Empresas como Visa, Dun and Bradstreet, Underwriter’s Laboratories e assim por diante conectam estranhos desconfiados em uma rede de confiança comum. Nossa economia depende deles. Muitos países em desenvolvimento carecem desses centros de confiança e se beneficiariam muito com a integração com centros mundiais desenvolvidos como esses. Embora essas organizações geralmente tenham muitas falhas e fraquezas – as empresas de cartão de crédito, por exemplo, têm problemas crescentes com fraude, roubo de identidade e relatórios imprecisos, e a Barings recentemente faliu porque seus sistemas de controle não se adaptaram adequadamente à negociação de títulos digitais e muitas dessas instituições estarão conosco por muito tempo.
– Nick Szabo.
A maior ameaça financeira à riqueza e à liberdade das pessoas é o sistema confiável de terceiros que não atende aos clientes, mas corre, em vez disso, para cumprir as regulamentações governamentais, como os requisitos de relatórios.
O anonimato é uma ferramenta poderosa para a privacidade, mas os indivíduos também precisam evitar os canais estatais que contrariam a confidencialidade. A coleta de dados moderna é voraz, e a fiscalização está acelerando. Se você jogar o jogo do estado ao seguir os caminhos financeiros, ele vai te dirigir para baixo porque o estado escreveu o livro de regras, e ele tem a vantagem da casa. Ele não irá jogar justo. Então não jogue. Para repetir Buckminister Fuller: “Você nunca muda as coisas ao lutar contra a realidade existente. Para mudar algo, construa um novo modelo que faça do modelo existente obsoleto”. Afastar-se do estado e simplesmente viver dá à liberdade a vantagem da casa. Até recentemente, no entanto, afastar-se significava um enorme sacrifício de oportunidades econômicas e de qualidade de vida porque o estado tinha uma trava no que Nick Szabo chama de “centros de confiança”.
Satoshi e Buckminister Fuller
O brilhantismo do Bitcoin: ser um novo modelo do que Fuller falou. Usuários da blockchain podem se afastar de terceiras partes confiáveis sem profundo sacrifício. A blockchain ou performa os serviços válidos de uma terceira parte confiável ou torna mais óbvia a necessidade por eles. Corretoras descentralizadas – corretoras peer-to-peer – cada vez mais providenciam serviços sofisticados tais como comprar e vender cripto como especulação.
O “White Paper” de Satoshi e o passo-a-passo do “Bitcoin Whitepaper: A Beginner’s Guide” mostram como a blockchain substitui as terceiras partes confiáveis. O documento define “uma moeda eletrônica como uma cadeia de assinaturas digitais”. As moedas viajam por um registro digital distribuído, chamado blockchain, pelo qual são registradas de forma transparente, cronológica e imutável. Esses são os passos básicos na jornada de uma moeda:
- Um indivíduo transmite uma nova transação para todos os nodes ou computadores na rede.
- Os nodes coletam a nova transação para um bloco. Um bloco é como uma página única no registro da blockchain, ele contém informação sobre uma transferência específica, bem como está processando dados.
- O controlador de cada node – chamado de “minerador” – performa uma proof of work para o bloco. A prova de trabalho é um cálculo de computador que é difícil de produzir em termos de poder de processamento e tempo, mas é fácil para outros verificarem.
- Quando um node tem uma proof of work, ele transmite o bloco concluído para todos os outros nodes.
- Os nodes aceitam o bloco somente se a transação for válida e a moeda ainda não tiver sido gasta. Timestamps exclusivos, incluídos em cada bloco, evitam gastos duplos.
- Os nodes expressam a aceitação do bloco procedendo ao trabalho no próximo na cadeia, usando o hash do bloco previamente aceito para construir uma continuidade ininterrupta de informações. Um hash é uma função que converte uma entrada em uma string alfanumérica de tamanho fixo. Cada bloco possui um valor de hash único.
Terceiros confiáveis originalmente surgiram porque eles providenciaram funções válidas para consumidores. A função incluía verificação de uma transação, facilidade e segurança de uma transferência, preservação da privacidade, prevenção de gastos duplos, mediação de disputas e provisão de um registro. Hoje, as terceiras partes confiáveis perverteram esses valiosos serviços aos consumidores com assaltos a eles. O Bitcoin retorna esses serviços aos indivíduos sem ataques de atendentes.
Verificação de uma transação. Uma terceira parte confiável válida autentica uma transação. Um banco pode comparar a assinatura num cheque com a que está no arquivo, ou ele pode verificar que o dinheiro não é falsificado. Esses serviços têm valor, Mas uma quantia estonteante da autenticação feita pelos bancos hoje são desvalor para os consumidores. A exaustiva verificação da identidade de um consumidor, por exemplo, viola sua privacidade para saciar o apetite do governo por dados, o que é frequentemente usado para danificar o consumidor
A blockchain verifica transações sem se intrometer nos usuários. A transferência é autenticada, não os participantes. A transação é verificada por mineradores através de uma proof of work conduzida num bloco. Uma moeda é autenticada quando a proof of work está completa e o bloco é aceito pela blockchain. Visto que a blockchain é um registro aberto público, todos podem traçar a história de uma moeda e terem a certeza da precisão de uma transação sem saberem a identidade daqueles envolvidos. O governo pode pesquisar na blockchain, mas o registro é muito mais uma barreira do que um acréscimo na fiscalização.
