O estudo desses casos tem, também, o valor de um choque considerável. Ao tomar implacavelmente casos “extremos”, um após outro, o que, sem dúvida, choca a sensibilidade do leitor, o prof. Block força o leitor a pensar, a repensar suas reações emocionais iniciais de reflexo e a alcançar uma nova e muito mais ampla apreciação da teoria econômica e das virtudes e transações da economia de livre mercado. Mesmo muitos leitores que hoje pensam que acreditam num livre mercado, devem, agora, estar preparados para apreender completamente as implicações lógicas da crença numa economia livre. Este livro será uma aventura excitante e chocante para a maioria dos leitores, inclusive aqueles que já se acreditam convertidos aos méritos da economia de livre mercado.
Certo, poderiam admitir alguns leitores, concordamos que essas pessoas estão executando serviços econômicos de valor. Mas, céus, por que chamá-los de “heróis”? Mas em quê o cafetão ou o médico charlatão são mais “heroicos” – e, portanto, de alguma forma mais morais – do que outros produtores mais respeitáveis, como os donos de armazéns, os que produzem ou vendem roupas, os fabricantes de aço etc.? A explicação está precisamente na extrema falta de respeitabilidade dos bodes expiatórios do prof. Block. Pois ao dono do armazém, ao produtor de aço e aos outros, é permitido exercerem seus negócios sem serem molestados, e até mesmo ganham respeito e prestígio de seus colegas membros da comunidade. Os bodes expiatórios, não. Pois, não só seus serviços econômicos não são reconhecidos, como também enfrentam a bílis, o desprezo e a ira universais de praticamente todos os membros da sociedade, bem como, além disso, as restrições e proibições que os governos, quase que universalmente, impõem a suas atividades. Impiedosamente desprezados e condenados, tanto pela sociedade como pelo estado, como proscritos sociais e foras da lei proclamados pelo estado, a coletânea de bodes expiatórios do prof. Block exerce seu trabalho haja o que houver, continuando heroicamente a prestar seus serviços econômicos, apesar do desprezo universal e da ilegalidade. São heróis, mesmo, pelo tratamento injusto que recebem da sociedade e da máquina do estado.
Heróis, sim, mas não necessariamente santos. Quando o autor atribui a estatura moral de herói ao fura greve, ao avarento, ao cafetão, e assim por diante, com isso ele não quer tornar implícito que essas atividades sejam intrinsecamente mais morais do que quaisquer outras. Num livre mercado e numa sociedade que tratar o avarento, o senhorio do cortiço e o empregador explorador exatamente da mesma forma que as outras ocupações, eles não mais serão heróis e certamente não terão mais moral do que qualquer outra pessoa. Sua condição heroica, para o professor Block, existe unicamente em função das restrições injustas que os outros homens têm-lhes imposto. O feliz paradoxo deste livro é que, se seu conselho implícito for seguido, e os homens e mulheres descritos nestas páginas deixarem de ser tratados com desprezo e coação legal, então, e somente então, deixarão de ser heróis. Se você não gosta da ideia de um avarento ou de um senhorio ser um herói, a única forma de despojá-lo dessa estatura é tirar as algemas que lhe foram colocadas por pessoas tolas.
Murray N. Rothbard