Thursday, November 21, 2024
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A grande muralha da China começa a se esfacelar

chinastocksA China foi a grande salvadora da economia mundial em 2008.  A implantação de um pacote de estímulos sem precedentes como resposta à crise financeira daquele ano gerou uma explosão de investimentos em infra-estrutura.

Houve maciços e esbanjadores projetos de construção na China, os quais envolveram a construção de basicamente qualquer coisa que você seja capaz de imaginar.  Comoexplicado neste artigo:

Durante um período de apenas dois anos, 2011 e 2012, o qual representou o ápice da tão aclamada “agressiva política de estímulos” do governo chinês em resposta à recessão do mundo desenvolvido, a China consumiu mais cimento do que os EUA consumiram durante todo o século XX!

A voraz demanda por commodities a serem utilizadas nesse boom da construção civil fez com que os países emergentes produtores dessas commodities — como minério de ferro e petróleo — se beneficiassem desse crescimento chinês e fossem também impulsionados por esse crescimento.

Agora, no entanto, a economia chinesa atingiu o muro.  O crescimento econômico está abaixo dos 7% ao ano pela primeira vez em 25 anos, e isso segundo as próprias estatísticas oficiais do país — o que significa que os números reais provavelmente estão muito piores do que isso.

O Banco Central chinês vem adotando várias medidas para estimular a cambaleante economia.  Nos últimos 12 meses, a taxa básica de juros foi reduzida de 6% para 4,85%, sendo este o menor valor da história.

A fuga de capitais do país vem aumentando.  No segundo trimestre de 2015, US$ 766 bilhões saíram do país.  No primeiro trimestre, foram US$ 945 bilhões.  Só nas últimas sete semanas, mais de US$ 190 bilhões saíram do país.  Nas primeiras três semanas de agosto, US$ 100 bilhões já foram embora, não obstante todas as draconianas leiscriadas pelo governo para impedir “saídas ilícitas de capital”.

Como consequência dessa maciça fuga de capitais, o Banco Central chinês optou por desvalorizar a moeda chinesa(o renminbi).  Essa recente desvalorização da moeda foi uma medida desesperada e de última instância, a qual serviu apenas para sinalizar que a grande era do crescimento chinês está rapidamente chegando ao fim.

Em julho, as exportações tiveram uma queda de 8,3% em relação ao mesmo mês do ano passado.  Os analistas esperavam uma queda de apenas 1%, o que mostra que a situação chinesa é pior do que muitos estimam.

O mercado imobiliário chinês também se encontra em uma situação claudicante.  Os preços dos imóveis caíram acentuadamente após décadas de contínuo aumento.  Para os milhões de chineses que alocaram sua poupança no setor imobiliário, a situação é perturbadora.

Adicionalmente, a desaceleração econômica chinesa está enviando ondas de choque para todo o mercado de commodities.  O índice global de commodities, da Bloomberg, que acompanha os preços de 22 commodities, caiu para níveis que vigoravam apenas no início deste século.

O minério de ferro é uma matéria-prima essencial para alimentar as siderúrgicas da China; e, como tal, é um bom mensurador para o atual estado da construção civil chinesa.  O preço do minério de ferro no porto de Qingdao caiu para US$ 53 a tonelada, menos da metade em relação aos US$ 140 que vigoravam em janeiro de 2014.

Já os dados do setor industrial chinês são desanimadores.  O Índice de Gerentes de Compras (Purchasing Managers Index — PMI), o qual é um amplamente reconhecido e respeitado mensurador da produção industrial,caiu para 47.  Para ser considerado positivo, ele tem de estar acima de 50.  Sempre que o PMI cai abaixo de 50, o setor industrial está em contração.  Em julho, o valor havia sido de 48.  O atual valor é o menor da série histórica. [N. do E.: para o Brasil, este índice está em 47,2].

O bem-estar dos chineses

As duas áreas nas quais a nova riqueza dos chineses se manifestou explicitamente foram essas: telefones celulares e automóveis.  Esses dois mercados estão atualmente em contração.

O mercado chinês de telefones celulares é o maior do mundo.  No segundo trimestre deste ano, pela primeira vez na história, as vendas de celulares na China diminuíram.  Isso é um alerta de que os números oficiais do governo, que indicam um crescimento de 7% do PIB, são fictícios.

Virou moda falar que a China está vivenciando uma “saturação”.  Essa “saturação” está se tornando uma nova realidade econômica na China.  Durante anos, empresas globais se acostumaram — aliás, o termo mais correto seria “foram mimadas” — com um crescimento econômico artificial.  Essa era acabou.

O problema é que vendas em queda são um fenômeno muito pior do que era de se esperar de um mercado meramente “saturado”.  Um mercado “saturado” implica um crescimento de vendas pequeno ou, no máximo, nulo.  Quando as vendas entram em queda, é difícil culpar a “saturação”.  Algo bem mais complexo está acontecendo, algo que os números oficiais se recusam a reconhecer.

Smartphones não são o único bem de consumo que está vivenciando essa débâcle de vendas em queda após anos de crescimento espetacular.  Vários outros produtos estão hoje vivenciando essa mesma contração.  Por exemplo, a venda de veículos na China — que é o maior mercado de automóveis do mundo, tanto em termos de produção quanto de vendas — declinou em junho e julho em relação ao mesmo período do ano passado.  Mas os incrédulos fabricantes seguem construindo plantas e ampliando as instalações.

