No complicado processo de escolha do candidato republicano que irá enfrentar o presidente Obama nas eleições deste ano, todos os austríacos que conheço, americanos ou não, torcem por Ron Paul. Tenho lido e ouvido algumas críticas a esse apoio, no sentido de que ao optarmos por Paul estaríamos apenas olhando para os aspectos econômicos de seu programa de governo, apenas porque seguem os ensinamentos da Escola Austríaca. E, por extensão, que estaríamos deixando de considerar outros aspectos importantes, entre os quais o da política externa e, ainda, que estaríamos apoiando um candidato sem chances de vitória.
Nenhuma das três críticas, a meu ver, é pertinente, como tentarei demonstrar neste pequeno artigo. A primeira crítica — a de que olhamos apenas para os pontos positivos do programa econômico de Ron Paul — é bem característica daqueles que Nelson Rodrigues chamava de idiotas da objetividade. Porque seu programaaustríaco, exatamente por ser austríaco, transcende a economia, alcança fortemente a política e a ética e resgata o que de mais caro os Estados Unidos sempre tiveram e que foi exatamente o que os levou ao status de país mais desenvolvido do mundo: as liberdades individuais e a libertação do indivíduo da servidão ao estado a que vem sendo progressiva e subliminarmente submetido, geração após geração. Com efeito, pouca gente percebe que a economia americana, pouco a pouco, foi se transformando em algo como um socialismo democrático, tal o peso do governo.
Não, senhores e senhoras; não estamos olhando apenas para a economia de mercado que ele pretende recuperar: estamos enxergando os valores econômicos, morais e culturais que isso significa! Quando o estado avança sobre o indivíduo, ele não está apenas agindo na esfera econômica; está estabelecendo novos padrões morais, éticos e culturais, necessariamente inferiores aos que são gerados pelas ordens espontâneas dos mercados. Os valores morais da economia de mercado são sempre superiores aos de economias intervencionistas, como os chamados pós-escolásticos demonstraram sobejamente, antecedendo os austríacos!
Quando um candidato promete — e há nesse candidato toda uma história de coerência entre o que sempre disse e o que sempre praticou! — por exemplo, acabar com o monopólio de emissão de moeda do Fed, poucos conseguem perceber que uma medida dessas teria, além de um alcance econômico muito salutar, efeitos morais e culturais também bastante construtivos. O mesmo acontece quando ele diz que vai diminuir o tamanho do estado ao estritamente essencial e vai cortar impostos e taxas, ou que vai privatizar a saúde e a educação, que vai, enfim, abalar as estruturas do chamado estado do bem-estar (welfare state).
Com Ron Paul, poupar voltará a ser uma virtude e gastar em excesso voltará a ser um vício, porque esta é uma das premissas básicas da Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos. Não haverá mais um Fed, dominado por políticos e por tecnocratas, estabelecendo os valores das taxas de juros, não haverá mais keynesianismo oumonetarismo, a não ser em uma ou outra universidade… Isso, apenas isso, já seria motivo para esse homem ser eleito presidente dos Estados Unidos, porque os outros países, cedo ou tarde, acabariam instados a seguir esse bom exemplo.
Mas não é só isso! No plano da política externa, por exemplo, seus detratores o acusam de pacifismo, de um pacifismo que seria descabido diante das ameaças terroristas que apavoram o ocidente. A resposta é simples: há quantos anos os Estados Unidos vêm se metendo em guerras e mais guerras, que nada mais têm feito do que aumentar o ódio contra o país e fomentar as ações de extremistas terroristas? Quantas famílias americanas choram seus filhos mortos em combates em países remotos, a troco de nada, a não ser popularidade para políticos oportunistas? É uma questão essencialmente prática e ética, pois o povo americano está farto de guerras imorais lançadas deliberadamente sob falsos pretextos
Por fim, quanto a Ron Paul ter poucas chances de vitória, primeiro, parece cedo para levarmos tal afirmativa a sério e segundo, mesmo que isso seja verdade, vale a pena apoiar algum outro candidato republicano acreditando que este, sim, terá chances de vencer Obama? Diversas pesquisas vêm apontando que o único republicano com reais possibilidades de vencer Obama é exatamente Ron Paul, porque os outros são quase que cópias do atual presidente, ou seja, mais do mesmo, assim como no Brasil tanto faz votar em um candidato do PSDB ou em um do PT, porque ambos acreditam na social-democracia. Rick Santorum, por exemplo, acaba dedeclarar que a economia americana precisa de uma “pequena inflação“, o que, cá entre nós, é uma estupidez além da conta, digna de certos economistas tupiniquins que estão no governo brasileiro. E Romney, em que será diferente dos demais, no processo de degradação econômica e externa que os EUA vêm sofrendo?
Não, gente, o que posso afirmar com convicção é que lamento não poder contar com um candidato como Ron Paul aqui no Brasil, e que essa convicção valeria mesmo se eu me convencesse de que ele não tem chances de vitória. Esse homem é a esperança de dias melhores na economia, na política e na ética. E não apenas para os Estados Unidos. Para o mundo ocidental. Tomara que vença! Mas, mesmo se não conseguir, já plantou muitas sementes para as gerações futuras!