PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO
É com grande satisfação que apresento aos leitores de língua espanhola a segunda edição do meu livroSocialismo, cálculo econômico e função empresarial. Há três observações que considero pertinentes fazer nesta apresentação.
Em primeiro lugar, esta nova edição mantém na íntegra o conteúdo, a estrutura e a diagramação da primeira edição. Desta forma, é possível evitar confusões e facilitar o trabalho dos estudiosos e investigadores no tratamento das já abundantes referências e citações à primeira edição que apareceram na literatura especializada. No entanto, a nova edição foi completamente revista e corrigida dos erros da primeira edição. Aproveitamos também para atualizar alguns artigos e edições de livros citados nas notas de rodapé e na bibliografia, bem como para fazer algumas poucas modificações estilísticas. Além destas pequenas alterações, não foi feita qualquer outra mudança.
Em segundo lugar, e pelas razões indicadas no parágrafo anterior, deixamos de incluir e de comentar nesta edição os livros e trabalhos mais significativos que foram publicados sobre socialismo desde o lançamento da primeira edição: além de serem em número reduzido, trazem poucas novidades em relação ao que já tinha sido dito, e o comentário detalhado dessas obras teria alterado substancialmente o conteúdo deste livro, que preferimos manter inalterado.[1] Merece, porém, destaque o marco que constitui a publicação, pela primeira vez na Espanha, de todos os artigos que Hayek escreveu no âmbito da polêmica acerca do cálculo econômico socialista, incluídos no Volume 10, intitulado Socialismo y guerra, da edição castelhana que coordeno das Obras Completas de F.A. Hayek.[2] Dada a sua importância, este volume deve ser considerado um complemento obrigatório do presente livro, de que os leitores de língua espanhola não dispunham quando a primeira edição foi publicada em 1992.
Em terceiro lugar, é com grande satisfação que o autor destas linhas constata que, durante os nove anos que decorreram desde a publicação da primeira edição deste livro, a interpretação tradicional do debate acerca da impossibilidade do cálculo econômico socialista foi desmoronando, tendo aberto espaço a um novo consenso entre os economistas, que, na sua maioria, já aceitam que o referido debate tenha sido vencido pelos economistas Austríacos Mises e Hayek. A prova disto é o fato de Mark Blaug, um dos teóricos de maior prestígio no campo da história do pensamento econômico, ter escrito que «de forma lenta e extremamente relutante percebi que eles (os teóricos da Escola Austríaca) têm razão e de que todos nós estávamos enganados», afirmando ainda, ao avaliar a aplicação do paradigma neoclássico para justificar a possibilidade do cálculo econômico socialista, que é algo «tão ingênuo do ponto de vista administrativo que até faz rir. Só quem estava completamente inebriado com o modelo de equilíbrio estático perfeitamente competitivo pode ter acreditado em semelhante disparate. Eu próprio fui um dos crentes nos meus tempos de estudante nos anos 50 e agora não consigo senão me espantar com a minha falta de perspicácia».[3] Este reconhecimento é muito importante, uma vez que só adotando a concepção dinâmica do mercado e do processo empresarial cultivado pelos economistas da Escola Austríaca é possível perceber os erros socialistas, o que implica uma completa mudança de visão no mundo da ciência econômica que, se for levada adiante, irá revolucionar os seus fundamentos e torná-la muito mais rica, frutífera e humanista ao longo do novo século que acaba de começar.[4]
Formentor, 28 de Agosto de 2001
JESU´S HUERTA DE SOTO
[1] Vale a pena citar, pelo menos pela amplitude do seu enfoque, o livro de David Ramsay Steel From Marx to Mises: Post-Capitalist Society and the Challenge of Economic Calculation, Open Court Publishing, La Salle, Illinois, 1992. Pode também ser útil rever a polêmica mantida no âmbito da Review of Austrian Economics, entre os professores Joseph Salerno, Jo¨rg Guido Hu¨lsmann, Hans-Hermann Hoppe e Leland Yeager durante os anos 1992-1995 sobre as supostas diferenças de enfoque entre Mises e Hayek nas respectivas críticas ao socialismo e que, pelas razões apontadas nas notas de rodapé das páginas XXX e XXX, considero, tal como Leland Yeager, serem mais fictícias do que reais.
[2] F.A. Hayek, Socialismo y guerra, vol. 10 das Obras Completas de F.A. Hayek, edição espanhola coordenada pore Jesús Huerta de Soto, Unión Editorial, Madri, 1998.
[3] Mark Blaug e Neil de Marchi (eds.), Appraising Economic Theories, Edward Elgar, Londres 1991, p. 508 e The Economic Journal, vol. 103, n.º 421, novembro de 1993, p. 1.571.
[4] Ver Jesu´s Huerta de Soto, Escola Austríaca: Mercado e Criatividade Empresarial, Tradução e estudo introdutório de André Azevedo Alves, Prefácio de José Manuel Moreira, Editora Espírito das Leis/Causa Liberal, Lisboa, 2005. O autor agradece o envio de quaisquer comentários sobre a segunda edição do seu livro para o endereço eletrônico: huertadesoto@dimasoft.es.