Facilidade de transferência. Enquanto o comércio global galopa para frente e a internet encoraja a gratificação instantânea, a velocidade e facilidade de transferências se tornou cada vez mais importante – isto é, para o consumidor. Com um monopólio virtual sobre transferências internacionais, entretanto, os bancos definem termos que os beneficia e que prejudicam o consumidor. Bancos impõe custos diretos e indiretos. Um custo direto é a taxa associada a cada transferência, que pode ser substancial. Três custos indiretos: a conversão de moeda, se necessário; as informações pessoais necessárias; e o tempo considerável que uma transferência pode levar para ser compensada. O período de compensação é chamado de “float”. Float é o dinheiro no sistema bancário que é contado duas vezes no processo de transferir o pagamento – uma vez quando ele é depositado no banco do pagador, e uma vez quando é recebido pelo banco do pagador. Visto que o banco do pagador recebe juros sobre o dinheiro flutuando, tem havido incentivo para fazer o processo mais longo do que o necessário.
Em contraste, a blockchain não reconhece distância na transferência de riqueza ou de informações. Dois computadores na mesma casa podem estar tão próximos ou distantes um do outro (em termos de tempo de transmissão) quanto dois computadores em continentes diferentes. Os mineradores cobram uma tarifa por seu serviço, mas as tarifas são conhecidas e não têm pegadinhas ocultas. Se a tarifa de transferência de uma cripto é insatisfatória, então há muitas outras criptos para se escolher. Em contraste, tarifas bancárias tendem a ser padronizadas. A maioria das transferências ocorrem rapidamente – ao menos comparando aos bancos – e não há float aí. A blockchain não tem auto interesse ou agenda escondida.
Segurança ou transferência. Até mesmo bancos honráveis podem ser hackeados, roubados e comprometidos em suas transmissões. Embora existam muitas corretoras de cripto perdendo ou roubando a riqueza de suas contas – e esse é um problema inegável – bancos são tão vulneráveis quanto. Não há uma diferença grande entre os dois, entretanto, no que tange a segurança. Toda instituição financeira over-the-table entrega informações de clientes ao governo, que utiliza os dados para tributar, confiscar, multar e prender clientes.
A blockchain é descentralizado e resiste a ataques de hackers; não pode ser corrompida por más intenções porque é inanimada. A amplamente divulgada perda de moedas por roubo ocorre quando uma pessoa passa das transferências peer-to-peer que controla para depositar suas moedas em uma corretora, especialmente uma centralizada. A comunidade cripto precisa reduzir os riscos nessa categoria de uso das criptos. O trabalho está em andamento.
Enquanto isso, nenhuma informação pessoal é entregue ao governo. O registro é transparente para todos, incluindo ao estado, mas é relativamente fácil mascarar uma identidade e embaralhar as transferências por meio de serviços como mixers ou tumblers. A blockchain é atualmente o método mais seguro pelo qual podemos transferir fundos online. A principal ameaça à segurança é se o governo tentar controlar toda a internet. Se isso for possível e se as alternativas não surgirem rapidamente, todos os métodos de transmissão online estarão ameaçados, não apenas a criptografia.
Preservação da privacidade. O tipo de privacidade outrora notoriamente oferecido pelos bancos suíços já se foi, mesmo na Suíça. As instituições financeiras são pontos de trava nos quais os dados pessoais de um cliente são coletados e compartilhados com as autoridades. A única privacidade verdadeira é o sigilo real com que bancos informam sobre um cliente, sem o conhecimento ou consentimento do cliente.
Manter a privacidade em uma blockchain transparente parece ser uma contradição em termos. O “Bitcoin Whitepaper A Beginner’s Guide” explica o porquê não é “Com a rede peer-to-peer, a privacidade ainda pode ser alcançada mesmo que as transações sejam anunciadas. Isso é feito mantendo as chaves públicas anônimas. A rede pode ver os valores dos pagamentos sendo enviados e recebidos, mas as transações não estão vinculadas a suas identidades.”
Se um usuário decidir revelar as chaves públicas, uma estratégia de privacidade comum é o pseudônimo. Uma transferência peer-to-peer não requer informações para além dos cripto endereços do remetente e do destinatário, que são gerados de forma privada pela carteira de cada participante. No entanto, quando uma pessoa se junta à blockchain, ela se torna vulnerável à análise de rede que procura padrões de transferências para montar o perfil de um usuário. É por isso que alguns usuários geram um endereço diferente para cada transação, o que cria vários pseudônimos. Satoshi explica: “Quando você gera um novo endereço bitcoin, só ocupa espaço em disco em seu próprio computador (como 500 bytes). É como gerar uma nova chave privada PGP, mas com menos uso de CPU porque é ECC. O espaço de endereçamento é efetivamente ilimitado. Não faz mal a ninguém, então gere tudo o que você quiser.”
