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8 Mudanças Climáticas

 

Vendedores do medo

 

Procurando se distrair, você começa a navegar por suas redes sociais. Entre pessoas brigando por seus políticos de estimação e vídeos engraçados de gatinhos, você encontra uma notícia que o deixa preocupado: “Graças ao aquecimento global, em cinco anos, todo o gelo do Ártico desaparecerá, diz Al Gore.” Você se lembra de que Al Gore é uma pessoa importante, afinal foi vice-presidente dos Estados Unidos entre 1993 e 2001. Em 2007, ele não só ganhou um Oscar por seu documentário “Uma verdade inconveniente”, como também o Prêmio Nobel da Paz, por seus esforços para divulgar a questão das mudanças climáticas globais.

“Cinco anos!” — você se espanta — “Isso está logo ali! Pobres ursos-polares, precisamos agir antes que essa tragédia aconteça!” Porém, ao reler a matéria, você percebe que ela não é nova. Ela é de 2009, e a previsão dele dizia respeito a 2014, um ano que já ficou lá para trás. Você pondera: “Talvez o gelo não tenha desaparecido como ele havia previsto, mas é possível que tenha diminuído bastante.” Ao procurar informações sobre o que aconteceu com a calota polar ártica em 2014, você descobre que sua extensão havia aumentado em 1,7 km2 nos últimos dois anos, um aumento de 43%. “Hmmm, tem caroço nesse angu!” — você suspeita.

Discursos como o de Al Gore não estão restritos a políticos, mas são feitos também por alguns cientistas, jornalistas e celebridades. Uma pessoa bastante engajada na venda do medo é o excelente ator e inveterado proselitista Leonardo DiCaprio. Constantemente, ele nos ensina que se não mudarmos nossa maneira de viver, grandes catástrofes nos aguardam devido às mudanças climáticas. “A não ser que viva em uma realidade paralela, não há mais tempo para a negação!” — diz o ator. Claro que entre um sermão e outro, ele viaja pelo mundo em seu jatinho e em seu iate, porque afinal ninguém é de ferro.

Esses vendedores do medo não são um fenômeno recente. No que diz respeito ao clima, encontramo-los há mais de século. Ora a ameaça era uma nova era glacial, ora era um superaquecimento global – até se decidirem recentemente por chamarem a suposta ameaça simplesmente de “mudanças climáticas globais”, pois aí protegem seus augúrios de refutação. Profetas do apocalipse sempre superestimam previsões sombrias e subestimam a engenhosidade humana em solucionar problemas. Lamentavelmente, graças àquele nosso comportamento de “aversão ao risco”, tendemos a acreditar nesses falsos profetas.

Já encontramos previsões desse tipo em 1895, quando a edição de 14 de fevereiro do New York Times alertava em uma reportagem: “Geólogos acreditam que o mundo está congelando novamente”. O mesmo jornal, em 7 de outubro de 1912, reforçava a ameaça: “Professor Schmidt nos alerta para uma vindoura era glacial”. Dez anos depois, em novembro de 1922, o Monthly Weather Review já previa o contrário, que “o Oceano Ártico estava se esquentando”. No ano seguinte, na sua edição de 9 de agosto, o Chicago Tribune voltava a relatar que “o gelo ártico varreria o Canadá do mapa, segundo cientistas”.

Só para ficarmos no New York Times, perceba como as previsões vão se contradizendo. Em 18 de setembro de 1924, o jornal afirmava que havia “sinais de uma nova era glacial” para, em 15 de maio de 1932, relatar que “as calotas polares estavam se derretendo e o nível dos mares iria subir”. Em 7 de agosto de 1952, diziam que o planeta estava se resfriando, mas, apenas três dias depois, reportavam que ele havia esquentado nos últimos 50 anos. Em 15 de fevereiro de 1959, afirmavam que “a teoria de aquecimento global ganhava apoio”, mas, em 21 de maio de 1975, diziam que um “grande resfriamento mundial se aproximava”.

Em 1970, quando a moda da vez era a do resfriamento global, o ecólogo estadunidense Kenneth Watt decretava: “Nas taxas atuais de acúmulo de nitrogênio, é apenas uma questão de tempo até que a luz seja filtrada da atmosfera e nenhuma terra agrícola seja aproveitável… O mundo está se resfriando bruscamente por pelo menos 20 anos. Se essa tendência continuar, a temperatura global média estará quatro graus menor em 1990 e 11 graus menor em 2000. Isso é mais do que o dobro do necessário para nos colocar em uma nova era glacial.” Ah, nada como a sabedoria dos especialistas, não?

