Poucos lugares presenciaram tantas contribuições à ciência, filosofia e artes como Viena no final do século XIX e início do século XX. Ao contrário da maioria dos centros culturais, a relativamente pequena elite responsável por esse florescimento não era formada por comunidades dispersas de especialistas, mas por intelectuais que se interessavam pelas novidades em todos os fronts culturais — e as debatiam entusiasticamente nos famosos cafés da capital do Império Austro-Húngaro[i].
Esse fenômeno permitiu o desenvolvimento de um passatempo intelectual moderno: traçar as relações pessoais entre grandes figuras do período. Considere uma pequena amostra dessa atividade: Popper se tornou amigo de Hayek, que era primo de Wittgestein. Mises era colega de escola de Hans Kelsen. Freud atendeu Gustav Mahler. A esposa deste, Alma Mahler, depois de flertar na juventude com Gustav Klint, após a morte do compositor foi sucessivamente esposa do famoso arquiteto Walter Gropius e do escritor Franz Werfel, além do romance que desenvolveu com o pintor Oskar Kokoschka.
A riqueza da cultura do império austro-húngaro poderia ainda dar origem a outro passatempo: explorar as diferenças de opinião, muitas vezes radicais, entre dois irmãos famosos. Poderíamos analisar as diferenças entre as ideias socialistas do jurista Anton Menger e as ideias liberais de seu irmão, o economista Carl[ii]. Na esfera política, seria interessante ainda contrapor o liberalismo de Michael Polanyi com o socialismo de seu irmão Karl. Neste artigo, trataremos das irreconciliáveis opiniões a respeito da metodologia das ciências sociais esposadas pelos irmãos Ludwig e Richard von Mises.
Ambos passaram para a posteridade. Ludwig como o economista que sistematizou no século vinte as doutrinas da Escola Austríaca de Economia e Richard como um matemático com contribuição importante para a teoria da probabilidade. As teorias do primeiro são mais conhecidas pelo leitor moderno e por isso podem dispensar apresentação, ao passo que a obra do segundo requer algumas palavras. Richard, com formação de engenharia e matemática, foi diretor na Universidade de Berlim do Instituto de Matemática Aplicada. Com a proibição nazista a professores de origem judaica, migrou para a Turquia e mais tarde para Estados Unidos, onde se tornou professor em Princeton. Em sua carreira, realizou contribuições em Mecânica dos Fluidos, chegando a liderar um projeto para a construção de uma aeronave para o exército durante a Primeira Guerra Mundial, além de publicar um livro sobre teoria do voo. Suas contribuições mais conhecidas, porém, tratam da teoria da probabilidade. Buscou basear tal teoria em dois axiomas: o primeiro define probabilidade como o limite matemático da frequência relativa de casos favoráveis, conforme tomemos mais observações e o outro que afirma que tal limite deve ser o mesmo para qualquer subsequência de tentativas. Também ficou conhecido como o autor que propôs o problema do aniversário, que indaga quantas pessoas deveríamos ter em uma sala para que duas delas façam aniversário em uma mesma data, com certa probabilidade. Com apenas vinte e três pessoas, teríamos cinquenta por cento de chance de encontrarmos tal coincidência, cuja ocorrência é praticamente certa em uma sala com cinquenta indivíduos. Além de suas contribuições as ciências naturais e matemática, Richard tinha uma gama mais ampla de interesses, assim como seu irmão mais velho: era uma autoridade na obra do poeta Rainer M. Rilke, além de defensor, em filosofia, da visão de mundo positivista.
É aqui que se situa o contraste que nos referimos: os dois irmãos têm opiniões diametralmente opostas a respeito da metodologia adequada para as ciências sociais. Richard[iii], como defensor do positivismo, defende a tese da unidade do método ou monismo metodológico: as ciências sociais deveriam adotar o método supostamente empregado pelas ciências naturais, baseado na observação. Ludwig, em contraste, conhecido como o maior inimigo do positivismo em Economia, defende a tese do dualismo metodológico[iv], afirmando que a economia estabeleceria seus resultados pela dedução, partindo-se de premissas válidas a priori. O choque entre essas opiniões foi testemunhado por Rothbard[v]. Ao perguntar a Ludwig o que achara do livro de seu irmão, o economista, de pose severa, olhar faiscando, teria afirmado: “Eu discordo daquele livro, da primeira à última sentença”.