Outras práticas padrões de privacidade: crie várias carteiras para isolar uma transação ou um tipo de transação de ser associado a um padrão; encobrir um endereço IP usando uma ferramenta de anonimização como o Tor; e passe por um serviço de mixagem.
Prevenção de gastos duplos. O gasto duplo ocorre quando a mesma unidade de dinheiro é gasta em mais de uma transação, embora possa ser gasta legitimamente apenas uma vez. Satoshi descreve como os sistemas de pagamento tradicionais evitam gastos duplos: “Uma solução comum é introduzir uma autoridade central confiável, ou cunhagem, que verifica todas as transações em busca de gastos duplos. Após cada transação, a moeda deve ser devolvida à casa da moeda para emitir uma nova moeda, e apenas moedas emitidas diretamente da casa da moeda são confiáveis para não serem gastas duas vezes. O problema com esta solução é que o destino de todo o sistema monetário depende da empresa que administra a casa da moeda, com todas as transações tendo que passar por eles, assim como um banco”. A solução coloca a oferta monetária nas mãos de uma terceira parte confiável, ou mesmo de uma “quarta parte confiável”, o que o torna isso uma não-solução.
Em teoria, a cripto é suscetível a gastos duplos. Duas transações com a mesma moeda podem ser transmitidas em rápida sucessão para que a primeira não seja registrada publicamente antes que a segunda seja enviada. A solução de Satoshi é elegantemente simples. Toda transação não é somente pública, mas também adotada por todos os participantes da rede em uma linha do tempo para que possamos assumir que o pedido da cadeia é o mesmo para todos. Cada transação é marcada temporalmente. Se uma segunda transação com a mesma moeda ocorre, então a marca temporal inicial é contada, e a última descartada.
Mediação de Disputas. O dinheiro físico tinha uma vantagem sobre outras formas de pagamento; a troca é irreversível com exceção do consenso ou através de um processo judicial. A maioria dos sistemas de pagamento online possuem processos embutidos para reverter ou contestar uma transação. O serviço aumenta as tarifas gerais do sistema de pagamento, bem como colocam um limite prático sobre o tamanho mínimo de uma transação. Também aumenta o envolvimento prático do sistema de pagamento nas transações.
As transferências de blockchain são irreversíveis. Os fundos só podem ser devolvidos em uma base ponto a ponto se o destinatário concordar em fazê-lo. Isso inutiliza a necessidade de uma tarifa e permite micro pagamentos. Se a garantia tradicional do “dinheiro de volta” é desejada, então alguns serviços providenciam garantia por uma tarifa extra.
A provisão de um registro. Instituições financeiras mantém registros, mas seus conteúdos podem ou podem não ser providenciadas ao consumidor. A interação de um banco com uma agência fiscal, por exemplo, quase certamente será escondida de um titular da conta. Isso significa que muitos registros são mantidos apenas para benefício do banco e do governo, não para o cliente.
A própria blockchain é o registro. É um registro imutável e transparente de todas as transferências ocorridas desde o bloco original Genesis. Nenhuma interação oculta pode prejudicar um usuário.
Em resumo, a cripto fornece os serviços de um terceiro honesto com vantagens adicionais.
Satoshi é um Libertário e Anarquista?
Parte de explorar a dinâmica de terceiras partes confiáveis e a importância de contorná-los é perguntar: “Por que essa tarefa foi tão importante para Satoshi?” Ele era um libertário e anarquista ou ele era politicamente neutro e simplesmente farto de bancos? Uma declaração explícita de Satoshi sobre o assunto teria sido muito útil para responder a essa pergunta. Do jeito que a situação está, no entanto, o melhor que alguém pode fazer é examinar as evidências circundantes, como suas breves declarações on-line e o Whitepaper, e especular a partir da estrutura do próprio Bitcoin.
Em 31 de outubro de 2008, Satoshi publicou” Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System” (o “White Paper”) na Lista de Discussão sobre Criptografia em metzdowd.com. Apresentou a tecnologia por trás do Bitcoin e o design de seu instrumento de implementação – a blockchain. A breve explicação de Satoshi é um documento tecnológico definidor do nosso século.
É ainda mais notável, portanto, que ninguém parece saber a identidade de Satoshi, se “ele” é realmente uma equipe, ou muito mais sobre ele. Claramente, ele codificou por amor à tecnologia e não por desejo de fama porque evitou os holofotes; ele também não perseguiu o status acadêmico. Como o código é de código aberto e não patenteado, a aquisição de riqueza também não era uma força motriz, embora os um milhão de bitcoins em sua conta agora constituam uma fortuna incrível. Ao contrário de May e outros antecessores, Satoshi não exibiu arrogância ou desejo de chocar; em um post, ele se desculpa e modestamente diz: “Desculpe lhes dar um balde de água fria. Escrever uma descrição dessa coisa [Bitcoin] para o público em geral é muito difícil.” Em suma, ninguém pode afirmar definitivamente os motivos de Satoshi ou seu propósito final. Pelo processo de eliminação, a motivação política torna-se mais provável. Seus atos e palavras fornecem outras razões para chegarmos a essa conclusão.