Se as previsões de cientistas são fracas assim, que dirá as de tecnocratas dos altos escalões da administração pública. Em 2004, um relatório secreto do Pentágono dizia que as mudanças climáticas provocariam em breve uma catástrofe global. Segundo o relatório, as principais cidades européias estariam submersas e a Grã-Bretanha estaria sob um clima siberiano já em 2020. Essa catástrofe levaria a guerras, revoltas, secas e carestia, que ceifariam a vida de milhões de pessoas. É comovente como o maior aparato militar do mundo se preocupa com vidas humanas, não? Será que já consideraram parar suas guerras?

Um caso curioso aconteceu no Parque Nacional Glaciar de Montana, no noroeste dos Estados Unidos. O parque é dominado por montanhas moldadas por grandes geleiras da última era glacial. Ainda hoje, há resquícios dessas geleiras lá – os tais dos glaciares. Nos anos 2000, com base em modelos matemáticos, cientistas estimaram que eles desapareceriam em 20 anos devido ao aquecimento global. Para alertar os visitantes, a administração do parque espalhou por toda a sua área placas que diziam: “Os glaciares desaparecerão completamente até 2020”. Em 2020, os glaciares continuavam lá e as placas tiveram de ser removidas.

As previsões de desastre iminente – seja pelo clima, por asteroides ou por doenças – não estão relacionadas com segurança, ciência ou verdade. Ao contrário, estão relacionadas com a transferência de dinheiro e poder dos setores produtivos da sociedade para o setor parasitário, isto é, o estado e seus cúmplices. Os que fazem essas previsões – e que se beneficiam dos fuzis estatais – sabem que o medo implica financiamento. Até cientistas que trabalham com isso sabem que têm chances muito maiores de terem seus projetos financiados e seus artigos publicados se seguirem essa linha alarmista.

O medo é uma poderosa ferramenta a ser usada por políticos, como pudemos observar na “pandemia” de 2020. Uma vez amedrontadas e em pânico, as pessoas abrem mão, sem pensar duas vezes, de qualquer migalha de liberdade que ainda tenham e a entregam de bandeja a políticos. Estes, por sua vez, tendo a faca e o queijo na mão, não hesitam em adotar as medidas mais draconianas possíveis, completamente antiéticas, para pretensa-mente resolver o problema. Com isso, além de não resolverem nada, causam sofrimento, miséria e morte, especialmente entre os mais pobres, que são os mais vulneráveis.

Embora a causa do medo – real ou imaginária – possa até passar eventualmente, a tirania sempre fica. Como bem disse o filósofo irlandês Edmund Burke: “Nenhuma emoção retira da mente toda a sua capacidade de agir e raciocinar como o medo”. Ou ainda o personagem Fox Mulder, da série Arquivo X, interpretado por David Duchovny: “O medo é a mais antiga ferramenta de poder. Se você for distraído pelo medo daqueles ao seu redor, não perceberá as ações daqueles acima de você.” Nessa questão das mudanças climáticas globais, portanto, não podemos nos deixar ser distraídos pelo medo.

 

A tática soviética

 

Na Psicologia e na Psiquiatria, “negação” ou “negacionismo” é quando alguém prefere não aceitar a realidade para evitar uma verdade mentalmente desconfortável. Alguém, digamos, que se recusa a aceitar que um ente querido com câncer terminal vai partir, embora os médicos tenham lhe dado poucas horas de vida. Ainda que o conceito possa ser válido psicológica e psiquiatricamente, muitas vezes ele é usado de forma intelectualmente desonesta para calar oponentes dentro de um debate científico, histórico ou político. Assim, aqueles que discordam de uma certa posição são sumariamente rotulados de “negacionistas”.

Na União Soviética, por exemplo, havia um abuso político sistemático do conceito. Especialmente durante o governo de Leonid Brežnev, entre 1964 e 1982, a ideia foi usada para remover da sociedade os opositores que criticavam abertamente os dogmas impostos pelo Partido Comunista. Esses dissidentes eram diagnosticados como “negacionistas”, com sérios problemas mentais, e mandados para asilos, prisões ou campos de concentração. Após o colapso da União Soviética, documentos até então secretos mostraram que o estado usava isso intencionalmente para calar seus oponentes.

Pois bem, intencionalmente ou não, essa mesma tática é usada para calar aqueles que questionam a narrativa atual sobre as “mudanças climáticas”, que diz que elas são causadas pela emissão de alguns gases decorrentes de atividades humanas. Esses que não caem no discurso do medo e duvidam da narrativa são taxados pejorativamente de “negacionistas”. Seus questiona-mentos sequer são ouvidos e analisados. Para calá-los, usa-se basicamente a alegação de que “há um consenso científico” sobre o assunto, de que “97% dos cientistas concordam que mudanças climáticas globais provocadas pelo homem vêm acontecendo”.