O contraste entre as ideias filosóficas dos irmãos Mises poderia ser colorido com material a respeito das vidas pessoais dos envolvidos. Os psicólogos poderiam tentar explicar as opiniões diametralmente opostas como mais um caso do fenômeno da rivalidade entre irmãos. Para tal, poderiam invocar as teorias psicológicas de mais dois austríacos famosos: Sigmund Freud e Alfred Adler, que viam a rivalidade entre irmãos respectivamente como algo relacionado ao complexo de Édipo ou como fruto da competição pela atenção na família. A despeito da escassez de material sobre aspectos pessoais da vida dos irmãos Mises que permitisse essa análise, Skousen sugere[vi], em tom jocoso, que estaríamos exatamente diante de um caso de rivalidade entre irmãos: Richard desenvolvia aviões para o exército enquanto Ludwig era apenas oficial de artilharia e, ao contrário deste, o irmão mais novo sempre ocupou posições prestigiadas em universidades importantes.
Da nossa parte, nos interessa apenas as ideias em si mesmas, de modo que abordaremos a rivalidade somente no que se refere as suas posturas filosóficas. Para tal, devemos dizer algo sobre o positivismo lógico — essa doutrina universalmente criticada, mas estudada a sério por poucos de seus detratores no campo das ciências sociais.
O positivismo lógico do início do século vinte deve ser entendido como uma reação racionalista ao obscurantismo bastante presente no pensamento filosófico e social no mundo germânico. Um dos alvos preferidos do positivismo era a inescrutabilidade do linguajar pomposo típico do hegelianismo, prevalecente na Alemanha ou das ideias de Leibnitz, em voga na Áustria. Na verdade, para o positivismo lógico, termos como “absoluto” ou “enteléquia” simplesmente não significavam nada. No famoso manifesto do Círculo de Viena[vii], seus autores escrevem: “Nitidez e clareza são almejadas; distâncias escuras e profundezas insondáveis rejeitadas. Em ciência não existem coisas ‘profundas'” (p. 306).
A principal tarefa da filosofia, para os membros do Círculo de Viena, consistiria na crítica da linguagem corrente e desenvolvimento de outra mais clara, adequada para o pensamento científico. Reduzidas as ambiguidades inerentes aos termos emprestados das línguas naturais, que dão origem a toda sorte de pseudoproblemas e discurso hermético, abre-se o caminho para o exercício da razão, através do entendimento intersubjetivo e exame crítico das ideias.
Concretamente, os filósofos positivistas buscaram um critério para separar as proposições conforme estas tenham ou não significado. Das frases “Esta maçã é vermelha”, “Toda maçã é cilíndrica” e “O absoluto é perfeito”, as duas primeiras teriam significado, embora a primeira possa ser verdadeira e a segunda não, ao passo que a terceira seria destituída de significado.
A ciência, para tal doutrina, deveria expurgar as frases do último tipo, meramente metafísicas, em favor de proposições significativas. Isso nos leva ao critério de significância sugerido pelo positivismo lógico: o verificacionismo. Uma proposição teria significado se puder ser verificada empiricamente. A ciência admitiria então dois tipos de afirmações: a) proposições sintéticas — os “protocolos observacionais”, que se referem a observações sensoriais, como a primeira frase listada no parágrafo anterior e b) proposições analíticas — tautologias que, embora não digam nada substancial sobre o mundo observável, são importantes no tratamento do material empírico, como “uma maça ou é vermelha ou não é”.
A visão de ciência proposta pelo positivismo lógico se encaixa assim na tradição empirista de Bacon, Hume, Mill e outros: parte-se de observações impessoais, a partir das quais se realizam generalizações de natureza indutiva, chegando-se assim a princípios básicos e leis da ciência que relacionam esses conceitos, a partir das quais se derivam previsões sobre fatos observáveis. O avanço da razão envolveria então a exportação desse modelo, da física para as demais disciplinas, até ser alcançado o ideal da “ciência unificada” almejado por Otto Neurath. Cristaliza-se assim, em torno da tese da unidade do método, a eterna tensão entre a receita positivista para a ciência e as práticas adotadas nas ciências sociais. A teoria econômica, porém, era inicialmente vista com bons olhos. No já mencionado manifesto do Círculo de Viena, Neurath e seus coautores saúdam (p. 303) tanto a escola austríaca de economia quanto o austro marxismo como desenvolvimentos compatíveis com o espírito científico, em contraste com a escola histórica que dominava a Alemanha. Mais adiante (p. 315) no mesmo texto, tanto os economistas clássicos, como Smith, Ricardo e Marx quanto os autores marginalistas, como Menger e Walras são associados à tradição empírica. A economia trataria, afinal, de coisas tangíveis, como exportações e importações, se ocupando de “pessoas, objetos e suas relações”, em contraste com noções metafísicas como “o espírito do povo”, que povoavam os escritos da escola histórica alemã.
