989), p. 28.

[2] Um lema da Property and Freedom Society de Hoppe é o aforismo de Bastiat: “A propriedade não existe porque existem leis, mas as leis existem porque existe propriedade.” Frédéric Bastiat, “Property and Law”, em Selected Essays on Political Economy, Seymour Cain, trad., George B. De Huszar, ed. (Irvington-on-Hudson, Nova York: Foundation for Economic Education, 1995 [1848]).

[3] Curiosamente, costuma-se argumentar que os economistas favoráveis ao livre mercado, ao contrário dos mais intervencionistas, ignoram os “efeitos externos”. Na verdade, a afirmação oposta é verdadeira. Os economistas do livre mercado analisam esses elementos em detalhes, mas talvez não usem o termo “efeitos externos” com muita frequência. Por outro lado, os teóricos intervencionistas usam o termo com bastante frequência, mas geralmente ignoram completamente os efeitos externos da agressão institucionalizada em suas análises. Este defeito está completamente ausente das obras de Hoppe.

[4] O termo “divisão intelectual do trabalho” foi usado por Mises. Ludwig von Mises, Economic Calculation in the Socialist Commonwealth (Auburn, Ala.: Mises Institute, 1990), p. 18. Ver também a grande obra de misesiano Joseph Salerno, “Ludwig von Mises as Social Rationalist,” Review of Austrian Economics 4 (1990). No Socialismo de Mises, o termo foi traduzido como “divisão mental do trabalho”. Ludwig von Mises, Socialism: An Economic and Sociological Analysis (New Haven, Conn.: Yale University Press, 1951), p. 118. Ambos os termos podem ser enganosos – seria melhor usar o termo “divisão empresarial do trabalho”, como discuto em meu “Market Socialism and the Property Problem: Different Perspective of the Socialist Calculation Debate”, Quarterly Journal of Austrian Economics 10, no. 4 (dezembro de 2007): pp. 257–80.

[5] Diferentes empresas existem por causa da competição dentro do mundo incerto; isso difere da visão coasiana de que certos custos monetários causam a existência de empresas. Ver Ronald H. Coase, “The Nature of the Firm”, Economica 4, no. 16 (1937).

[6] Escreve Mises:

A marca essencial do socialismo é que uma só vontade age. É irrelevante a vontade de quem seja. O diretor pode ser um rei ungido ou um ditador, governando em virtude de seu carisma, ele pode ser um Führer ou uma junta de Führers nomeada pelo voto do povo. O principal é que o emprego de todos os fatores de produção é dirigido por apenas uma agência.

Ludwig von Mises, Human Action: A Treatise on Economics (Chicago: Contemporary Books, 1966), p. 695.

[7] Este é o termo usado por Salerno, “Ludwig von Mises as Social Rationalist.”

[8] Ver também Jeffrey M. Herbener, “Calculation and the Question of Arithmetic”, Review of Austrian Economics 9, no. 1 (1996): pp. 151–62.

[9] Sobre este ponto, ver G.D.H. Cole, Economic Planning (Nova York: Kennikat Press, 1971), pp. 183-85; Walter Eucken e Terence H. Hutchinson, “On the Theory of the Centrally Administrated Economy: An Analysis of the German Experiment. Part I,” Economica, n.s. 15, no. 58 (1948); idem, “On the Theory of the Centrally Administrated Economy: An Analysis of the German Experiment. Part II,” Economica, n.s. 15, no. 59 (1948); Morris Bornstein, “The Soviet Price System”, American Economic Review 52, ​​no. 1 (1962).

[10] Ver Mises, Human Action, p. 58:

“A compreensão não é privilégio dos historiadores. É assunto de todos. Ao observar as condições de seu ambiente, todos são historiadores. Todos usam a compreensão para lidar com a incerteza de eventos futuros aos quais eles devem ajustar suas próprias ações. O raciocínio distinto do especulador é uma compreensão da relevância dos vários fatores que determinam os eventos futuros. E – vamos enfatizar isso mesmo neste ponto inicial de nossas investigações – a ação necessariamente sempre visa o futuro e, portanto, condições incertas; e, portanto, é sempre especulação. O agente homem olha, por assim dizer, para o futuro com os olhos de um historiador.”

[11] Para a resposta de Mises às críticas iniciais que foram particularmente fracas, ver Ludwig von Mises, “New Contributions to the Problem of Socialist Economic Calculation”, em Richard Ebeling, ed., Selected Writings of Ludwig von Mises: Between the Two World Wars: Monetary Disorder, Interventionism, Socialism, and the Great Depression (Indianapolis, Liberty Fund, 2002).

[12] Às vezes indevidamente misturada com um modelo dinâmico de socialismo de mercado.

[13] Enrico Barone, “The Ministry of Production in the Collectivist State”, em F.A. Hayek, ed. Collectivist Economy Planning (Londres: Routledge and Kegan Paul, 1935 [1908]), p. 287; enfase adicionada.

[14] Ver, por exemplo, G.D.H. Cole, Chaos and Order in Industry (Londres: Metheun & Co. Ltd., 1920).

[15] Podemos repetir aqui a frase de Mises “mercado de brincadeirinha”. Mises, Human Action, p. 709.

[16] Isso foi sugerido especialmente por Oscar Lange e Fred M. Taylor, On the Economic Theory of Socialism (Nova York: McGraw-Hill, 1956).

[17] Curiosamente, outro brilhante economista austríaco, Israel Kirzner, parece cometer a mesma falácia. Seu erro é o resultado de “confundir a categoria de empreendedorismo tal como ela é definida na construção imaginária da distribuição funcional com as condições de uma economia viva e operacional”. Ver o argumento de Mises sobre isso, em Human Action, p. 306.

[18] Para uma aplicação disso à moderna teoria das corporações no que se refere ao insider trading, consultar Henry G. Manne, Insider Trading and the Stock Market (Nova York: The Free Press, 1966).

[19] Mais uma vez, ver sobre este assunto Cole, Economic Planning; Eucken e Hutchinson, ” “On

the Theory of the Centrally Administrated Economy” (Partes I e II); e Bornstein, “The Soviet Price System”.

[20] Fred Taylor, “The Guidance of Production in a Socialist State,” American Economic Review 19, no. 1 (1929).

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