Essa proporção de 97% vem de um estudo realizado por John Cook e colaboradores, de 2013, em que os resumos de quase 12.000 artigos sobre o tema foram examinados. Desses resumos, dois terços não se posicionavam sobre as causas do aquecimento global. No terço restante, aí sim, 97% defendiam a ideia de que o aumento de temperatura era causado pelo homem. Note que não se avaliou a opinião deles sobre a urgência ou a gravidade desse aumento. A proporção de 97% se popularizou com um tuíte do então presidente dos Estados Unidos Barack Obama no mesmo ano e virou uma espécie de mantra.

Mas vejamos qual é o problema com esse tipo de alegação. Em 1831, o grande filósofo alemão Arthur Schopenhauer publicou um livro com o irônico título de “A arte de ter razão”. De forma ácida e sarcástica, Schopenhauer apresentava ali 38 estrata-gemas para derrotar um adversário em um debate de forma intelectualmente desonesta. Esses estratagemas envolvem argumentos falaciosos. O que é uma falácia? É um argumento inconsistente do ponto de vista lógico. É algo que pode parecer fazer sentido em um primeiro momento, mas que, após uma análise mais criteriosa, não se sustenta.

Neste debate sobre as mudanças climáticas globais, há algumas falácias que são rotineiramente usadas contra quem ousa questionar o discurso propagandeado atualmente. Tomemos como ponto-de-partida a seguinte frase: “Cerca de 97% dos cientistas concordam que as mudanças climáticas que vemos hoje são provocadas pelo homem; só um negacionista não aceita isso!” Você já ouviu frases parecidas com essa várias vezes, não ouviu? Ela parece fazer sentido, não parece? Sim, em um primeiro momento, sim. Mas e se eu lhe disser que, nessa única frase, há três falácias?

Senão, vejamos. A frase começa com “cerca de 97%”. Isso é quase todo mundo, não é? Se quase todo mundo acredita em algo, é porque esse algo é verdadeiro, certo? Errado. O fato de a maioria, quase todo mundo ou todo mundo acreditar em algo não o torna automaticamente verdadeiro. Essa falácia é chamada de “argumentum ad populum”, ou “apelo à popularidade”. O número de pessoas que acredita ou desacredita em algo é irrelevante para determinar sua validade. Assim, a proporção de cientistas que concordam com a proposição não importa. Nem se fossem 100% deles, isso estaria automaticamente correto.

Continuando, a frase menciona depois os “cientistas”. Se pessoas inteligentes, estudiosas e bem informadas como os “cientistas” concordam com algo é por que esse algo está certo, não? Não, não necessariamente. A falácia que está sendo usada ali é o “argumentum ad verecundiam”, ou o “apelo à autoridade”. Nesse caso, usa-se a boa reputação de alguma autoridade – os cientistas – a fim de validar o argumento. Porém, o fato de alguém ser especialista em algo não é garantia de que esteja certo. Aliás, um artigo científico, publicado por John Ioannidis em 2005, mostra que a maioria dos artigos científicos está errada.

Voltando para a frase, em seguida ela apresenta a proposição de interesse, “as mudanças climáticas que vemos hoje são provocadas pelo homem”, para logo depois afirmar que quem discorda disso é um “negacionista”. O que está sendo usado ali é a “falácia do rótulo odioso”, que consiste em incluir o adversário em uma categoria que é geralmente detestada. Uma vez que o adversário consiga ser colocado dentro da categoria, fica fácil desqualificá-lo. A própria repulsa social já faz com que seus argumentos sequer sejam ouvidos. Essa é justamente aquela tática soviética, usada para impedir o debate.

Nas mãos de políticos, essa tática é perigosíssima. Vide o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, que, em 2019, disse em uma conferência da Organização das Nações Unidas que “hoje, felizmente, apenas um punhado de fanáticos negam as evidências do aquecimento global” e que era necessário agora “passar das palavras às ações”. Com isso, ele politiza o debate científico. Já sabemos como são as ações que ele defende e como isso termina: mais intervenção estatal, mais impostos, mais poder e riqueza para os suseranos, mais opressão e pobreza para seus vassalos.

Portanto, se quisermos debater a questão das mudanças climáticas globais, que de fato é importante, precisamos esquecer o medo e abandonar esses argumentos falaciosos. Devemos usar argumentos sólidos do ponto de vista lógico. E, antes de ficarmos nos digladiando em cima de dados, que serão sempre incompletos e passíveis de manipulação, precisamos nos lembrar do aspecto ético. Em outras palavras, qualquer que seja a dimensão do problema, toda possível solução deve ser ética, isto é, ela obrigatoriamente não pode violar aquele nosso direito natural à autopropriedade.

 

Um debate científico ou ideológico?