Essa opinião, porém, logo se alteraria. As ideias, como mostraram Popper e Bartley[viii] (f.n), também têm consequências não intencionais, e a metodologia positivista de fato se revelará incompatível com a prática das ciências em geral e das ciências sociais em particular. Essa incompatibilidade, aliada a popularidade do positivismo entre os cientistas, colocará os irmãos Mises em campos opostos no assalto positivista às ciências sociais. Quando eles escreveram sobre o tema, porém, o positivismo já entrara em declínio entre os filósofos da ciência, transformando-se, sob o peso da crítica, na forma mais branda conhecida como empirismo lógico. Richard von Mises pode ser classificado como um dos empiristas lógicos, o que requer que dediquemos algum espaço a essa doutrina antes de finalmente abordar as posturas conflitantes dos irmãos Mises.
Depois das críticas ao positivismo efetuadas por diversos autores, entre os quais Karl Popper, tido por Neurath como o opositor oficial do movimento, a visão de mundo positivista entrou em declínio. O critério de verificabilidade se revelou impraticável, já que seriam necessárias infinitas observações para estabelecer proposições científicas universais (com a frase “todo cisne é branco”). A adoção dos padrões positivistas para a ciência, desse modo, excluiria até mesmo a física, já que esta também emprega proposições não verificáveis. Do mesmo modo, é muito estrita a exigência de que, excetuando-se operações lógicas, cada proposição de um sistema teórico seja verificável. A despeito da relevância da crítica ao obscurantismo que caracteriza boa parte da filosofia, considera-se exagerado a rejeição de qualquer problema metafísico como mero pseudoproblema. Nesse sentido, os críticos ironizavam, indagando qual seria a verificação empírica da própria filosofia positivista. O indutivismo, inerente ao ideário positivista, foi também duramente criticado. Constatou-se que todo dado empírico é impregnado de teorias prévias, tornando impossível o ideal de observação isenta e impessoal como alicerce para a construção de hipóteses. Diante dessa dificuldade e do fracasso em justificar logicamente os procedimentos indutivos, prevaleceu um modelo oposto de ciência, que dispensa indução: a ciência parte de problemas, a partir dos quais hipóteses são sugeridas com o propósito de solucioná-los. Dessas derivam-se consequências e previsões testáveis através de raciocínio dedutivo, não importando se alguma hipótese inicial tenha sido sonhada ou contaminada por ideologia: apenas seu poder explanatório conta. A racionalidade da ciência repousaria então na severidade com a qual tais hipóteses seriam submetidas à crítica e não na capacidade de estabelecer verdades de forma conclusiva.
Diante de algumas das objeções, o agora empirismo lógico substitui o critério verificacionista pelo critério confirmacionista, que requer apenas corroboração parcial das hipóteses. Certezas são substituídas por conhecimento probabilístico. Desenvolvem-se adicionalmente modelos de ciência nos quais as teorias são avaliadas em termos de sua capacidade de gerar um conjunto de proposições confirmáveis, abandonando-se a exigência de que, executando-se as afirmações analíticas, todas as demais proposições de uma teoria devam ser verificáveis. Ao caminhar nessa direção, a tradição empirista oscila entre critérios de significado muito proibitivos e critérios muito permissivos. Além da procura de critérios compatíveis com sua concepção prévia sobre o que a ciência deveria ser, o empirismo lógico prossegue no esforço de análise da linguagem, com o objetivo de desenvolver formas mais precisas de comunicação, nas quais proposições sem significado não teriam expressão.
Richard von Mises, em seu livro sobre o filosofia[ix], também busca uma nova formulação para o critério positivista de significado. O objetivo é o mesmo: separar proposições com significado de coisas sem sentido como, por exemplo, “o nada penetra o universo”, comuns no discurso filosófico. Uma sentença como “em 34 de janeiro as quatorze horas da manhã” poderia ser descartada por ser incompatível com as regras ou convenções relativas a duração do mês e do dia. Mas a adoção de um critério baseado em acordo com as regras aceitas de uma gramática lógica, como sugere Carnap, não seria satisfatória, pois não podemos listar de antemão todas essas regras, o que exigiria todo o conhecimento humano, passado e futuro. Assim, por exemplo, a raiz quadrada de um número negativo seria algo sem sentido quando o operador raiz é definido sobre números reais positivos, mas se tornou significativa quando a noção foi estendida posteriormente para números complexos.
Essa dificuldade é contornada pela sugestão do conceito de conectabilidade. Para Mises (1951, p. 73), uma sentença é conectável se for compatível com um conjunto específico de sentenças que regula o uso das palavras. Considere sentenças obscuras como “O ser puro e o puro nada são portanto a mesma coisa”, de Hegel ou “The Nothingness itself nothings”, de Heidegger. Embora a segunda sequer obedeça as regras da gramática, elas não poderiam ser dispensadas sumariamente, pois podem ter algum sentido considerando-se um conjunto próprio de regras criadas na respectiva tradição intelectual. Entretanto, podemos ainda dizer que tais afirmações tem uma conectabilidade extremamente limitada em relação à maioria dos conjuntos de regras, como as regras gramaticais da linguagem comum.