Consequentemente, a Volkswagen, cujas vendas na China — seu maior mercado consumidor — vêm caindo há três meses seguidos, está hoje empenhada ao máximo em negar que esteja reduzindo sua produção para lidar com um problema de capacidade ociosa.  Sim, a VW está cortando a produção, “mas por outros motivos”, segundo a empresa.  Capacidade ociosa é algo muito terrível no ramo automotivo.  Tal fenômeno simplesmente não pode ser admitido publicamente.

O que esperar

A maior ameaça para todo e qualquer regime político é esta: a frustração de expectativas otimistas.

Quando as massas começam a acreditar que as coisas só irão melhorar, e passam a acreditar que a atual ordem política fará com que as coisas só melhorem, então, caso essas expectativas se concretizem no curto prazo, o regime político irá se tornar obrigado a gerar uma contínua expansão da riqueza.  Mas se essa expansão desacelerar, e as massas não anteciparem essa desaceleração, o regime político passará a enfrentar um potencial risco de revolução.

Na China, as massas foram ensinadas a acreditar que o sistema sempre irá fornecer os bens.  E, ao longo das últimas três décadas, o sistema de fato forneceu os bens.  Os investidores que investiram no país acreditaram que poderiam enriquecer quase que automaticamente.  Hoje, eles estão descobrindo que as coisas mudaram.

A classe média chinesa que acreditou que o futuro traria dias cada vez melhores, e que saiu às compras por celulares e carros, está agora enfrentando uma nova realidade: as políticas keynesianas baseadas em expansão do crédito sempre geram uma contração.  A China ainda não havia vivenciado um ciclo econômico ao estilo ocidental.  Agora irá vivenciar.

A China é uma economia majoritariamente industrial.  Ao contrário dos países ricos, sua economia urbana não está baseada no setor de serviços; ela se baseia na exportação de bens de consumo.  Foi neste setor que todo o crescimento econômico se concentrou nos últimos 35 anos.  E é esse setor que agora está em recessão. [N. do E.: o IMB já havia anunciado a iminência de uma recessão industrial na China ainda no segundo semestre de 2012].

O mercado de consumo dos bens chineses, localizado no Ocidente, está secando.

É possível argumentar que a contração chinesa seria inerente ao ciclo interno da economia chinesa, até então baseada em crescimento contínuo sem recessão.  Em outras palavras, seria possível dizer que a contração é decorrente das políticas do Banco Central da China.  Os estímulos gerados pela expansão do crédito teriam se exaurido.  Isso significa que a recessão seria estritamente de geração interna.  Entretanto, em um país maciçamente industrial que exporta para todo o resto do mundo, as causas da contração são duplas: de um lado, a demanda ocidental está em queda; de outro, as políticas de estímulo do Banco Central chinês não mais estão aditivando a economia.

O Banco Central chinês está explicitamente em pânico.  Ora eles anunciam que irão enrijecer; ora eles anunciam que irão adotar novas medidas de expansão.

Já o governo chinês nunca diz nada.  Ele não se pronuncia.  Os políticos chineses são comunistas da velha guarda e, como tal, não devem satisfação a ninguém no eleitorado.  Consequentemente, eles ficam de boca fechada.  Mas não há dúvidas de que o governo central exige que o Banco Central faça de tudo para manter a economia aquecida.  O problema é que, desta vez, o Banco Central não está conseguindo cumprir a exigência.

A dramática queda que vem ocorrendo nos últimos dois meses na bolsa de valores de Xangai é um indicativo da encrenca em que se encontra o governo central chinês.  O governo estimulou uma insana especulação na bolsa,o que faz com que seu índice mais do que dobrasse em apenas um ano.

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Agora, o mercado está indo na direção oposta.

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O governo está desesperado para impedir que a bolsa continue caindo, mas, até agora, o índice segue afundando feito uma pedra.  Tudo indica que já está havendo um pânico para sair desse mercado.  Isso é o que se deve esperar.  Tudo foi uma bolha, e a bolha está agora em processo de estouro.  Isso é o que sempre acontece com bolhas.

Investidores chineses não têm experiência com precificações feitas pelo livre mercado.  Eles partiram do princípio de que o mundo foi arranjado de modo a enriquecê-los.  Eles esperaram anos para entrar na bolsa de valores, e então, há um ano, eles começaram a entrar em revoadas.  Esse foi um caso clássico de estouro de uma bolha de ações gerada por uma economia que vivenciou uma expansão artificial.

Era comum ouvir esse mito a respeito do keynesianismo asiático: ele seria diferente do keynesianismo ocidental.  Os economistas keynesianos da Ásia, que não se auto-intitulam keynesianos, recorrentemente argumentavam que um planejamento econômico centralizado pelo governo, por meio do Banco Central, poderia sobrepujar os ciclos econômicos típicos das democracias ocidentais.  Eles estão prestes a descobrir que as leis econômicas são imutáveis em qualquer hemisfério.

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Veja todos os nossos artigos sobre a China.

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Autores:

Wolf Richter é comentarista economico e fundador da Wolf Street Corp.

Ambrose Evans-Pritchard é colunista do jornal britânico The Telegraph

Gary North é ex-membro adjunto do Mises Institute, e autor de vários livros sobre economia, ética e história.

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