Satoshi começou a escrever o código Bitcoin em 2007. Quando o “White Paper” apareceu na lista de discussão da Cryptography em 2008, também foi disponibilizado em um site criado por Satoshi – bitcoin.org. A lista de discussão consistia em especialistas em matemática, estatística e criptografia, que imediatamente argumentaram contra a viabilidade do Bitcoin. Não será escalável, alegaram; requer muitos recursos para ser prático, argumentaram. Além disso, “maus” nodes podem controlar o poder da CPU da rede e gerar uma cadeia mais longa do que os nodes “honestos”; maus agentes poderiam controlar a blockchain.
As pacientes respostas de Satoshi gradualmente convenceram a maior parte da lista de que o Bitcoin poderia funcionar. Enquanto isso, os desenvolvimentos no lançamento aconteceram rapidamente. Os destaques incluem:
- 3 de janeiro de 2009, o bloco Genesis é extraído.
- 9 de janeiro de 2009, a versão 0.1 do software Bitcoin é lançada no Sourceforge.
- 12 de janeiro de 2009, ocorre a primeira transação de bitcoin.
- 5 de outubro de 2009, uma taxa de câmbio de US $1 = 1.309,03 BTC é estabelecida.
- 12 de outubro de 2009, o canal #bitcoin-dev é registrado para comunidades de desenvolvimento de código aberto.
- 16 de dezembro de 2009, a versão 0.2 é lançada.
- 6 de março de 2010, dwdollar estabelece uma corretora de Bitcoin.
- 22 de maio de 2010, a primeira transação no mundo real ocorre quando uma pizza é comprada por 10.000 bitcoins.
- 7 de julho de 2010, a versão 0.3 é lançada.
- 16 de outubro de 2010, ocorre a primeira transação com bitcoin como garantia.
Em meados de 2010, Satoshi transferiu a bitcoin.org para Gavin Andresen. Andresen explica:
Comecei a enviar código para Satoshi para melhorar o sistema principal. Com o tempo, ele confiou no meu juízo sobre o código que escrevi. E, eventualmente, ele me perguntou de forma repentina se estaria tudo bem se ele colocasse meu endereço de e-mail na página inicial do bitcoin, e eu disse que sim, sem perceber que quando ele colocou meu endereço de e-mail lá, ele tirou o dele. Eu era a pessoa que todos enviavam e-mails quando queriam saber sobre bitcoin. Satoshi começou a recuar como líder do projeto e a me empurrar para frente.
Em 2010, Satoshi ficou em silêncio. Mais uma vez, fica claro que ele não escreveu pela fama.
O lançamento sistemático e meticuloso do bitcoin, bem como a estrutura elegante da blockchain, reflete um homem que pensa as situações em detalhes e entende suas implicações. Satoshi compreendeu o impacto político de seu sistema revolucionário, mas fez poucos comentários sobre o assunto.
Evidência das motivações políticas de Satoshi
Grande debate gira em torno da política de Satoshi com muitas pessoas projetando suas próprias atitudes em relação ao Bitcoin para ele. Mas todas as indicações do mundo real apontam para Satoshi ser um libertário, um anarquista ou ambos. As evidências das crenças políticas de Satoshi remontam ao bloco Genesis – o primeiro elo na blockchain. Ele contém a seguinte mensagem: “A Times de 03/Jan/2009: Chancellor à beira do segundo resgate aos bancos”. A mensagem é uma manchete da primeira página do jornal britânico The Times de Londres. 3 de janeiro de 2009 é o aniversário do blockchain – a revelação do presente de Satoshi para o mundo. Por que ele escolheu anunciá-lo com essas palavras específicas?
Algumas pessoas pensam que o texto foi uma escolha aleatória da edição de 3 de janeiro do Times, e foi inserido com o único propósito de comprovar a data. Eles afirmam que a mensagem poderia facilmente ter sido “Dez profissionais do sexo presos em Sting”. Esta afirmação desafia sua credibilidade. Satoshi era um programador metódico que ia diretamente ao cerne dos assuntos sem frivolidade, capricho ou apartes. Ele lançou o que ele deve ter sabido ser uma obra-prima de codificação, e não é plausível que ele tenha colocado uma mensagem aleatória no bloco Gênesis. O próprio fato de que o primeiro bloco é chamado de “Gênesis” – provavelmente uma referência ao primeiro livro da Bíblia em que Deus cria o mundo – mostra o significado que Satoshi deu ao evento.