No outro extremo, em ciência, Mises procura associar o conceito de conectabilidade com um conjunto de regras compatíveis com verificabilidade de proposições empíricas. Desse modo, depois de avaliar de forma superficial as críticas feitas ao critério de verificabilidade do positivismo lógico (p. 76), o mesmo critério é readmitido pelas portas dos fundos, através da noção de conectabilidade, como nota Dettering (1953). Mises adota então a visão empiricista clássica de ciência, com poucas alterações: parte-se de “protocolos observacionais”, utiliza-se a indução para, a partir desses protocolos, gerar proposições teóricas, que são organizadas em sistemas axiomatizados, utilizados por sua vez para deduzir previsões significativas, verificáveis empiricamente.
De posse desse modelo, Richard von Mises defende a tese da unidade do método (cap. 17). Em vez de criticar o dualismo metodológico de seu irmão mais velho, prefere expor e criticar o dualismo em Dilthey e Rickert, cujas opiniões seriam dominantes na Alemanha. Segundo essa concepção de dualismo, as ciências naturais almejariam a simplificação, com o objetivo de generalizar o conhecimento, ao passo que nas ciências sociais o objetivo seria o entendimento particular dos objetos de estudo. As primeiras, desse modo, pretendem explicar tudo em termos de uma física atomista, ao passo que as segundas, utilizando maior realismo, rejeitam a redução dos fenômenos mentais a explicações mecanicistas. Mises nega essas diferenças, apontando que a dinâmica populacional em Malthus seria um caso de conhecimento social generalizador e que uma ciência natural como a geologia, por outro lado, se interessa também por fenômenos únicos na história do planeta. Além disso, a distinção entre fenômenos mentais e físicos não geraria diferenças metodológicas significativas, na medida em que aprendemos sobre estados mentais a partir da observação sensorial, lendo, ouvindo ou observando as ações dos outros. Finalmente, a física não poderia ser reduzida a um atomismo ultrapassado.
O autor minimiza a importância de outras diferenças, como a impossibilidade de experimentos controlados (pois a astronomia tampouco pode controlar corpos celestes) ou a diferença entre esferas normativa e positiva (a engenharia seria uma forma de física normativa). Apenas uma diferença preocupa o autor: a existência de proposições influenciadas por visões subjetivas em ciências sociais. Para um positivista, naturalmente, isso rouba o caráter científico de uma teoria, na medida em que tal doutrina, pré-popperiana, ainda crê que a boa ciência parte de observações sensoriais objetivas. Reconhecidas certas particularidades de cada disciplina, Mises (p. 213) reafirma sua opinião: em qualquer área o método científico deveria ser o mesmo, uma progressão da observação para a generalização teórica.
Convicto sobre a validez dessa tese, Richard examina a área de especialidade de seu irmão: as ciências sociais. Ali, podemos notar o contraste entre a admiração que o autor nutre pela sociologia de Auguste Comte e o ceticismo com o qual avalia a teoria econômica, antiga e moderna. Elogiando o projeto do antigo positivista de construir uma ciência social a partir de uma metodologia empiricista, Mises arrisca o palpite (p. 258) de que seria na sociologia que observaríamos o maior progresso científico no futuro.
Quanto à economia, Mises compara o desempenho da mecânica clássica com certas teses econômicas, como por exemplo aquilo que ele denomina “espontaneidade da economia e a doutrina da função necessária e suficiente do egoísmo” (p. 249). Embora a mecânica clássica ainda explique boa parte dos fenômenos físicos, a segunda, embora defendida por muitos autores, não foi provada através da observação. Além disso, o autor aponta (p. 249, 364) para a existência simultânea de teorias rivais e a existência de problemas econômicos nas sociedades como exemplos de fraquezas da disciplina. O diagnóstico dessa situação, novamente, é atribuído ao uso de linguagem imprecisa, por sua vez relacionada à falta de observações empíricas (p. 250).
O empirismo sugerido resvala em teses historicistas: “… como toda teoria é apenas uma descrição de observações prévias e a experiência demonstra que ao longo do desenvolvimento econômico e técnico todas as premissas, incluindo as disposições psicológicas dos homens, mudam” (p. 364), resultados teóricos como aqueles sugeridos pelos economistas não se sustentariam. O autor acredita que a existência do exército ou da justiça pública, que excluiriam busca de lucros privados, refutaria o “axioma de que apenas o egoísmo provê incentivos para ações desejáveis para o interesse de todos”.