 

Embora várias vezes no passado cientistas tenham previsto o resfriamento do planeta e uma nova era glacial, atualmente a maior preocupação deles é com o aquecimento global. Esse aquecimento está baseado no fenômeno do efeito estufa. Há vários tipos de gases que podem refletir ou aprisionar calor, como gás carbônico, metano, óxido nitroso, ozônio e vapor d’água. Tais gases retêm parte do calor emitido pela Terra, como uma espécie de cobertor envolvendo e aquecendo o planeta. Sem esse efeito, a superfície terrestre seria 33°C mais fria, e a vida aqui, se existisse, seria bastante diferente.

O gás carbônico costuma ser o foco do debate, porque hoje ele constitui 60% do excesso de gases do efeito estufa lançados na atmosfera e, no futuro, deve constituir uma fração ainda maior. Atividades humanas perfeitamente válidas e necessárias para a melhora do nosso bem-estar vêm aumentando a emissão desse gás. Quatro quintos dessa emissão extra vêm da queima de combustíveis fósseis, enquanto que o quinto restante vem do desmatamento. De toda essa emissão extra, metade é reabsorvida por organismos fotossintetizantes e metade permanece na atmosfera.

Aqui, uma ressalva: enquanto o gás carbônico é um composto, o carbono é um elemento. O carbono, sob a forma de particulado, pode ser prejudicial à saúde. A palavra “carbono” nos remete àquelas fumaças escuras saindo das chaminés de fábricas. Já o gás carbônico é incolor, inodoro e quase sempre inofensivo. Apenas em concentrações muito altas, maiores do que 10.000 partes por milhão, e após exposição prolongada é que pode nos fazer mal. Além disso, é essencial à vida na Terra, pois as plantas dependem dele para fazer a fotossíntese. Assim, chamar as emissões de gás carbônico de emissões de carbono é intelectualmente desonesto.

Desde a Revolução Industrial, no final do século XVIII e início do século XIX, a concentração atmosférica de gás carbônico aumentou de 270 partes por milhão para 410. O que alguns postulam é que se a concentração de gás carbônico – e de outros gases do efeito estufa – vem aumentando na atmosfera, deve haver uma maior retenção de calor, que, por sua vez, deve provocar um aumento na temperatura da Terra. Como evidência disso, eles usam especialmente um aumento de 1,2°C na temperatura global média durante esse período e uma correlação positiva entre a temperatura e a concentração atmosférica de gás carbônico.

Mas o ponto é que, ao longo da história geológica da Terra, o clima sempre mudou e sempre vai mudar. Nos anos 1920, o astrônomo sérvio Milutin Milanković descreveu três ciclos nos movimentos do nosso planeta. Um deles é a excentricidade orbital, isto é, o quão circular é a órbita da Terra ao redor do Sol; o outro é a obliqüidade, ou seja, o ângulo do eixo terrestre em relação à sua órbita; e o último é a precessão dos equinócios, quer dizer, a oscilação do eixo de rotação do planeta, que se comporta como uma pião. Esses ciclos influenciam a quantidade de radiação solar incidente na superfície terrestre e, logo, a temperatura global.

Devido a esses ciclos, o clima do nosso planeta muda radicalmente de forma natural. Só no último milhão de anos, houve oito ciclos de períodos glaciais e interglaciais. O último período interglacial começou há cerca de 11.000 anos, marcando o início do Holoceno, a época geológica em que vivemos. Olhando para os últimos 400.000 anos, o Holoceno parece ser o período em que o clima vem permanecendo quente e estável por mais tempo, o que deve ter ajudado nosso desenvolvimento civilizacional. Porém, mesmo ao longo do Holoceno, a temperatura variou bastante, com mudanças de até 8°C em intervalos de 1.500 anos.

Logo, falar em mudanças climáticas é uma obviedade, afinal o clima está sempre mudando. Os que se preocupam com a questão, contudo, não estão se referindo a essas mudanças que ocorrem naturalmente. O que eles alegam é que a magnitude das mudanças atuais é maior do que aquilo que poderia ser explicado apenas pelos fenômenos naturais. Segundo eles, mesmo se incluirmos outras variáveis, como atividade solar, atividade vulcânica ou quantidade de aerossóis na atmosfera, não conseguimos explicá-las. A diferença, dizem, só pode ser explicada se incluirmos algumas atividades antrópicas como a causa das alterações.

Há artigos científicos bem taxativos em relação à causa antrópica dessas mudanças climáticas. Por exemplo, Adolf Stips e colaboradores, em um trabalho de 2016, afirmaram que há uma relação direta entre a emissão de gases do efeito estufa, especialmente gás carbônico, e a temperatura global média. Ainda que a atividade solar, a atividade vulcânica e a quantidade de aerossóis possa influenciar a temperatura no curto prazo, a tendência no longo prazo não é significativa, dizem. O chamado “forçamento radiativo”, o balanço entre a radiação que chega e a que sai do planeta, é positivo e provocado por atividades antrópicas, segundo os autores.