Um cenário muito diferente é altamente provável. Satoshi está sentado em seu computador, preparando-se para lançar o primeiro bloco para o mundo como uma semente ao vento. Ele conhece seu poder e quer que as pessoas conheçam seu propósito sem ter que abrir sua concha de anonimato. Ele acabou de ler o jornal da manhã com seus relatórios contínuos de torpeza financeira em que as elites políticas e financeiras agiram apenas em benefício próprio às custas dos pagadores de impostos. Uma manchete fornece o trecho perfeito sobre as duas agências mais responsáveis pelo estupro econômico dos pagamentos de impostos – o governo e o sistema bancário. As oito palavras também capturam o conluio entre eles. Satoshi digita cuidadosamente: “Chancellor à beira do segundo resgate aos bancos”, e incorpora essa mensagem no Genesis de uma dinâmica que ele acredita que pode mudar o mundo. A intenção é anti-chancellor, anti-banco e anti-resgate. Desde o primeiro piscar do blockchain, ele declara que o poder do dinheiro está sendo devolvido às pessoas.
Evidências a partir do “White Paper”
Outro ponto de debate sobre as intenções políticas de Satoshi gira em torno do tom neutro do “Whitepaper”. O documento ainda afirma que um sistema de instituições financeiras terceirizadas confiáveis “funciona bem o suficiente para a maioria das transações”. Apenas objeções práticas ao sistema existente são delineadas nele. Em suma, o “Whitepaper” não parece um manifesto político.
Nem deveria. Um whitepaper é técnico. É uma explicação oficial de uma ideia ou experimento e de seus resultados ou conclusões, que é apresentada para revisão a especialistas na mesma área. Seu objetivo é expor um conceito, resolver um problema ou revelar uma descoberta. A ideologia não tem lugar. Além disso, a lista na qual Satoshi postou o “White Paper” era composta por especialistas em matemática, estatística e criptografia que queriam os fatos técnicos simples, não a política que os cercava. Os membros, sem dúvida, tinham uma variedade de pontos de vista políticos, e poderiam muito bem ter tropeçado em alguns com os quais discordavam. A Lista não era o momento, não era o lugar para declarar motivos ou crenças políticas.
No entanto, uma referência política está em posição de destaque. Nota de Rodapé [1] lê, “W. Dai, ‘b-money’, http://www.weidai.com/bmoney.txt, 1998.” Este é o aceno de agradecimento de Satoshi à proposta de b-money de 1998 desenvolvida pelo famoso cypherpunk Wei Dai, com quem Satoshi teve uma troca de e-mails. A proposta de Dai é amplamente vista como uma precursora do “White Paper”, com algumas pessoas acreditando que Dai é Satoshi. Em 22 de Agosto de 2007, Satoshi enviou um e-mail para Dai para o informar, “Estou ficando pronto para lançar um documento que expande suas ideias em um sistema operacional completo”. O fato de os pontos de vista de Dai serem um trampolim para o “White Paper” faz com que valha a pena examiná-los.
A proposta do b-money de Dai começa:
Sou fascinado pela criptoanarquia de Tim May. Ao contrário das comunidades tradicionalmente associadas à palavra “anarquia”, em uma criptoanarquia o governo não é destruído temporariamente, mas permanentemente proibido e permanentemente desnecessário. É uma comunidade onde a ameaça de violência é impotente porque a violência é impossível, e a violência é impossível porque seus participantes não podem ser vinculados a seus nomes verdadeiros ou locais físicos.” A proposta conclui: “O protocolo proposto neste artigo permite que entidades pseudônimas não rastreáveis cooperem umas com as outras de forma mais eficiente, fornecendo-lhes um meio de troca e um método de execução de contratos. Espero que este seja um passo para tornar a criptoanarquia uma possibilidade prática e teórica.
Também é razoável examinar os recursos que Satoshi escolheu incorporar no Bitcoin como um reflexo de sua política. Os recursos incluem
- Descentralização Radical. A primeira linha do resumo do “White Paper” afirma, “uma versão puramente peer-to-peer de dinheiro eletrônico poderia permitir pagamentos online serem enviados diretamente de uma parte para outra sem passar por uma instituição financeira”. Sem líderes, sem burocracia, sem posição de poder além do que o indivíduo exerce sobre si mesmo.
- A Seção 10 do “White Paper” é intitulada “Privacidade”. Ainda que não perfeito, o anonimato buscado e oferecido pelo Bitcoin é muito superior àquele de outras formas de pagamento online. A Seção 10 termina com uma advertência e, talvez, uma indicação de uma melhoria que Satoshi estava planejando fazer para a Blockchain. “Como um firewall adicional, um novo par de chaves deveria ser usado para cada transação para impedi-las de serem ligadas a um dono comum. Algumas ligações são ainda inevitáveis com transações multi-entradas, as quais necessariamente revelam que suas entradas eram possuídas pelo mesmo dono. O risco é que, se o proprietário de uma chave for revelado, a vinculação poderá revelar outras transações que pertenciam ao mesmo proprietário.”
- Pró-capitalismo. O “White Paper” enfatiza as vantagens do Bitcoin para o comércio e para os comerciantes como um sistema de pagamento de empresas livres. Ele afirma: “Com a possibilidade de reversão [que o Bitcoin não acomoda], há a necessidade da confiança se espalhar. Os comerciantes devem ser cautelosos com seus clientes, incomodando-os por mais informações do que eles precisariam”. É difícil imaginar um socialista tendo essa percepção ou se importando com os comerciantes.