Ao avaliar a teoria moderna, acredita que o problema principal da mesma se refere apenas a demanda, ou seja, a maneira como os indivíduos avaliam tipos específicos de bens e que a resposta a essa indagação, a noção de utilidade marginal, consistiria numa afirmação vaga sobre a realidade (p. 251) e que não seria capaz de explicar o problema econômico em sua totalidade.
Ainda sobre a teoria moderna, Richard von Mises atribui aos economistas a crença em uma escala de mensuração objetivas de valores dada pelo sistema de preços. Böhm-Bawerk, em particular, é visto como um autor orgulhoso pela capacidade de se comparar bens presentes e futuros. Isso não seria válido, segundo o autor (p. 257) se a tecnologia ou as instituições mudarem.
Quanto à questão da matemática em economia, embora seja cético sobre seu potencial, Richard considera que não vale a pena avaliar a opinião daqueles que acreditam que tal método seria contrário a essência da disciplina (seu irmão?), pois essa postura implicaria que a soma ou subtração de preços seria ilegítima (p. 251).
Essas observações ingênuas revelam pouca familiaridade com a teoria econômica. Isso nos leva a indagar se Richard chegou a ler os escritos econômicos de seu irmão mais velho, cujas contribuições nunca são mencionadas. Essa falta de menções diretas não torna o contraste entre suas opiniões menos nítido. Consideremos então as opiniões de Ludwig von Mises.
tres irmaos.pngAs opiniões deste último sobre a metodologia das ciências sociais, porém, devem antes ser situadas como mais um capítulo de uma antiga tradição de defesa metodológica da economia dos ataques desferidos pelos seus críticos empiricistas. A economia, de fato, sempre lidou com críticas dessa natureza, formuladas continuamente, desde o século dezenove pela escola histórica alemã até a econofísica no século vinte e um.
Um dos principais autores dessa tradição de defesa da teoria econômica não é ninguém menos do que John Stuart Mill, um dos santos patronos do empiricismo que, além disso, também era economista. Mill contrapõe a metodologia empiricista, a posteriori, defendida por esse autor como apropriada para as ciências físicas, com o método a priori, adequado para as ciências sociais. O primeiro não seria aplicável neste último campo devido à impossibilidade de conduzir experimentos controlados, aliada ao grande número de fatores que afetam a conduta humana. Em última análise, a diferença crucial reside na maior complexidade dos fenômenos sociais. Embora de fato a astronomia não conduza experimentos controlados, é possível construir modelos com poucas variáveis que geram previsões bastante precisas, ao passo que o mais simples dos modelos econômicos envolve uma profusão de variáveis e causas perturbadoras que impedem que isolemos um fenômeno de forma satisfatória.
Para Mill, barrada a via a posteriori, a economia procederia como a geometria, partindo de pressupostos fundamentais verdadeiros sobre o comportamento humano e deduzindo a partir dos mesmos resultados válidos. O autor, no caso, parte do pressuposto do Homo economicus — o impulso referente ao acúmulo de riqueza material, sem negar em absoluto a existência de outros fatores operando simultaneamente. Os teoremas derivados da hipótese de que apenas aquele fator isolado ocorre seriam constatados empiricamente se não houvesse a confluência simultânea de miríades de fatores perturbadores. A presença destes faz com que, ao nos referirmos a fenômenos concretos, possamos apenas falar em leis de tendência. A lei das vantagens comparativas de David Ricardo, por exemplo, jamais poderia ser confirmada ou refutada empiricamente, dada a impossibilidade de encontrar dois países absolutamente idênticos a não ser pela sua política de comércio exterior.
Carl Menger, o fundador da escola austríaca de economia, utiliza o mesmo argumento quando condena a confusão entre aquilo que denomina as orientações de pesquisa empirico-realista e exata na teoria econômica[x]. Esta última, partindo de princípios a priori sobre a ação dos indivíduos, trataria exclusivamente dos efeitos de forças econômicas atuando isoladamente, ao passo que a primeira, ao considerar a realidade em toda sua complexidade, jamais seria capaz de estabelecer correlações exatas entre fenômenos concretos. Menger não cansa de nos lembrar de que as tentativas de substituir o “atomismo” e as simplificações empregadas na teoria econômica por uma nova metodologia, calcada na observação da realidade como um todo, como queria a escola histórica alemã, se mostrou incapaz de gerar qualquer tipo de resultado.
Ludwig von Mises, um dos herdeiros da tradição mengeriana no século vinte, também contribuiu com a defesa da teoria econômica dos ataques positivistas. Suas teses sobre metodologia podem ser encontradas em diversas de suas obras. O último livro[xi] publicado durante sua vida, porém, trata exatamente de uma crítica do positivismo em economia e por isso escolheremos tal obra para efetuarmos o conteste com as opiniões de seu irmão. Do mesmo modo que Richard critica a economia sob a ótica positivista sem fazer referências a Ludwig, este critica o projeto positivista da ciência unificada sem fazer referências a seu irmão. Apesar disso, a discordância entre eles se revela em cada argumento.