Embora trabalhos como esse aleguem que há uma relação causal inequívoca entre atividade humanas e aquecimento, a rigor não é possível estabelecer tal relação, porque não podemos realizar experimentos manipulativos em escala global. Para isso, precisaríamos de várias Terras, algumas sendo o controle, sem emissão antrópica de gás carbônico, e outras recebendo os tratamentos, isto é, diferentes quantidades emitidas do gás. Ademais, outras variáveis de interesse deveriam ser mantidas constantes. Como obviamente isso não é possível, sempre há a possibilidade de alguma outra variável ser a responsável pelo padrão observado.

Não é de se espantar, portanto, que haja trabalhos igualmente taxativos, negando qualquer relação entre o homem e as mudanças climáticas. Jyrki Kauppinen e outros dois cientistas finlandeses, por exemplo, publicaram um artigo em 2014, em que postularam que a umidade relativa e a cobertura de nuvens podem explicar as variações na temperatura média global. Ou ainda, Yusuke Ueno e outros cientistas japoneses, em um trabalho de 2019, que alegaram que mudanças no campo magnético do planeta é que determinam a intensidade da radiação solar que alcança a troposfera, levando à formação de nuvens que alteram a temperatura global.

Também há discordâncias no que diz respeito às consequências das mudanças. Enquanto que, para alguns, elas serão catastróficas, levando a uma queda substancial na produção de alimentos, grande elevação do nível do mar e aumento na incidência de doenças, para outros, elas serão brandas, com uma simples realocação de cultivos, uma pequena elevação do nível do mar e aumento de algumas doenças acompanhado da diminuição de outras. Portanto, perceba, o debate científico está longe de ser encerrado. O objetivo aqui, pois, não é decidir quem tem razão, mas mostrar que há críticas sérias quanto à narrativa propagandeada hoje.

Esse debate é mais complexo do que se possa imaginar em um primeiro momento, porque ele não envolve uma única pergunta, mas cinco. A saber: (1) mudanças climáticas estão acontecendo?; (2) se estiverem, são provocadas por atividades humanas?; (3) se forem, vale a pena tentar pará-las?; (4) se valer a pena, o estado tem a capacidade de pará-las?; e (5) se o estado tiver essa capacidade, ele deve pará-las a qualquer custo? Se as três primeiras questões são passíveis de debate científico, as duas últimas não são. A resposta a ambas é “não”. Sabemos a priori que qualquer intervenção estatal é antieconômica e antiética.

Assim, mesmo que haja mudanças climáticas, que elas sejam provocadas pelo homem e que valha a pena combatê-las, o estado não deve intervir. O problema é que hoje esse tópico das mudanças climáticas globais tem sido usado por políticos para fundamentar suas ações. Devemos ter muito cuidado quando políticos começam a usar a ciência para justificar algo. Quando isso acontece, o debate já deixou de ser científico e passou a ser ideológico. E quando ele passa a ser ideológico, podemos ter a certeza de que o estado entrará no jogo, distorcendo a economia e retirando nossas liberdades.

 

Altar do sacrifício

 

Para aqueles que ingênua ou maliciosamente defendem a intervenção estatal na questão das mudanças climáticas globais, tudo o que precisamos fazer para nos livrar de seus eventuais impactos negativos é entregar o controle da economia nas mãos dos planejadores centrais. Eles acreditam que, do alto de sua sabedoria, altruísmo e iluminação, esses planejadores saberão ajustar os botões do controle governamental com precisão suíça para que sejamos salvos de nós mesmos. Segundo eles, não devemos nos preocupar com os custos, seja monetário, seja em vidas, porque a alternativa é a destruição do planeta e o colapso civilizacional.

Essa é a tática do “obedeça-nos ou morra!”, usada com sucesso muitas vezes na história da humanidade, como na “pandemia” de 2020, quando os cidadãos foram levados a acreditar que se não abrissem mão de suas poucas liberdades restantes vivenciariam uma espécie de apocalipse zumbi. Como foi acontecer, os impactos negativos da intervenção estatal foram infinitamente maiores do que quaisquer impactos da ameaça original. No caso das mudanças climáticas, é mesma coisa. Toda vez que compramos o discurso apocalíptico, as consequências são muito piores do que se não tivéssemos dado ouvidos à propaganda.

Imagine a seguinte situação: no interior do país, há um pequeno vilarejo ribeirinho, onde o clima costuma ser ameno. Normalmente, faz sol o ano todo e não chove tanto. Digamos que alguns meteorologistas tenham previsto para a região chuvas excepcionalmente fortes no próximo verão, daquelas que podem provocar enchentes. Talvez seus efeitos sejam catastróficos, pois pessoas podem ficar desabrigadas, perder seus bens, adoentar-se ou até morrer. O que inicialmente começa como um burburinho se amplifica com o tempo. Depois de um tempo, não se fala de outra coisa no vilarejo.