- Anti-bancos. Todo o propósito do Bitcoin consiste em “pagamentos online […] sem passar por uma instituição financeira.” No nono fórum PGP, Satoshi explicou: “A raiz do problema com a moeda convencional é toda a confiança necessária para fazê-la funcionar. O banco central deve ser confiável para não desvalorizar a moeda, mas a história das moedas fiduciárias está cheia de violações dessa confiança. Os bancos devem ser confiáveis para manter nosso dinheiro e transferi-lo eletronicamente, mas eles o emprestam em ondas de bolhas de crédito com meramente uma fração de reserva. Temos que confiar neles nossa privacidade, confiar neles para não deixar ladrões de identidade drenarem nossas contas.”
- Embora o governo não seja mencionado no “White Paper”, o Bitcoin é um ataque direto a uma função estatal supostamente vital – o setor bancário. A mensagem no bloco do Genesis foi um tapa no Chancellor tanto quanto no resgate a bancos.
- Anti-inflação. A seção 6 do “White Paper”, intitulada “Incentive”, afirma que “uma vez que um número predeterminado de moedas tenha entrado em circulação, o incentivo pode fazer a transição inteiramente para taxas de transação e ser completamente livre de inflação”. O número predeterminado é de 21 milhões de moedas, cada uma divisível até uma pequena fração de uma moeda inteira.
As características anteriores se aproximam de uma declaração de anarquismo econômico. Um artigo do CoinJournal intitulado “Op-Ed: Satoshi Nakamoto is Clearly an Anarchist” refere-se a uma apresentação de 2014 de Daniel Krawisz do Satoshi Nakamoto Institute. Krawisz afirma: “Alguém que promove bitcoin e que não é anarquista é um criptoanarquista porque o bitcoin é inerentemente anarquista.”
Evidência a partir de postagens e associações pessoais
As postagens menos formais de Satoshi em fóruns são mais uma evidência de sua política. Novamente, as observações são antibancárias e antigovernamentais, enquanto reconhecem abertamente o apelo do Bitcoin aos libertários.
- Anti-bancos. Novamente, Satoshi escreve: “Os bancos devem ser confiáveis para manter nosso dinheiro e transferi-lo eletronicamente, mas eles o emprestam em ondas de bolhas de crédito com meramente uma fração em reserva.”
- Antigoverno: Quando um usuário se opõe ao Bitcoin, dizendo: “Você não encontrará uma solução para os problemas políticos na criptografia”, Satoshi responde: “Sim, mas podemos vencer uma grande batalha na corrida armamentista e ganhar um novo território de liberdade por vários anos. Os governos são bons em cortar as cabeças de redes controladas centralmente como o Napster, mas redes P2P puras como Gnutella e Tor parecem estar se mantendo.”
- Pró-liberdade. “[Bitcoin é] muito atraente para o ponto de vista libertário se pudermos explicá-lo adequadamente. Eu sou melhor com código do que com palavras”. Além disso, a postagem de Satoshi no fórum bitcointalk, O Bitcoin NÃO viola o Teorema da Regressão de Mises, indica sua familiaridade com Mises, e o tópico em si discute o livro-assinatura de Rothbard Homem, Economia e Estado.
Associações pessoais são outro indicador de crenças pessoais. O principal entre os associados de Satoshi era o falecido Hal Finney. Desenvolvedor da PGP Corporation, Finney foi o primeiro destinatário de uma transação de bitcoin, que Satoshi enviou a ele em 12 de janeiro de 2009. Finney obviamente cooperou de perto com Satoshi – alguns acreditam que ele era Satoshi – o que torna as opiniões políticas de Finney relevantes. No início dos anos 1990, Finney contribuiu regularmente para o listserv dos cypherpunks. Satoshi também postou um link para seu “White Paper” no site cypherpunk da P2P Foundation, onde ele era um membro da lista. Em um post, Finney afirma, “Naturalmente, na sociedade de hoje, com o poder alocado de forma tão desproporcional, essas ideias [criptografia] são uma ameaça para grandes organizações. O poder sendo balanceado significaria uma perda líquida de poder para eles. Portanto, nenhuma instituição vai pegar e defender as ideias de Chaum. Terá que ser uma atividade de base, na qual os indivíduos primeiro aprendam quanto poder eles podem ter e depois o exijam.”
Martti Malmi fornece outra pista. Malmi era um estudante da Universidade de Tecnologia de Helsinki, que se tornou um entusiasta do Bitcoin. O livro de Nathaniel Popper Digital Gold: Bitcoin and the Inside Story of the Misfits and Millionaires Trying to Reinvent Money descreve a jornada de Malmi. Postando no fórum anti-state.org, que explorou o anarquismo de livre mercado, Malmi escreve sobre o Bitcoin: “Estou realmente empolgado com a ideia de algo prático que possa realmente nos aproximar da liberdade em nossa vida. :-)”. Em um e-mail a Satoshi, Malmi incluiu um link para esse post.