Já no prefácio de sua crítica, Ludwig se queixa de que os cientistas naturais (entre outros, seu irmão?) deveriam primeiro estudar as teorias econômicas antes de criticá-las. Esse estudo revelaria que o projeto positivista para as ciências sociais, denominado pelo autor de panfisicalismo, é fadado ao fracasso devido à sua incapacidade de lidar com um dado fundamental dessas disciplinas: a ação humana proposital. Embora a evolução das ciências naturais, como descrevem os positivistas, tenha sido de fato marcado pelo expurgo de noções animistas, o empréstimo dos métodos dessas ciências resultaria em um retrocesso no desenvolvimento das ciências humanas:
O físico pode hoje rir da doutrina que interpretava certos fenômenos como consequência de um horror vacui. Mas ele falha em perceber que os postulados do panfisicalismo não são menos ridículos. Se eliminarmos qualquer referência a julgamentos de valor, é impossível dizer algo sobre as ações dos homens. (MISES, L. 1978, p. 39)
Para Mises, um método que admite apenas protocolos observacionais vetaria o entendimento do comportamento humano. Ao contrário do que pensava seu irmão, Ludwig não acreditava que aprendemos sobre os outros apenas por meio dos sentidos: as ciências sociais seriam eminentemente teleológicas (págs. 7 e 37) e as explicações dos fenômenos sociais necessariamente envolvem menção aos propósitos dos agentes, mesmo se estes não forem declarados. O fracasso do behaviorismo — a tentativa de substituir em psicologia categorias mentais não diretamente observáveis pelo método pretensamente mais científico que considera apenas estímulos e respostas observáveis — é apresentado por Mises (págs. 41, 121) como exemplo da impossibilidade de eliminar o conceito de finalidade da ação humana das teorias sociais[xii].
Não apenas o caráter subjetivo dos fatos relevantes para as ciências sociais conspira contra as pretensões positivistas nas ciências sociais. As tentativas de quantificação e mensuração dos fenômenos sociais tampouco foram capazes de revelar regularidades que inspirassem teorias satisfatórias sobre o assunto. Mises (págs. 26, 57, 63) não se cansa de repetir que na esfera da ação humana não existem constantes como aquelas encontradas na física. Ecoando Mill, Mises (43, 76) salienta que a experiência na área social é sempre relativa a fenômenos complexos, de modo que verificações ou refutações empíricas das teorias sociais não são possíveis. Sendo assim, a coexistência de explicações rivais sobre o mesmo fenômeno social, que tanto incomodava Richard, não poderia ser resolvida apenas pelo apelo a mais observações ou ao expurgo de conceitos metafísicos e preconceitos ideológicos.
Além de afirmar que inexiste uma alternativa positivista ao método praticado nas ciências sociais, Ludwig crê que o ataque dessa doutrina metafísica (p. 117) às ciências sociais teria consequências perniciosas. Para Mises (40, 123-4), os representantes do positivismo — velho e novo — não seriam conhecidos por qualquer contribuição à ciência que tenham feito, mas sim por aquilo que querem proibir. Seus defensores seriam efetivamente os defensores da intolerância e do dogmatismo. Não existe assim nada mais emblemático sobre as diferenças entre Ludwig e Richard von Mises do que suas opiniões sobre Comte: dogmático e intelectualmente estéril para o primeiro e modelo de boa ciência para o segundo. A transformação do positivismo nas mãos de Comte em uma seita religiosa dogmática, algo acidental para Richard (p.360), é vista como fruto do dogmatismo inerente ao positivismo, segundo Hayek[xiii], o economista que sucedeu Ludwig no desenvolvimento da escola austríaca de economia.
Revista a opinião de Ludwig sobre o programa positivista para as ciências sociais, consideremos suas opiniões sobre o método adequado para estas, denominadas ciências da ação humana. Mises divide estas em dois ramos: teoria e história. Esta última utiliza os resultados de todas as ciências teóricas para estudar sucessões particulares de eventos no tempo. Para que isso seja levado a cabo, a história utiliza o conceito de “compreensão” (Verstehen), o esforço de tornar as ações de certos agentes inteligíveis em termos de seus propósitos e planos.
As teorias sociais, por outro lado, e a economia em particular, tratam de regularidades aplicáveis a todos os casos. Como Mill, Mises defende a tese de que a teoria econômica utiliza o método a priori, obtendo seus resultados por meio de raciocínio dedutivo (p. 21), partindo-se de postulados básicos. Ao contrário de Mill, Mises não adota como princípio fundamental a hipótese restritiva do Homo oeconomicus. Para ele[xiv], ao contrário do que acredita seu irmão, a economia requer apenas a hipótese de que as pessoas têm propósitos não atendidos, não importando sua natureza. Com essa generalização, a tese historicista (defendida por Richard e até hoje por críticos da teoria que não leram Mill ou Mises) de que a teoria econômica dependeria da hipótese falsa de egoísmo ou impulso acumulador de riqueza material perde seu significado.
