O problema da ciência e da tecnologia em nosso mundo moderno é realmente duplo, e os dois problemas deveriam ser estritamente separados, em vez de confusos como agora estão na mente do público. O problema “A” é a alocação geral de recursos em ciência e tecnologia, em comparação com os outros setores da economia. O problema “B” é a alocação de recursos necessários na esfera militar, especificamente de tecnologia militar. O primeiro problema é um problema econômico geral, o segundo um problema especificamente militar. Quanto ao primeiro problema, a solução segue rápida e facilmente de nossas premissas gerais: é apenas o trabalho da economia de livre-mercado. Qualquer intervenção do governo neste trabalho só pode distorcer e perturbar a economia, prejudicar o funcionamento eficiente e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, e substituir liberdade individual por coerção não desejável.
E quanto ao Problema “B”, a alocação de recursos entre civis e militares? Aqui devemos considerar a função geral do governo na esfera militar. Ao conceder ao governo o monopólio virtual da força, o Sistema Americano passou a confiar ao governo o uso dessa força para a defesa da pessoa e da propriedade. Tendo um monopólio virtual de defesa, o governo tributa os cidadãos privados na medida necessária para sua defesa contra inimigos externos e internos. No Sistema Americano, a defesa interna tem sido função de estados e localidades; defesa militar contra países estrangeiros, tarefa do governo federal. O governo federal, portanto, estabelece seu orçamento para atingir determinado nível que deseja para a defesa militar, e a pesquisa e o desenvolvimento militar certamente fazem parte dessa defesa.
A alocação de recursos para fins militares, então, está sob o sistema americano, na competência do governo federal. E, no entanto, isso não simplesmente encerra o assunto. Cabe ao governo: (1) nunca se esquecer que recursos escassos estão sempre sendo alocados e, portanto, o que os militares ganham, o setor civil perde; e (2) deixar, sempre que possível, os assuntos militares nas mãos da economia privada, tanto com o propósito de maximizar a liberdade econômica quanto com o objetivo de maximizar a eficiência econômica. O primeiro é um modo de pensar para o qual qualquer burocrata do governo, civil ou militar, é incompatível, e que ele deve aprender: aprender a perceber que “mais” militar significa “menos” para a economia privada, e lembrar que as forças armadas são um derivado, dependente de uma economia civil forte e saudável. Carros de guerra dependem de indústrias sólidas de ferro e aço, fabricação de tanques, linhas ferras para o transporte destes, etc. A menos que venhamos a viver numa realidade totalmente socialista – que também já vimos ser não funcional – a esfera militar necessita contar com uma miríade de serviços e produtos de natureza privada (dentre eles, papel!) para o seu funcionamento.
Isso nos leva à segunda responsabilidade; deixar o máximo possível de assuntos militares em mãos privadas. Por exemplo, o governo precisa de aviões. Quem deve fabricá-los: indústria privada ou estatal? A fabricação de aeronaves pelo governo não apenas seria irremediavelmente ineficiente por sua própria natureza, mas também iria contra a base da sociedade americana. Muito melhor, então, para o governo tributar ou tomar emprestado os fundos com os quais comprar os produtos militares da empresa privada, em vez de fabricar os próprios bens.
Este princípio é amplamente reconhecido no campo da produção de materiais. Por que, então, não deveria valer para a pesquisa científica militar? A pesquisa e o desenvolvimento privados, contratados com fundos do governo, são uma política muito melhor, de qualquer ângulo, do que a pesquisa direta do governo. (Veja abaixo, sobre o acordo da Força-Tarefa da Comissão Hoover com essa visão.) Este é o princípio que o Partido Republicano deve seguir na área de tecnologia militar. Em suma, o governo, mesmo na esfera militar, deve funcionar apenas como consumidor e não como produtor, comprando equipamentos e pesquisas produzidas por empresas privadas. Este é o método mais eficiente, bem como o mais consoante com a livre iniciativa. E observe: isso se aplica apenas à pesquisa e desenvolvimento militar; todo trabalho não militar deve ser puramente em mãos privadas, enquanto consumidores e produtores.
Outra consideração importante: na medida em que o governo ainda considera militarmente vital empregar ele próprio técnicos em vez de adquirir os serviços de empresas privadas, ele deveria contratar esse pessoal no mercado de trabalho livre, em vez de recrutá-lo. O alargamento das fronteiras da ciência, descobrindo novos produtos e novos métodos, requer mentes livres e desimpedidas que se deliciem com o trabalho que fazem e sejam pagas de acordo com seu valor. O trabalho não pode ser feito por homens que são convocados para trabalhos forçados por uma quantia muito inferior ao valor de seu produto. Os escravos talvez possam ser úteis para varrer pisos ou cavar valas, mas eles não podem ser usados com sucesso para trabalhos criativos, exigindo habilidade e originalidade. E isso, é claro, levanta outra questão, como apontado no Relatório Cordiner ao Departamento de Defesa: cada vez mais, as forças militares modernas na era nuclear dependem das habilidades e criatividade de técnicos treinados, ao invés de pastores não treinados. Não é então um dos requisitos da era nuclear (e bacteriológica) que descartemos o projeto como obsoleto e contemos com os ávidos serviços voluntários de técnicos qualificados contratados aos preços de mercado que eles merecem?
Em todos esses problemas, há outra questão básica que não devemos esquecer: não é a liberdade, ao invés da coerção, não só a melhor forma de estimular a eficiência e o avanço científico, mas também a forma de mostrar aos povos do mundo (inclusive os povos do bloco soviético) de que o modo de liberdade americano pode vencer o modo de coerção soviético a qualquer momento e em qualquer terreno? Se, ao contrário, tentarmos competir com os soviéticos empregando métodos essencialmente soviéticos, que ideologia virá a parecer melhor para os povos do mundo? Quanto mais enfatizamos métodos livres e voluntários em nossa competição com os soviéticos, mais mostramos que acreditamos em nossos próprios discursos sobre os méritos e as glórias da liberdade; quanto mais dependemos de métodos coercitivos ou estatistas, mais minamos nossa própria ideologia, parecemos hipócritas para as nações do mundo, dando lenha para a flama da vitória derradeira da ideologia soviética.