Um dos moradores, Nhô Dito, preocupado com a situação, apresenta uma proposta: “Eu sei como evitar isso, basta desviarmos o rio exatamente do jeito que estou propondo, ali para a Mata da Jacutinga!” O pessoal avalia a situação, ponderando os prós e os contras, para decidir se a obra deve ser feita. Alguns dizem que sim, outros que não – e a discussão vai se estendendo. Cansado dessa lenga-lenga, Dito perde as estribeiras: “Vocês que não querem a obra são uns negacionistas das enchentes! Vocês só pensam em si mesmos, não se importam com os outros, não se preocupam se vamos todos morrer ou não!”

Nhô Dito procura o prefeito da cidade, S. Ribamar, e o convence da gravidade da situação. O prefeito apresenta um projeto que é aprovado pelos nobres vereadores. A nova legislação obriga todos os munícipes a pagarem a “Contribuição Provisória Emergencial para Mitigação de Inundações Fluviais” ou, como o povo lá diz, o “imposto-enchente”. Os cidadãos apertam os cintos para pagarem a nova taxa, à custa de menos comida em seus pratos. Do dinheiro arrecadado, boa parte fica com o próprio prefeito e os vereadores. O que sobra vai para o S. Miguel do Cimento, primo do prefeito e dono da empreiteira que ganhou a licitação.

Com os tradicionais atrasos, a obra finalmente fica pronta no meio do verão. S. Ribamar e Nhô Dito se congratulam por terem evitado uma catástrofe. A chuva no final das contas nunca veio, mas isso não importa – é melhor prevenir do que remediar, não é mesmo? A contribuição provisória se torna permanente. Recursos que deveriam ter sido economizados ou gastos de outra maneira foram mal alocados. A população não só do vilarejo, mas de todo o município está pior agora do que estava antes, mais pobre e mais dependente do estado. O prefeito, os vereadores e o empreiteiro, porém, nunca estiveram tão bem.

Embora um pouco exagerada, essa história fictícia não está tão longe assim da realidade. Temos ali o planejador central que imagina ter encontrado a solução ideal para todos, os políticos que se aproveitam da situação para roubar ainda mais dinheiro da população via impostos, o corporativista que usa suas conexões para se beneficiar da situação e a população que é obrigada pelos fuzis estatais a financiar tudo isso, concordando ou não com a proposta. Agora, é só trocar “enchente” por “vírus”, “nova era glacial”, “aquecimento global” ou qualquer outra ameaça, que temos outros exemplos análogos no mundo real.

No caso das mudanças climáticas, propostas de intervenções estatais ganharam força a partir de 1992, com a Cúpula da Terra, uma conferência mundial sobre questões ambientais, realizada no Rio de Janeiro. Nela, chefes de estado do mundo todo assinaram um tratado de cooperação internacional, em que se comprometiam a “estabilizar a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera a um nível que evitaria interferências antrópicas perigosas no sistema climático”, o que quer que isso signifique. Cinco anos depois, o Protocolo de Quioto estabeleceu obrigações legais para a redução de emissões.

Em 2015, o Acordo de Paris estipulou que o aumento da temperatura média global não deveria ser maior do que 2°C acima dos níveis pré-industriais e que os quase 200 países signatários deveriam tomar medidas para esse fim. Em 2020, o parlamento europeu aprovou o Acordo Verde, que visava a reduzir as emissões de gás carbônico no continente em três décadas por meio de impostos, subsídios e regulações. De modo similar, o Novo Acordo Verde é um pacote de propostas para modificar a legislação estadunidense com o intuito de diminuir as emissões de gás carbônico por meio de intervenções fortíssimas na economia.

O enredo desses acordos é sempre o mesmo: políticos, burocratas e tecnocratas se reúnem para decidir como vão mandar na vida dos outros e quais vão ser as punições para os que se atreverem a desobedecê-los. Violando, como sempre, o direito natural à autopropriedade, o estado obriga de forma agressiva seus cidadãos a seguirem suas regras arbitrárias sob a ameaça de multa, prisão ou morte. Nesse ínterim, os reis e seus amigos são favorecidos, enquanto que seus súditos são forçados a pagar a conta. Além disso, os resultados, não raro, são opostos àqueles preconizados.

Uma das justificativas para a intervenção estatal é o suposto aumento da carestia devido às mudanças climáticas. Por ser antiética, essa intervenção já deve ser sumariamente rejeitada, mas ela não se sustenta nem do ponto de vista utilitário. Um estudo liderado pela engenheira ambiental japonesa Tomoko Hasegawa, publicado em 2018, concluiu que se mudanças climáticas podem colocar 24 milhões de pessoas a mais em risco de fome, impostos globais sobre emissão de carbono aumentarão tanto o preço dos alimentos, que colocarão 78 milhões de pessoas a mais em risco de fome, especialmente na África subsariana e na Índia.

