O artigo de Sam Kazman na Revista Acadêmica dos Médicos e Cirurgiões Americanos, “Medicamentos Aprovados e Atrasos Mortais” conta uma história sobre como as políticas da FDA (a Anvisa dos EUA) causaram a morte de dezenas de milhares de americanos. Vejamos como isto acontece.
Durante o processo de aprovação de remédios pela FDA, ela confronta a possibilidade de dois erros. Se a FDA aprova um medicamento que depois revela ter efeitos colaterais perigosos imprevistos, as pessoas sofrerão. Do mesmo modo, se a FDA nega ou atrasa a comercialização de um medicamento perfeitamente seguro e benéfico, as pessoas também sofrerão. Ambos os erros causam danos médicos.
Kazman argumenta que de um ponto de vista político, há uma grande diferença entre estes erros. As pessoas que são prejudicadas por medicamentos incorretamente aprovados saberão que elas foram vítimas dos erros da FDA. O sofrimento delas virará notícia. Os funcionários da FDA enfrentam publicidade negativa e talvez tenham que responder ao Congresso.
A história é completamente outra para vítimas de negações ou atrasos incorretos da FDA. Estas vítimas são pessoas que são impedidas de terem acesso a medicamentos que poderia ter ajudado elas. Seus sofrimentos e mortes são vistos como reflexos do estágio da medicina ao invés do status de um pedido de aprovação na FDA. Seus médicos simplesmente dizem que não há nada mais a ser feito.
Beta-bloqueadores reduzem o risco de ataques cardíacos secundários e eram muito usados na Europa durante os anos 1970. A FDA impôs uma moratória nas aprovações dos beta-bloqueadores nos EUA por se mostrar carcinógeno em animais. Finalmente, em 1981, a FDA aprovou este medicamento, gabando-se que ele poderia salvar mais de 17.000 vidas por ano. Isto quer dizer que umas 100.000 pessoas morreram de ataques cardíacos secundários esperando a aprovação da FDA.
No começo dos anos 1990, a FDA levou mais de três anos para aprovar a interleucina-2 como terapia principal para câncer avançado de rim. Quando a FDA finalmente aprovou o medicamento, ele estava disponível em nove países europeus. A FDA estava preocupada com a toxicidade do medicamento que resultou na morte de 5% dos que o usaram durante os testes experimentais. Esta preocupação obscurece o fato que câncer metastático de rim tem o efeito de matar 100% de suas vítimas.
Kazman afirma que se estimarmos que a interleucina-2 tivesse ajudado 10% dos que de outra forma teriam morrido de câncer no rim, então o atraso da FDA teria contribuído para a morte prematura de 3.000 pessoas. Kazman questiona se nós vimos alguma foto ou qualquer reportagem sobre as 3.000 vítimas do atraso de interleucina-2 da FDA ou das 100.000 vítimas do atraso de beta-bloqueadores da FDA.
Estas são vítimas invisíveis das políticas da FDA. Nas palavras do diretor da FDA, Alexander M. Schmidt, em 1974: “Em toda história da FDA, fui incapaz de encontrar um único exemplo em que uma comissão parlamentar tenha investigado uma falha da FDA em aprovar um novo medicamento. Porém, nas vezes em que comissões parlamentares foram feitas para criticar nossa aprovação de novos são tão frequentes que não conseguimos nem contabilizá-las. . . . A mensagem para os funcionários da FDA não poderia ser mais clara.”
Esta mensagem é para sempre errar para o lado do excesso de cautela onde as vítimas da FDA são invisíveis e a agência não é considerada culpada.
Kazman trabalha como consultor geral do Competitive Enterprise Institute, baseado em Washington, D.C., que realizou pesquisas com médicos e suas opiniões sobre a FDA. Sobre a velocidade das aprovações, 61 a 77% dos médicos consultados dizem que o processo de aprovação da FDA é lento. 78% acreditam que a FDA tem prejudicado suas capacidades de dar aos pacientes o melhor tratamento.
Mas e daí? Médicos têm menos influência na FDA do que defensores do “interesse público” e políticos.
Quando a FDA anuncia sua aprovação de um novo medicamento ou aparelho, a questão que precisa ser respondida é: Se o medicamento irá começar a salvar vidas amanhã, quantas pessoas morreram ontem esperando a FDA agir?
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Tradução de Fernando Chiocca
Artigo original aqui.
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