Satoshi responde, “Seu entendimento do Bitcoin está certíssimo.”
Novamente, Satoshi percebeu totalmente o quão revolucionário seu sistema seria. Quando o Wikileaks permitiu doações de bitcoin como um modo de desviar de um bloqueio financeiro, o Bitcoin foi propulsionado a um novo nível de atenção e popularidade. Um chocado Satoshi postou: “Teria sido bom chamar essa atenção em qualquer outro contexto. O WikiLeaks chutou a colmeia das vespas, e o enxame veio em direção a nós.” Ele pediu ao Wikileaks que não destacasse o Bitcoin porque o projeto era jovem o suficiente para ser destruído pelo governo. De fato, a decisão de Satoshi de permanecer anônimo aponta para sua compreensão do perigo envolvido com o Bitcoin. Afinal, os criadores anteriores de dinheiro digital foram processados com destaque, e Satoshi deve ter observado de perto como os processos se desenrolaram.
O argumento anterior não é uma prova definitiva de que Satoshi era um libertário ou um anarquista, mas chega perto disso. “Libertário, anarquista ou ambos” tornam-se a resposta mais plausível de longe à pergunta sobre suas crenças políticas.
Evidência do ambiente de Satoshi
A atmosfera político-econômica da qual o Bitcoin emergiu fornece mais uma indicação das crenças de Satoshi. A codificação do Bitcoin começou em 2007, e é improvável que o momento seja uma coincidência. A crise financeira de 2007-2008 foi considerada a pior desde a Grande Depressão da década de 1930. Foi causado em grande parte pelas terceiras partes confiáveis que Satoshi mais se opunha: governos e bancos.
O que aconteceu? Em termos simplistas, a indústria de empréstimos imobiliários de alto risco entrou em colapso e provocou a crise. Um empréstimo imobiliário de alto risco é normalmente emitido para um mutuário com crédito ruim que apresenta um alto risco de inadimplência. Para compensar o credor por esse risco, o mutuário paga uma alta taxa de juros. Os empréstimos imobiliários de alto risco tornaram-se cada vez mais comuns no período anterior a 2007 por várias razões. Um foi o uso de software de subscrição automatizado que acelerou o processo de empréstimo, mas ignorou a revisão padrão de dados e documentos. Em suma, as instituições de crédito não autenticaram a elegibilidade do mutuário. Os preços da habitação dispararam devido a uma enxurrada de crédito artificialmente solto. Atingindo o pico em 2006, os preços iniciaram uma espiral descendente que durou anos e causou execuções massivas tanto nos EUA quanto internacionalmente.
A alta taxa de inadimplência levou a uma desvalorização dos instrumentos financeiros, o que ameaçou o colapso do confiável sistema de terceiros – também conhecido como sistema financeiro. O Estado não iria e não poderia permitir que isso acontecesse; o sistema financeiro era seu braço direito. Em 7 de setembro de 2008, o governo federal dos EUA assumiu as responsabilidades dos extremamente abalados Freddie Mac e Fannie Mae. Outros resgates se seguiram. Em 3 de outubro, a Lei de Estabilização Econômica de Emergência de 2008 autorizou gastos de até US$ 700 bilhões para comprar ativos em dificuldades e financiar instituições financeiras, inclusive estrangeiras. O custo de salvar a hierarquia de terceiras partes confiáveis foi repassado aos pagadores de impostos, é claro.
Satoshi observou os resgates se desenrolarem, como atesta a mensagem de bloqueio do Genesis. A pilhagem de fundos de impostos para enriquecer a elite, enquanto as pessoas comuns perderam suas casas, deve ter parecido um pesadelo de terceiras partes confiáveis.
Outra coisa ocorreu em 2007. O governo federal dos EUA acusou os chefes da e-gold, Inc. de lavagem de dinheiro e transmissão de dinheiro sem licença. Os donos do e-gold foram julgados e condenados; a empresa arruinada foi forçada a fechar suas portas eletrônicas. Satoshi deve ter visto essa situação bem de perto. Ele aprendeu disso. O anonimato era segurança.
Legado de Satoshi
Satoshi produziu uma tecnologia elegante e original que rivaliza com a impressora de Gutenberg em sua importância para o progresso humano porque permite fácil liberdade econômica em nível individual.
O paralelo merece expansão. Embora sua impressora não tenha sido a primeira, Johannes Gutenberg foi pioneiro em inovações criativas que tiveram um impacto semelhante à criação de Satoshi. Ele substituiu as tintas à base de água de curta duração por uma durável à base de óleo, por exemplo. Mais importante ainda, ele usou uma forte liga para criar cerca de 300 bits de tipos separados que poderiam ser rapidamente montados em modelos uniformes e desmontados. As impressoras anteriores usavam pedaços de madeira frágeis ou esculpiam as letras de cada página em um bloco de madeira que era pintado. As inovações transformaram a imprensa de uma ferramenta das classes de elite – a corte, o clero – em uma ferramenta do povo. Gutenberg abriu um mundo de informações e ideias para pessoas comuns que não precisavam mais confiar nas autoridades para sua versão da verdade. A imprensa descentralizou o conhecimento nas mãos do homem comum, e conhecimento é poder. Isso tornou a imprensa não apenas uma maravilha técnica, mas também um agente de mudança e revolução social.