A propósito, os pobres são sempre os mais prejudicados pelas intervenções estatais, que encarecem bens e serviços, inclusive aqueles mais fundamentais. Por exemplo, tanto no Brasil quanto em outros países, subsídios para a produção de biocombustíveis, como o etanol, levaram à substituição de culturas de alimentos por extensas plantações de cana-de-açúcar e afins. De acordo com a entidade filantrópica britânica Action Aid, o aumento no preço da comida decorrente desses subsídios fez com que 30 milhões de pessoas se aproximassem da linha da pobreza e outras 30 milhões chegassem a passar fome.

Um outro caso que mostra bem como a atuação do estado é danosa é a produção de energia. Para fomentar fontes renováveis de energia, o estado aumenta os impostos sobre combustíveis fósseis, distorcendo duplamente a economia. Por um lado, encarece atividades que dependem destes e, por outro, estimula artificialmente projetos que desenvolvem aquelas. A geração de energia renovável fica, assim, dependente de subsídios estatais, que transferem o dinheiro roubado dos pagadores de impostos para grandes corporações como British Petroleum, General Electric, Mitsubishi, Samsung e Tesla.

Por falar em Tesla, o seu carro elétrico Model 3 é considerado um veículo de emissões nulas pelos órgãos governamentais do mundo todo. Porém, de acordo com um artigo escrito pelo físico alemão Christoph Buchal e colaboradores, se a produção e o recarregamento de suas baterias forem considerados, o modelo emite mais gás carbônico do que um carro equivalente movido a disel. Levando-se em conta o processo de fabricação e de recarga, dirigir um Model 3 leva à emissão de cerca de 170 gramas de gás carbônico por quilômetro rodado, enquanto que dirigir um Mercedes C220, movido a disel, leva à emissão de 140 gramas.

Com o estado intervindo, quem tem conexões políticas se dá bem. Lembra-se do Al Gore? Aquele que havia previsto o final dos tempos para 2014? Pois bem, quando ele deixou a vice-presidência dos Estados Unidos, seu patrimônio era de US$ 1 milhão de dólares. Hoje, ele possui mais de US$ 300 milhões e, se o Novo Acordo Verde for aprovado, provavelmente se tornará um bilionário. Coincidentemente, ele é um investidor interno de projetos de energia alternativa financiados pelo governo estadunidense. E, note, o problema aqui não é enriquecer, mas sim enriquecer por meio de conexões escusas e à custa da coerção estatal.

Embora não tenhamos garantias de que as medidas do estado mitigarão as mudanças climáticas, sabemos praxeologicamente que o planejamento central implicará custos maiores para qualquer coisa que demande energia – ou seja, quase tudo. Justiceiros ambientais alegam que as políticas intervencionistas que defendem são direcionadas aos países mais desenvolvidos. Mostrando que não entendem nada de economia, esquecem-se de que está tudo interligado. Diminuir a atividade econômica nos países ricos, por sinal, impactará muito mais as populações dos países pobres, cujo custo de vida aumentará e cuja renda diminuirá.

Não que isso importe para esses justiceiros. Sempre em nome do bem maior, eles estão dispostos a sacrificar bilhões de pessoas, especialmente os mais pobres, no altar das mudanças climáticas se puderem posar como virtuosos. Antigamente, os sacerdotes astecas sacrificavam inocentes na esperança de que seus deuses fizessem o tempo melhorar. Assim como os astecas, os que defendem as intervenções estatais acreditam que sacrifícios devam ser feitos na esperança de que a ira dos deuses do clima seja aplacada. Desde que, claro, os sacrificados não sejam eles.

 

Um outro caminho

 

Se acharmos que essa questão das mudanças climáticas globais é realmente importante, não devemos procurar promessas de soluções que usem a coerção estatal, mas sim soluções verdadeiras que usem o livre-mercado. Nesse caso, garantimos que essa potencial solução não agride ninguém, envolve pessoas interagindo voluntariamente e reflete uma vontade genuína da sociedade. Com os recursos naturais devidamente privatizados, com a poluição desincentivada pelo respeito à autopropriedade e com o sistema de preços os guiando, empreendedores podem satisfazer essa vontade.

Em vez de tentarmos resolver todo o problema de uma vez, com um único conjunto de medidas a ser aplicado por planejadores centrais de cima para baixo, é melhor deixarmos a engenhosidade humana agir para solucionar a questão pouco a pouco, por meio de pequenas tentativas descentralizadas. Elas podem funcionar independentemente até da gravidade do problema ou da crença nele. Se, digamos, um novo produto que diminui a emissão de gás carbônico for mais eficiente e mais barato do que o existente, as pessoas vão consumi-lo, inclusive aquelas que questionam as mudanças climáticas ou não se importam com elas.