Segundo a concepção misesiana, não existiriam assuntos estritamente econômicos, mas apenas aspectos econômicos em todo tipo de atividade para os quais é necessária a escolha entre fins alternativos[xv], seja a atividade artística, esportiva, espiritual ou de qualquer outra natureza. Desse modo, as ciências sociais teóricas, para Mises, consistem no que ele denomina praxeologia, o exame das consequências lógicas do postulado fundamental que afirma que as pessoas agem quando imaginam situações mais satisfatórias, meios para alcançá-las, obstáculos a sua adoção e incerteza sobre o resultado.
Para Mises, todo teorema econômico é derivado em última análise do postulado da ação humana (p. 45). Esse postulado, por sua vez, consiste em conhecimento verdadeiro sobre o mundo, derivado exclusivamente pela razão. Em termos kantianos, seria um exemplo de conhecimento sintético a priori, justamente a categoria cuja existência é negada pelo positivismo lógico. Para Mises (p. 18), o caráter apriorístico do postulado da ação é derivado do fato de que a ideia de ação proposital faz parte da estrutura da mente humana: não conseguimos sequer imaginar a veracidade da sua negação. Sendo assim, o conhecimento teórico em Economia seria sempre verdadeiro e tudo o que a observação histórica pode fazer seria apenas determinar se certo teorema econômico é aplicável ou não às condições existentes em certa situação concreta.
Embora os livros dos dois irmãos abordem inúmeras teses das mais variadas disciplinas, podemos resumir suas opiniões opostas sobre o método das ciências sociais através de alguns rótulos. Para Ludwig, as ciências sociais são marcadas pelo subjetivismo metodológico, individualismo metodológico, dedutivismo e apriorismo, ao passo que para Richard elas deveriam ser indutivistas e a posteriori. Essas recomendações, por sua vez, indiretamente implicam objetivismo metodológico, coletivismo metodológico e historicismo. Ou seja, sem defender explicitamente esses preceitos, a lógica do argumento de Richard o leva nessas direções[xvi].
Estabelecido o contraste entre as teses dos irmãos, concluiremos com uma discussão sobre a importância das mesmas para o desenvolvimento moderno da ciência econômica. Essa discussão pode ser resumida como um conflito entre o desejado e o possível: desde a década de trinta do século vinte, a evolução da economia sem dúvida foi inspirada pelo programa positivista, mas os problemas inerentes a essa doutrina limitaram o avanço desse programa.
O primeiro ponto a ser notado mostra que, embora bastante influente entre os cientistas, o positivismo foi progressivamente abandonado na discussão filosófica. Desse modo, hoje quase ninguém crê que a ciência parta de observações impessoais sobre as quais se efetuam generalizações indutivas: a maioria dos cientistas de fato defende algum tipo de modelo hipotético-dedutivo. Ludwig von Mises, no entanto, ao defender o dualismo metodológico, supõe que o positivismo seja descritivo dos métodos das ciências naturais: esta seria baseada na observação (p.54) e sujeito a verificação empírica[xvii]. Já Hayek[xviii] prefere atacar o que denomina cientismo, definido como a defesa para as ciências sociais daquilo que erroneamente se considera o método empregado pelas ciências naturais.
De fato, os economistas modernos empregam teorias que partem de axiomas e utilizam dedução para obter seus resultados. O clamor pela rejeição de hipóteses não baseadas em observação, em especial aquelas relativas a racionalidade e maximização de lucros e utilidade, sempre foi bandeira de grupos heterodoxos e de leigos, como os modernos econofísicos.
A despeito disso, ideais positivistas marcaram a economia moderna: o dito de Lord Kevin de que ciência é mensuração talvez seja o mais citado pelos economistas[xix]. De fato, boa parte do desenvolvimento da disciplina nos últimos cem anos se pautou pela busca de modelos que possam ser testados empiricamente e formulação de hipóteses operacionais, que utilizem variáveis que possam ser mensuradas em princípio, como a teoria das preferências reveladas de Samuelson. Nesse ponto, sem dúvida a profissão se afastou das opiniões de Ludwig von Mises, que, cético sobre a possibilidade de encontrar constantes e confirmar ou refutar teorias econômicas, considera a econometria como mera história econômica recente (p. 64). É famosa a afirmação de Samuelson de que “tremia pela reputação” da economia quando lia as opiniões metodológicas de Menger, Mises, Robbins e Knight[xx]. Estes últimos representam de fato a ortodoxia no que se refere a questões metodológicas antes da revolução positivista.