Os que estão no poder teriam evitado a mudança, se pudessem, suprimindo a enxurrada de opiniões e ideias. Um público iletrado, não informado, é mais fácil de controlar. Um público letrado e informado encoraja a ascensão do populismo e de reformadores que ameaçam o status quo. Preservar um status quo favorável ao poder é a principal razão pela qual a censura estatal existia então e agora, sendo o controle da imprensa um fator essencial. Infelizmente para os poderosos, a literatura aumentou e mais pessoas puderam julgar por si mesmas quais crenças religiosas e políticas ressoavam dentro delas como reais.
Um exemplo de convulsão social: sem a imprensa de Gutenberg, a Reforma Protestante provavelmente não teria ocorrido, ou teria sido muito limitada em escopo. Martinho Lutero lançou a Reforma em 1517 pregando suas noventa e cinco teses na porta de uma igreja alemã. O documento foi rapidamente traduzido do latim para o alemão, depois copiado e reimpresso; no jargão de hoje, tornou-se viral. Como homem, Lutero só podia alcançar aquelas pessoas dentro do alcance de sua voz e caneta. Como um autor produzido em massa, Lutero espalhou ideias por toda a Europa em poucos meses. Em três anos, centenas de milhares de cópias de suas Teses foram produzidas em centenas de prensas tipográficas. A Igreja Católica respondeu excomungando Lutero, levando-o a fugir e a se esconder. As ideias, entretanto, não respondem a ameaças de fogo do inferno, nem fogem.
A imprensa de Gutenberg provocou movimentos e revoluções. Mas a imprensa em si não era ideológica, pois qualquer ideia podia ser montada em moldes e impressa em massa: Catolicismo ou Protestantismo, individualismo ou socialismo, Karl Marx ou Ayn Rand. A máquina ela mesma era neutra. A prensa teve fortes implicações ideológicas, com certeza, porque deu poder ao indivíduo e às massas. Em outras palavras ela era uma forma populista. Mas as autoridades também usaram a nova tecnologia para seus próprios fins estatistas. Por mais magnífica que fosse a imprensa, era uma ferramenta para o bem ou para o mal, dependendo da finalidade do usuário individual.
O mesmo pode ser dito da cripto. Seu empoderamento do indivíduo é um ato profundamente político. Mas esse empoderamento faz todos serem mais livres para escolher quaisquer ideologias que eles queiram. A própria cripto não possui posição ideológica estabelecida. É por isso que individualistas, anarquistas, socialistas, estatistas e entre outros podem usar a blockchain como um modo de perseguir seus fins, independentemente de quais fins esses possam ser. Amir Taaki, um desenvolvedor da Darkmarket? Openbazaar e da Dark Wallet, é um anarquista de esquerda agressivo que passou um tempo em Rojava [Kurdistão Sírio], ajudando a fundar uma República Popular através da introdução do Bitcoin. Rojava estava “sob embargo, então não havia maneira de mover dinheiro para dentro ou para fora”, ele explica. “Então temos realmente de criar nossas próprias economias em bitcoin. Agora temos uma ferramenta tecnológica para as pessoas livremente se organizarem fora [do] sistema do estado. Porque é uma moeda não controlada por bancos centrais.”
O Bitcoin pode atingir uma diversidade galopante de objetivos. Essa é uma grande força. A prensa de Gutenberg providenciou informação e perspectivas que permitiram as pessoas escolherem religião e políticas por elas mesmas. A cripto dá às pessoas o controle de seu próprio futuro econômico que lhes permite escolher seus próprios estilos de vida e compromissos. Parte do que faz a Revolução Satoshi brilhar é que ela é profundamente política ao empoderar o indivíduo, mas não exige uma posição ideológica. Ou seja, não diz aos indivíduos empoderados o que eles devem escolher ou como eles podem usar seu próprio poder. A maioria das pessoas veem pouca diferença entre o político e o ideológico. Geralmente não há. Mas às vezes a política e a ideologia são distintas.
O Bitcoin é político no mesmo sentido em que a prensa de Gutemberg. Ela descentraliza o controle até o nível do indivíduo – a cripto é puro empoderamento – mas ela não dita o que indivíduos fazem com seu autocontrole. Isso seria uma contradição em termos. Ainda sim é isso que o estado faz quando ele tenta controlar a cripto; ele tenta vincular uma contradição em termos com a sociedade. O estado toma uma dinâmica inerentemente descentralizada e individualista e tenta centralizá-la ao torná-la um braço do governo. As boas notícias: as tentativas do estado parecem fadadas ao fracasso. A má notícia: o estado continuará tentando.