Se a energia produzida por fontes convencionais hoje emite muito gás carbônico, a busca por fontes alternativas é, sim, válida. Atualmente, essa busca é distorcida pelas intervenções estatais, mas não precisaria ser assim. A Tesla vem desenvol-vendo telhas fotovoltaicas, capazes de transformar a radiação solar incidente em energia elétrica, armazenando-a em baterias para o consumo residencial. Essas telhas têm o potencial de baratear a energia para todos, ao mesmo tempo que diminuem a emissão de gás carbônico. Infelizmente, a empresa se beneficia de subsídios. Sem eles, poderíamos avaliar a real viabilidade dessas telhas.

Em um livre-mercado, se iniciativas como essa se mostram lucrativas, isso significa que consumidores estão sendo satisfeitos, recursos estão sendo bem alocados e valor está sendo criado. Motivados pelo lucro, outros empreendedores são levados a investir em telhas fotovoltaicas, melhorando sua eficiência e barateando seus custos. Isso leva a um círculo virtuoso, em que as emissões de gás carbônico vão diminuindo, a produção de energia alternativa vai crescendo e o bem-estar geral vai aumentando. Todos vão ficando melhores do que estavam antes, mostrando a harmonia de um mercado sem amarras.

Nesse sentido, uma outra proposta interessante é a da empresa canadense Carbon Engineering, que desenvolveu uma técnica para retirar gás carbônico da atmosfera. O gás capturado é misturado com uma solução de hidróxido de potássio, que o remove do ar e o imobiliza como carbonato. Em seguida, isso é combinado com hidrogênio para produzir um combustível líquido, que, quando queimado, é neutro em relação à emissão do gás. Note como o mercado leva a um melhor uso dos recursos naturais: ao mesmo tempo que retira o gás carbônico da atmosfera, o processo produz um combustível que não aumenta sua emissão.

E por que simplesmente não plantar árvores? Um artigo de Jean-François Bastin e colegas, publicado na Science em 2019, mostrou que a estratégia mais barata e eficiente para a questão climática é plantar árvores massivamente. Os cientistas calcularam quantas árvores poderiam ser plantadas ao redor do mundo, sem comprometer áreas urbanas ou agrícolas. Essas árvores seriam capazes de retirar da atmosfera dois terços de todas as emissões antrópicas de gás carbônico. Em uma ordem libertária, se as mudanças climáticas forem percebidas como um problema sério, naturalmente haverá demanda para o plantio de árvores.

Como no caso da biodiversidade, há também aqueles que colocam a mão no próprio bolso para tentar minimizar o problema. Jeff Bezos, presidente da Amazon, considerado o homem mais rico do mundo, resolveu doar, em 2020, 10 bilhões de dólares – quase 10% de sua fortuna – para um fundo de combate às mudanças climáticas globais. Ele se dispôs a financiar projetos de cientistas e organizações não-governamentais que busquem soluções para o problema. Perceba novamente que o fato de ele ter enriquecido satisfazendo muitos consumidores permitiu que dedicasse boa parte de seus recursos para a questão climática.

E se não formos ricos como ele para doar bilhões, qualquer pequena doação para organizações sérias já ajuda. O importante é a iniciativa ser espontânea, afinal livre-mercado é sobre trocas voluntárias. E lembre-se de que agimos para maximizar nosso ganho psíquico, não monetário. O sistema de preços e o lucro são apenas maneiras de transmitirmos informações sobre o que aumenta nosso bem-estar. Não há nada irreconciliável em procurar minimizar eventuais problemas decorrentes das mudanças climáticas e defender o livre-mercado. Ao contrário, o livre-mercado é a única opção para minimizá-los de forma ética.

Tendo os políticos percebido que podem usar a questão das mudanças climáticas globais para aumentar sua capacidade de extorsão e controle, o debate, infelizmente, se tornou ideológico. Nesse caso, ele passou a ser não mais sobre as mudanças climáticas em si, mas sim sobre aumento de poder e transferência de renda do setor produtivo para o setor parasitário. Essa não é uma boa saída. É melhor que aqueles que considerem o problema relevante se disponham a solucioná-lo com seus próprios recursos, respeitando o direito natural à autopropriedade dos demais e procurando satisfazer suas demandas legítimas.

 

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Marco Batalha
Marco Batalha
é biólogo, com mestrado e doutorado em Ecologia. Professor titular da Universidade Federal de São Carlos. Tem mais de 90 artigos científicos, publicados em revistas como Diversity and Distributions, Ecology, Oecologia, Oikos e Plant Ecology. É autor do livro 'O Ambientalista Libertário'.
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