Essa ortodoxia, diante da complexidade dos fenômenos sociais, adotava hipóteses com elevado grau de generalidade para que regularidades teóricas fossem estabelecidas. Assim, por exemplo, toda ação não reflexa era tida como racional para Mises. Para economistas comprometidos com o ideal de testabilidade, esse tipo de definição seria inadequado, se aproximando de meras tautologias. Desse modo, definições amplas foram substituídas por hipóteses mais concretas e conceitos teóricos já estabelecidos foram reinterpretados de forma mais operacional.
Assim, a busca por modelos testáveis em um campo marcado por fenômenos complexos, cuja complexidade conspira contra essa busca resultou em um interessante dilema metodológico: se em um plano mais geral estar certo for visto como não científico, adotar hipóteses específicas sobre fenômenos complexos faz com que essas hipóteses sejam automaticamente refutadas, de modo que a alternativa é estar errado, mas com método correto [xxi]! Esse dilema explica a predominância moderna da postura metodológica conhecida como instrumentalismo[xxii]: não importa o realismo das hipóteses, mas seu poder preditivo. Isso permite conciliar a demanda por hipóteses operacionais com a desagradável constatação que essas tendem a ser refutadas facilmente, mantendo-se a ilusão positivista de que teorias seriam comparadas pela capacidade de previsão de fenômenos.
A constatação de que teorias cujas previsões fracassaram não foram descartadas, de modo que o critério instrumentalista funciona principalmente como estratégia retórica para a rejeição de explicações rivais, aliada a falta de progressos teóricos derivados da adoção de uma economia mais empírica e o progressivo descrédito da filosofia positivista, fizeram com que o desprezo pelas opiniões metodológicas de Ludwig von Mises fosse revertido e suas opiniões reconsideradas. Afinal, segundo seu irmão Richard, o positivismo lógico não seria apenas uma doutrina metafísica, na medida em que o sucesso ou fracasso do projeto positivista poderia ser constatado empiricamente. Talvez haja um fundo de verdade nessa afirmação…
Referências
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ROTHBARD, M. Ludwig von Mises: Scholar, Creator, Hero. Auburn: L v Mises Institute, 1988.
[i] Schorske, 1981, p. xxvii.
[ii] Carl Menger, embora não tenha em seus tratados teóricos explorado as consequências políticas de sua teoria, revela seu liberalismo no material utilizado quando era tutor do príncipe herdeiro do Império, Rudolf, que mais tarde viria a cometer suicídio.
[iii] Mises, R. 1951.
[iv] Mises, L. 2011 e 1979.
[v] Rothbard, 1988, n.r. 34, p. 79.
[vi] Skousen, 2001, p. 290.
[vii] Neurath, e outros, 1973.
[viii] Bartley, e Radnitsky, (eds.), 1987.
[ix] Mises, R., 1951.
[x] Menger, 1996.
[xi] Mises, L, 1978.
[xii] Em Economia, fracasso paralelo é ilustrado pela teoria da preferência revelada, que pretendeu substituir a teoria da escolha do consumidor e seus conceitos subjetivos de preferências e utilidade, por outra baseada apenas nas escolhas, preços e rendas observáveis.
[xiii] Hayek, 1979, segunda parte.
[xiv] Mises, 2011.
[xv] Kirzner, 1976.
[xvi] Hayek, 1976, em sua penetrante análise do positivismo em ciências sociais, resume o contraste de forma semelhante. Para esse autor, a economia metodologicamente seria subjetivista, individualista e teórica, ao passo que o cientismo implica as posturas opostas: objetivismo, coletivismo e historicismo.
[xvii] O autor parece relutar sobre o ponto. Por vezes adota o verificacionismo, em outras ocasiões ataca o falseacionismo. No texto em discussão, porém, o autor afirma: “o princípio positivista de verificabilidade como modificado por Popper é incontestável como um princípio epistemológico das ciências naturais”. (p. 119-120).
[xviii] Hayek, 1979.
[xix] “When you can measure what you are speaking about, and express it in numbers, you know something about it, when you cannot express it in numbers, your knowledge is of a meager and unsatisfactory kind; it may be the beginning of knowledge, but you have scarely, in your thoughts advanced to the stage of science.”
[xx] Caldwell, 1982, p. 118
[xxi] Hayek, 1967, afirma que embora devamos tornar as teorias o mais falseáveis possíveis, quanto maior for a complexidade do objeto de estudo, necessariamente menor será o seu grau de falsificação das teorias sobre esses fenômenos. Esse seria um preço a pagar pelo estudo de tais fenômenos.
[xxii] O texto de Friedman (1966) é representativo dessa postura metodológica.